Elba Ramalho, no Recife, e Alceu Valença, em Olinda, são as principais atrações nas celebrações de aniversário das cidades irmãs, que ainda contam com vários artistas
“O que eu desejo para Recife é crescimento espiritual. Desejo um tempo sem
preconceitos, sem distinções de credo, cor e classe”. Foram os votos da cantora Elba Ramalho para o aniversário da cidade do Recife, que completa, com grande festa esta noite no Marco Zero, os seus 473 anos. A cidade, no entanto, divide o posto de estrela da noite com a cantora, que aproveita a data para gravar o seu DVD dos 30 anos de carreira, comemorado no ano passado.
E para uma festa com duas aniversariantes tão importantes, nada como convidados ilustres do porte de Zé Ramalho (com quem Elba não canta há sete anos), Geraldo Azevedo, Lenine, além de Chico César, Flávio José, Cristina Amaral, Carlinhos de Jesus, Spok e André Rio. Outra presença marcante no aniversário é a cantora Alcione, que participa pela primeira vez de um disco da paraibana Elba Ramalho.
Além dos parceiros, Elba traz para o Recife uma grande produção, com mais de 30 bailarinos, som e iluminação. Segundo Elba, a apresentação será costurada pelo poema Evocação do Recife, de Manuel Bandeira, que será recitado pela própria cantora. Outra revelação é que a paraibana escolheu músicas de Alceu Valença para abrir e fechar o espetáculo, que começa às 21h no Marco Zero.
Cabelo, voz, carisma e determinação. Quatro ingredientes imprescindíveis a uma carreira artística de sucesso. A receita, no entanto, não funciona para qualquer um. Os quatro itens, na verdade, marcam uma trajetória, especificamente. E quem logo de cara discorda, por favor, ao menos reconsidere, que a junção dos quatro ingredientes diz respeito, indubitavelmente, à figura da cantora, atriz e acima de tudo nordestina Elba Ramalho. A artista camaleônica comemora hoje os seus 30 anos de carreira com show no Marco Zero e apaga as velinhas junto com a cidad
e do Recife, que completa 473 anos, numa grande festa.
O show da cantora na cidade resultará no seu mais novo DVD – Elba 30 anos, contando com a participação dos maiores parceiros da artista, que marcaram, de alguma forma, a sua trajetória profissional e pessoal. “Esse disco resgata músicas do meu primeiro CD (Ave de prata, 1979) até o último (Balaio de amor, 2009)”, diz a cantora. Contando com este último trabalho, Elba já gravou 30 discos, entre solos e parcerias, como os três volumes de O grande encontro, que fez com Zé Ramalho e Geraldo Azevedo.
O trio, inclusive, é um dos grandes êxitos da sua carreira. “Nós três somos uma família. Quando gravei o meu primeiro disco, eu morava com Geraldo. Foi ele quem fez a primeira faixa do CD, Canta coração, música que está no DVD. Com Zé Ramalho a amizade é a mesma. Nesse trabalho eu quis gravar duas músicas com ele. Zé foi lá em casa e escolheu Chão de giz e eu escolhi outra paixão nossa que é Vida de gado”. Além dessas músicas, outras parcerias importantes completam o DVD, como a que fez com Lenine na música Queixa. “Lenine é outro amigo que marcou muito a minha vida. Eu gravava Lenine quando ele ainda era só compositor. Desta vez, decidimos tocar algo diferente e escolhemos essa música linda de Caetano”, disse.
Uma novidade do novo disco é a inserção de alguns trabalhos de Elba como atriz, nas faixas em que recita os poemas Evocação do Recife, de Manuel Bandeira, e Morte e vida Severina, de João Cabral. Antes mesmo de se tornar cantora, Elba fez grande sucesso como atriz na peça Ópera do malandro, de Chico Buarque. “Uma produtora me convidou para fazer a peça em que eu iria contracenar com Marieta Severo. Eu tinha feito quatro anos de aulas de teatro com o diretor Luiz Mendonça e fiquei muito surpresa porque, afinal, quem não quer atuar numa peça do Chico? Ganhei muitos prêmios por esse espetáculo, mas saí de lá consciente de que queria ser cantora.
Mesmo decidindo pela carreira musical, Elba ainda se considera uma atriz. “Eu sou uma atriz. Quem sempre entra no palco é a atriz. É a atriz que se meche, que dança que fala, que improvisa”, pontuou.
Cantora, atriz, intérprete, parceira. Tantas funções não seriam acumuladas se apenas um dos ingredientes faltassem à receita. “Graças à Deus sou muito determinada. Como cantora, mulher e nordestina enfrentei bastante dificuldades até me consolidar como artista. Quando comecei a cantar sofri muito preconceito porque no Sul ninguém sabia o que era o baião, o que era o maracatu”, contou.
Foi logo no início da carreira que Elba enfrentou os piores momentos da sua trajetória. “Cheguei do Sertão para o Rio de Janeiro com 21 anos, sem conhecer ninguém. Quem me levou ao Rio foi o Quinteto Violado, mas eles foram e voltaram para Pernambuco e eu fiquei sozinha. Essa solidão foi o pior momento da minha vida. Nessa época não tinha dinheiro. Passei fome, dormia no banco da praia muitas vezes”, revelou. “Mas nunca pensei em desistir. Um dia, vi que tinha superado tudo isso quando acabei um show na Modern Sound (casa de música no RJ) e a mulher do Francis Hime olhou para mim e disse: Tem gente que é cantora. Você é a cantora e artista, você é completa. Por isso, quando olho para trás e vejo tudo o que passei tenho vontade é de comemorar, tanto as alegrias quanto as lágrimas que já derramei”, completou.
Para Elba, este atual momento, é o melhor de todos os 30 anos. “Agora eu sou uma cantora pronta. Se houve algum momento que eu senti que a musica era misteriosa, isso passou. Hoje eu vivo a plenitude, tanto profissionalmente, como no amor e no espírito”.
E tem festa também em Olinda, claro. O fato de o município carnavalesco
aniversariar no mesmo dia da capital portuária presenteia as cidades irmãs com ciclo de comemorações que dura horas. Em Olinda a celebração começa bem cedo, já às 6h, com um dia inteiro de cortejos, solenidades, bolos, firulas de todo tipo (ver detalhes no caderno de Cidades) e, enfim, shows de artistas cujos espíritos já vieram à terra vestidos de passista. Aqui, a grande atração convidada é o festeiro de todas as horas, Alceu Valença. Mas ele não está sozinho.
Alceu, obviedade boa e indispensável, é um dos que se apresenta em uma fileira que começa o empurra-empurra às 19h, em frente ao Palácio dos Governadores (Prefeitura de Olinda). Antes dele, outros nomes icônicos fazem festa popular: Spok Frevo Orquestra e todas as canções de marcha que tocam em loop durante os Carnavais abrem a festa, seguidos por Alceu. Na sequência, sobem ao palco os músicos do D’Breck, com samba estourado, antes do Patusco mostrar q
ue tem pandeiro nesse frevo. Ao mesmo tempo, a tradição sobe e desce ladeiras, levada por diversas agremiações. Entre elas estão o bloco Flor da Lira, o Maracatu Leão Formoso, o Encontro de Ursos e a Escola de Samba Preto Velho.
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