domingo, 25 de novembro de 2012

A PROFÍCUA E SIMPLÓRIA SONORIDADE DA DINDA

O grupo carioca formado pelos núsicos João Bernardo (voz), Beto Callado (guitarra), Marcelo Cardoso (guitarra), Rodrigo Jardim (baixo) e Matias Zibecchi (bateria), a Banda Dinda apresenta seu primeiro álbum e colhe os frutos do sucesso cibernético.

Por Bruno Negromonte


A partir da década de 30, a referência para o sucesso de um cantor ou banda era medido através das ondas sonoras das rádios com os seus programas de auditório e por artistas que geralmente interpretava as canções de outros artistas, como era o caso de cantores como Orlando Silva, Francisco Alves e a pequena notável Carmem Miranda. Esse parâmetro perdurou até a chegada e popularização da televisão no Brasil a partir da década de 50 através da iniciativa do paraibano Assis Chateaubriand que trouxe como consequência os festivais musicais que acarretaram o lançamento de tantos nomes nas décadas de 60 (Chico Buarque, Caetano Veloso, Mutantes, Tom Zé, Geraldo Vandré, Elis Regina e tantos outros), 70 (Carlinhos Vergueiros, Djavan, Walter Franco, Jards Macalé e mais alguns) e, em uma menor proporção, os anos 80 com nomes como por exemplo Leila Pinheiro, que brilhantemente defendeu a canção "Verde" (Eduardo Gudin e José Carlos Costa Netto) no festival dos festivais em 1985.

A partir dos anos 90 com a popularização da internet as coisas ganharam outra conotação. A popularidade hoje se dá a partir das redes sociais e exibições em sites diversos, principalmente se nos referirmos a artistas e grupos em início de carreira tal qual a banda que aqui me refiro, prova disto são as mais de 200 mil exibições no youtube e os milhares compartilhamentos no facebook com o clipe "Queria me enjoar de você", vídeo gravado de modo despretensioso no aniversário de um dos integrantes do grupo, João Bernardo, e jogado na internet pouco tempo depois ganhando rapidamente o gosto popular como se atestou pelos números citados anteriormente. O material consiste na exibição das pessoas presentes na confraternização entoando quase todos a canção que dá título ao vídeo de modo bastante informal à base de caipirinhas e sorrisos ao longo dos cerca de 6 minutos. Dentro desses novos parâmetros de medição, pode-se considerar a banda Dinda (nome dado ao grupo em homenagem a madrinha do vocalista João Bernardo) como dona de um sucesso  relevante no atual contexto cibernético musical brasileiro. 



A banda surgiu da decisão do cantor e compositor João Bernardo sentir a necessidade de estar junto com outros músicos fazendo algo mais coletivo (desde as composições até os arranjos), do desejo cantor e compositor incorporar uma rotina diferente para a sua carreira artística adotando um espírito de banda, diferente daquilo que estava acostumado: músicas e arranjos próprios e músicos para acompanhá-lo sem nenhuma intervenção nas letras e melodias. Daí surgiu a oportunidade de juntar-se a outros nomes como Beto Callado (guitarra e compositor, além de ter o projeto paralelo intitulado Cubo Branco)Matias Zibecchi (baterista e também integrante dos grupos Bondesom e Orquestra de Conga), Marcelo Cardoso (guitarrista e renomado professor de música, que lecionou para toda uma geração de músicos cariocas),  além do baixista Rodrigo Jardim e do Pedro Mangia (baixo e teclados) que chegaram a passar banda em outra oportunidade formando assim a banda Dinda desde meados de 2009.

A cerca de um ano a banda lançou o primeiro álbum com o nome "Ano que vem eu vou ser na avenida o palhaço que eu fui na sua vida", título extraído da marchinha "O amor vem de longe",  composição do João Bernardo que de modo análogo aborda o carnaval com o final de um relacionamento mal sucedido. 

A balada "Queria me enjoar de você" (João Bernardo), que virou o principal "hit" da banda, acabou no álbum ganhando o reforço de sopros, bateria, teclados e outros instrumentos, criando uma sonoridade diferente da presente no videoclipe, onde a canção é apresentada apenas com voz e violão; além do que dos 6:38 minutos presentes no registro videográfico a canção agora é apresentada em pouco mais que 4 minutos. O disco continua com faixas que retratam o amor com uma leveza peculiar tal qual "Dinda" (parceria entre João e Piero Grandi que retrata o amor de modo pueril e cativante), "Cobra com asa" (parceria de Bernardo com a cantora e compositora carioca Ana Clara Horta), "Um túnel no fim da luz" (faixa norteada pelo tradicional funk americano e que deixa como mensagem que "Ninguém mata a sede bebendo mágoa...". Esta canção faz parte da lavra de composições solo do João). Outras canções assinadas apenas por João Bernardo são "Sereia movediça", "Demorou mas foi rápido" e "Amor amora", esta última conta com a participação da pequena Maria MirandaO disco ainda traz mais três faixas do mentor do projeto com Betto Callado, são ela "Vem de Minas", "Carrossele "Flor da noite"



Em síntese, pode-se afirmar que a banda traz consigo uma despretensiosa diversidade musical que acaba fazendo de sua abrangente sonoridade algo muito peculiar, demostrando que a leveza  e simplicidade podem nortear diversos estilos sem que estes percam a qualidade nessa obra que foge da complexidade sonora sem perder a excelência. Vale salientar que o idealizador do projeto vem de dois álbuns solo (Mergulho e Vende peixe-se)  e chega neste projeto assinando (em parceira ou de modo individual) todas as onze canções presentes no disco como vocês observaram, mostrando, ao seu modo, uma grande diversidade de ritmos e letras despretensiosamente agradáveis. E esse agradável passeio contou com Philippe Leon (projeto gráfico), Rogério Von Krüger (fotos e vocal), Luiz Tornaghi (masterização) e Lc Varella (produção, efeitos, mixagem e gravação), além da sonoridade dos integrantes do projeto em parceria com nomes como Ricardo Rito (teclados), Yuri Villar (sax tenor e flauta), Bruno Dilullo e Luisa Corrêa (nos vocais).

Então é isso. Com este novo parâmetro de medição para o sucesso com o advento da internet, a Dinda mostra-se não só inserida de modo exitoso nisto tudo, mas também traz consigo uma profícua sonoridade neste caldeirão de ritmos que eles souberam condensar como poucos e hoje classificam o som que fazem como pop. Vale destacar que o mais interessante é que nesta constituição há imbuído um proveitoso paradoxo: a extrema simplicidade das letras e melodias, sem deixar se perder uma qualidade inerente aos grandes trabalhos fonográficos, e é claro que isso acaba destacando a banda dentro do cenário musical como um todo, principalmente no contexto musical indie carioca. Isso mostra que eles são possuidores de relevantes adjetivos, mostrando que não vem à toa toda essa notoriedade, eles são merecedores deste destaque. Vida longa à candura sonora da Dinda!

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