domingo, 20 de janeiro de 2008

JORGE VERCILLO VS DJAVAN

Oi gente! Faz algum tempo que ando sumido dos posts aqui do Musicaria por absoluta falta de tempo; mas hoje achei um texto aqui na internet e resolvi vir até aqui externar a minha indignação em relação a tal matéria.

Logo abaixo eu o colocarei na íntegra. O texto, em minha modesta opinião, tem um propósito até cômico, mas até para se produzir humor tem que haver bom censo.
Achei que o texto reverencia o Djavan a um ponto que sabemos que ele é merecedor pelo tempo de serviço a música popular brasileira; porém discordo ao afirmarem que Jorge é uma cópia do alagoano. Por declarações do próprio Jorge sabemos que o Djavan exerceu forte influência em seu trabalho, porém a tempos que o Vercillo vem trilhando o seu próprio caminho. Acho até que Jorge e seu lirismo poético andam cada vez mais próximos de poetas como o Vinícius de Moraes do que do propriamente de músicos que influenciaram a sua geração como Caetano, Gilberto Gil, a turma do clube da esquina de Minas Gerais (Lô Borges, Milton Nascimento, Beto Guedes entre outros). Uma prova mais que concreta é esse novo trabalho do Jorge (Todos nós somos um), que fica mais do que provada a sua versatilidade (ou será vercillotilidade?? Rsrsrs...).
Deixo aqui minha indignação em relação a tal material e espero que o trabalho do Vercillo seja cada vez mais desmistificado para que possa ser realmente içado ao seu patamar real. Não quero desmerecer o trabalho de um monstro sagrado da música brasileira e diria até mundial como é o caso do Djavan; mas queria que essa comparação (que vem de longas datas) passe. Até porque quem geralmente faz esse tipo de comentário não teve a oportunidade de conhecer a trajetória de sedimentação que o trabalho do Jorge vem apresentando principalmente nos últimos anos. Abraços a todos!!


Homem que sabia djavanês

"Eu tinha chegado fazia pouco ao Rio de Janeiro e estava literalmente na miséria. Vivia fugindo de casa de pensão em casa de pensão, sem saber onde e como ganhar dinheiro. Até que um dia, lendo "O Globo", deparei com este anúncio: "Precisa-se de um professor de djavanês". A audição das músicas de DJ Avan sempre provocou em mim puro mal- estar físico. Mas, enfim, precisava de grana e decidi fazer o possível para vencê-lo. Naquela semana, fui a todos os barezinhos com música ao vivo da idade. Perdi a conta de quantas vezes escutei "e o meu jardim da vida ressecou, morreu" ou "amar é um deserto e seus temores". Foram sete dias de tortura; contudo, saí deles com o djavanês na ponta da língua. Em vez de mandar meu currículo, achei que conviria visitar o endereço indicado no anúncio. Era um tríplex de cobertura, decorado com muito dinheiro e mau gosto ainda maior, num dos bairros mais caros do Rio. Apresentei-me comoprofessor de djavanês e, após ser submetido a inquérito pelos empregados, fui levado à presença do patrão, o doutor Albernaz. Ele me recebeu com um sorriso visivelmente irônico. "Então o senhor é professor de djavanês, hein?" "Sim, sou. Formado em djavanês e com mestrado em beregüê. Tive dez com louvor na minha tese sobre a influência de Carlinhos Brown na obra de James Joyce." A tese, obviamente, não existia, mas o doutor Albernaz pareceu acreditar na conversa. "Então, só o senhor pode me ajudar. Ouça isto, por favor" - e pôs nas minhas mãos uma coletânea do DJ Avan em CD. Ao notar minha cara de ponto de interrogação, ele contou sua história. "Pouco antes de morrer, meu pai me entregou esse CD e disse: 'Filho, tenho certeza de que DJ Avan canta coisas muito profundas, mas ouvi suas músicas durante anos e nunca consegui entender porra nenhuma. Só podem ser segredos iniciáticos transmitidos da maneira mais hermética possível. Descubra o significado e você obterá a chave da felicidade'." O doutor Albernaz abriu o encarte do CD e me mostrou uma das letras: "'Obi, obi, obá. Que nem zen, czar. Shalom Jerusalém, z'oiseau'. O que é isso?". Eu estava tenso com a pergunta do doutor Albernaz. Tantas músicas do DJ Avan e o velho tinha de querer saber o que significava a letra de "Obi"? Desgraçado. Se ainda fosse aquela do "o amor que é azulzinho", mas era tarde. Ele tinha os olhos fixos em mim: queria respostas. Todo o sucesso da minha empreitada dependia de uma explicação convincente e imediata. De repente, uma idéia. Começo: "Veja bem. 'Obi' é certamente uma referência a Obi-Wan Kenobi, o sábio de 'Guerra nas Estrelas' interpretado por sir Alec Guinness. 'Obá', por sua vez, remete a 'Djobi Djobá', sucesso dos Gipsy Kings. DJ Avan buscou contrastar o lado luminoso e britânico da força com os mistérios nômades da alma cigana. A mesma tensão dialética pode ser verificada no verso subseqüente, 'que nem zen, czar': a contemplação espiritual dos monges budistas e o poder absoluto dos czares. Perceba como tese e antítese se resolvem lindamente na síntese do verso seguinte: 'shalom Jerusalém' é a paz do espírito na divina cidade. É ela que faz a alma se elevar aos céus, como um pássaro ('z'oiseau')". Os olhos do doutor Albernaz se arregalaram enquanto eu falava. Dois segundos depois de eu terminar, ele gritou: "Que maravilha! Sabia que havia algo de muito profundo nessa letra! O senhor é um gênio da hermenêutica, um mestre do djavanês!". Passei a tarde inventando explicações para todas as outras letras do CD - Açaí guardiã..., Kremlin-Berlim-pra-não-dizer-Tel-Aviv..., índio cara-pálida cara de índio... Citei Joyce, Pound, Oswald, Glauber, Zé Celso, Hélio Oiticica e Odair Cabeça de Poeta: name-dropping é comigo mesmo. Daí por diante, minha ascensão social estava garantida. Eu era o único intelectual do país capaz de traduzir a transcendência da inguagem de DJ Avan. Tinha prestígio acadêmico e subsídio do Ministério da Cultura; gostosíssimas estudantes de lingüística rasgavam as roupas e se atiravam aos meus pés. Mas troquei tudo por um violão, sandálias de couro cru e um penteado novo. Mudei até meu nome graças ao djavanês. Hoje me chamo Jorge Vercillo e sei que "nada vai me fazer desistir do amor"...

ALGUNS ÁLBUNS:

Djavan - Coisa de acender (1992)
Considerado pelo próprio Djavan como o seu melhor trabalho, esse álbum vem recheado de "hits" como Se..., Boa noite, Linha do equador (uma das poucas parcerias do Djavan com o Caetano Veloso) e Outono. Além de duas gravações antológicas: A rota do indivíduo (ferrugem) e Violeiros.

FAIXAS:
01 - A rota do indivíduo (ferrugem) (Djavan e Orlando Moraes)
02 - Boa noite (Djavan)
03 - Se... (Djavan)
04 - Linha do Equador (Djavan e Caetano Veloso)
05 - Violeiros (Djavan)
06 - Andaluz (Djavan e Flávia Virgínia)
07 - Outono (Djavan)
08 - Alívio (Djavan e Arthur Maia)
09 - Baile (Djavan)


Jorge Vercillo - Todos nós somos um (2007)
Considerado pela crítica musical o álbum mais versátil do Jorge Vercillo esse nono álbum (o sétimo de estúdio) vem com uma musica do Jorge e do Jota Maranhão estourada já mesmo antes do lançamento oficial do álbum. A canção "Ela une todas as coisas" fez parte da trilha de uma novela da rede Globo (Duas caras). Esse trabalho; segundo o Vercillo, foi melhor elaborado por conta do tempo que ele teve para compor todas as canções juntamente com seus parceiros, por isso ele tem essa diversificação de ritmos. Nesse álbum pela primeira vez há participações em seus discos de duas pessoas dividindo os vocais com ele: Marcos Valle e Guinga. Vale a pena conferir!

FAIXAS:
01 - Cartilha (Jorge Vercillo e Fátima Guedes)
02 - Camafeu guerreiro (Jorge Vercillo e Paulo Cesar Feital)
03 - Numa corrente de verão (Jorge Vercillo e Marcos Valle)
04 - Ela une todas as coisas (Jorge Vercillo e Jota Maranhão)
05 - Toda espera (Jorge Vercillo)
06 - Xote do polytheama (Jorge Vercillo)
07 - Devaneio (Jorge Vercillo)
08 - Todos nós somos um (Dudu Falcão e Jorge Vercillo)
09 - Vôo cego (Jorge Vercillo)
10 - Luar de sol (Jorge Vercillo)
11 - Tudo o que eu tenho (Jorge Vercillo)
12 - Deve ser (Jorge Vercillo e Dudu Falcão)


Texto extraído do site samba e choro:
http://www.samba-choro.com.br/s-c/tribuna/samba-choro.0411/0350.html

2 comentários:

odair silva disse...

cara linda materia e sua indignação em relacão a essa "cópia", é minha tb.
quem menos sabem mais opina, tem muitos "críticos" de musicas, preguiçosos por ai que não conhecem nem 5% do trabalho do jorge vercillo e formalizam opniões equivocadas e jogadas ao vento.

brunonegromonte disse...

Caro Odair, obrigado por endossar o coro! Grande abraço!

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