China, Alessandra Leão e Rodrigo Caçapa e Nação Zumbi não vão tocar. Fundarpe diz que pendência em documentação de produtoras é motivo.
Insatisfeitos com o atraso no recebimento de cachês do governo de Pernambuco por eventos públicos nos ciclos festivos, alguns artistas decidiram não se apresentar no Carnaval deste ano no estado, como os cantores China, Alessandra Leão e Rodrigo Caçapa e a banda Nação Zumbi.
A polêmica começou ainda no ano passado, quando a Nação Zumbi divulgou via rede social que não iria se apresentar no Carnaval do estado. Na segunda-feira (7), o cantor China publicou um texto no seu site pessoal explicando os motivos de sua ausência, entre eles os atrasos no pagamento do cachê.
Na terça (8), foi a vez de a cantora Alessandra Leão engrossar o coro dos que pretendem boicotar a Folia de Momo no estado com um texto divulgado também em seu site pessoal, anunciando que ela e o músico Rodrigo Caçapa não irão participar de eventos organizados pelas prefeituras de Olinda, do Recife e pelo governo do estado na festa de Momo.
Em resposta às reclamações, a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) divulgou uma nota na última quarta-feira (9) em que afirma que chega a quase 100% o índice de pagamentos de cachês aos artistas. No Carnaval de 2012, por exemplo, a Fundarpe informou que 99,28% dos contratados foram pagos. Já no São João do ano passado, o percentual teria sido de 98,64%, e no Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), 96,77% dos artistas contratados também teriam recebido o cachê.
Os pagamentos não chegaram a 100%, de acordo com a Fundarpe, por causa de pendências na documentação entregue pelas produtoras dos artistas e que, quando o trâmite é resolvido, os pagamentos são liberados. “Os artistas têm o direito de reclamar, mas por conta de um problema documental deles com as produtoras se passa uma ideia de que a gente não está pagando nada”, afirmou o presidente da Fundarpe, Severino Pessoa.
Em entrevista por telefone ao G1, o presidente descreveu o caso do cantor China, que, de acordo com ele, não recebeu dois cachês referentes ao Festival de Inverno de Garanhuns e do Pernambuco Nação Cultural realizado em Pesqueira – os dois eventos em 2012 – por conta de uma pendência tributária da produtora do artista com a Receita Federal. “A lei impede que a gente pague o cachê quando há esse tipo de débito”, disse Severino.
A produtora de China confirmou que há a pendência com a Receita, mas afirmou que a não-participação do cantor no Carnaval se deve aos atrasos dos cachês por parte do governo. “Com relação ao Carnaval, não há pendência nenhuma, ele recebeu por todos os carnavais”, explicou Ana Almeida, da produtora que empresaria o artista.
Em relação à Nação Zumbi e aos artistas Rodrigo Caçapa e Alessandra Leão, Severino Pessoa afirmou que foram pagos todos os cachês a eles.
Insatisfação da classe artística
Alessandra Leão explica que não houve uma articulação ou movimentação da classe artística local para haver um boicote. “Eu e Caçapa conversamos e decidimos não tocar, mas foi uma decisão pessoal, que coincidiu com a publicação de China”, conta. Alessandra fala ainda que a questão do pagamento é só um dos fatores que a fez optar por não se apresentar no Carnaval. “A questão do não-pagamento é um absurdo, mas é só um pontinha do iceberg, apenas o reflexo de como a gestão pública é feita”. Para a artista, é preciso que as políticas de seleção, contratação e pagamento dos shows sejam revistos.
A cantora acha que a adesão não é maior porque alguns artistas dependem quase que exclusivamente do Carnaval para divulgar o trabalho. “Para orquestras de frevo e blocos, a decisão é mais difícil, porque é a época em que eles mais trabalham”, afirma.
Fabio Trummer, vocalista da banda Eddie, apoia a mobilização, pois acredita que é preciso mais organização e que sejam dadas condições para os artistas tocarem no estado. “Somos solidários às pessoas que não querem tocar, mas a gente entende que é um assunto muito mais complexo” afirmou o cantor, que acredita que a banda irá se apresentar no Carnaval 2013.
Assim como a Eddie, a Orquestra Contemporânea de Olinda defende uma postura de apoio aos artistas que não vão participar. “Esse ‘boom’ que está rolando faz parte de uma discussão e luta antiga da classe. O que nossos colegas fizeram foi tomar uma atitude radical, que valeu a pena para chamar a atenção da imprensa para um problema que tem nome: a desvalorização e falta de entendimento de que a música é um dos produtos que mais divulgam Pernambuco no Brasil e no exterior”, explicou a produtora da orquestra Aline Feitosa.
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