Nas 11 faixas do disco, ela celebra a liberdade de amar em ritmos como o pop, a valsa, a canção e a coladera
Por Márcia Maria Cruz
A carioca Marina Iris lança o disco 'Rueira', cujas faixas celebram a liberdade de amar.
O compositor Aldir Blanc evoca os deuses das “encruzas, quintais, butecos onde o samba come e nos alimenta” para apresentar Rueira, o segundo álbum da cantora Marina Iris (Biscoito Fino). Quem aceita o convite para ouvi-la se lança como flâneur nas ruas do Rio de Janeiro. Nas 11 faixas assinadas por Manu da Cuíca e arranjadas por Rodrigo Lessa, Marina, sem deixar de lado o DNA de sambista, aventura-se por outros ritmos, como pop, valsa, canção e coladera.
O trabalho nasceu do convite feito por Rodrigo e Manu a Marina para transitar além do samba, que faz parte de seu universo desde a infância, pois ela é filha do compositor Celso Lima e enteada da sambista Gisa Nogueira. “Gisa é uma grande referência. Aprendi com ela que o intérprete deve ter suingue na divisão do samba”, afirma.
A admiração também é grande por Manu e Rodrigo. “Ela é uma compositora da nova geração e Rodrigo é muito experiente, fez arranjos para muita gente”, conta.
A faixa Rueira sintetiza a ideia que perpassa todas as composições, a “vivência de rua”. E fala da relação da mulher moderna com esse ambiente. Em Princesinha underline 86, Marina canta ao lado da Banda Síndico, que tocava com Tim Maia (1942-1998). “Ouvi muito Tim, Sandra de Sá, Tony Tornado. Ouvi muito esse som para construir a interpretação”, diz.
Zélia Duncan é a convidada na faixa Meio a meio. “É uma canção muito gostosa e aconchegante sobre a relação entre duas mulheres que dividem a cama de solteira. Uma história de amor que poderia ser vivida por qualquer casal”, afirma. “Sou lésbica e defendo algumas bandeiras. A canção é uma forma mais despida de tratar do tema”, diz. “A gente enfrenta muita dificuldades, mas a relação é igual a qualquer outra, com hábitos, brigas e conciliações.”
CARIOCA DA GEMA
A relação amorosa também é abordada em Xodó, que tem participação de Julio Estrela. “É uma relação heterossexual, aquele eterno vai e volta”, conta. Marina e Julio dividiram, por anos, o palco do Carioca da Gema, bar da Lapa e reduto do samba carioca.
Por sua vez, Ginga língua celebra a influência do banto na língua portuguesa. “As composições de Manu são crônicas, um olhar para as ruas. Ginga língua foi o meu único pedido a ela”, revela. As duas se conheceram quando Marina estudava letras na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Idealizadora do projeto musical É Preta, a cantora convidou quatro artistas negras para o projeto coletivo: Simone Costa, Nina Rosa, Maria Menezes e Marcelle Motta. “São cantoras da minha geração. O objetivo é mostrar a nossa diversidade como mulher negra. Isso humaniza. Vamos além dos estereótipos, pois somos hétero, lésbica, mãe de bebê, mãe de adolescente. Com todos os tipos físicos e diferentes gradações da cor da pele.”
O grupo prestou homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada em 14 de março, no Rio de Janeiro. “Fizemos um samba no último aniversário de Marielle. Ela era uma força muito grande. Inspirou as mulheres negras, mas não só. A militância viu nela grande possibilidade de mudança, de transformar uma Câmara Municipal muito homogênea, de homens brancos, héteros e ricos, em representante de uma sociedade mais diversa”, afirma.
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