Avós de Noel Rosa (1919-1937), cujo centenário de nascimento é comemorado hoje, Rita de Cássia de Freitas Pacheco, Bellarmina de Medeiros e Manoel Garcia Rosa – o outro avô, Eduardo Correia de Azevedo, é fluminense de Cantagalo (RJ) –, naturais de Leopoldina, na Zona da Mata, são responsáveis pelo que um de seus biógrafos classifica de três quartos de Minas no cantor, compositor e violonista carioca.
A curta passagem de Noel por Belo Horizonte, em 1935, onde se submeteu a tratamento da tuberculose, no entanto, não teria influenciado em nada o compositor em termos de estilo. “Ele já era um artista pronto e acabado”, justifica Carlos Didier, que divide com João Máximo a autoria da esgotada e proibida pela família do músico Noel Rosa – Uma biografia, da Editora UnB, o mais completo estudo sobre o compositor.
Na capital, como descreve o biógrafo, ele mostra mais música do que faz, durante a vivência com a branda boemia belo-horizontina, se comparada à do Rio de Janeiro de então. Além da paródia do Trevo das quatro folhas (a versão de Nilo Sérgio para a canção americana I’m looking over a four leaf clover), que Noel dedicou à cidade, em duas versões – uma para ser tocada em reuniões de família, outra, devidamente apimentada, para ser mostrada na boemia –, o compositor carioca conseguiu melhorar o seu estado de saúde. Ele teria inclusive engordado sob os cuidados da tia Carmem, que morava no Bairro Floresta, Zona Leste da capital.
A agenda comemorativa ao centenário de Noel Rosa em Belo Horizonte é, portanto, mais do que justificada. Além de shows e peças de teatro, o compositor é homenageado com o blog Noel Rosa – 100 canções para o centenário (www.noelrosacentenario.wordpress.com), cuja última edição semanal, com direito a análise temática de sua obra, vai ao ar hoje. Bibliografia, artigos, comentários e vídeos relacionados constam da página, criada pelo compositor Toninho Camargos (ex-grupo Mambembe).
“Uma característica que diferencia Noel de outros compositores brasileiros de sua época é o fato de ele nunca estar fora da mídia”, destaca Toninho, lembrando que, de 1930 a 1936, Noel tinha uma média de 24 gravações/ano. “Com a morte dele, em 1937, este número caiu para 17 gravações/ano”, recorda. Em 1950, de acordo com o blogueiro, Aracy de Almeida foi responsável pelo retorno do compositor à mídia, com o lançamento de dois álbuns, com arranjos do maestro Radamés Gnatalli. “Desde então, Noel é sempre gravado”, constata.
Cotidiano
A perenidade característica da obra de Noel Rosa, que tanto atrai os intérpretes, segundo o biógrafo Carlos Didier, se deve principalmente ao foco que o compositor dava às coisas comuns. “Ele retratava o cotidiano de maneira muito simples”, elogia, salientando, ainda, o fato de a obra de Noel também estar toda focada no samba, não em gêneros atingidos pelo tempo como a marchinha. “O mais interessante disto tudo é a sensibilidade social de Noel, que, para a decepção de alguns, não tinha visão política”, repara, sem tirar méritos do compositor.
“Se o político bem-intencionado atua para que haja progresso social, então Noel passa por cima da questão política, indo direto ao social. E chega lá, então, sem ideologia. Ou seja, sua música não tem aquele arcabouço que com o tempo passa. As palavras de ordem passam”, avalia Didier, lembrando que, sensibilizado pelas pessoas deserdadas da sorte, Noel contava a história delas em sua música. O biógrafo ressalta também a abordagem bem-humorada que o compositor dá para os fatos sociais. “Não a gargalhada, mas aquele humor que exibe a coisa com a graça e com uma ponta de tristeza”, explica.
A obra de Noel Rosa se presta a todo tipo de leituras, de acordo com o também poeta Hermínio Bello de Carvalho, porque ela é atemporal. “Deixemos, pois, que cantem o Poeta da Vila da maneira que sentirem. Quem estiver incomodado, desligue o aparelho de som ou mude de canal”, recomenda Hermínio, ao comentar o lançamento do disco Noel Rosa – Tributo ao centenário, da banda carioca 1E99, que ousa reler clássicos do compositor em linguagem pop-contemporânea, com influências do rap, reggae e outros gêneros de origem estrangeira.
“A nossa primeira intenção foi resgatar o repertório para um público que nunca teve acesso a ele”, afirma o vocalista Rody, de 32 anos “Coincidentemente, o repertório escolhido (Com que roupa?, Fita amarela, Conversa de botequim, Pierrô apaixonado, Quem ri melhor, Feitiço da Vila, Palpite infeliz, Último desejo, Três apitos, Aeiou e Pastorinhas) é o mais animado de Noel, o que acaba promovendo link com a banda performática, graças a canções alegres e dançantes, que aproximam do groove dos rapazes. “Noel era um compositor à frente de seu tempo”, garante o vocalista da banda 1E99. No primeiro disco, ela prestava homenagem a Carmem Miranda.
Durante um animado bate-papo em um boteco de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, os integrantes da mesa atravessam a tarde lembrando histórias e sambas antológicos do compositor mais ilustre do bairro. Naquele espaço, tão contagiante que atrai curiosos de todas as idades, a trajetória de Noel Rosa (1910-1937), cujo centenário é comemorado neste sábado (11), é contada em versos e prosas.
Nessa reunião improvisada, uma das figuras mais encantadoras do grupo é Araken Martins Costa, 85 anos, que enche o peito de orgulho ao contar que conheceu o Poeta da Vila e que morava em frente a casa do mestre, na Teodoro da Silva, esquina com a Visconde de Abaeté.
No local, foi construído há cerca de 50 anos um prédio de oito andares, o Edifício Noel Rosa.
“Ele era notívago. Passava as noites bebendo, com os amigos, compondo seus sambas, e dormia durante o dia. A mãe dele contava que quando saía sempre deixava um bilhete avisando que ia gravar, mas virava a noite”, lembra, cheio de admiração pela atitude do boêmio, fumante inveterado, apesar da saúde frágil, e compositor que escrevia letras memoráveis em guardanapos de papel.
Com tantas histórias na ponta da língua sobre o grande ídolo do bairro, Araken passou a atrair muitos jovens interessados em conhecer a controvertida figura do homem que compôs canções inesquecíveis como “Com que roupa?”, “Palpite infeliz”, “Dama do cabaré” e “Último desejo”, entre tantos outros sucessos.
“Às vezes descia de manhã e parava na 28 de Setembro com a Rua Souza Franco para engraxar os sapatos com o Paschoal, um amigo. Vaidoso, costumava usar sapatos bicolores. Ele iniciava uma conversa, mas logo começava a cochilar na cadeira”, revela o historiador informal do compositor.
Musas
Com muita lucidez e uma memória invejável, o antigo vizinho de Noel entra na deliciosa polêmica sobre a musa inspiradora para a música "Três apitos".
À época, cogitou-se que a canção seria dedicada a uma moça de nome Clara, vizinha e conhecida da família e com quem Noel Rosa mantinha um relacionamento. A principal pista era o fato de ela trabalhar na fábrica de tecidos Confiança, em Vila Isabel, onde hoje se encontra o Supermercado Extra Boulevard.
Mas, para Araken e outros estudiosos da obra do compositor a música teria sido feita para Josefina Telles Nunes, que trabalhava numa fábrica de botões na Rua Barão de Mesquita, no Andaraí.
Há ainda outras polêmicas amorosas que envolveram o nome de Noel, apesar de casado com Lindaura Medeiros Rosa. “Ele foi apaixonado pela Ceci (Juracy Corrêa de Moraes, dançarina de cabaré), mas ela também teve um caso com Wilson Batista e namorou o Mário Lago”, conta, rindo, como quem revela um segredo de alcova.
Para ele, a melhor resposta do Poeta da Vila para o episódio é a composição "Quem ri melhor", feita para o carnaval de 1937. A musa ainda teria inspirado a canção “Pra que mentir?”.
Passeio musical
O músico Adilson Pereira, o Adilson da Vila, é outro estudioso da obra desse homem que é considerado um dos maiores nomes da música popular. E, na mesa do bar, pede a palavra. “Durante seis meses fiquei estudando o samba de Noel e a influência dessas canções na vida de quem mora em Vila Isabel. É uma riqueza que o mundo precisa conhecer”, exalta.
Com a benção de bambas como tias Surica e Doca, Seu Argemiro e Monarco, Adilson formou a Velha Guarda Musical para divulgar a obra do Poeta de Vila Isabel. Começaram a tocar em aniversários, depois acompanharam shows de Zeca Pagodinho e Marquinhos Satã.
Diante do sucesso, ganharam o mundo. Já se apresentaram na Rússia, China e países do Oriente Médio com o show “Vila canta e conta sua história”.
Mas o trabalho mais gratificante que essa turma faz é o projeto “Passeio Musical”,
que tem atraído muitos turistas. “É uma forma de trazer o público para conhecer esse bairro, berço do samba. Vamos conduzindo as pessoas pelas calçadas e tocando as músicas sobre as partituras de Noel. No passeio, que cruza a Avenida 28 de Setembro, os visitantes podem apreciar a estátua de Noel erguida em 1996. O próximo passeio será no dia 20 de janeiro.
“É uma emoção muito grande fazer parte desse universo musical tão rico. Cada momento como esse vale uma vida”, revela, emocionada, a intérprete do bloco “Mulheres da Vila”, Juju Bragança, acompanhada por Fátima Mendes, Márcia Rossi, Idália Vilaça, Maria Zilca, Jurema Mendes e Célia Mota. Quem dirige o grupo é Nádia Cursino.
Vida e obra
A paixão pela vida e obra de Noel Rosa pode ser explicada pela riqueza de suas canções, mas também pela morte prematura de um gênio da música, o cronista de uma época, como é reconhecido pelos pesquisadores.
Noel de Medeiros Rosa nasceu em 11 de dezembro de 1910, em Vila Isabel, de um parto difícil. Os dois médicos que o atendiam tiveram que usar o fórceps. O uso do instrumento teria sido a causa do afundamento do seu maxilar.
Ele é o primeiro dos dois filhos de Manuel Garcia de Medeiros Rosa e Martha Corrêa de Azevedo.
Aos 12 anos, Noel começou a estudar no Colégio São Bento. O sonho dos pais era que ele se formasse em medicina, como o avô e o tio. Chegou a entrar na universidade, mas interrompeu os estudos para enveredar pelo mundo do samba.
Compôs mais de 250 músicas, a maioria sucessos que são lembrados até hoje.
Sua maior influência musical em casa foi a avó materna, Rita, que tocava piano. Mas, com o pai e amigos, entre eles Vicente Sabonete, aprendeu a tocar bandolim.
Foi no Bando de Tangarás, grupo que formou ao lado de João de Barro, o Braguinha, Almirante, Alvinho e Henrique Brito que começou sua carreira.
Em 1934, Noel contraiu tuberculose, doença que causaria sua morte em 4 de maio de 1937. Morreu aos 26 anos, quatro meses e 23 dias deixando fãs e amigos inconsoláveis.
Em 2010, numa defesa apaixonada de Martinho da Vila, para que o centenário do compositor não passasse em branco pela escola, Noel Rosa foi homenageado no enredo da Unidos de Vila Isabel.
O livro que melhor retrata a vida e obra do Poeta da Vila é “Noel Rosa - Uma biografia”, escrito pelo jornalista João Máximo e o pesquisador e biógrafo Carlos Didier.
Noel Rosa, nasceu há exatos 100 anos, 11 de dezembro de 1910, de um parto muito difícil, que incluiu o uso de fórceps pelo médico obstetra, como medida para salvar as vidas da mãe e do bebê. Além disso, nasceu com hipoplasia(desenvolvimento limitado) da mandíbula (provavel Sindrome de Pierre-Robin) o que lhe marcou as feições por toda a vida e destacou sua fisionomia bastante particular. Criado no bairro carioca de Vila Isabel, primeiro filho do comerciante Manuel Garcia de Medeiros Rosa e da professora Martha de Medeiros Rosa, Noel era de família de classe média, tendo estudado no tradicional Colégio São Bento. Adolescente, aprendeu a tocar bandolim de ouvido e tomou gosto pela música — e pela atenção que ela lhe proporcionava. Logo, passou ao violão e cedo tornou-se figura conhecida da boemia carioca. Entrou para a Faculdade de Medicina, mas logo o projeto de estudar mostrou-se pouco atraente diante da vida de artista, em meio ao samba e noitadas regadas à cerveja. Noel foi integrante de vários grupos musicais, entre eles o Bando de Tangarás, ao lado de João de Barro (o Braguinha), Almirante, Alvinho e Henrique Brito.
Em 1929, Noel arriscou as suas primeiras composições, Minha Viola e Toada do Céu, ambas gravadas por ele mesmo. Mas foi em 1930 que o sucesso chegou, com o lançamento de Com que roupa?, um samba bem-humorado que sobreviveu décadas e hoje é um clássico do cancioneiro brasileiro. Noel revelou-se um talentoso cronista do cotidiano, com uma sequência de canções que primam pelo humor e pela veia crítica. Orestes Barbosa, exímio poeta da canção, seu parceiro em Positivismo, o considerava o “rei das letras”. Noel também foi protagonista de uma curiosa polêmica travada através de canções com seu rival Wilson Batista. Os dois compositores atacaram-se mutuamente em sambas agressivos e bem-humorados, que renderam bons frutos para a música brasileira, incluindo clássicos de Noel como Feitiço da Vila e Palpite Infeliz. Entre os intérpretes que passaram a cantar seus sambas, destacam-se Mário Reis, Francisco Alves e Aracy de Almeida.
Noel teve ao mesmo tempo várias namoradas e foi amante de muitas mulheres casadas. Casou-se em 1934 com Lindaura Medeiros Rosa, mas era apaixonado mesmo por Ceci (Juraci Correia de Araújo), a prostituta do cabaré, sua amante de longa data. Era tão apaixonado por ela, que ele escreveu e fez sucesso com a música “Dama do Cabaré”, inspirada em Ceci, que mesmo na vida fácil, era uma dama ao se vestir e ao se comportar com os homens, e o deixou totalmente enlouquecido pela sua beleza. Foram anos de caso com ela, eles se encontravam no cabaré a noite e passeavam juntos, bebiam, fumavam, andavam principalmente pelo bairro carioca da Lapa, onde se localizava o cabaré. Ele dava-lhe presentes, joias, perfumes, ela o compensava com noites inesquecíveis de amor. Noel passou os anos seguintes travando uma batalha contra a tuberculose. A vida boêmia, porém, nunca deixou de ser um atrativo irresistível para o artista, que entre viagens para cidades mais altas em função do clima mais puro, sempre voltava para o samba, à bebida e o cigarro, nas noites cariocas, cercado de muitas mulheres, a maioria, suas amantes. Mudou-se com a esposa para Belo Horizonte. Lindaura engravidou, mas sofreu um aborto, e não pôde mais ter filhos, por isso Noel não foi pai. Da capital mineira, escreveu ao seu médico, Dr. Graça Melo: “Já apresento melhoras/Pois levanto muito cedo/E deitar às nove horas/Para mim é um brinquedo/A injeção me tortura/E muito medo me mete/Mas minha temperatura/Não passa de trinta e sete/Creio que fiz muito mal/Em desprezar o cigarro/Pois não há material/Para o exame de escarro”. Trabalhou na Rádio Mineira e entrou em contato com compositores amigos da noite, como Rômulo Pais, recaindo sempre na boêmia. De volta ao Rio, jurou estar curado, mas faleceu em sua casa no bairro de Vila Isabel no ano de 1937, aos 26 anos, em consequência da doença que o perseguia desde sempre. Deixou Lindaura viúva e não foi pai de nenhum filho. Lindaura e dona Martha cuidaram dele até o fim.
A morte de Noel por alguns jornais cariocas na época (1937)
"Morreu Noel Rosa. Após alguns minutos, a cidade inteira já sabia. Noel o popular cantor e compositor dos morros da cidade que sempre se destacou pelas suas producções, deixa a vida para ir de encontro a um novo mundo.
De algum tempo para cá, Noel deixou de apparecer nos meios radiophonicos e recolheu-se a um sanatorio atacado por terrivel enfermidade. Os seus "fans" reclamaram; porém, Noel não podia attendê-los por ter necessidade de absoluto repouso.
Suas melhores producções, alías, a que lhe deu nome, foi ha alguns annos o samba "Com Que Roupa". Depois, seguiram-se outros, e ultimamente "João Ninguem", "De Babado Sim" e outros.
Encerra-se com o autor de "Pierrot Apaixonado", "Feitiço da Villa", "Palpite Infeliz" e outras composições populares, uma etapa verdadeiramente brilhante do samba de nossa terra.
Noel morreu subitamente em consequencia de um colapso cardiaco, quando na rua Theodoro da Silva n. 382, o querido compositor encontrava-se em companhia de sua progenitora; esposa e alguns amigos palestrando recostado no leito. (...)
Cerca de 23 1/2 horas, o "sambista philosopho" pediu que fosse tocada uma das suas composições, no que foi attendido promptamente. Então, cantando "De Babado Sim", Noel repentinamente deixou de viver desapparecendo da vida e deixando saudades. Porém, suas musicas não serão esquecidas e a sua memoria será tão venerada como a dos nossos maiores compositores da musica popular.
O seu enterro será realizado hoje á tarde, saindo o feretro da rua Thedoro da Silva n. 382 em Villa Isabel."
Diário da Noite, 5 de maio de 1937.
"O povo carioca perdeu hontem com a morte de Noel Rosa, um dos interpretes mais perfeitos da sua poesia.
Poeta instinctivo, observador profundo da vida das populações pauperrimas da cidade, Noel Rosa, compreendeu, logo no inicio de sua vida de homem a necessidade que havia de realçar-se a lidima poesia popular da terra, a despeito de toda a miseria que assoberbava o modo de viver das populações dos bairros mais afastados da cidade. E foi com a intenção perfeita de enquadrar no seio da musica folklorica do paiz as producções do povo da cidade, que esse menestrel moderno levou para o radio a melhor somma de suas composições, todas ellas feitas sobre motivos da vida real dos habitantes dos morros e dos longinquos suburbios do Rio.
Noel Rosa deixa uma lacuna no seio da representação da musica popular do Rio de Janeiro. Elle, unicamente elle, compreendia e satisfazia o desejo do povo no tocante a arte dos sambas e das canções populares desta terra.
O enterro de Noel Rosa realizou-se hontem, com grande accompanhamento, sendo o seu corpo sepultado no cemiterio de S. Francisco Xavier."
Diário Carioca, 6 de maio de 1937.
"Morreu Noel Rosa. A cidade chora, nesta noticia, o desapparecimento do expoente maximo do sambista carioca.
A letra era repleta de uma philosophia humana. Sentira a necessidade de ambientar a musica que vivia nos morros ao convivio da cidade. Fez letras onde o malandro e o jogo de chapinha não entravam. Traduzia a propria vida em ritmos e melodias.
É seu esse samba canção: "Naquelle tempo em que você era pobre / Eu vivia como nobre / A gastar meu vil metal / E, por minha vontade / Você foi para a cidade / Esquecendo a solidão / E a miseria daquelle barracão./ Tudo passou tão depressa, / Fiquei sem nada de meu / E esquecendo a promessa, / Você me esqueceu, / E partiu, com o primeiro que appareceu / Não querendo ser pobre como eu." Dizem que essa historia foi vivida.
O morro era para elle motivo de verdadeiras chronicas musicais. "Mangueira" é um exemplo disso.
Seu primeiro sucesso foi "Com Que Roupa". Nesse tempo, prosseguindo os estudos, elle ingressava na escola de Medicina. Em pouco tempo, porém, abandonava os estudos, dedicando-se, inteiramente, á arte que o empolgára. Venceu, em toda linha, plenamente, quer como autor quer como violonista. Costumava, constantemente, interpretar, frente ao microphone, suas producções. É enorme a sua bagagem musical.
Noel Rosa morreu, victimado por um collapso cardiaco, em sua residencia, á rua Theodoro da Silva. E - suprema ironia do destino! -"
A Noite, 5 de maio de 1937.
"A cidade, principalmente, os meios bohemios, sentiram deveras a morte de Noel Rosa, o festejado sambista e cantor de radio, em plena mocidade. Sem obter melhoras no Piauhy, Noel Rosa regressou a esta capital para succumbir entre os desvelos de soa veneranda mãe e de sua esposa. Na hora da agonia, ouvindo os acordes de uma orchestra proxima ao seu leito de dôr, mandou pedir a execução de um samba de sua autoria e logo depois expirava.
O autor de "Com Que Roupa", "Cidade Mulher", e outras canções que alcançaram sempre popularidade, era filho de Villa Izabel, tendo nascido em 1907, á rua Theodoro da Silva n. 380, filho de Manoel de Medeiros Rosa, já fallecido e de d. Martha de Medeiros Rosa. Era casado com d. Lindaura Rosa.
Na sua mesa de trabalho, no momento da morte, estava exposto que confeccionava d. Martha Rosa, a partir de 1929, contendo todas as criticas da imprensa ás composições literarias e musicaes de Noel Rosa. Mesmo aquelles contendo irreverências á pessoa do vate nelle estão collecionados, contornados de vermelho, para maior realce.
Noel, cercado de amigos e de companheiros de aventura, reconheceu a proximidade da morte e dirigindo-se a Orestes Barbosa advertiu:
- Seu amigo está acabado...
Momentos depois era fulminado por um collapso.
O enterramento do festejado cantor e compositor teve grande acompanhamento tendo sido a sepultura aberta no cemiterio de S. Francisco Xavier."
Correio da Manhã, 6 de maio de 1937.
"Noel Rosa era um de nossos mais conhecidos compositores populares. Suas musicas nunca deixavam de alcançar sucesso nas temporadas carnavalescas.
Havia mezes vinha elle soffrendo de pertinaz molestia, que lhe tirava toda a alegria.
Hontem, á noite, em frente á sua residencia, á rua Theodoro da Silva, 382, em Villa Isabel, realizava-se uma festa familiar.
Os rapazes, que compunham a orquestra, resolveram prestar uma homenagem a Noel, cantando em voz alta, o samba-desafio, de sua autoria, intitulado "De Babado Sim..."
O compositor popular, que regressára havia tres dias, de Pirahy, onde fôra mudar de ares, ao ouvir a musica, teve um estremecimento e morreu, talvez de emoção.
O seu enterro será realizado hoje á tarde, sahindo o feretro do endereço acima."
Diário de Notícias, 5 de maio de 1937.
"Á meia-noite de hontem falleceu, nesta capital, em sua residencia, á rua Theodoro da Silva, 382, o compositor de sambas e marchas, Noel Rosa.
Era uma figura sympathica das rodas radiophonicas e dos nossos musicistas mais populares.
Muitas de suas producções como "Tarzan, O Filho do Alfaiate" e "Maria Fumaça", tiveram um exito extraordinario. Mas o seu samba que mais agradou, foi, sem duvida, "Palpite Infeliz". De alguns annos para cá, não havia Carnaval completo sem musica de Noel Rosa.
Encontrava-se elle enfermo ha varias semanas e os que o conheciam nada auguravam de bom, dado o seu physico franzino. Entretanto, ainda recentemente, concedeu uma alegre entrevista a uma de nossas revistas de radio, traçando então os seus planos para o futuro. Não quiz o destino que se justificasse o seu optimismo.
O enterro sae, ás 16 horas, de hoje, do referido endereço, para o cemiterio de S. Francisco de Assis."
O Jornal, 5 de maio de 1937.
AS MANCHETES:
Morreu Cantando Noel Rosa A Figura Mais Popular Dos Nossos Compositores (Diário da Noite)
Falleceu O Compositor Noel Rosa - Era Autor De Numerosas Musicas Populares (O Jornal)
Falleceu Noel Rosa - O Conhecido Compositor Morreu Ouvindo Cantar Uma Musica De Sua Autoria (Diário de Notícias)
A Morte Prematura De Noel Rosa - Foi, Hontem, Sepultado, O Popular Cantor Do Radio (Correio da Manhã)
Morreu Noel Rosa (A Noite)
Noel Rosa - Falleceu Hontem O Maior Cantor Da Alma Carioca (Diário Carioca)
Lamentavelmente, o sr. Omar Jubran, ao produzir esse boxe maravilhoso com toda a obra musical de Noel Rosa cometeu um erro crasso ao atribuir a gravação original de "Você é um colosso" a Rosinha de Valença, e dar o ano de 1957 como o da realização da mesma. Pra mim o original é de Aracy de Almeida, em 1959, no compacto duplo da Sinter "Sambas inéditos de Noel Rosa". E tem mais: Rosinha de Valença nasceu em 1941, e só estreou em disco em 1963, na Elenco, com o álbum "Apresentando Rosinha de Valença". Portanto, Rosinha jamais poderia ter gravado "Você é um colosso" em 1957. O registro dela na verdade é de um álbum da Forma de 1966, chamado "Rosinha de Valença ao vivo".
2 comentários:
Lamentavelmente, o sr. Omar Jubran, ao produzir esse boxe maravilhoso com toda a obra musical de Noel Rosa cometeu um erro crasso ao atribuir a gravação original de "Você é um colosso" a Rosinha de Valença, e dar o ano de 1957 como o da realização da mesma. Pra mim o original é de Aracy de Almeida, em 1959, no compacto duplo da Sinter "Sambas inéditos de Noel Rosa". E tem mais: Rosinha de Valença nasceu em 1941, e só estreou em disco em 1963, na Elenco, com o álbum "Apresentando Rosinha de Valença". Portanto, Rosinha jamais poderia ter gravado "Você é um colosso" em 1957. O registro dela na verdade é de um álbum da Forma de 1966, chamado "Rosinha de Valença ao vivo".
Samuel, obrigado pelas informações preciosas. Agradeço em nome de todos que fazem o Musicaria e leitores! Abraços e um excelente 2012!!
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