quarta-feira, 11 de abril de 2012

DIRCINHA BATISTA, 90 ANOS

Se viva estivesse, uma das cantoras mais popular de sua época estaria completando 90 anos ao longo deste ano.

Por Bruno Negromonte


Falar de Dircinha Batista é remeter-se a um período de nossa música onde a qualidade de seus compositores e intérpretes era algo primordial. As irmãs Batista (como eram conhecidas Linda e Dircinha) são provas desta afirmação. Hoje, abordarei aqui um pouco sobre a carreira da Dircinha, que em mais de 40 anos de carreira escreveu seu nome dentro de nossa MPB para a eternidade virando referência para nomes, por exemplo, como Nana Caymmi.

Sua carreira começou ainda criança, apresentando-se no Teatro Santana, em São Paulo, assim como também no Cine Boulevard, em Vila Isabel, Rio de Janeiro interpretando a música "Morena cor de canela", de Raul Roulien na tenra idade dos 6 anos. Suas apresentações aconteciam ao lado do pai, considerado por muitos como o maior ventríloquo do Brasil, Batista Júnior (como era conhecido), além de ventríloquo também foi cantor, compositor e humorista. E ao longo de cerca de 40 anos de atividade artística Dircinha Batista (que no início da carreira assinava Dircinha de Oliveira) gravou LP's, mais de trezentos discos em 78 rpm e participou de diversos programas radiofônicos e de cerca de dezesseis de filmes. Além disso, a cantora sacramentou inúmeros sucessos carnavalescos.

Apesar de ter nascido em São Paulo, ainda criança mudou-se com a família para o bairro do Catete no estado do Rio de Janeiro. Foi na então capital do país que, em julho de1930, com apenas oito anos de idade, gravou o seu primeiro disco para a Columbia com duas composições do seu pai: "Borboleta Azul" e "Dircinha". No ano seguinte passou a afazer parte como membro do programa de Francisco Alves na Rádio Cajuti e posteriormente na Rádio Clube do Brasil; e ao longo da década de 30 gravou discos pela Victor e canções em 78rpm como, por exemplo, em 1933 quando gravou as canções "A orfã" e "Anjo Enfermo" (de Cândido das Neves,o Índio, com acompanhamento do compositor ao violão); Em 1937 Dircinha Batista entra em estúdio com apenas uma canção composta por Benedito Lacerda intitulada "Não Chora" para o 78 rpm que seria gravado. Porém não havia a outra canção para o lado oposto do disco. Para completar o discon Nássara (que estava no estúdio) tinha a primeira parte de uma marchinha que completou rapidamente para fazer parte do 78 rpm da artista e assim, Batista gravou seu primeiro grande sucesso, "Periquitinho Verde", que estourou no Carnaval do ano seguinte. A década de 30 mostrou a ascendência a qual estava predestinada a carreira das irmãs Batistas. Dircinha recebeu a faixa de melhor cantora do governador de Minas Gerais Benedito Valadares e venceu um concurso promovido pelo jornal "O Globo" para escolher a cantora preferida da capital federal. Além de emplacar diversos outros sucessos como "Tirolesa" (um dos grandes sucessos do Carnaval de 1939), "Mamãe, Eu Vi um Touro", "Moleque Teimoso", "Era Só o Que Faltava", "Pirata", "Muito riso, pouco siso" "Meu sonho foi balã", "Meu moreno", o chorinho "Moleque teimoso", a marcha "Barba Azul" entre outros. Tantos sucessos são justificados pela quantidade de 78 rpm's grvado pela artista na época. Só em 1939, gravou onze, cerca de um por mês!



A apesar de ter tido um hiato temporário na carreira ao longo da década motivado pelo falecimento do pai, a década de 40 sacramentou seu nome em definitivo entre as grandes intérpretes de nossa música popular emplacando diversos sucessos como "Katucha", "Upa, Upa", "Acredite Quem Quiser", "Nunca Mais", "Inimigo do Batente", "Eu Quero É Sambar". É dessa década o milionário contrato assinado por Dircinha Batista com a Rádio Ipanema, sua participação como rádio-atriz, na novela "Meu amor", de Hélio Soveral; seu título de Rainha do rádio (conquistado em 1948) e a sua primeira turnê internacional, quando foi à Buenos Aires e apresentou-se no Teatro Colón e na Rádio Municipal dando início a difusão de suas gravações por outros países da América do sul.

Ao longo dos anos 50 atuou no teatro (nas companhias teatrais de Dercy Gonçalves e de Barreto Pinto), trabalhou em rádios como a Nacional e a Clube do Rio de Janeiro, foi na Rádio Clube que apresentou o programa "Recepção", programa dedicado aos compositores populares brasileiros. Devido a sua atuação neste programa ganhou uma placa de prata na SBACEM (Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música) e um troféu pela UBC e foi também a década em que alcançou enorme sucesso, devido dentre outros fatores, a gravação de um de seus maiores sucessos com "Se Eu Morresse Amanhã de Manhã" e composição do pernambucano Antônio Maria, além de canções como "Guerra ao Samba" (1955), "Tira a Mão Daí", "Depois Eu Conto" (1956), "Metido a Bacana" (1957), "É de Chuá" (1958), "Mamãe, Eu Levei Bomba" (1958), entre outras. Inclusive é dessa década uma das primeiras gravações do clássico "Nunca" (composição do gaúcho Lupicínio Rodrigues) justamente na voz de Dircinha. Seus últimos sucessos são da década de 60 com canções como "A Índia Vai Ter Neném", "Brasinha", "O último saber" e "Casa de sapê"; assim como também são dessa década a sua experiência na TV Tupi como repórter e animadora de programas em 1961.

Na década de 1970, mesmo recebendo propostas vultosas para gravar programas especiais para a TV Globo abandonou definitivamente a vida artística abalada pela morte da mãe e pela falta de memória nacional (depois de mais de 4 décadas de atividades artísticas). É nesse período que começa a convivência com uma depressão psicológica ficando praticamente reclusa, junto com as irmãs, em um pequeno apartamento no bairro de Copacabana no Rio de Janeiro. Em 1978, quando o Programa Banco de Memória (TV Globo) gravou em seu apartamento, o depoimento da irmã Linda, a equipe ficou esperando por Dircinha mais de três horas, sem qualquer resultado, pois ela recusava-se a sair de seu quarto. Nos anos 80, o cantor José Ricardo ampara a ela e as irmãs (Odete e Linda), como membros de sua família. Com a morte de Linda, em 1988, o quadro depressivo de Dircinha piorou significadamente, por isso ela foi conduzida, em estado deplorável, dois anos depois da morte de Linda, para viver no Hospital Dr. Eiras, onde faleceu numa sexta-feira, 18 de junho de 1999, no Rio de Janeiro, aos 76 anos, vítima de uma parada cardíaca.

Vale trazer ao conhecimento dos leitores que paralelamente a carreira de cantora, Dircinha participou de diversos filmes durante as principais décadas de sua carreira. Sua história com o cinema começou quando Dircinha, aos 13 anos de idade, participou do filme "Alô, Alô, Brasil", um filme sob direção do Wallace Downey, Alberto Ribeiro e João de Barro (Braguinha) e que conta a história de dois empresários que tentam vender um espetáculo musical para um cassino, mas o show não sai como o planejado. A história é basicamente a apresentação de 22 dos mais populares músicos do rádio brasileiro da época. 

Posteriormente, no ano seguinte, participou dos filmes "Alô, Alô, Carnaval" (Wallace Downey) e "João Ninguém" (Mesquitinha). Daí a artista não parou de participar de diversos filmes ao longo das décadas seguintes como, por exemplo, ainda na década de 30 participou de "Bombonzinho" (Mesquitinha) (1937), "Banana da Terra" (1938) e "Futebol Em Família" (ambos de Ruy Costa) (1938) e "Onde estás, Felicidade?" (Mesquitinha) (1939).

Com a década seguinte vieram "Laranja da China" (Ruy Costa) (1940), "Entra Na Farra" (Luiz de Barros) (1941), "Abacaxi Azul" (Ruy Costa e Wallace Downey) (1944), "Não Adianta Chorar" (Watson Macedo) (1945), "Fogo Na Canjica" (Luiz de Barros) (1947) "Folias Cariocas" (1948) (Manoel Jorge e Hélio Thys) e "Esta É Fina!" (Moacyr Fenelon e Luiz de Barros) (1948), "Eu Quero É Movimento" (Luiz de Barros) (1949) e "Carnaval No Fogo" (Watson Macedo) (1949). Ao longo dos anos 50 a participação cinematográfica de Dircinha manteve-se no mesmo ritmo em que sua carreira ascendia, a fazendo participar de filmes como "É Fogo na Roupa" (Watson Macedo) e "Está Com Tudo" (Luiz de Barros) (ambos de 1952), "Carnaval Em Caxias" (Paulo Wanderley) (1953) , "Guerra Ao Samba" (Carlos Manga) (1955), "Tira a Mão Daí!" (Ruy Costa) (1956), "Depois Eu Conto" (José Carlos Burle) (1956), "Metido A Bacana" (J. B. Tanko) (1957), "Mulheres À Vista!" e "Entrei de Gaiato" (ambos de 1959 e dirigidos por J. B. Tanko).




A década de 60 foi a menos substancial dentro da carreira da paulista Dircinha, pois conta apenas com três produções cinematográficas: "O Viúvo Alegre" (Victor Lima) (1960), "007 e meio no Meio No Carnaval" (Victor Lima) (1966) e "Carnaval Barra Limpa" (J. B. Tanko)(1967) contra os nove da década anterior. E vale a pena registrar também que Dircinha, junto de Linda Batista, foram as primeiras a gravar a famosa canção "Abre alas!" de Chiquinha Gonzaga na íntegra. Até então, a música era conhecida apenas por retalhos e enxertos em outros discos.

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