sexta-feira, 9 de março de 2012

NORA NEY, 90 ANOS

Por Luiz Américo Lisboa Junior





Uma das fases mais interessantes da história da música popular brasileira encontra-se no período que vai de 1945 a 1955, nesses dez anos estávamos muito influenciados pela música norte americana em função de sua grande penetração em nosso país por causa da segunda guerra mundial, sendo também a época áurea da Radio Nacional e da Rádio Tupi, ambas do Rio de Janeiro, caracterizando-se como a era dos “ídolos do rádio”, em que grandes artistas, notadamente intérpretes surgiam com muita força, lotando os auditórios das emissoras de rádio, numa das mais autenticas manifestações populares já ocorridas no Brasil. A Revista do Rádio era a porta voz oficial dessa época e todos compravam os exemplares da revista, que era semanal, para ficar por dentro da vida dos artistas.

Nessa ocasião a música brasileira ainda estava muito influenciada por ritmos latinos, o bolero era um dos estilos musicais mais executados, e foi também o período em que o samba canção atingiu seu ponto máximo, consagrando intérpretes que se especializaram nesse gênero musical. Entre aqueles que se notabilizaram, destacamos a cantora Nora Ney.

Nascida no Rio de Janeiro em 20 de março de 1922, seu nome verdadeiro é Iracema de Souza Ferreira. Em 1948 com 26 anos começou a freqüentar o Sinatra-Farney Fã Clube, onde reuniam-se jovens artistas em início de carreira, dentre eles, Dick Farney, e Johnny Alf . Incentivada por Lucio Alves e Dick Farney, foi apresentada ao radialista José Mauro que tinha um programa na Radio Tupi denominado Fantasia Musical, onde em fins de 1951 estreou como cantora sob o pseudônimo de Nora May, posteriormente mudado para Nora Ney, cantando músicas estrangeiras. Aprovada, permaneceu na emissora e por sugestão de Haroldo Barbosa abandonou o repertório em inglês. Apesar do receio de alguns quanto a receptividade de sua voz, que era muito grave e carregava por demais nos erres, conseguiu-se impor pelo ritmo e afinação, criando um novo estilo de interpretar o samba canção. Em 1952 gravou com enorme sucesso seu primeiro disco na Continental com a música Menino Grande de Antonio Maria que se lançava como compositor.

Faz tanto bem o beijo que ele me traz

As horas passam ligeiras, felizes
Sem a gente sentir, ele esta ao meu lado
Com o corpo cansado, precisa dormir.



Dorme, menino grande que eu estou perto de ti
Sonha o que bem quiseres que eu não sairei daqui
Oh! Vento, não faz barulho, meu amor esta dormindo
E o mar não bata com força, porque ele esta dormindo.



Em 1953 viria a consagração com a música de Antonio Maria e Fernando Lobo, Ninguém me ama, considerado um samba canção antológico na música popular brasileira. Essa gravação de Nora Ney lhe valeu uma premiação inédita no Brasil, recebendo o disco de ouro como melhor cantora por cinco anos consecutivos, sendo ainda em 1953 eleita Rainha do Rádio.




Ninguém me ama
Ninguém me quer
Ninguém me chama
De “meu amor”!
A vida passa
E eu sem ninguém
E quem me abraça
Não me quer bem


Vim pela noite tão longa
De fracasso em fracasso
E hoje descrente de tudo
Me resta o cansaço
Cansaço da vida
Cansaço de mim
Velhice chegando
E eu chegando ao fim.


Ainda em 1953 outro sucesso de Nora Ney foi o samba canção De cigarro em cigarro de Luiz Bonfá e em 1954 fez o Brasil inteiro cantar a canção Aves daninhas de Lupicínio Rodrigues. Em 1955 ela ainda continua imbatível como uma das cantoras que mais sucessos lança no mercado, nesse ano Antonio Maria compõe e ela grava o samba canção Se eu morresse amanhã que por muitos anos tornou-se uma das músicas mais representativas de seu repertório. Em 1958 Nora Ney que já havia se notabilizado como intérprete definitiva de sambas canções, mostra que também sabe cantar o samba tradicional e grava de Ataulfo Alves, Vai, mas vai mesmo, música que fez enorme sucesso no carnaval de 1959 e que é até hoje citada em todas as obras que retratam a história do carnaval brasileiro, como uma das músicas mais importantes e representativas.





Vai!
Vai mesmo!
Eu não quero você mais
Nunca mais!
Tenha a santa paciência
Ponha a mão na consciência
Deixe-me viver em paz (vai ou não vai?)


Sai de vez do meu caminho
Dê a outro o seu carinho
Me abandone por favor
Ai que dor!
Você machucou meu peito
Não tem mais o direito
De manda no meu amor.



Durante o ano de 1958 Nora Ney viajou ao exterior por seis meses, apresentando-se na Europa, África, Oriente Médio e nas Américas. Casada há muitos anos com o cantor Jorge Goulart, fez com ele em 1971 uma longa temporada na boate Feitiço da Vila em Belo Horizonte e em 1972 lançou pela Som Livre o LP, Tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor. Em 1974 e em 1979 ao lado do marido participou do show Brazilian Follies no Hotel Nacional do Rio de Janeiro e em 1979 também fizeram parte do Projeto Seis e Meia na sala Funarte apresentando o espetáculo Roteiro de um boêmio, show em homenagem a Lupicinio Rodrigues. Em 1982 comemorou trinta anos de união com Jorge Goulart apresentando o show De coração a coração no Teatro Gonzaga no Rio de Janeiro. Em 1985 Nora Ney participou do Projeto Pixinguinha viajando por diversas capitais do Brasil e em 1989 ao lado das cantoras Carmélia Alves, Violeta Cavalcante, Zezé Gonzaga, Rosita Gonçalves e Ellen de Lima apresentou o show As eternas cantoras do rádio produzido e dirigido por Ricardo Cravo Albin. Nos anos 90 Nora Ney afastou-se definitivamente das atividades artísticas por problemas de saúde, e este ano pela passagem dos seus 90 anos, e por tudo que fez com seu enorme talento, tornou-se um dos personagens mais importantes da história da música popular brasileira.

1 comentários:

Rodrigo Loureiro disse...

Nora Ney, grande cantora. Pena que o tempo é implacavel e passa muito rapido. Graças a Internet preciosidades como essa não se perderão. Adorei.

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