sábado, 10 de outubro de 2020

ALMANAQUE DO SAMBA (ANDRÉ DINIZ)*

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Caetano e Gil

“Caetano e Gil ô
com a tropicália no olhar
Doces Bárbaros ensinando
a brisa a bailar...”
DAVID CORREA, PAULINHO, CARLOS SENA e BIRA DO PONTO,
“Atrás da Verde-e-rosa só não vai quem já morreu”, samba-enredo da Mangueira de 1994


A proposta dos baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil, principais mentores do tropicalismo musical, era de fazer uma “Geléia geral”, misturando Vicente Celestino, Carmen Miranda, berimbaus, guitarras, o local e o universal como partes da mesma moeda.
A influência de João Gilberto sobre os meninos rebeldes era clara. A abertura estética que a bossa nova representou delineou os horizontes contestadores e antenados com o mundo que os dois passaram a encarnar no último quartel do século XX.
As ideias de Caetano e Gil estavam impregnadas pelo espírito da contracultura. “De perto ninguém é normal”, diz Caetano na canção “Vaca profana”. Apesar de ter sido composta quase duas décadas depois do início do movimento tropicalista, esse verso traduz o clima estabelecido entre a massa de jovens na virada da década de 1960 para a de 1970, sobretudo os que passaram a lutar por paz e amor no mundo, contestando os tabus culturais e morais vigentes. Maio de 68 na França e Woodstock são os marcos mais fortes da contracultura no âmbito internacional. A partir de então, a luta contra o preconceito (incluindo o estético) foi universalizada. 
Contemporâneo dessa época de explosão da contracultura, acostumado a ouvir samba-de-roda em Santo Amaro da Purificação, Caetano Veloso é um dos mais inquietos e brilhantes compositores de sua geração. Conhecido mundialmente, talvez seja ainda um dos raros compositores que têm igual prazer em interpretar canções suas e dos outros.


Jorge Ben Jor, músicas para animar a festa

O primeiro LP de Jorge Ben chamava-se Samba esquema novo e já apontava para a fusão que esse carioca cheio de ritmo e personalidade implementaria na música popular. Jorge é um camaleão sonoro. Com fama internacional, suas músicas são sempre regravadas pelas novas gerações. São importantes sucessos do seu rico repertório “Crioula”, “Cadê Teresa”, “Que maravilha”, “País tropical”, “Taj Mahal” e “Fio Maravilha”, aquele alô que o flamenguista Jorge Ben Jor dá para a nação rubro-negra: “Foi um gol de classe/ onde ele mostrou sua malícia e sua raça/ Foi um gol de anjo um verdadeiro gol de placa/ que a galera agradecida assim cantava/ Fio Maravilha nós gostamos de você/ Fio Maravilha faz mais um pra gente ver...”
Essa característica o levou a gravar os sambas “Chega de saudade” (de Tom e Vinicius), “Mora na filosofia” (de Monsueto e Arnaldo Passos), “Acontece” (de Cartola), “Lealdade” (de Wilson Batista e Jorge de Castro), “Pra que mentir?” (de Noel Rosa e Vadico), “Cada macaco no seu galho” (de Riachão), “A Rita” e “Samba e amor” (de Chico Buarque), “Aquarela do Brasil” (de Ary Barroso) e “Atrás da Verde-e-rosa só não vai quem já morreu” (samba-enredo da Mangueira de 1994), entre tantas outras composições de sambistas diversos.
Em 1963, Caetano conheceu Gilberto Gil, o ídolo que já admirava pela TV.
No ano seguinte, na inauguração do Teatro Vila Velha, o show Nós, por exemplo reuniu pela primeira vez o grupo que entraria para a história da música como Doces Bárbaros: Gil, Maria Bethânia, Gal Costa e Caetano. 
Como Caetano, Gil é um nome indispensável quando se fala em música popular brasileira, seja como compositor, instrumentista ou cantor. Sua música rende homenagem ao universalismo, mas finca os pés aqui mesmo, em terra brasilis.
Gil construiu com o samba uma relação criativa, estabelecendo uma saudável mistura com o rock, a exemplo da composição “Rouxinol”. Gravou, com o sambista paulista Germano Mathias, um LP chamado Antologia do samba-choro, em que estavam presentes composições de Wilson Batista, Geraldo Pereira, Denis Brean e do próprio Mathias.
Andou pelas águas do protesto em boa letra na música “Roda”. Inspirado pela Cidade Maravilhosa, recriou muitas características da batucada e do balanço das escolas de samba, evidentes na composição “Ensaio geral”. Por fim, mas não somente, sua contribuição maior ao samba está realmente na música “Aquele abraço”, que, com breque e outros parangolés, marcou definitivamente a volta do ritmo na corrente tropicalista. Chacrinha, Flamengo, Realengo, Portela – nessa música, um Rio pitoresco é retratado ao lado de um grito de liberdade contra as prisões da ditadura (Caetano e Gil foram presos em 1969, e Gil ficou confinado em Realengo): “O Rio de Janeiro continua lindo/ o Rio de Janeiro continua sendo/ o Rio de Janeiro, fevereiro e março/ alô, alô, Realengo – aquele abraço!/ Alô, torcida do Flamengo – aquele abraço!/ Chacrinha continua balançando a pança/ e buzinando a moça e comandando a massa...”





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