Renata Costa Lana e Souza pensa em organizar um memorial.
Por Ricardo Daehn
“Eu sabia de tudo. Dizia pra ele: ‘Sei mais de você do que você mesmo’”, conta Renata Costa Lana e Souza, enquanto remexe nas lembranças daquele que foi o grande amor dela, o cantor Wando. O ritual de achar coisas relacionadas à carreira e de vasculhar em discos, à caça de alguma música, ganha outra conotação oito meses depois da morte dele, em fevereiro (por parada cardiorrespiratória). Designada inventariante, a mineira, que teria se casado com ele em 1º de setembro, ordena as ideias sem “nada de muito concreto” para prestar homenagem à memória do cantor. “Parece cedo, para mim, mas devo isso a ele. Eu quero fazer isso, talvez organizar um memorial. As coisas são dele, não são minhas: merecem um destino público”, diz ela, que esteve por “sete intensos anos” ao lado de Wando.
Para além da relação de união estável, a intimidade com o homem que, nas palavras dela, “sabia fazer o simples ficar interessante e valorizava o sentimento popular”, veio de forma paulatina e atravessou 22 anos. “Ele foi meu primeiro namorado, quando estava no auge da carreira, mas, pela família conservadora — e ele era 25 anos mais velho do que eu —, decidiu se afastar”, explica Renata, a terceira mulher de Wando.
Vídeos caseiros, 19 discos de ouro, sete de platina e “um contêiner enorme”, com 15 mil calcinhas, estão no legado a ser administrado por ela, que não esquece do testamento maior: “Ele sempre foi verdadeiro, nunca perdeu a essência humilde e a boa índole. Me respeitava e me fazia muito feliz”. O produto do assédio das fãs — marcado pela tempestade de calcinhas nos palcos —, pelo que conta a viúva, nunca gerou desavença. “Wando tinha aquele personagem, mas era tranquilo, consciencioso e muito responsável. Ele era tranquilo e me dava segurança”, enfatiza.
Quem vê a quantidade de objetos (cerca de 70), com todos os CDs, LPs e fitas-cassetes — além das reportagens relacionadas ao cantor, guardadas por Renata —, acredita numa obsessão de fã. Sim, o traço de inconstestável admiração até existe, mas tratou-se de algo conquistado. Se hoje, aos 41 anos, Renata conta que fez poucas viagens relacionadas a turnês, aos 19, quando viu o primeiro show, nem era fã.
“Minha irmã Raquel — que era caída pelo ídolo — e minha mãe insistiram para irmos ao show, no Canecão (Rio). Mas foi noutra apresentação, em Belo Horizonte, no Palácio das Artes, que tudo se firmou”, explica a viúva. Falou mais alto o encanto pelo homem que, no documentário sobre música brega Vou rifar meu coração (recém-estreado nas telas), ressalta a lástima sentida por qualquer amante que nunca tenha dado flores a uma mulher.
Idas sistemáticas a sebos, para a coleta de tudo que fosse relacionado a Wando, fizeram parte da rotina de Renata, anteriores, talvez, ao momento mais intenso de ousadia: uma calcinha de renda foi sacada da bolsa e parou nas mãos do cantor que entoou Nas curvas do seu corpo. “Ele era carismático demais, em dois minutos te conquistava. É como o Carlos Colla (compositor de vários sucessos de Roberto Carlos) cravou: Wando era único”, observa, para emendar com perceptível timidez: “Dizem que ele era muito apaixonado por mim”.
Curiosamente, somente depois de um longo desencontro — no qual Wando seguiu consolidado na música e Renata chegou a se casar e ficar viúva —, a antiga paixão, inflamada à base de Tenda dos prazeres, foi reacesa. “A gente se gostava muito, mas naquele período não era o momento. Recomeçamos maduros”, avalia.
Nascido em Cajuri (MG), Wando morreu quase três semanas depois do quinto aniversário da filha Maria Sabrina. “A festa foi significativa, algo me disse para fotografar, senão a gente não teria registros de felicidade. Depois de uns dias, ele passou mal, foi internado, e fiquei 12 dias com ele, pelo dia inteiro. Ele morreu, comigo”, diz a psicóloga. No atual momento, Renata busca “lutar pela memória de Wando e pela dignidade da minha filha”.
Enquanto enfrenta problemas na Justiça, confrontada com os demais herdeiros (“Nada que não tenha solução no entendimento”, sublinha), Renata Costa Lana e Souza — que tem registros fotográficos de objetos que não estão em sua posse (como a coleção de violões) — começa a vislumbrar a possibilidade de estabelecer um memorial num lugar “bem astral”, como o Rio, ou “num centro muito importante para a música”, como Belo Horizonte. “Fiquei satisfeita que o enterro tenha sido em Minas. Ele era muito mineiro: aquele tipo come-quieto, que não fazia nada de alarde.”
0 comentários:
Postar um comentário