Dois grandes nomes de nosso cancioneiro popular que se vivo estivessem estaria completando um século de vida
FRANCISCO MALFITANO
Ainda garoto já tocava no grupo de seu tio, o clarinetista Alfredinho. Aos 15 anos começou a compor, fazendo música para o grupo de escoteiros do qual participava. Estudou com o maestro Antão de Oliveira, mas só tocava de ouvido. Em 1936, transferiu-se para São Paulo, como redator de textos de publicidade, na Rádio Record. Por essa época, convidado para organizar o elenco da Columbia, reuniu vários cantores, entre os quais Nuno Roland e Deo. Em 1942, foi um dos fundadores da UBC (União Brasileira de Compositores). Em julho de 2010, aos 95 anos, deu entrevista à Revista da UBC na qual falou sobre a fundação da entidade: "Naquela época, havia a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT), que tinha um setor para administrar obras musicais. Em 1938, foi fundada a Associação Brasileira de Compositores e Autores (ABCA), da qual meu parceiro Eratóstenes Frazão era presidente. Mais tarde, em 1942, os esforços do departamento musical da SBAT e da ABCA se uniram, e fundamos então a UBC, presidida pelo Ary Barroso". Casou-se em 1943, passando então a se dedicar ao comércio, abandonando paulatinamente a carreira artística. Faleceu no Rio de Janeiro aos 95 anos de idade.
Iniciou a carreira de compositor em 1937, quando, em parceria com Aluísio Silva Araújo, lançou diversas músicas. Os sambas "Onde vais, Guiomar?" e "Sinto lágrimas" foram gravados por Deo, sendo este último um dos maiores sucessos de sua carreira. Em 1938, foi premiado pela Broadcast Music Inc. por suas versões para duas músicas italianas - "Vivere" e "Torna" -, grandes sucessos na voz de Tito Schipa, denominadas "Teu viver" e "Volta, minha querida", na versão brasileira gravada pelo cantor Cândido Botelho. Nesse mesmo ano, Sílvio Caldas lançou com sucesso o samba-canção "Mentes ao meu coração". Em 1939, compôs com Frazão o samba "Vais te cansar", gravado por Aracy de Almeida, e a marcha "Quem é essa morena?", gravada por Nílton Paz, na Columbia. Em 1940, os Anjos do Inferno, a seu convite, estrearam na Columbia gravando "Bahia, oi... Bahia" e "Duas chaves". Neste mesmo ano, lançou com Zilá Fonseca as marchas "A charanga do Oscar" e "Pigmalião". Em 1941, deixou a Rádio Record e começou a trabalhar como representante de Walt Disney no Brasil. Lançou ainda para o carnaval as marchas "Princesinha", registrada por Deo, na Odeon, e "A voz do povo", grande sucesso na voz de Orlando Silva. Em 1943, dedicou-se ao comércio e aos poucos foi abandonando a carreira artística. Em 1946, compôs "Desenho animado", sucesso infantil baseado no seu trabalho com Walt Disney. Em 1975, Paulinho da Viola gravou, no LP "Memórias- Cantando", o samba-canção "Mente ao meu coração". Em 2007, seu samba "Mente ao meu coração" foi gravado pela cantora Maria Rita no CD "Samba meu".
JAIR AMORIM
Filho de uma família de classe média. Na infância, cursou os primeiros anos em uma escola na cidade de Colatina, ES. Fez o ginásio no Internato São Vicente de Paula, em Petrópolis, RJ. Com apenas 15 anos, já mostrava facilidade para escrever versos, criando versões em português para sucessos estrangeiros. Diplomou-se em 1930, no curso de Bacharel em Ciências e Letras (correspondente ao 2º Grau de hoje). Com a morte do pai, quando tinha 13 anos, precisou trabalhar e começou no jornalismo como revisor, paginador, cronista social, crítico teatral e de cinema, no "Diário da Manhã", de Vitória, onde recebia o salário de 150 mil-réis. Em seguida, passou a escrever uma coluna social no jornal "A Gazeta", também de Vitória. Em 1940, recebeu convite para dirigir a Rádio Clube do Espírito Santo, onde produziu vários programas e lançou-se como locutor de noticiários. Transferiu-se para o Rio de Janeiro, em 1941. Na então Capital Federal, passou a escrever esporadicamente nas revistas "Carioca" e "Vamos ler". Logo em seguida, conseguiu ser contratado como locutor na Rádio Clube do Brasil, onde lia anúncios de pomadas, comentava discos (uma novidade na época) e escrevia crônicas. Em 1944, foi contratado pela Agência Nacional, como locutor. Casou-se, em 1946, com Virgínia, com quem teve dois filhos (Jair Amorim Filho e Marcos Amorim) e uma filha (Lilian da Glória). Faleceu aos 78 anos, na cidade paulista de São José dos Campos.
Ainda em Vitória, já fazia letras para marchinhas de blocos carnavalescos locais. Foi na Rádio Clube do Brasil que conheceu o pianista e compositor José Maria de Abreu, de quem tornou-se amigo. Na época, José Maria estava desencantado com a morte de seu principal parceiro, Francisco Matoso, e não cedeu às investidas do jovem locutor, para musicar-lhe algumas letras. Mesmo assim, o futuro compositor insistia, tentando provar que era capaz de escrever poemas. Passou a frequentar as rodas boêmias junto com o próprio José Maria, com Dilermando Reis e Fernando Menezes. Um dia numa conversa de fim de noite, impressionou a todos ao mostrar-se conhecedor de literatura francesa, recitando versos de Baudelaire e Rimbaud. Numa ocasião, veio a chance de lançar-se como letrista. Foi num programa do galã Arnaldo Amaral em que este pôs no ar e comentou o sucesso internacional "Maria Elena", do mexicano Lorenzo Barcelata, que tinha letra em inglês. Em um comentário, Arnaldo Amaral afirmou que se tivesse uma letra em português para aquela música, ele gravaria e certamente seria sucesso. Jair então disse: "Se você quiser, eu faço uma". De fato, a versão foi lançada pela Continental, alcançando as paradas de sucesso. Foi o impulso necessário para José Maria de Abreu resolver aceitar a parceria com ele, que acabou rendendo vários clássicos da música popular brasileira, como "Ponto final", "Sonhar", "Alguém como tu" e "Um cantinho e você".
Em 1945, teve a primeira composição com José Maria de Abreu gravada, o fox canção "Brigamos outra vez", na voz de Orlando Silva na Odeon. Em 1948, depois de sair da Rádio Clube do Brasil, foi contratado pela Rádio Mayrink Veiga. Quatro anos depois, retornou à Rádio Clube, onde passou a apresentar o programa "Discos na Vitrina". Em 1949, teve gravados os sambas "Ponto final", por Dick Farney, este um grande sucesso daquele ano, "Não me pergunte", por Sílvio Caldas, e "Um cantinho e você", por Radamés Gnatalli ao piano, todos parceria com José Maria de Abreu, na Continental. Em 1951, teve outra de suas parcerias com José Maria de Abreu gravada por Dick Farney, o samba "Sonhar". Ainda em 1952, compôs a valsa canção "Se ela perguntar", com Dilermano Reis, gravada por Carlos Galhardo, com Wilson Batista a marcha "Matéria plástica", gravada por Ângela Maria e, com Roberto Martins, a marcha "Salomé", gravada por Gilberto Milfont. No mesmo ano, obteve grande sucesso com o samba canção "Alguém como tu", parceria com José Maria de Abreu, gravado por Dircinha Batista e que se tornou um clássico da canção romântica. Em 1953, teve a marcha "Deu sopa...eu apanho", parceria com Péricles, gravada pelos Vocalistas Tropicais. No ano seguinte, compôs com José Maria de Abreu, os sambas canção "Uma palavra", gravado por Dircinha Batista e "Fui eu", registrada por Carlos Galhardo.
Em 1955, seu samba-canção "Alguém como tu", com José Maria de Abreu, fez parte do reprertório da cantora francesa Jacqueline François nos shows que ela realizou no Rio de Janeiro. Em 1956, teve gravadas, entre outras composições, os sambas "Hino ao samba", parceria com José Maria de Abreu, por Francisco Carlos e, "Conceição", parceria com Valdemar de Abreu, o Dunga, pelo Conjunto Farroupilha. Este último samba receberia ainda regravações de Dircinha Batista e Cauby Peixoto, que o imortalizou com sua interpretação. No ano seguinte, Nelson Gonçalves gravou o samba canção "Que me importa", parceria com Dilermano Reis, Jamelão o samba "Quem mandou" e Agostinho dos Santos o samba canção "Maria dos meus amores", este, um dos sucessos do ano, as duas últimas, parcerias com V. de Abreu, o Dunga. Conheceu Evaldo Gouveia, em 1958, na sede da UBC. No mesmo dia compuseram a primeira composição, "Conversa" de uma série de parcerias. A música foi gravada por Alaíde Costa, pela RCA Victor naquele mesmo ano. Em 1959, com o mesmo parceiro compôs o bolero "Só Deus", gravado por Maysa na RGE. Em 1960, compôs com Evaldo Gouveia o samba-canção "Cantiga de quem está só", gravada por Agostinho dos Santos. Em 1962, a dupla compôs "Poema do olhar", que o cantor Miltinho gravou pela RGE e, "E a vida continua", gravada primeiramente pela cantora Rosana Toledo pela RGE e regravada por Nora Ney e Agnaldo Rayol. No mesmo ano, os boleros "Maldito" e "E a vida continua", de com Evaldo Gouveia, foram gravdos pela cantora Edith Veiga no LP "Sozinha".
No ano seguinte, lançaram "Samba sem pim-pom", "O bilhete"e "Serenata na chuva". Nessa época, o cantor Altemar Dutra passou a ser o principal intérprete das composições da dupla. Foram vários sucessos: em 1963, o bolero "Tudo de mim", incluída no LP de estréia do cantor; em 1964, o bolero "Que queres tu de mim" e "Serenata da chuva", incluídos nos LPs lançados pela Odeon; em 1965, "Sentimental demais" e "O trovador"; em 1966, "Brigas", do LP "Sinto que te amo", pela Odeon. Em 1964, foi homenageado pela gravadora Copacabana com o LP "Tudo de mim - Poemas e canções de Jair Amorim" no qual 11 composições foram interpretadas por diferentes artistas: "Serenata da chuva", na voz de Roberto Silva; "Cantiga de quem está só", interpretação de Marisa Gata Mansa; "Ave Maria dos namorados", com Eleonora Diva; "Noturno de Ouro Preto" e "E a vida continua", na voz de Agnaldo Rayol; "Maldito", na voz de Morgana; "Tudo de mim", cantada por Moacyr Franco; "Se eu pudesse", interpretada por Elizeth Cardoso; "Conceição", interpretada por Dolores Duran; "Alguém me disse", com Mara Silva, e "Quando o amor chegar", na voz de Silvana. Em 1965, obtive sucesso com o samba "Garota moderna", uma homenagem dele à filha caçula, gravado por Wilson Simonal. Ainda em 1965, compôs com Evaldo Gouveia o "Hino de amor ao Rio de Janeiro" que foi a música de encerramento do espetáculo "Hip! Hip! Hip! Rio!" montado por Carlos Machado e apresentado na boate Night and Day.
Em 1969, o cantor Jair Rodrigues gravou, também dele e Evaldo Gouveia, o samba "O Conde" e Dircinha Batista o samba "Faz de conta", parceria com Evaldo Gouveia e Luiz de França. Fez ainda sucesso com Evaldo Gouveia em bailes de carnaval com a marcha-rancho "Bloco da Solidão", lançada em 1971.Para o carnaval de1973, compôs com Evaldo Gouveia o samba-enredo da escola de samba Portela, que homenageava Pixinguinha, "O mundo melhor de Pixinguinha". Embora recebendo críticas positivas e negativas, em igual grau, a música acabou por ser uma das mais executadas, tanto no ano do lançamento quanto posteriormente. Em 1975, Ângela Maria gravou "Tango pra Tereza", parceria com Evaldo Gouveia. Em 1979, a música "Se eu pudesse", com Evaldo Gouveia, foi gravada pela dupla Jane e Herondy. Em 1980, fez sucesso com o bolero "Meu homem", com Evaldo Gouveia, gravado pela cantora Edith Veiga. Em 1993, os sambas-canção "Alguém como tu", com José Maria de Abreu, e "Brigas", com Evaldo Gouveia, foram gravados pelo cantor Fagner no LP "Demais" da BMG Ariola. Em 1999, Cris Braun gravou "Brigas", Ana Carolina "Alguém me disse" e Milton Nascimento "Se alguém telefonar", toas parcerias com Evaldo Gouveia.Teve lançado pela Copacabana o LP "Tudo de mim", com poemas e canções de sua autoria. Em 2000, teve outras três parcerias com Evaldo Gouveia regravadas: "Sentimental demais" e "Que queres tu de mim" por Simone e "Ninguém chora por mim", por Fafá de Belém. Em 2003, a cantora Gal Costa regravou "Alguém como tu", parceria com José Maria de Abreu, e que foi incluída na trilha sonora do filme "Apolônio Brasil", de Hugo Carvana. No mesmo ano, o antigo parceiro Evaldo Gouveia gravou a inédita "Hora eu, hora você", parceria dos dois. No mesmo ano, sua filha encontrou um caderno com 13 músicas inéditas esquecido em uma gaveta contendo entre outras "Conselhos", parceria com Nivaldo Fiúza. Ainda em 2003, teve a guarânia "Ave Maria dos namorados", com Evaldo Gouveia, gravada pelo violeiro Yassir Chediak, no CD "Estradas".
Fonte: Dicionário da MPB
Fonte: Dicionário da MPB
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