Por Joyce Moreno
Leio que Jane Fonda, 71 anos, que também tem seu blog, tem escrito sobre a passagem do tempo e como administrá-la. Estava inclusive começando a escrever um livro sobre o assunto, quando lhe apareceu uma temporada na Broadway, oito espetáculos por semana. Melhor, impossível. Não há como se ficar deprimida com um ritmo de trabalho desses. God bless.Sempre me pergunto, por exemplo, como foi que minha mãe aguentou a aposentadoria, depois de 38 anos de trabalho diário de 09 as 05. Ela ia`a praia, nadava, lia muito, ajudava a mim e a meus irmãos quando precisávamos de algum suporte com nossos filhos e filhas. Também tinha seus momentos de nostalgia do trabalho no Ministério da Fazenda, conversando com antigas colegas e descobrindo novas formas de investir dinheiro (talento que infelizmente não herdei), o que para ela era diversão garantida. Era uma pequena investidora de classe média, mas extremamente esperta. Se dispusesse de mais capital, teria ficado rica, mesmo naqueles tempos de inflação. Nessa ela foi levando seu tempo ocioso, até os 90 anos de idade. Lúcida e fazendo
palavras cruzadas.Enfim, minha mãe e Jane Fonda, personalidades totalmente incompatíveis, entraram neste post como uma improvável mistura de siri com Toddy, por causa da repórter. Ela me procurou para uma matéria sobre o dia internacional da mulher. Já estou acostumada com isso, e respondo meio no piloto automático: esta é uma data em que, de alguma forma, sempre sou lembrada pra falar sobre o meu, o dela, o nosso genero. Ia eu, portanto, seguindo pela estrada costumeira, quando me dei conta de que não, ela não queria falar sobre meu trabalho, e sim sobre minha faixa etária.Tomei um susto, pois ainda não me tinha caído a ficha de que ao ultrapassar a singela marca dos 60, além dos beneficios da meia-entrada, recebemos o bônus de ser considerados cidadãos de terceira idade. Levei uns trinta segundos para me refazer, ao fim dos quais, depois de explicar `a minha entrevistadora que não se fazem mais velhos como antigamente, disse a ela mais ou menos o seguinte:Cara repórter: sei que o que você quer ouvir de mim se refere a tudo o que no momento não me interessa. Sei também que o motivo de você me procurar para esta alentada entrevista é o fato de eu ter entrado, assim de um dia para o outro, em idade provecta, ainda usando jeans e tênis. Você quer saber meus truques de beleza, meus segredos de sobrevivencia, quer que eu sirva de exemplo para outras senhoras na mesma faixa etária. Acho que não vai dar, sorry. Você me pergunta como me sinto aos 61 anos. E eu lhe afirmo, com toda sinceridade: não faço a mínima idéia. Não faço mesmo, e isso não é uma frase de efeito. Está aí um assunto que ainda não me tinha passado pela cabeça. Como me sinto? Deixa eu pensar um pouco. Um pouco mais esperta, possivelmente. Somos tão bobinhas na juventude. Mas posso garantir que me sinto mais capaz do que nunca quando o assunto é o meu trabalho. O que eu sei hoje sobre o meu ofício, eu não sabia há quarenta, trinta ou vinte anos atrás. Cada dia que passa é um dia em que conheço um pouco mais de mim mesma e redesenho meu lugar no mundo. Se estou mais ou menos feliz com isso, é outra questão. Uns dias estou, em outros quero fugir voando para uma praia do Caribe e arrumar um emprego num bar de hotel. Sério.E o amor, você pergunta? Ah, l’amour! Oui, bien sûr, é muito bom, é bom demais, mas você não quer saber sobre amor, confesse. Amor aqui na entrevista é assim uma espécie de nome artistico para sexo, certo? Pode dizer logo. Você não usa a palavra porque acha que vai me escandalizar, mas foi você quem ficou chocada ao saber que eu durmo com o mesmo homem há trinta anos e ainda acho ótimo. Aliás, se durmo é justamente porque ainda acho ótimo. Ficou confuso pra você? Pois é, eu avisei. Não se fazem mais velhos como antigamente.
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