quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

O POETA DA VILA ISABEL

Primeiro filho de seu Manoel e dona Marta de Medeiros Rosa, Noel veio ao mundo em 11 de dezembro de 1910, no Rio de Janeiro, RJ, em parto difícil - para não perderem mãe e filho, os médicos usaram o fórceps para ajudar, o que acabou causando-lhe a lesão no queixo, que o acompanhou por toda a vida.

Franzino, Noel aprendeu a tocar bandolim com sua mãe - era quando se sentia mais importante, lá no Colégio São Bento. Sentava-se para tocar, e todos os meninos e meninas paravam para ouvi-lo extasiados. Com o tempo, adotou o instrumento que seu pai tocava, o violão.
Magro e debilitado desde muito cedo, dona Marta vivia preocupada com o filho, pedindo-lhe que não se demorasse na rua e que voltasse cedo para casa. Sabendo, certa vez, que Noel iria à uma festa em um sábado, escondeu todas as suas roupas. Quando seus amigos chegaram para apanhá-lo, Noel grita, de seu quarto: "Com que roupa?" - no mesmo instante a inspiração para seu primeiro grande sucesso, gravado para o carnaval de 1931, onde vendeu 15000 discos!
Foi para a faculdade de medicina - alegria na família - mas a única coisa que isso lhe rendeu foi o samba "Coração" - ainda assim com erros anatômicos. O Rio perdeu um médico, o Brasil ganhou um dos maiores sambistas de todos os tempos.

Genial, tirava até de brigas motivo de inspiração. Wilson Batista, outro grande sambista da época, havia composto um samba chamado "Lenço no Pescoço", um ode à malandragem, muito comum nos sambas da época. Noel, que nunca perdia a chance de brincar com um bom tema, escreveu em resposta "Rapaz Folgado" (Deixa de arrastar o seu tamanco / Que tamanco nunca foi sandália / Tira do pescoço o lenço branco / Compra sapato e gravata / Joga fora esta navalha que te atrapalha) . Wilson, irritado, compôs "O Mocinho da Vila, criticando o compositor e seu bairro. Noel respondeu novamente, com a fantástica "Feitiço da Vila". A briga já era um sucesso, todo mundo acompanhando. Wilson retorna com "Conversa Fiada" (É conversa fiada / Dizerem que os sambas / Na Vila têm feitiço) . Foi a deixa para Noel compor um dos seus mais famosos e cantados sambas, "Palpite Infeliz" . Wilson Batista, ao invés de reconhecer a derrota, fez o triste papel de compor "Frankstein da Vila" , sobre o defeito físico de Noel. Noel não respondeu. Wilson insistiu compondo "Terra de Cego". Noel encerra a polêmica usando a mesma melodia de Wilson nessa última música, compondo "Deixa de Ser Convencido"Noel era tímido e recatado, tinha vergonha da marca que trazia no rosto, evitava comer em público por causa do defeito e só relaxava bebendo ou compondo. Sem dinheiro, vivia às custas de poucos trocados que recebia de suas composições e do auxílio de sua mãe. Mas tudo que ganhava era gasto com a boemia, com as mulheres e com a bebida. Isso acelerou um processo crônico pulmonar que acabou em tuberculose.

Este 2008 marca a entrada de grande parte da obra do poeta da Vila, Noel Rosa, em domínio público.Apenas ficam liberadas para regravações, remixes (socorro!) e afins canções compostas apenas por Noel ou em parceria com quem morreu antes dele - a lei do direito autoral estabelece que o prazo de 70 anos é contado após a morte do último dos co-autores (Feitio de Oração, citada acima, ainda não está liberada, já que foi composta com Vadico, que morreu em 1962).


Abaixo segue a lista das canções liberadas. Vamos ver o que vem por aí.

01 - Agora
02 - Alô Beleza
03 - Amor de Parceria
04 - Arranjei um fraseado
05 - Ate amanha
06 - Baianinha
07 - Brincadeira de roda
08 - Canção do galo capão
09 - Cansei de implorar
10 - Cansei de pedir
11 - Capricho de rapaz solteiro
12 - Choro
13 - Chuva de vento
14 - Cidade mulher
15 - Coisas do sertão
16 - Condeno o teu nervoso
17 - Com que roupa?
18 - Contraste
19 - Cor de cinza
20 - Coração
21 - Cordiais saudações
22 - Cumprindo a promessa
23 - Dama do cabaré
24 - Disse-me-disse
25 - Dona Aracy
26 - Dono do meu nariz
27 - É difícil saber fingir
28 - É preciso discutir
29 - Envio essas mal traçadas
30 - Espera mais um ano
31 - Estamos esperando
32 - Eu não preciso mais do seu amor
33 - Eu sei sofrer
34 - Eu vou pra vila
35 - Faz três semanas
36 - Festa no céu
37 - Fita amarela
38 - Fita de cinema
39 - Foi ele
40 - Gago apaixonado
41 - A Genoveva não sabe o que diz
42 - João-ninguém
43 - Juju
44 - Lira abandonada
45 - Madame honesta
46 - O maior castigo que eu te dou
47 - Malandro medroso
48 - Marcha da primavera
49 - Mardade de cabocla
50 - Maria-fumaça
51 - Mentir
52 - Mentiras de mulher
53 - Meu barracão
54 - Meu bem
55 - Minha viola
56 - Muito riso, pouco siso
57 - Mulata fuzarqueira
58 - Mulato bamba
59 - Mulher indigesta
60 - Não brinca não
61 - Não me deixam comer
62 - Não morre tão cedo
63 - Não tem tradução
64 - Negocio de turco
65 - No baile da flor-de-lis
66 - Nos três dias de folia
67 - Numa noite à beira-mar
68 - Nunca... jamais
69 - Nuvem que passou
70 - Onde está a honestidade
71 - Paga-me esta noite
72 - Palpite infeliz
73 - Para atender a pedido
74 - Pela décima vez
75 - Pesado 13
76 - Picilone
77 - Por causa da hora
78 - Por esta vez passa
79 - Por você sou capaz
80 - Pra esquecer
81 - Pra lá da cidade
82 - Precaução inutil
83 - Proezas de seu fulano
84 - O pulo da hora
85 - Quando o samba acabou
86 - Quando pelas aulas ando
87 - Que a terra se abra
88 - Quem dá mais?
89 - Quem não dança
90 - Quem parte não parte sorrindo
91 - Quem ri melhor
92 - Rapaz folgado
93 - Remorso
94 - Riso de criança
95 - Roubou, mas não leva
96 - Saí da tua alcova
97 - Saí do presídio
98 - São coisas nossas
99 - Século do progresso
100 - Seja breve
101 - Seu jacinto
102 - Seu José
103 - Silêncio de um minuto
104 - Só você
105 - Tipo zero
106 - Três apitos
107 - Tudo que você diz
108 - Ultimo desejo
109 - Vagolino de cassino
110 - Vaidosa
111 - Verdade duvidosa
112 - Vingança de malandro
113 - Você é um colosso
114 - Você vai se quiser
115 - Voltaste (pro subúrbio)
116 - Vou te ripar I
117 - Vou te ripar II
118 - O x do problema
119 - Yolanda
120 - Samba anatômico

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