No início de 1966, procurando se estabelecer como compositor em São Paulo (SP), Gilberto Gil gravou uma fita demo de voz e violão na editora musical Arlequim com 18 músicas, algumas compostas ainda na Bahia. O registro seminal desse repertório - que inclui músicas até hoje inéditas como o sambossa A Última Coisa Bonita (1963), Retirante (1964) e o samba Me Diga, Moço (1964) - chega pela primeira vez ao disco no álbum duplo Retirante, idealizado por Marcelo Fróes - sob a supervisão de Gilberto Gil - e editado neste mês de agosto de 2010 pelo selo Discobertas. Retirante reúne em dois CDs 31 gravações feitas por Gil entre 1962 e 1966 antes de sua explosão nacional com o LP Louvação, editado em 1967 no rastro da semente tropicalista que já começava a se espalhar pelo mundo da música naquele ano. Além da fita demo da Arlequim, a compilação reapresenta as oito gravações feitas por Gil em Salvador (BA), entre 1962 e 1963, na gravadora JS Discos. Embora tenham alto valor documental, estas oito gravações já foram disponibilizadas em CD em 2002 na coletânea Salvador, 1962 - 1963, incluída na caixa Palco e posteriormente editada de forma avulsa. Para quem desconhece tais registros, Gil debutou em disco como cantor num 78 rotações por minuto de 1962 que trazia dois temas de Everaldo Guedes. Povo Petroleiro é hilário jingle da Petrobrás, empresa da qual Guedes era funcionário. No labo B, havia a marchinha Coça, Coça, Lacerdinha. Na sequência, já em 1963, a JS Discos editou compacto duplo do cantor, Gilberto Gil, sua Música, sua Interpretação - cuja capa (vista acima) foi reaproveitada em Retirante. Compõe este naipe de músicas autorais Serenata do Teleco-Teco (tentativa curiosa de juntar o balanço do samba ao universo da seresta), a sofrida Maria Tristeza, o samba sincopado Vontade de Amar e a seresteira Meu Luar, Minhas Canções. No encarte de 16 coloridas páginas, Marcelo Fróes reconstitui os primeiros passos de Gilberto Gil na música, todos repisados nesta coletânea dupla que reconta a pré-história fonográfica do artista.
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