sexta-feira, 18 de novembro de 2011

EM UM ÁLBUM DE PRECIOSIDADES, GONZAGA LEAL SE FAZ OURIVES COM AS CANÇÕES

Há um provérbio bastante popular que diz que nem tudo o que reluz é ouro. Esta premissa perde seu sentido quando não nos dá os fundamentos necessários para a explicação acerca de "O que mais aflore", álbum que traz um dourado e inspirado Gonzaga Leal.

Por Bruno Negromonte


Alguns destilados e fermentados são melhores sorvidos depois de longos anos, isso se dá devido a espera da depuração de um ou até mais componentes de tais bebidas. Como exemplo podemos citar os vinhos, que tornam-se mais requintados quando acolhidos em barris de vinícolas ou em adegas à espera de que os anos passem trazendo-lhes características peculiares, dentre as quais a suavidade. Tal qual destilados e fermentados se fez a carreira fonográfica deste artista pernambucano, que veio auto depurando-se nos palcos brasileiros desde a década de 70 (quando dividiu os palcos com nomes como Boca Livre, Canhoto da Paraíba, Edu Lobo, Eduardo Dusek, Tito Madi, Zé Miguel Wisnik entre outros). A sua formação musical começou a ser construída ainda na infância, quando o pequeno Gonzaga Leal começou a ser norteado pelas ondas do rádio existente na sala de sua casa na cidade de Serra Talhada (sertão do Pajeú pernambucano).

Suas reminiscências musicais não são frutos de vitrolas e LP's (algo comum a muitos), mas das audições de canções como " Sertaneja" (René Bittencourt) e "Se ela perguntar" (Jair Amorim e Dilermano Reis) a partir das ondas radiofônicas. E foi a partir deste hábito e do interesse do menino Gonzaga pelas lindas canções que dali eram emitidas, que acabou sendo fecundada uma espécie de semente no pequeno Leal, que após alguns anos germinou de maneira plena; o arrebatando e constituindo em definitivo o seu universo cultural (essencialmente musical) a partir de então.



Posteriormente, ao longo da juventude, ao chegar a capital para estudar Terapia Ocupacional acabou dando início também a uma odisseia musical pois trouxe consigo para a capital a tal semente, já fertilizada no sertão por nomes como o da professora Rosa Pau Ferro (mestra em técnica vocal) e do maestro Edézio da Jazz Acadêmica de Serra Talhada. Eles perceberam que essa semente já mostrava que iria render pomposos frutos.

Quando decidiu profissionalizar-se contou com o auxílio de diversos nomes presentes no cenário musical do Recife, principalmente com aqueles que faziam parte do Conservatório Pernambucano de Música (onde estudou técnica e teoria musical) e também com a ajuda dos profissionais existentes nos diversos programas televisivos ao quais participou na época, principalmente na TV Jornal do Commercio, como os programas "Você faz o show" sob o comando do apresentador Fernando Castelão e "Eu show Luiz Vieira"; além das apresentações nas casas noturnas da cidade, que além de propiciar experiência levou o artista ao convívio de nomes como Canhoto da Paraíba, Marlene (uma das divas do artista), Emilinha, Luiz Vieira, Cauby e Ângela Maria, Tito Madi, Johnny Alf e Dóris Monteiro entre outros.

Foram vários anos nos palcos do Recife apresentando espetáculos diversos dentre os quais "Quando a dor não tem razão"; "Gonzaga Leal e Henrique Annes no recital Aparição"; "Gonzaga Leal canta Heitor Villa-Lobos e declama Manuel Bandeira" entre outros; Em dado momento a restrição aos palcos (que privava o grande público da possibilidade de se deliciar com a audição do que era presenciado nos espetáculos) já era algo incômodo e precisava expandir-se ao disco. A experiência nos palcos depurou o artista de maneira suficiente, dando-lhe o sustento necessário para que em seus trabalhos fonográficos fossem arraigados prismas carregados de talento, onde o tempo da delicadeza pode surgir não de maneira unítona em sua voz, mas transfigurado em diversos outros requintes. Talvez por isso essa intuição ao bom gosto esteja tão evidente no trabalho desse pernambucano em projetos como o álbum "Minha adoração: um tributo a Nelson Ferreira", "Gonzaga Leal cantando Capiba... e sentirás meu cuidado" e "E o nosso mínimo é prazer!". Curiosamente só depois de duas décadas de carreira atuando nos palcos foi que o artista teve o seu primeiro registro fonográfico.

Sem prender-se a nenhum tipo de estigma, Leal vem construindo paulatinamente através da técnica, da versatilidade e da emoção do seu canto uma carreira coesa, e isso o credencia atualmente como um dos exponentes da cena musical pernambucana ao apresentar ao público um trabalho carregados de adjetivos que já são natural e inerentemente associado a todos os seus projetos: uma ousada e moderna qualidade estética como o que se é visto em seu mais recente álbum. O sexto fruto da seleta e requintada discografia de Gonzaga Leal intitula-se "O que mais aflore" e traz consigo a mesma linhagem peculiar dos discos de Gonzaga desde o primogênito trabalho lançado em 2000.

No caso do primeiro álbum (O Olhar Brasileiro de Gonzaga Leal) há um repertório composto por nomes do primeiro time do cenário cultural pernambucano como Nando Cordel, Capiba, Alceu Valença, Carlos Pena Filho eMoacir Santos somados a compositores de relevância nacional análoga como Paulo César Pinheiro,Sueli Costa, Vinícius de Moraes, Paulinho da Viola, Chico Buarque entre outros. O projeto conta com os arranjos de Neneu Liberalquino, músicos como Naná Vasconcelos (que define o álbum como "uma seleção de canções românticas cortejadas por Leal e que nos leva à essência da mpb, no seu lado mais puro nos trazendo de volta o sutil e verdadeiro sentimento de amor") e Henrique Annes. O álbum traz consigo uma característica que acompanha os trabalhos elaborados por Gonzaga desde então: uma sagacidade voltada para o refinamento que é capaz de transformar o mais óbvio em requinte. Trata-se de um minucioso trabalho, onde o singelo paradoxalmente se funde ao suntuoso repertório e projeto gráfico. Vale salientar que todos os trabalhos posteriores do artista trouxe consigo características semelhantes e que fazem Gonzaga Leal preencher algumas lacunas dentro da música brasileiras antes desconhecidas a partir de um ecletismo que, como define a jornalista Flávia de Gusmão, é sua pedra de toque e apuro estético, sua profissão de fé. E foi a partir do álbum O Olhar Brasileiro de Gonzaga Leal, que o artista deu o pontapé inicial ao reconhecimento hoje existente ao seu trabalho o credenciando entre os grandes nomes do cenário musical nacional a partir das boas avaliações tanto do público quanto crítica especializada aos seus projetos.



Neste "entronamento" de qualidade rebuscada, Gonzaga faz da sua sensibilidade aguçada norte seguro para a ousadia, inteligência e refinada percepção na escolha de um rebuscado repertório, onde consegue tecer com precisão os fios das canções como só os grandes artistas são capazes "compromissado com apenas aquilo que o toca", como afirmou. E é isto que ele apresente em seu mais recente projeto intitulado "O que mais aflore", onde Gonzaga lapidou um disco de maneira minuciosa, onde a escolha do repertório se deu entre canções de domínio público, temas religiosos, sambas e compositores diversos.

A primeira faixa do álbum mostra de cara um pouco do propósito do álbum, que é resgatar as tradições culturais brasileiras de forma rebuscada a partir de uma rica sonoridade. "Ponto de Ogum" (que conta com a participação da artista pernambucana Anastácia Rodrigues) trata-se de um tema de domínio público recolhido pelo músico mineiro Djalma Correa e adaptado por Gonzaga. O trabalho segue dando destaque a cena musical local, primeiro com o contemporâneo samba de autoria do pernambucano Junio Barreto intitulado "A quem glória possa ser" vindo em seguida o destaque a outros artistas conterrâneos de Leal como, por exemplo, na faixa composta pelo instrumentista, compositor e produtor musical Juliano Holanda intitulada "Na primeira cadeira que encontrei", que traz uma forte lembrança dos cantadores nordestinos com versos em decassílabo (as chamadas parcelas - canção em 10 estrofes). Há ainda "Pedra de fogo" (canção composta por 3 dos integrantes do antigo Mestre Ambrósio - Siba, Sérgio Cassiano e Hélder Vasconcelos) com citação do artista baiano Bule-Bule e participação do cantor pernambucano Geraldo Maia (que também assina a faixa "Presente fruto" existente no álbum). Há ainda "De madrugada" (do cantor e pernambucano Aristides Guimarães, que em 2011 completa 45 anos de atividade artística e que também participa em uma das faixas) e a junina "Festa do fogo" do não menos pernambucano Públius (que também participa da faixa acompanhado da viola caipira de Chico Lobo).



As verdadeiras raízes da música brasileira se evidenciam nas interpretações dos diversos temas de domínio público presentes no disco e que se entrelaçam de maneira tal que formam um verdadeiro mosaico de identidade cultural brasileiro a partir de faixas como "Mestre dos reis magos chegou", "Ô-lê-lê" (tema tradicional de Moçambique), "Senhora Santana"(bendito de origem medieval recolhido), "Passarinho pintadinho", "Muriquinho" (canto dos vissungos, escravos da mineração de Diamantina), "Boneca", "Saudação a Oxossi" (tradição afro-brasileira), "Em santo Amaro" e "Cariolé" (sambas de roda tradicional).

O trabalho ainda conta com a participação do violonista, compositor e arranjador Roberto Mendes (que assina e participa da faixa "Deu saudade"), do regente da banda sinfônica do Recife, violonista e arranjador Neneu Liberalquino (cantando em uma das faixas), do sambista Marcos Sacramento (na faixa da composição de Ataúlfo Alves intitulada "Saudades do meu barracão"), do mestre Dominguinhos em "Última estrofe" (de autoria do carioca Cândido Neves - o índio) e do Chico Lobo (que empresta sua viola e voz a serviço da canção de sua autoria "Hoje sei que volto" e da já citada "Festa do fogo").

Sob a maioria dos arranjos de Nilson Lopes o disco conta ainda com a participação dos músicos George Rocha, Tomás Melo, Elias Paulino (percussão), Cláudio Moura (violão e viola), Rodrigo Samico (violão), Julinho, Beto Ortiz (acordeom), Bandeira (clarinete) Nilsinho Amarante (trombone), Erison Oliveira (clarinete), Cláudia Beija, Naara, Lucinha Guerra e Abissal (vocais), Bianca Moraes, Deneil Laranjeiras (arranjo da faixa "Passarinho pintadinho") e Lucas dos Prazeres (percussão e vocal). A direção musical fica sob os cuidados de Cláudio Moura (integrante do grupo Sá Grama e discente do conservatório pernambucano de música) que vem trabalhando a alguns anos com Leal e mostrando que apesar de toda heterogeneidade presente no álbum a coerência e unidade rítmica se faz como marca de tais trabalhos.


Quando questionado a respeito do zelo e o cuidado na elaboração de seus discos ele responde geralmente com a seguinte frase: “Gosto de fazer as coisas aos poucos, saboreando e compreendendo exatamente cada detalhe do que estou criando”, daí explica-se os dois anos de dedicação na elaboração deste trabalho, que chega a excelência por mérito próprio. Enfim, "O que mais aflore" se faz supra-sumo de extremos quando se emaranha de maneira perfeita em um tipo de arte que se faz contemporânea e ao mesmo tempo barroca, requintada sem perder a veia popular. É um disco que traz um novo conceito não só estético, mas também auditivo, onde o cuidado do artista se evidencia nos mais minuciosos detalhes. “Isso expressa o cuidado que tenho com meu trabalho, um respeito do artista com a própria imagem, mas também com o público”, como ele mesmo afirma nesse trabalho essencialmente verdadeiro.


Maiores Informações:
Leal Produções Artísticas Ltda.
Rua Raul Lafayette, 191 - sala 403
Boa Viagem - Recife - PE
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1 comentários:

Anônimo disse...
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