terça-feira, 16 de setembro de 2008

BONS TEMPOS, ÓTIMOS DISCOS

Por João Paulo

O choro é nosso gênero musical que melhor transita entre as tradições popular e erudita. É uma música que exige grande virtuosismo dos intérpretes e, ao mesmo tempo, consegue imediata comunicação com o público. Estes elementos despertaram o interesse na gravadora Teldec, que encomendou a Rildo Hora a produção de Café Brasil, uma antologia belíssima de clássicos do choro, tendo ao centro o grupo Época de Ouro e uma constelação de nomes do primeiro time da música brasileira. O tom do disco não é de comemoração ou homenagem, mas de pura criatividade, com arranjos modernos e improvisos sofisticados e deliciosos. Lançado no mercado europeu, na esteira do sucesso de Bach in Brasil, de Henrique Cazes (um dos melhores discos instrumentais da história da nossa música), ele chega agora ao Brasil.

O grupo Época de Ouro, criado em 1966 para acompanhar Jacob do Bandolim, se apresenta na maioria das canções. É sempre um prazer ouvir Dino 7 Cordas, César Faria (pai de Paulinho da Viola) e Jorginho do Pandeiro criando os desenhos harmônicos e rítmicos para músicas como Noites Cariocas (com Sivuca), Treme-Treme e Mariana. Um dos destaques do disco é o resgate do choro cantado, com as participações de Leila Pinheiro, João Bosco, Paulinho da Viola, Martinho da Vila e Ademilde Fonseca. Sem deixar de lado a força instrumental e criativa das composições, os arranjos reservam à voz um papel de destaque em diálogo com os instumentos. No caso de Títulos de Nobreza, a canção praticamente se desdobra entre o balanço do Época de Ouro e os scats de João Bosco.
Além do Época de Ouro, Rildo Hora convocou grandes músicos que deram sua contribuição na renovação de obras primas. É o caso de 1x0, que em um dueto fantástico de Carlos Malta no saxofone e Altamiro Carrilho na flauta (que lembra os contrapontos de Pixinguinha e Benedito Lacerda) e que abre ainda espaço para o trabalho do regional. Altamiro apresenta ainda a valsa-choro Meu Primeiro Amor, com Maria Teresa Madeira ao piano. Uma das faixas mais interessantes do disco, propõe um falso duelo entre o bandolim e o cavaquinho. Geralmente, na tradição dos chorões, em festa de um instrumento o outro não entra. Joel Nascimento e Henrique Cazes mostram a capacidade expressiva e de timbre de cada um deles, desmanchando a briga em pura festa.As melhores faixas de um disco Ernesto Nazareth, que ganha um arranjo moderníssimo para bandolim (Pedro Amorim) e clarinete (Paulo Sérgio Santos) e André de Sapato Novo, com a mesma formação, com o cavaquinho de Luciana Rabello e o violão de Maurício Carrilho. Em Sarau para Radamés, um encontro para fechar o disco integrando várias gerações de chorões, instrumentistas e arranjadores, com Paulinho da Viola e Cristóvão Bastos (piano) convidando o produtor Rildo Hora para tocar sua harmônica. Um cuidado do coração a mais em um disco cheio de gentilezas com o Brasil.

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