quarta-feira, 2 de julho de 2008

JULHO CHEGOU...

Depois de todo um mês dando uma ênfase maior as festividades juninas, chegou a hora de voltar as postagens diversificadas sobre a nossa música brasileira.
Para início, quero deixar registrado aqui a perda irreparável para a nossa MPB de quatro nomes relevantes: Jamelão (é impossível falar de carnaval carioca e não lembrar desse nome), Toinho Alves, Aroldo Melodia ("Segura a marimba!") e a esposa do grande Eduardo Araújo: Sylvinha Araújo.


Sílvia Maria Vieira Peixoto Araújo nasceu em Mariana, Minas Gerais, 16 de setembro de 1951 e se tornou nacionalmente conhecida como Sylvinha Araújo como cantora e compositora ainda no período da Jovem Guarda.

Começou sua carreira na década de 60, lançada por Chacrinha. Na época, apresentou o programa O Bom, com Eduardo Araújo, com quem se casaria (em 1969) e teria dois filhos.

Em 1967 gravou seu primeiro disco, o compacto Feitiço de broto. Entre suas composições de maior sucesso, está "Minha primeira desilusão".

O crítico e produtor musical Nelson Motta chegou a chamá-la de Janis Joplin brasileira, após a versão soul que imprimiu à canção "Paraíba", de Luiz Gonzaga. Chegou a vender mais de um milhão de discos na carreira. No final da década de 1970, passou gravar jingles publicitários, e gravou mais de 2 mil.


Entre os anos 70 e 80 ela foi jurada de calouros no programa dominical de Silvio Santos. Afastada da publicidade, passou a se dedicar à gravadora Number One (sua e do marido). Em 2001, lançou o álbum Suave É a Noite. Em 2007, lançou um DVD comemorativo dos 40 anos da Jovem Guarda, e vinha trabalhando na divulgação desse trabalho.

Quando faleceu no 25 de junho de 2008 estava internada havia 21 dias no Hospital 9 de Julho em São Paulo, em decorrência de complicações do câncer de mama contra o qual lutou 12 anos. Foi enterrada em Itapecerica da Serra.


Aroldo Melodia pode ser considerado o pai de um tipo de puxador de samba: o “enterteiner”, um animador de público e da escola, avô dos atuais MC’s (mestres-de-cerimônias na cultura hip-hop). Antes, havia dois tipos: um cantor profissional que, na época de carnaval, defendia um samba-enredo na avenida (Jamelão, Jorge Goulart, Elza Soares, Pery Ribeiro, Marlene, Roberto Ribeiro) e um sambista da comunidade, que dava a largada nas primeiras viradas do samba no desfile (Noel Rosa de Oliveira no Salgueiro, Garganta de Ferro na Vila Isabel, Silvinho do Pandeiro na Portela).

É neste cenário que chega Aroldo Fiorde, apelidado “Melodia” graças ao vozeirão e a pecha de compositor moldada nas rodas de samba e gafieiras da Ilha do Governador. Passou por diversos blocos carnavalescos do outro lado da Baía de Guanabara (Guerreiros da Ilha, Boi da Ilha) até chegar à União da Ilha do Governador na época em que desfilava na Praça XI. Aroldo Melodia foi um dos protagonistas da projeção e da fase áurea que a escola tricolor teve – da segunda metade dos anos 70 até a primeira metade da década de 80 – quando consagrou o estilo bom, bonito e barato de fazer carnaval, apesar de nunca ter conquistado um título no Grupo Especial.

Aroldo Melodia foi responsável por instituir os hoje obrigatórios gritos de empolgação tanto para a escola que desfila (vamos lá, bateria; gira minhas baianas) quanto para o povo que assiste (canta, meu povo). Após marcar sua passagem na União da Ilha, Aroldo também emprestou seu talento à Mocidade Independente de Padre Miguel, Acadêmicos de Santa Cruz, Caprichosos de Pilares, Unidos da Ponte e até na pequena Camisolão, de Niterói. Em 1986, foi contemplado com um Estandarte de Ouro de melhor puxador.


A trajetória de Aroldo Melodia foi interrompida devido a um derrame sofrido logo após o carnaval de 1996, o que obrigou o velho intérprete a andar de cadeira de rodas e se afastar do microfone no desfile principal. Seu último registro fonográfico está presente no CD do Grupo de Acesso de 2006, em que gravou, com Rixxa, a faixa da escola de samba Flor da Idade. Aroldo faleceu em 2 de julho de 2008, vítima de falência múltipla dos órgãos causadas por insuficiência cardíaca e respiratória. Seu estilo deixou diversos discípulos, entre eles, seu filho Ito, que começou como apoio de seu próprio pai.


INÍCIO: blocos carnavalescos da Ilha do Governador, como os Guerreiros da Ilha e o Boi da Ilha.
1970 a 1983 – União da Ilha do Governador

1981 a 1983 – Camisolão (Niterói)

1984 – Mocidade Independente de Padre Miguel

1985 (Grupo Especial) e 1986 (Grupo Acesso) – Acadêmicos de Santa Cruz

1986 e 1987 – União da Ilha

1989 (Grupo Especial) e 1990 (Acesso) – Unidos da Ponte

1990 – Caprichosos de Pilares

1991 e 1992 – União da Ilha

1995 e 1996 – União da Ilha

GRITO DE GUERRA: Canta, minha Ilha

GRITOS DE EMPOLGAÇÃO: “segura a marimba”; “há-hay”; “eu falei”; “segura, segura, segura”, “lindo, lindo, lindo”.

Principais composições: “Lendas e festas das Yabás” (74, com Leôncio), “O que será?” (79, com Didi), “Azul, vermelho e branco” (samba de quadra).

Estandarte de Ouro: 1986



Jamelão, nome artístico de José Bispo Clementino dos Santos, (Rio de Janeiro, 12 de maio de 1913 — Rio de Janeiro, 14 de junho de 2008) foi um cantor brasileiro, tradicional intérprete dos sambas-enredo da escola de samba Mangueira.

O moleque Saruê primeiro foi engraxate, depois vendedor de jornal, e, finalmente, tocador de tamborim e cavaquinho nos subúrbios cariocas.

Virou Jamelão por invencionice talvez de um apresentador de programas de rádio, ou então de um gerente de gafieira. Isso não se sabe ao certo. Seu nome em cartório é José Bispo, nascido a 12 de maio de 1913, no bairro de São Cristóvão, mas é por Jamelão -árvore de fruto escuro e dulcíssimo- que o mundo o conhece.

Aos 15 anos, Saruê, cavaquinista e ritmista de certo prestígio em alguns poucos bairros da periferia carioca, conheceu o sambista Lauro Santos, o Gradim, que o levou à Escola Estação Primeira de Mangueira.

Na Mangueira, Jamelão começou na bateria, depois foi se enturmando com o pessoal do samba. Nessa época, ele não tinha quaisquer pretensões artísticas. Ia para a avenida para tocar tamborim e paquerar as meninas. Com o passar do tempo, começou a participar das rodas que ocorriam após o desfile, na Praça Onze.

Segundo ele, lá "paravam os batuqueiros", para fazer um "samba pesado. Samba duro, de roda". Essas rodas de samba, vez por outra, acabavam com a chegada da polícia. A explicação de Jamelão é que nessas rodas sempre aparecia um "Zé Mané querendo fazer o nome. A rapaziada, então, pegava ele na pernada. O sujeito guardava a raiva e voltava no ano seguinte, querendo vingança. Já vinha armado e aconteciam brigas sérias. A polícia sempre intervinha".

Depois das rodas de samba da Praça Onze, Jamelão, em 1945, participou, sem sucesso, de um programa de calouros na Rádio Ipanema. Talvez tenha sido nesse programa que ele ganhou seu apelido. Segundo o próprio Jamelão, quando ele saiu dos estúdios, ouviu o apresentador "anunciar determinada música a ser interpretada por Jamelão". Quando ouviu isso, ainda se perguntou: "quem seria esse tal de Jamelão?" Para sua surpresa o Jamelão era ele, pois o contínuo da Rádio Ipanema veio afobado e, segundo contou o próprio cantor em depoimento no Museu da Imagem e do Som, no Rio, "ele me chamou, dizendo que era hora de eu entrar em cena para defender a música. E o apelido pegou."

O apelido pegou, mas o canto não. Jamelão foi gongado nesse concurso "quando esticava a última nota, um agudo respeitável", gaba-se ainda hoje.

Mas há uma outra versão para essa mesma história da qual fonte é também o próprio Jamelão. Ao ser perguntado a respeito do apelido, em uma entrevista concedida em 1998 ao "Jornal do Brasil", Jamelão disse: "É coisa de garoto. Minha mãe era doméstica e trabalhava no Colégio Independência, na rua Bela Vista, no Engenho Novo. A gente morava nos fundos do colégio, num barraco. Quando comecei a jogar futebol no Piedade Futebol Clube, a turma costumava sair e ir jantar num restaurante. Um dia me levaram para a gafieira e lá surgiu o nome Jamelão. O pessoal na brincadeira falou para o gerente que eu gostava de cantar. Não é que eu gostasse, eu sabia as músicas da época, a gente cantava junto. O cara não sabia meu nome e foi para o microfone e anunciou Jamelão. Ficou. Quando fui para a Rádio Tupi, nos anos 40, o Almirante, que era diretor, não queria que eu cantasse com o apelido. Queria me tirar da programação".

Mesmo não sabendo se o nome Jamelão surgiu numa gafieira ou numa rádio, uma coisa é certa: ele veio junto com a música e a poderosa voz que José Bispo tinha em si. Dois anos depois do gongo, ele venceu o concurso de calouros promovido pela Rádio Clube do Brasil e assinou, como prêmio pela vitória, um contrato de um ano com a gravadora Continental.

Em 1948, com o final do contrato com a Continental, passou para a Rádio Tupi, onde se apresentava nos "dancings" Brasil e Farolito. No ano seguinte, 1949, Jamelão começou a sua carreira como intérprete da Mangueira. Nesse mesmo ano, substituiu o cantor Francisco Alves em um show no Teatro João Caetano, no Rio.

Em 1952, já gozando de certa fama, Jamelão viajou para a França como "crooner" da Orquestra Tabajara do maestro Severino Araújo, para cantar em uma festa promovida por Assis Chateaubriand e pelo estilista francês Jacques Fath, no castelo de Coberville, nos arredores de Paris. A festa marcou a apresentação do algodão brasileiro para a alta-costura européia, e, segundo reza a lenda, dela participaram celebridades como Orson Wells e Jean-Louis Barrault.

Foi também como "crooner" da Orquestra Tabajara que Jamelão protagonizou o memorável banho na big band americana de Tommy Dorsey, em um duelo ocorrido no auditório da antiga rádio Tupy. Esse duelo, de repercussão internacional, deu à voz de Jamelão e à orquestra de Severino Araújo passaporte para as várias apresentações pela Europa.


Em 1954, ele se transferiu para a gravadora Continental, onde obteve grande êxito com as músicas "Leviana" (Zé Keti e Armando Reis), "Folha Morta" (Ari Barroso) e "Deixa de Moda" (Padeirinho). Dois anos depois, ele fez muito sucesso com a gravação da música "Exaltação à Mangueira" (Enéias Brito e Aluísio Augusto da Costa), feita para o desfile daquele ano. Em 1959, ele gravou "Ela Me Disse Assim" de Lupicínio Rodrigues e fez enorme sucesso.

Nove anos depois, em 1968, Jamelão entrou para a ala de compositores da Mangueira. Em 1972, gravou o LP "Jamelão Interpreta Lupicínio Rodrigues", totalmente dedicado à obra do compositor gaúcho. Nele o cantor é acompanhado pela Orquestra Tabajara. Daí pra frente sua fama correu o país. Tanto que alguns anos mais tarde, a Câmara Municipal de São Paulo deu a Jamelão o título de Cidadão Paulistano.

Em 1979, ele lançou o LP "Jamelão", no qual há faixas repletas de desgraças de amor. Coisas como "Coquetel de Sofrimento", "Castigo e Molambo". Mas a melhor de todas é "Imantação", na qual Jamelão, com sua voz metálica e poderosíssima, interpreta versos como o que se segue:

"O impacto dos corpos sem amor é psicose
Quando a gente não define as pretensões".

Em 1987, ele grava outro LP dedicado a Lupicínio Rodrigues intitulado "Recantando Mágoas - A Dor e Eu". Este LP também está recheado de músicas a respeito de amores incompreendidos e lancinantes saudades. Com ele, Jamelão sedimentou sua carreira de cantor de amores sofridos e de infelicidades.

Para muitos críticos, essa faceta de Jamelão o coloca como um dos maiores cantores de músicas de "dor de cotovelo", enquanto que para o próprio Jamelão elas são todas músicas de "cantor romântico".


No carnaval de 1990, Jamelão anunciou o fim da sua carreira de intérprete de escola de samba. Durante o que seria seu último desfile, Jamelão -que havia chegado ao sambódromo com febre alta- passa mal, mas consegue terminar o desfile. Na praça da apoteose, ele anunciou, pelo microfone do carro de som, sua decisão de parar de cantar em desfiles, dizendo: "Queria agradecer a toda a escola, à bateria, maravilhosa. Estou encerrando aqui meu trabalho como intérprete de samba-enredo."

Nessa época, Jamelão começava a enfrentar problemas com a pressão e, segundo sua mulher, Delice, "estava cansado". Mas, no ano seguinte, ele voltou a ativa e não para mais. Continua, até hoje, sendo o intérprete dos samba-enredo da verde e rosa. Aliás, Jamelão não é puxador de samba. Segundo ele, "puxador é quem fuma maconha ou rouba carro". Ele é intérprete.

De personalidade forte e sem papas na língua, Jamelão é, também, um homem de muitas manias. Uma delas é o costume de andar com uma caixa cheia de elásticos no bolso e alguns deles nas mãos. Conforme diz, carrega os elásticos para utilizá-los no dia em que ganhar bastante dinheiro. Porém, sabe-se que ele adquiriu essa mania do elástico depois de trabalhar muitos anos na polícia do Rio, chegando a aposentar-se naquela instituição. A sobriedade de suas interpretações mesclada com sua personalidade e suas já folclóricas manias o tornaram uma das mais importantes figuras da música popular brasileira.

Em 1994, pela primeira vez na história da Mangueira, Jamelão dividiu a interpretação de um samba-enredo, ao gravar com Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia a música de sua Escola no disco com os sambas das escolas do Grupo Especial daquele carnaval. A idéia de juntar Jamelão e os baianos homenageados pela escola foi de Ivo Meirelles, então vice-presidente da Mangueira. O samba gravado é "Atrás da Verde e Rosa Só Não Vai Quem Já Morreu", de Davi Corrêa, Carlinhos Sena, Bira do Ponto e Paulinho Carvalho.

Em 1997, a gravadora Continental lançou a coletânea "Jamelão - A Voz do Samba", em 3 CDs, com a compilação de 33 anos de sua carreira do cantor. Nesse ano Jamelão também participou junto com Alcione, Carlinhos Vergueiro, Chico Buarque, Christina, João Nogueira, Lecy Brandão, Nelson Sargento e Velha Guarda da Mangueira da gravação do CD "Chico Buarque da Mangueira".

No carnaval de 98, Jamelão conquistou seu sexto estandarte de ouro como intérprete de samba enredo no carnaval carioca. Em 1999, foi eleito o intérprete do século do carnaval carioca por 80 jurados do Rio e de São Paulo, em um prêmio oferecido a


Para esse premiado mestre do carnaval carioca, os sambas-enredo não são mais os mesmos. Segundo ele, "hoje é difícil um samba-enredo com melodia inédita, as melodias são sequências umas das outras". Afirma que, antigamente, se fazia um samba mais cadenciado, hoje, "a bateria sai tuc-tuc-tuc. Parece até uma parada militar. Todo mundo marchando: desfile militar de samba". Essa militarização do samba, para ele, é culpa da televisão, pois hoje o tempo para acabar o desfile é determinado pela televisão. De acordo com o que fala o dono da voz da Mangueira nos carnavais cariocas, "a televisão é que manda e desmanda no samba".

Jamelão é assim: direto, sem rodeios. Certa vez, ao ser perguntado, por Antonio Chrysostomo, em entrevista para a Folha de S.Paulo, o que o levava a ter o semblante sempre carrancudo e nunca rir, respondeu: "Rir de quê?".

Essa gênio forte, que para muitos é fruto apenas de um mau humor crônico, talvez venha da vida dura de garoto pobre nos subúrbios do Rio, ou dos problemas enfrentados por Jamelão em sua carreira, tais como o preconceito racial, pois o p´roprio cantor já disse que "o artista negro sempre encontra uma barra mais pesada. No meio musical todo mundo quer o crioulo, mas para fazer figuração, para tocar pandeiro e agogô e as mulatas para sambar. Para ser estrela não serve, tem de ser branco e de preferência boa pinta. Não grito contra isso porque sei que as pessoas que hoje me desprezam amanhã vão me amar. Mas já fui deixado de lado em função de outros caras só porque eles eram brancos".


Vale registrar um pouco de sua biografia: Nasceu no bairro de São Cristóvão e passou a maior parte da juventude no Engenho Novo, para onde se mudou com seus pais. Lá, começou a trabalhar, para ajudar no sustento da família - seu pai havia se separado de sua mãe. Levado por um amigo músico, conheceu a Estação Primeira de Mangueira e se apaixonou pela escola de samba.

Ganhou o apelido de Jamelão na época em que se apresentava em gafieiras da capital fluminense. Começou ainda jovem, tocando tamborim na bateria da Mangueira e depois se tornou um dos principais intérpretes da escola.

Passou para o cavaquinho e depois conseguiu trabalhos no rádio e em boates. Foi "corista" do cantor Francisco Alves e, numa noite, assumiu o lugar dele para cantar uma música de Herivelto Martins.

A consagração veio como cantor de samba. Sua primeira gravadora foi a Odeon. Depois, trabalhou para a Companhia Brasileira de Discos. Entre seus sucessos, estão "Fechei a Porta" (Sebastião Motta/ Ferreira dos Santos), "Leviana" (Zé Kéti), "Folha Morta" (Ary Barroso), "Não Põe a Mão" (P.S. Mutt/ A. Canegal/ B. Moreira), "Matriz ou Filial" (Lúcio Cardim), "Exaltação à Mangueira" (Enéas Brites/ Aluisio da Costa), "Eu Agora Sou Feliz" (com Mestre Gato), "O Samba É Bom Assim" (Norival Reis/ Helio Nascimento) e "Quem Samba Fica" (com Tião Motorista).

De 1949 até 2006, Jamelão foi intérprete de samba-enredo na Mangueira. Em janeiro de 2001, recebeu a medalha da Ordem do Mérito Cultural, entregue pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Diabético e hipertenso, Jamelão teve problemas pulmonares e, desde 2006, sofreu dois derrames. Afastado da Mangueira, declarou em entrevista: “Não sei quando volto, mas não estou triste.”

Morreu aos 95 anos, na Casa de Saúde Pinheiro Machado, em sua cidade natal, por falência múltipla dos órgãos.

Porém uma coisa é certa: Jamelão conquistou por força própria todo o direito de ter o humor que bem quiser. Sua arte lhe deu liberdade suficiente para dormir no Palácio do Planalto, de ter as opiniões que bem enteder. É perito do samba. Sabe o que diz, e diz sempre assim, direto. Hoje, José Bispo não é mais o moleque Saruê. Hoje ele é o Jamelão, a voz da verde e rosa na avenida e fora dela. Presidente de honra da Estação Primeira de Mangueira e porta-voz da sabedoria dos mestres do samba.


o Quinteto violado

Conjunto instrumental-vocal organizado em 1970, em Recife PE, que se caracteriza pela interpretação de músicas nordestinas e a realização de pesquisas sobre o folclore brasileiro. Inicialmente formado por Toinho (Antônio Alves, Garanhuns PE 1943), canto e baixo acústico; Marcelo (Marcelo de Vasconcelos Cavalcante Melo, Campina Grande PB 1946), canto, viola e violão; Fernando Filizola (Limoeiro PE 1947); Luciano (Luciano Lira Pimentel, Limoeiro PE 1941), percussão, e Sando (Alexandre Johnson dos Anjos, Garanhuns, 1959), flautista, na década de 1990 passou a ser integrado por Toinho, baixo acústico, compositor, cantor e diretor musical do conjunto; Marcelo, violonista, violeiro, cantor e compositor; Ciano (Luciano Alves, Garanhuns PE 1959); Roberto Menescal (Roberto Menescal Alves Medeiros, Garanhuns PE 1964), cantor e percussionista; e o tecladista e arranjador Dudu (Eduardo de Carvalho Alves, Recife PE 1970).

Apresentou-se pela primeira vez, ainda sem a denominação que o tornou famoso, em janeiro de 1970, na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco. Em outubro de 1971, quando se apresentou no Teatro da Nova Jerusalém (Fazenda Nova PE), seus integrantes foram chamados de "os violados", nascendo dai o Quinteto Violado. Gilberto Gil os apresentou ao produtor Roberto Santana, da Phonogram, e o aparecimento do conjunto foi exaltado por Caetano Veloso Em 1972 apresentou-se em São Paulo SP e lançou o primeiro LP, Quinteto Violado em concerto, pela Philips, que incluía Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira).

O disco foi lançado no Japão, com o titulo Asa Branca. Ainda em 1972 fez temporada na boate Monsieur Pujol e no restaurante Di Monaco, no Rio de Janeiro, e no Teatro Vila Velha, de Salvador BA, seguindo-se atuação no show O Anjo Guerreiro contra as baronesas, em Recife. Com o produtor Marcus Pereira, participou da pesquisa e posterior gravação da serie de quatro discos Musica Popular do Nordeste (1973), depois reeditados em CD.

Por sua participação na pesquisa musical, arranjos e produção da serie, recebeu os prêmios Noel Rosa e Estácio de Sá, este do MIS, do Rio de Janeiro. Ainda em 1973 gravou o disco Berra Boi (Philips). No ano seguinte montou o show A feira, que lançou Elba Ramalho e foi gravado em LP pela Philips, iniciando também circuito de concertos de música nordestina nas universidades brasileiras. Em 1975 montou o espetáculo Folguedo (lançado em disco pela Philips), apresentado no adro do Mosteiro de São Bento, de Olinda PE. O grupo participou ainda do MIDEM, na França, e do Encontro Latino-Americano de Turismo, em Trujillo, Peru. Entre 1977 e 1978 realizou 97 concertos-aula destinados a alunos da rede oficial de ensino de Pernambuco.


Realizou varias montagens de grande sucesso: Missa do vaqueiro (1976), Antologia do baião (1977), Até a Amazônia (1978), Pilogamia do baião (1979), o infantil O rei e o jardineiro (1981), Noticias do Brasil (1982), Kuire (1987) e História do Brasil(1987), todos gravados em LPs e depois reeditados em CDs. Alem desses, gravou os LPs Desafio (Independente,1981), Coisas que o Lua canta (Continental, 1983; CD Philips), Ilhas de Cabo Verde (Mato, 1988), Algaroba (RGE, 1993), entre outros. Foi de grande importância sua participação na animação do Carnaval do Recife, com apresentações no Bloco Azul, a partir de 1977, sendo em parte responsável pela volta do "Carnaval Participação" às ruas. Em 1995 produziu e gravou a trilha sonora do filme Corisco e Dadá, dirigido por Rosemberg Cariry.

Ao comemorar 25 anos de atividades, em 1997, o conjunto somou em seu currículo: 30 discos lançados no Brasil e seis outros no exterior; dez viagens internacionais; duas premiações no MPB Shell (1980 e 1981), no Rio de Janeiro e três Prêmios Sharp de Música (1993, 1994 e 1996). Em 1996 o grupo montou o espetáculo 25 anos não são 25 dias, na concha acústica da UFPE, reunindo antigos e novos componentes do cenário musical nordestino e, em 1997, foi criada a Fundação Quinteto Violado, com o objetivo de dar apoio a promoções culturais.


Toinho Alves


Em uma semana na qual Pernambuco ficou sem a verve do ator Rubem Rocha Filho, a cultura do Estado fica ainda muito mais pobre com a perda do contrababaixista e cantor Toinho Alves, integrante do Quinteto Violado que morreu na noite de quarta-feira para ontem enquanto descansava na rede, ouvindo rádio, em seu apartamento em Piedade, Jaboatão dos Guararapes. O músico, de 64 anos, deixa um filho, o pianista Dudu Alves, também integrante do Quinteto, e dois netos.

O velório aconteceu na Prefeitura de Olinda, onde o músico exerceu a função de secretário de Cultura de 2003 a 2004. Já o enterro ocorreu no cemitério Parque das Flores, no Curado.

Natural de Garanhuns (Agreste), Toinho era membro de família de músicos e aprendeu a arte antes mesmo de ser alfabetizado. Naquele município, participou da Banda Municipal e adquiriu o gosto pelo canto com os monges beneditinos, para os quais terminou por gravar um CD.

No Recife, nos anos 60, formou-se em engenharia química. Nessa época, conheceu o músico Marcelo Melo, com quem fundou Os Bossa Norte ao lado de Naná Vasconcelos e Luiz Mário.

Toinho tocava na noite e integrou orquestras como as dos maestros Nelson Ferreira e Guedes Peixoto. Na TV Universitária, integrou o TVU-3 com Luciano Pimentel (bateria) e Sérgio Kyrillos (piano). Após uma apresentação com os convidados Fernando Filizola e Marcelo Melo, Toinho percebeu que o grupo poderia ir além. Desde então, o Quinteto Violado deixou sua marca na história da música brasileira. Neste período, Toinho assumiu uma função de band-leader, ficando responsável pela coordenação musical dos arranjos e por repertório, produção artística dos discos e direção musical dos espetáculos.

“Ele era muito criativo, sempre com muito planos e idéias. De repente, assim... Deixa uma lacuna muito grande”, disse emocionado o amigo Marcelo Melo, que conviveu com Toinho por mais de quarenta anos. “A gente tem uma relação de irmão”, enfatizou.

Mesmo abalado pela morte do amigo, o violonista Marcelo Melo externou seu sentimento sobre o possível destino do Quinteto Violado após a morte do coordenador musical Toinho Alves: “Tenho que conversar com os meninos (os demais integrantes, Dudu Alves, filho, e Ciano Alves e Roberto Medeiros, sobrinhos de Toinho). Mas ele (o baixista) gostaria que não parasse, não”.
Assim como Toinho, Marcelo também dirige a Fundação Quinteto Violado, responsável por vários projetos na área musical – um deles revelou Zabé da Loca – e de responsabilidade social. Um dos trabalhos, a Oficina de Palco, foi responsável pela capacitação de adolescentes carentes em procedimentos de montagem de palco e operação de som e de iluminação, em 2004.


O Quinteto também acaba de aprontar um CD só com frevos cujo repertório foi escolhido pelos internautas por meio do JC OnLine. A agenda previa uma viagem para a Europa, no próximo dia 8, e para Cabo Verde, em agosto. Também estava nos planos a participação do grupo no São João de Caruaru, além do lançamento de um álbum autoral em conjunto com artistas como Guinga, Toninho Horta e Luiz Melodia.

Para o jornalista Gilvandro Filho, autor da biografia do Quinteto, Bodas de frevo (Cepe, 1997), Toinho e o Quinteto foram responsáveis por levar à classe média a música regional. “Coube ao Quinteto urbanizar essa música, de Luiz Gonzaga, maracatu, caboclinho”, afirmou. “Toinho era um visionário. Ele que criou esses arranjos, o baixo fazendo as vezes do zabumba. Sem contar que era uma pessoa fantástica, um cara bom, até onde esta expressão pode definir alguém”.

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