No último dia 28 de março, o carioca Hermínio Bello de Carvalho completou 75 anos de muita música e poesia. O poeta, compositor, produtor e animador cultural Hermínio, continua a ser lembrado por todos que gostam do bom samba carioca.
Iniciou sua carreira profissional em 1951, como repórter e colunista de discos da revista "Rádio-entrevista", tendo atuado, mais tarde, como colaborador das revistas "O Cruzeiro" (Internacional), "Leitura" e "Revista da Música Popular" (de Lucio Rangel).
Em 1958, começou a trabalhar também em rádio, a convite de Mozart Araujo. Produziu centenas de programas para a Rádio MEC, como "Violão de ontem e de hoje", "Reminiscências do Rio de Janeiro", "Retratos musicais", "Orquesta de Sopros" e "Concertos para a Juventude".
Escreveu a ópera popular "João Amor e Maria", encenada no Teatro Jovem (RJ), em 1966. Compôs, com Antonio Carlos Brito (Cacaso) e Maurício Tapajós, a trilha sonora do espetáculo, que contou com direção geral de Kleber Santos e Nelson Xavier, direção musical de Maurício Tapajós, cenários de Marcos Flaksman e um elenco integrado por Betty Faria, José Wilker, Fernando Lébeis, José Damasceno, Cecil Thiré e o quarteto vocal MPB-4.
Na década de 1970, atuou como colaborador do jornal "Pasquim". Produziu, nessa época, vários programas para a TVE, como as séries "Água Viva", "Mudando de Conversa", "Lira do Povo" e "Contra-luz", registrando exclusivamente uma área bem específica da música popular brasileira, integrada por artistas como Radamés Gnattali, Elizeth Cardoso, Dorival Caymmi, Cartola, Aracy de Almeida, Nélson Cavaquinho, Clementina de Jesus e Padeirinho, entre outros.
Como diretor-roteirista de shows, assinou os antológicos espetáculos "Rosa de Ouro" (1965), que lançou no cenário artístico Clementina de Jesus e Paulinho da Viola, e "Elizeth Cardoso, Jacob do Bandolim, Zimbo Trio e o Época de Ouro" (1968), além dos musicais "É a maior" (1970), com Marlene, esse em parceria com Fauzi Arap (co-autor e diretor do show), "Festa Brasil" (Europa, Estados Unidos e Canadá), "Face à Faca" (1974), com Simone, "Te pego pela palavra" (1975), com Marlene, "Caymmi em Concerto" (1985), "Chico Buarque de Mangueira" (1998) e outros com Herivelto Martins, Radamés Gnattali & Camerata Carioca e Luiz Gonzaga.
Foi responsável, também, pela criação de projetos culturais e programas paradidáticos.
Participou do projeto "Seis e meia" (1976), idealizado por Albino Pinheiro, e que serviu de modelo para o "Projeto Pixinguinha" (Funarte/1977), com vistas à formação de novas platéias, através de ingressos subsidiados ao espectador de baixa renda. Também naquela instituição, implementou o "Projeto Lúcio Rangel" de monografias, objetivando a ampliação da então pequena bibliografia sobre música brasileira (com 30 títulos editados), o "Projeto Almirante", com autores excluídos do circuito comercial (com igual número de discos, que vêm sendo relançados em CD, através da Fundação Cultural Itaú), o "Projeto Radamés Gnattali", de apoio à prática de conjunto, e o "Projeto Ayrton Barbosa", de edição de partituras, entre outros projetos de pesquisa e documentação, pautados por políticas de ocupação de espaços e de formação de novos recursos humanos na área da produção musical, com o propósito de registro, memória e recuperação de acervos. Sugeriu, ainda, a Roberto Parreira, a criação das Salas Funarte, uma das quais recebeu o nome do compositor Sidney Miller. Idealizou o Centro de Memória de Mangueira, depois implementado pela Fundação Roberto Marinho como "Memória em Verde e Rosa".
Na área fonográfica, assinou a produção musical de vários discos, como "Gente da Antiga" (Pixinguinha, João da Bahiana e Clementina de Jesus), "Elizeth sobe o morro", "Mangueira: samba de terreiro e outros sambas" e outros títulos de Clementina de Jesus, Paulinho da Viola, Simone, Isaurinha Garcia, Elizeth Cardoso, Radamés Gnattali, Raphael Rabello, Camerata Carioca, Roberto Ribeiro, Elza Soares e Zezé Gonzaga ("Doce veneno", com músicas de Valzinho), entre outros artistas.
Exerceu a função de vice-presidente da Sombrás (na gestão de Antônio Carlos Jobim), entidade que lutou pela moralização do sistema de direitos autorais.
Foi afastado da Rádio MEC no período da ditadura militar e, posteriormente, disponibilizado dos quadros da TVE no governo Collor.
Como escritor e poeta, publicou 13 livros, entre os quais, "Chove azul em teus cabelos", "Ária e percussão", "Novíssima poesia brasileira", "Poemas do amor maldito", "Amor, arma branca", "Mudando de Conversa" (Editora Martins Fontes), "Villa-Lobos & a MPB" (Editora Espaço e Tempo), "Cartas cariocas para Mário de Andrade", com capa de Oscar Niemeyer (Editora Folha Sêca), "Sessão passatempo" (Ed. Relume Dumará) e o livro de poemas "Contradigo" (Ed. Folha Sêca/1999).
Teve poemas incluídos em antologias como "Novíssima poesia brasileira", organizada por Walmir Ayala, e "Poemas do amor maldito", com seleção de Gasparino Damata, figurando ao lado de Vinicius de Moraes, Cecília Meirelles e Carlos Drummond de Andrade.
Em 1999, dirigiu os espetáculos "Clássicas", com Zezé Gonzaga e Jane Duboc, e "Sessão Passatempo", com Carol Saboya. Ainda nesse ano, lançou a reedição, revista e ampliada, do livro "Cartas cariocas para Mário de Andrade".
Entre seus parceiros, descatam-se Pixinguinha, Radamés Gnattali, Paulinho da Viola, Maurício Tapajós, Roberto Frejat, Chico Buarque, Cartola, Dona Ivone Lara, Baden Powell, Cristóvão Bastos, Francis Hime, Élton Medeiros, Martinho da Vila, Rildo Hora e Sueli Costa, entre vários autores, além do uruguaio Guido Santorsola, compositor da área erudita, para quem escreveu os versos do tríptico "Angústia, solidão e morte" (composição para voz-solista e Orquestra Sinfônica).
Constam da relação dos intérpretes de suas composições artistas e grupos como Isaurinha Garcia, Marlene, Elizeth Cardoso, Cyro Monteiro, Dalva de Oliveira, Zezé Gonzaga, Carmen Costa, Dóris Monteiro, Noite Ilustrada, Alaíde Costa, Roberto Silva, Wanderléa, MPB-4, Quarteto em Cy, Elza Soares, Gal Costa, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Elba Ramalho, Cristina Buarque, Ney Matogrosso, Zélia Duncan, , Simone, Zizi Possi, Emílio Santiago, Jane Duboc e Ed Motta, entre outros.
Por sua atuação na música e na área cultural, foi contemplado com o troféu Estácio de Sá, a medalha Pedro Ernesto e o diploma conferido por um júri especial da revista "Playboy", na categoria "maior personalidade da MPB", além de ter recebido, por três anos consecutivos, o Prêmio Sharp: em 1997, pela composição "Timoneiro" (c/ Paulinho da Viola), em 1998, pelo samba "Chão de esmeralda" (c/ Chico Buarque de Holanda) e em 1999, pela produção artística do CD duplo "Agô, Pixinguinha".
Em 2000, recusou a Ordem do Mérito Cultural que lhe foi concedida pelo Ministério da Cultura.
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