A amizade colorida
Caetano Veloso descobriu que Vera Zimmerman era uma gata em 1980, durante a turnê do disco "Cinema Transcendental". Ela era uma estudante paulista de 16 anos. Os dois tiveram um romance-relâmpago que originou a canção, gravada no LP "Outras Palavras", de 1981. Caetano nunca escondeu a identidade da "Vera Gata" e chegou a fazer o texto de apresentação do ensaio fotográfico que ela fez para a "Playboy", em maio de 1991. "Há alguns anos, conheci Verinha deixando de ser menina.Pouco depois,fiz uma canção de sexo sobre ela", escreveu Caetano. "Me orgulho muito mais de ter conhecido Vera e de manter até hoje uma amizade do que da canção."
A notoriedade trazida pela música levou Vera à carreira de atriz. Hoje, aos 36 anos, solteira, ela pode ser vista na peça "Replay" e no seriado "Sãos e Salvos", da TV Cultura. Duas décadas depois, ela se arrepende da frieza com que recebeu a homenagem.
Vera Zimmerman "Costumava passar as férias em Salvador. Ia com uma turminha,acabava conhecendo gente de lá, inclusive os músicos da banda do Caetano. Fui apresentada a ele no camarim, depois do show "Cinema Transcendental",em São Paulo. Ele olhou para mim e falou: "Beleza pura...". A gente ficou de paquerinha e ele me convidou para assistir a outro show em Americana (SP). Fui com ele no ônibus da turnê. No final, enquanto a produção desmanchava as coisas, fomos para o hotel... e aconteceu o que ele diz na música.
Foi tudo meio rápido, o pessoal da produção veio nos apressar porque o ônibus estava saindo. Viajei ao lado dele, "namorandinho". Chegamos a São Paulo na madrugada, como diz a letra. Mas não foi nada sério, hoje diria que a gente "ficou". Uns seis meses depois, eu estava de férias em Salvador, encontrei o Bob Wolfenson [fotógrafo] e ele me disse que o Caetano estava fazendo uma música para mim. Achei que era uma musiquinha que ele nem iria gravar.
Mas, quando Caetano chegou à Bahia, foi até a casa onde eu estava e colocou uma fita cassete com a música para eu ouvir. Minha reação foi tão comum... Ele até perguntou: "Você não gostou?". Falei: "Gostei, adorei". Mas ele sempre fazia uma música para alguém, eu não me sentia especial. Para mim era a primeira homenagem, mas para ele era a vigésima vez que homenageava alguém... Se fosse hoje, tenho certeza de que ficaria mais comovida. Claro que fiquei encantada e até espantada com tantos elogios: era muito nova e nem me ligava muito no meu corpo.
Eu não tinha noção do que era ter uma música do Caetano. Vi que era sério quando a letra saiu na revista do "Jornal do Brasil". Não esperava ficar tão conhecida por causa de uma música. Ingenuidade minha. Saí na primeira página da "Folha de S. Paulo" e isso me espantou. Não fiquei famosa, mas a música me deu projeção. Em uma entrevista comentei que gostava de fazer teatro, alguém leu e falou: "Olha, ela é atriz!", e me chamaram para fazer um teste para uma peça do Antunes Filho. Depois descobri que era mesmo o que eu queria fazer.
Tenho boas recordações quando ouço a música. Às vezes me pedem para cantar e cantarolo. Virei a Vera Gata, é assim até hoje. De vez em quando cruzo com Caetano, mas não é nada de muita amizade, de "vamos nos ver". Mas eu adoro ele."
Vera Gata |
Era uma gata exata/ Uma vera gata/ Das que não têm dúvida, dúvida/ Éramos fogo puro/ O amor total (...)/ E teve que ser rápida a transação/ Pois já nos chamava o ônibus, ônibus/ Tivemos tudo/ Não faltou nada/ E ainda a madrugada nos saudou na estrada/ Que ficou toda dourada e azul... |
Caetano Veloso |
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