Moreira: o rei do breque
O cantor e compositor Antônio Moreira da Silva, o Morengueira, criador do samba-de-breque, morreu no dia 6 de junho de 2000. Cheio de manhas e filosofias, ele foi o protótipo do malandro carioca. Mas só no visual e no gogó. Trabalhou a vida inteira, conciliando a carreira de cantor com empregos fixos. Suas tiradas de humor que vão do pitoresco ao ácido, compõem uma antologia, que reunimos neste perfil. Contar a história de um homem que viveu 98 anos a partir de depoimentos do autor e de seus contemporâneos é uma coisa complicada. As pessoas normalmente fabulam sobre o passado, superdimensionam seu papel em episódios nos quais tiveram escassa participação e se esquecem das mancadas que deram. Ou seja, só falam das pingas que tomaram, mas não se lembram dos tombos que levaram. Isto aqui é um breve levantamento da vida de Moreira da Silva a partir de entrevistas e declarações feitas à imprensa ao longo de seus últimos 40 anos de vida.
Na adolescência, trabalhou numa fábrica de meias, em Botafogo. “Eu andava oito quilômetros a pé por dia, com uma comidinha muito fraca, que mal dava para enganar o estômago. Estava muito longe da minha mãe, que era cozinheira. Minhas irmãs foram morar na casa de umas tias e eu fiquei sozinho no barraco. Meu almoço era geralmente um bolo de milho e bananada. Depois, água por cima. Inchava o estômago, e eu passei a sofrer do fígado” (Fatos e Fotos). Levou a vida nesse sufoco até que, aos 19 anos, arrumou um emprego na fábrica de cigarros Souza Cruz, onde começou a trabalhar como ajudante de motorista. Por essa época já se apresentava em festas de conhecidos e fazia serestas em que cantava modinhas de Hermes Fontes e Cândido das Neves. “Fiz muitas meninas chorar, dando o meu recado em serestas”. Uma dessas meninas foi Jandira, a quem engravidou. A moça e a criança morreram no parto. “O mulatinho ficou triste, mas um pouco aliviado. De alguma forma, tirou uma grande responsabilidade das costas”, diria mais tarde, para espanto de muitos. Tempo de vacas magérrimas. Chegou a trabalhar numa barraca na festa da Penha em troca de um prato de comida: “Para mim, aquele ensopado de repolho valeu como uma das sete maravilhas do mundo”, elogiou o cardápio, comido “no maracanã e de remo” (em prato fundo e com a mão).
Em 1923 tirou a carteira de motorista e, antes de virar artista consagrado, foi chofer de táxi . A partir de 1926, foi também motorista de ambulância, acumulando as funções durante algum tempo para sustentar uma irmã e a mãe. “Fui pedir emprego na Assistência Municipal e com meu modo de falar, modéstia à parte, consegui. Fiz um exame superficial e fui aprovado”. Ficou lá por doze anos. A Revolução de 30 foi encontrá-lo como motorista de Arsênio de Souza Matos, secretário do prefeito Prado Júnior (“Um dos melhores prefeitos que tivemos nessa ex-capital federal”), que fora ao palácio solidarizar-se com o presidente Washington Luís. “Veja você, o terceiro regimento sublevado, era dia de praia e eu lá no Palácio. De vez em quando, um tirinho aqui, outro ali”, fabularia Moreira décadas depois. “Se os revoltosos do Regimento da Urca soltassem mesmo as tais bombas de 400 quilos que ameaçaram jogar naquele dia, eu teria meu revertere ad locum tuum sem apelação”. Como o bom malandro não anda sempre na linha, “que o trem pega”, Moreira também tinha os pés bem fincados na orgia. Durante a juventude frequentou rodas de baralho, botequins e a zona do meretrício. Conviveu com os malandros históricos da Lapa, gente como Brancura, Manoel Carretilha, Waldemar da Babilônia e João Cobra. E com bambas do Estácio, como Marçal, Bide, Baiaco e Ismael Silva.
Tornou-se figura conhecida da boemia. “Convivi muito tempo no meio de malandros, e eles respeitavam minhas batucadas”, dizia. “Eu sempre ia às festas na Praça Onze, onde tinha roda com rasteira, rabo-de-arraia. Era magrinho, novinho, mas entrava na roda e era respeitado”, dizia sem falsa modéstia. Chegou a complementar sua renda com o dinheiro de uma prostituta que se encantou com sua lábia afiada. “Não gostava dela, mas a moça me satisfazia”. Apesar disso, a boemia para ele foi sempre na base da “canja e ovos quentes”. O vago-mestre (rei da malandragem) era consciente de seu lero: “Se me deixar falar, o ladrão não me assalta. Se me deixar falar muito, eu tomo uma grana emprestada. O malandro de hoje anda armado de 45, matando motorista de táxi”, indignava-se. “Adoro o Rio, mas hoje só saio com um objetivo, por causa da violência”. Um contraste grande com o submundo que conheceu, onde “a arma do malandro era a saliva, o papo, a baba de quiabo”. Dizia que “antigamente, você deixava o carro aberto e o máximo que entrava era mosquito. Crime era só passional. Hoje, nas ruas, só tem punguista, ladrãozinho barato. Tem menino de 16 anos que está emprenhando gente e na hora em que comete um crime diz que é de menor”.
O primeiro sucesso veio com Arrasta a Sandália, de Aurélio Gomes e Baiaco (malandro histórico e compositor da Deixa Falar, a primeira escola de samba), em 1932. Em 1934, passou a integrar o casting do Programa Casé, na rádio Philips. No ano seguinte, estourou com Implorar, de Kid Pepe, Germano Augusto e J. Gaspar, pela gravadora Columbia. Moreira afirmava que a primeira parte desse samba era dele e que J. Gaspar “herdou” seus versos. Em 1937, César Ladeira o viu cantar no Cassino Atlântico, que ficava no posto 6, em Copacabana, e o levou para a rádio Mayrink Veiga. “Todo mundo corria para casa para me ouvir cantar, como hoje corre para ver novela”, dizia sem modéstia. “Quando anunciavam o nome do Moreira numa boate de lona (circo), aquilo enchia”. Um ano depois, retornou à Odeon, onde gravou Acertei no Milhar, de seus amigos Wilson Batista e Geraldo Pereira.
Em 1939, levado pelo cantor português Manuel Monteiro, viajou a Portugal, onde se apresentou no teatro Politeama (“O navio jogava mais que viciado em corrida de cavalo”). Foi um sucesso: “Abafei, com meu passinho de malandro”. Agradou tanto que fez uma participação no filme A Varanda dos Rouxinóis. A década mudou e ele embarcou numa seqüência de sucessos. Gravou Amigo Urso, em 1941, Fui a Paris (Moreira e Ribeiro Cunha) e Dormi no Molhado (Moreira), em 1942. No ano seguinte, gravou Conversa de Camelô, de T. Silva e S. Valença. Em 1950 foi contratado pela rádio Tupi, do Rio, e lançou seu primeiro long-play, pela gravadora Santa Anita. Em 1958 fez um novo retorno à Odeon, onde gravou o segundo LP, O Último Malandro, em que se destaca o clássico Na Subida do Morro (Moreira e Ribeiro Cunha). Moreira canta Na Subida do Morro com Roberto Carlos:
Foi o ponto de partida para seus sucessos no gênero que fez o inferno na vida de um violonista conhecido como Frazão, numa história que entrou para o folclore musical brasileiro. Depois de acompanhar Moreira num show no Teatro Olímpico, o músico virou-se para o cantor e bronqueou: “Foi a primeira vez que acompanhei conversa”. Estava criado o rap caboclo, muitas décadas antes do Public Enemy. “O Luís Barbosa já cantava esse samba fazendo uma espécie de breque corrido”, afirmou Moreira em entrevista à revista Ele & Ela (maio de 1982). Moreira teria dado o breque geral, falando de improviso sem acompanhamento de instrumentos. Seu segundo samba-de-breque é o pouco conhecido Fui a São Paulo:
Moreira vira o Rei do Gatilho:
No mesmo ano, Moreira gravou pela CID o disco Consagração de Moreira da Silva, sem qualquer sucesso. Mas garantia que seu burro estava na sombra: “Hoje não sou rico, mas ganho 5 000 cruzeiros por mês com direito a aumento, tenho direitos autorais, fundo no banco e apartamentos, um na rua do Senado e outro onde mora minha filha”. Já naquela época o mercado para o samba tradicional era São Paulo: “Aqui (Rio) urubu está voando baixo. Em São Paulo atuo no Canal 7 e na TV Cultura. Até recebi uma medalha de ouro na boate Jogral, onde só se toca samba tradicional”. Mas a pancada vinha embutida: “Só que gravam tapes para todo o lado e não nos pagam”. A televisão já era a televisão. “Não posso me queixar da vida. Tenho uma rendazinha que dá para enfeitar o babado”. Em 1976, o velho malandro começou uma nova fase. Retornou aos palcos ao lado de Jards Macalé (“É meu único aluno”). Apresentaram-se juntos no Projeto Seis e Meia, do Teatro João Caetano. No ano seguinte, inauguraram o Projeto Pixinguinha. Passaram a fazer shows por todos os cantos. Em 1979, participaram de um festival promovido pela extinta TV Tupi, com o samba, única parceria da dupla, Tira os Óculos e Recolhe o Homem, que foi classificado, o que lhes valeu uma vaia da torcida dos novos artistas, que afinal eram o alvo do concurso. A vaia não o abateu, mas ficou indignado: “É a primeira vez que sou vaiado, pô!”. Era fichinha para ele. Seu lugar no panteão dos grandes da música brasileira já estava garantido como o criador do samba-de-breque, um gênero que marcou época. Em 1987, voltaram a fazer shows juntos, em comemoração aos dez anos do Projeto Pixinguinha -- e voltam a excursionar.
Ainda em 1979 lançaria pelo selo Jangada (EMI/Odeon) o LP O Astro, “Talvez o melhor disco da carreira de Moreira”, no dizer de Tinhorão. No final do mesmo ano lançou novo disco, O Jovem Moreira, pela Polygram, em que regrava Diplomata, de Henrique Gonçalves, composto em 1939 e Homenagem a Noel, de sua autoria. Seu próximo álbum só apareceria sete anos mais tarde, pela Top Tape: Cheguei e Vou Dar Trabalho (1986), em que inova ao oferecer 18 faixas aos seus fãs, entre elas -- surpresa -- A Volta do Boêmio (samba-canção de Adelino Moreira, lançado em 1956, grande sucesso na voz de Nelson Gonçalves) e Último Desejo (Noel Rosa, 1937), em que relembra seus dotes de seresteiro. Ouça:
Nesse disco dá nova roupagem a outro samba-canção, As Rosas Não Falam, clássico de Cartola. Aos 84 anos ele já não era o mesmo cantor que encantou multidões pelas ondas do rádio. “Um tanto forçado nas passagens de nota, é verdade, mas ainda eficiente nos graves”, analisaria o crítico Tárik de Souza. Mas ele seguiria em frente. Em 1989 entrou em estúdio com músicos do naipe de Dino Sete Cordas e Mauro Senise, para gravar o LP 50 Anos de Samba de Breque, pela CID/Fama. Nesse disco regrava mais uma vez Na Subida Do Morro, O Rei do Gatilho e Acertei no Milhar. E ainda a crônica do sufoco do Rio às voltas com as enchentes em Cidade Lagoa (Cícero Nunes e Sebastião Ferreira).
Não permitia que a filha e o genro interferissem na relação. Para quem imaginava que ele estava fazendo papel de tolo, o velho sambista dava o breque: “Eu encaro até hoje, pois sou protegido pelas almas benignas. Meu nome é Antônio Moreira da Silva, noventa e um anos, corpo limpo, sem varizes, afogando o ganso com cara de pavão misterioso. Tomo chá de jurubeba com alcachofra e faço exames periódicos”. Embalado nos braços de Denise, ele fez em maio de 90 uma série de shows na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio. Em junho, estréia temporada curta no Jazzmania. No mês seguinte deu um depoimento ao Museu do Carnaval, no módulo Velha Guarda, entrevistado por Ricardo Cravo Albim, Osmar Frazão, Aidran Galvão, Vani Bayon e Tárik de Souza. O jornal O Globo (30 de julho de 1990) registra algumas frases do depoimento: “Tem um tal de Cabral que aparecia todos os domingos de carnaval lá em casa para comer feijoada. Hoje, ele só me escreve para pedir voto”.
Em 1991, Moreira foi escolhido pela prefeitura do Rio de Janeiro, para inaugurar com um show a reurbanização da Lapa, o velho reduto da malandragem, dos bares e cabarés. O então prefeito, Marcello Alencar, fez questão, já que o artista representaria o verdadeiro espírito do bairro. O rei do breque atendeu com naturalidade à convocação: “Sou um símbolo carioca”. Mas ele diria mais tarde que nunca foi de frequentar a Lapa. “Eu freqüentava o mangue. Parava o táxi e namorava as prostitutas. A Lapa era um refúgio de artistas que moravam longe e iam dormir com as prostitutas”. Mesmo assim, ao ser convocado, falou com hilariedade dos bons tempos do bairro: “Os táxis faziam ponto perto do lampadário. Havia os botecos, a leiteria da Rua Visconde de Maranguape, os cabarés. A rapaziada corria atrás das mariposas da Rua Joaquim Silva. Uma vez, quando eu era motorista de táxi, peguei um freguês que me disse precisar de uma mulher. Fui à Joaquim Silva e botei uma mulher no carro. Seguimos para a Vista Chinesa, mas quando chegamos lá o cara tinha dormido. Eu, então, executei a lebre”.
Nos anos seguintes comemorou seus 90 anos com um show na boate People, e os 91 no Jazzmania, no Rio. Estava em plena atividade. Em 1993 lançou Moreira da Silva Fotografando a Cidade, o primeiro CD, em que reuniu os sucessos do período 1958-60, pela EMI/Odeon. E novamente grava Na Subida do Morro e Olha o Padilha. Regrava também Conversa de Botequim, de Noel Rosa e Pistom de Gafieira, de Billy Blanco. Em outubro, abriu a série de shows do Projeto Cultural da Caixa, no Teatro Nelson Rodrigues. Em 1995, comemorou seus 93 anos na Ritmo, no Rio, com um show em que cantou vinte de seus sambas mais conhecidos. Durante o espetáculo, foi entrevistado pelo jornalista Sérgio Cabral. O afilhado Jards Macalé subiu ao palco mais uma vez com seu professor, para dele receber o bastão (o chapéu panamá), pois o mestre estava oficialmente abandonando os palcos. “As pernas estão ficando bambas e, se não dá para sambar, não tem mais graça”, lamentava-se. “É uma honra ser herdeiro de uma crônica viva do Rio”, declarou Macalé. Fazia vinte anos que os dois haviam dividido pela primeira vez um palco, no show do Teatro João Caetano. A triste despedida de Moreira não foi triste nem despedida. Já no ano seguinte ele cantou no pequeno palco do bar Vou Vivendo, de São Paulo, um reduto do melhor samba encravado numa esquina da Avenida Pedroso de Moraes, no bairro de Pinheiros. Embalado pelo sucesso do CD Os Três Malandros, que dividiu com os sambistas Bezerra da Silva e Dicró, seu último disco, lançado no ano anterior, Moreira não perdeu a irreverência e aproveitou para dar um chega-pra-lá no neo-samba da terra da garoa: “Só vale o balanço”.
Em 1996, finalmente, sai a primeira biografia de Moreira da Silva, O Último dos Malandros, do jornalista baiano Alexandre Augusto Gonçalves, pela editora Record, baseada em depoimentos do sambista. O jornalista João Máximo chamou a obra de livro de fã. Para ele faltou a análise da música de Moreira. Máximo divide a obra de Moreira em duas fases. A dos grandes sambas com grandes parceiros -- Amigo Urso, Acertei no Milhar -- e a da saturação, com a repetição de falas já manjadas no momento do breque. Nesta segunda fase a temática empobrece. “O Moreira do 007, do filme americano, do último dos moicanos, já não tinha o mesmo apelo”, disse na resenha do livro. “Nos seus últimos tempos em forma, era preferível ouvi-lo reviver Cigano, de Lupicínio, a emparceirar-se com Macalés, Dicrós e Bezerras”, escreveu o jornalista. Mais conhecido das novas gerações exatamente pela sua fase Miguel Gustavo, não há como negar que o melhor do Moreira é exatamente o que foi gravado na chamada época de ouro da música brasileira, os anos 30 a 50.
Seus 96 anos foram comemorados em grande estilo. Pela manhã, tomou café com crianças carentes assistidas pela Legião da Boa Vontade. Queria se lembrar dos tempos difíceis da infância. Depois, Jards Macalé e Ellen de Lima cantaram para ele seus antigos sucessos, no Teatro João Caetano. De lá, caminhou acompanhado por uma banda para um almoço no tradicional Bar Luiz, na Rua da Carioca. Moreira ainda ganhou um par de sapatos brancos de uma loja do centro e uma homenagem da Sociedade Amigos da Rua da Carioca. Dois anos antes de sua morte, o velho Morengueira sonhava figurar no Guiness Book of Records, como o cantor mais velho em atividade. E vivia a expectativa do lançamento na Austrália e em Portugal de alguns dos 26 álbuns que gravou ao longo da vida. Ainda ativo, tinha na gaveta o samba-de-breque Pra Fazer 97, em parceria com Reginaldo Bessa e Ecologia, com Aidran do Grajaú. Foi com Bessa que ele se apresentou numa temporada no Vinícius Bar, no início de 1997.
Moreira também deitou falação contra os meios de comunicação. “No rádio é que é o jabaculê. O disc-jóquei leva o dinheiro e diz que está em primeiro lugar. Tudo grupo, entende?”, disse em entrevista ao Pasquim, na década de 70. “Na TV a coisa funcionava diferente. A Tupi combinava 700 cruzeiros (de cachê). Quando chegava lá, um cara dizia: ‘escuta, o rapaz que te telefonou disse que era 700, mas só pode ser 500’”. Desse tempo para cá a coisa piorou bem. O cachê minguado cedeu lugar ao pagamento feito pelo artista ou pela gravadora para divulgar a música. No começo dos anos 70, Moreira soltou as cobras contra o apresentador Abelardo Barbosa, o Chacrinha: “Há 40 anos mandei fazer dois ternos pra ele, cantei com amigos de graça para arranjar-lhe uma nota, que ele estava duro. Hoje, o malandro não paga e até quer que a gente pague para se apresentar no seu programa”.
Incisivo com os colegas, ele pegava leve com o poder. Gravou um samba em homenagem a Getúlio Vargas, quando o Brasil declarou guerra ao eixo: “Minha bandeira foi ultrajada, temos um homem de fibra, Getúlio Vargas, posso empunhar um fuzil pela honra do meu Brasil”, babou no chapéu panamá. Gostou do velhinho até o fim: “Foi o único político que eu vi apertar a mão de um lixeiro”, justificava. Para Juscelino Kubitschek gravou Cutuca, Nonô, de Miguel Gustavo. Não gostava de agitação: “passeata não resolve”. E chegou a se candidatar a vereador pelo PTB do antigo Distrito Federal, levando apenas 400 votos: “A moçada parece que não acreditou em mim”.
Moreira viveu seus últimos dias com o que recebia da pensão como chefe de garagem do antigo Estado da Guanabara e de uma pensão de compositor e cantor pelo INSS. Algo como 1.200 reais. “Dá pro gasto”, conformava-se. Além, é claro, dos cachês de shows que fez até o fim. No apartamento do Catumbi, ele via o tempo passar pela janela sem maior afetação, na manha do gato, mamando e miando: “Passo a maior parte do tempo deitado, só levanto para ver novela e futebol”. Não tinha condições de andar pelas ruas do Rio, como gostava. As pernas não se sustentavam mais. Tempos atrás ele se levantava, tomava o café-com-leite e saía para jogar no bicho, conversar com os vizinhos e passear pela região central da cidade. Ia à Cinelândia, tomava uma mineral no Amarelinho, comia um ensopado de quiabo batizado com seu nome no Paisano, como registrou a revista de Domingo do Jornal do Brasil em março de 1992. Agora, quando saía, era de táxi. “Estou com um pouco de dificuldade para andar por causa de uma cucaracha (barata) que matei na banheira e acabei caindo”, queixava-se. Apesar disso, Bessa estava produzindo o que seria seu último disco. E a saúde parecia estável. “Há pouco tempo fiz um check-up e estava tudo certo: triglicerídeos, colesterol… Minha pressão é 12 por 8″, dizia, atribuindo sua forma ao ginseng para o corpo e ao Advil para a dor-de-cabeça.
3 comentários:
Olá,
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Obrigada!
Abcs,
Ju Pont
Tenho fotos de 1996,da apresentação do Kid Morengueira no bar Vou Vivendo, de São Paulo. Acho que foi a última apresentação dele.
Alex
galex@terra.com.br
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