quinta-feira, 14 de outubro de 2010

TODO ARTISTA TEM QUE IR AONDE O POVO ESTÁ

Atendendo a proposta de um modelo de entrevista onde o público leitor do Musicaria também a elabora, Daniella Alcarpe se mostra extremamente feliz com a carreira que abraçou e super apaixonada pela música brasileira.

Por Bruno Negromonte





Como havíamos dito ao longo do mês anterior, durante o presente mês estaríamos entrevistando a cantora paulista Daniella Alcarpe. A apresentação desta artista ao público do Musicaria Brasil se deu ao longo do último mês através da matéria DANIELLA ALCARPE - O CANTO DOCE DE UM NOVO TALENTO DA MPB (http://musicariabrasil.blogspot.com/2010/09/daniella-alcarpe-o-canto-doce-de-um.html). Hoje, Alcarpe volta ao nosso espaço para esta entrevista exclusiva, onde podemos atestar o quanto o Musicaria estava certo ao perceber o imensurável talento da Daniellasem contar toda a simpatia e carismaGostaria de agradecer a produção da Alcarpe através da pessoa do Daniel Cukier pelo material disponibilizado para elaboração das pautas e a atenção dada a mim, desde o início, quando cogitei trazer ao público do deste espaço o trabalho da Alcarpe. Vamos deixar de lero-lero e vamos ao que de fato interessa! Segue aqui então a entrevista concedida pela Daniela:


Primeiramente gostaríamos de agradecer imensamente pela atenção dispensada ao Musicaria Brasil e começar essa entrevista com o seguinte questionamento: O Qué que cê qué? O que é que você almeja trazer para a MPB com esse trabalho de estreia?

Daniela Alcarpe - Olá Bruno, eu é quem agradeço imensamente por ser tão bem recebida no Musicaria Brasil. Parabéns pelo seu trabalho! O que eu quero é cantar, gravar e divulgar a boa música brasileira. Em casa a gente sempre privilegiou a música brasileira, os compositores e intérpretes de verdadeiro valor artístico. Tanto no que diz respeito a poesia, como a melodia. Tivemos tantas maravilhas criadas nos anos 60, 70, 80 e até mesmo nos anos 90. Impossível não se deixar influenciar pela beleza, pelo lirismo e pela responsabilidade de músicos como Chico, Caetano, Joao Bosco, Gil, a turma do Clube da Esquina, Luis Melodia, Paulinho da Viola, enfim, é ímpossível listar, são tantos! A riqueza e capacidade de criação do músico brasileiro me encanta sem parar.

Muitas vezes, os artistas em seu primeiro trabalho procuram no mínimo colocar alguma canção conhecida ou até mesmo mais de uma, até para poder levar como carro-chefe do disco na hora da divulgação. O seu caso foi totalmente atípico, você procurou destacar artistas sem grande notoriedades e um repertório basicamente inédito. Como se deu a escolha desses compositores e do repertório justamente em seu trabalho de estreia?

DA - Pois é. O fato é que também existem muitas intérpretes de qualidade no Brasil. E muitas fazem isso: selecionam um repertório conhecido, para apresentar sua voz e interpretação. É uma maneira de trabalhar. A escolha das músicas do meu CD buscou, além de me apresentar, mostrar que tem muita gente boa fazendo música bonita, põe aí um B maiúsculo! Ao longo dos meus anos de trabalho, eu tive a sorte de me deparar com compositores incríveis que pouca gente conhece. É muito bom dividir este encantamento com as pessoas. E fico feliz quando percebo no meu show o público cantando junto comigo algumas cancões do CD. E só pra finalizar: tanto o Zé de Riba como o Carlos Careqa são compositores de longa estrada, com um público bastante fiel.


Quem chega a ler o seu resumo biográfico percebe que a sua história se dá nos grandes centros urbanos, destacando aí São Paulo, a Itália e a Holanda. A partir desse prisma podemos dizer que você é uma pessoa essencialmente cosmopolita. O que fez você paradoxalmente selecionar e interpretar ritmos como baião, frevo e choro já que estes, apesar de suas respectivas notoriedades, se destacam hoje em dia lugares cada vez mais recônditos?

DA - Talvez esteja na hora de devolver ao Brasil o que é do Brasil, não é mesmo? Beleza e talento a gente encontra em qualquer endereço! Ainda bem!



4 - Durante o mês anterior destacamos a sua carreira solo e o lançamento do álbum "Qué que cê qué?", porém há outros projetos que você desenvolve paralelamente a sua carreira de cantora como o Trio Dellaz, os duos de piano e voz, as aulas junto ao conservatório e a sua carreira de atriz. Como se dá os cuidados de sua voz para poder dar conta de todas essas obrigações profissionais?

DA - Eu estudo técnica vocal desde os 14 anos! A gente aprende a cuidar da voz... tomo muita água, levo uma vida saudável, ainda faco aulas de canto, porque é muito importante ter alguém que ouça a gente e tenho o apoio de uma fonoaudióloga. Mas o mais importante são os exercicios vocais, que eu faço diariamente.



A cerca de dois meses atrás estive com o João Bosco e falávamos sobre a questão da venda de disco no Brasil. Ele fez uma colocação bastante pertinente sobre a situação atual desse nicho de mercado, que na visão dele está mais que saturado, sendo necessário a criação de uma nova maneira de se negociar música. Ele vem de uma época que teve que se adequar ao contexto atual, você vem com o primeiro álbum já nesse contexto. Gostaria de saber qual a sua concepção sobre mercado fonográfico e as tendências que a música (comercialmente falando) irão tomar ao seu ver?

DA - Eu acho que cada vez mais existem tribos, né? É muita gente no mundo, muitas tendências diferentes, coisas novas surgindo a todo o momento... uma unanimidade nacional já não é mais possível, a sociedade está dividida em muitos segmentos culturais, econômicos... acho que a saída do artista é se divulgar através de shows. Divulgar os shows pela internet, criar redes de relacionamento online, se não tiver acesso à midia impressa. E vender seus CDs em shows e via internet. Que oferece também a possibilidade de vender apenas uma ou duas música, não é necessário mais comprar o CD inteiro. Estamos neste processo. Em países como a Europa e Estados Unidos, onde a compra de um computador é acessível à grande maioria, isso está cada vez mais assimilado. Para você ter uma ideia, eu tenho mais fãs fora do Brasil do que aqui, só por conta da divulgação das minhas músicas no site Jango (http://www.jango.com/music/Daniella+Alcarpe). Essas ferramentas permitem que eu, além de divulgar meu trabalho, interaja com os fãs, mandando e recebendo mensagens, críticas, elogios. Esse contato próximo com o público é muito saudável, eu aprendo muito!


Nossa cultura, apesar de riquíssima, vem ao longo dos anos sempre destacando coisas muito mais de valor comercial do que necessariamente de valor cultural e você vem "remando contra a maré" trazendo um trabalho simplório, lindíssimo e essencialmente não comercial. Quais tem sido as suas dificuldades na propagação do álbum em um país de dimensões continentais como é o nosso e como vem se dando a divulgação desse seu trabalho de estreia?

DA - "Qué que cê qué? é um CD independente, feito com muito cuidado e carinho. Estou fazendo a divulgacão pela internet, shows e programas de rádio e TV. É sem dúvida um trabalho de formiguinha, mas tem sido muito gratificante, pois o disco está sendo muito bem aceito pelo público e pela crítica especializada. Estou feliz! Claro, que é mais difícil penetrar na grande mídia por não se tratar de um repertório com foco comercial.


Desde a sua infância que você vem se aperfeiçoando em seus estudos musicais em diversos conservatórios paulistas; desde o início de seus estudos que você já estava certa que seu caminho seria a música popular ou isso foi sendo descoberto ao longo dessa sua passagem pelas escolas de música?

DA - Desde criança eu sou profundamente apaixonada por música popular brasileira. Sempre sonhei em ser cantora, então comecei a estudar canto e não parei mais. Estudei canto lírico, canto popular, teatro e me formei em Música pela Faam. Sempre com o objetivo de aprimorar minha técnica para o canto popular.


Quem é que te influenciou e influencia na música popular? Quem é que a Daniella costuma ouvir com frequência?

DA - Influências são muitas, mas eu posso citar: Carmem Miranda, Ney matogrosso, Isaura Garcia, Elis Regina, Adoniran Barbosa, Ná Ozzetti, Tom Jobim, Chico Buarque, Vinícius de Moraes e Caetano Veloso. Eu também adoro ouvir novos compositores, como: Kléber Albuquerque, Cássio Carvalho, Luciano Garcez, Miro Dottori, além dos compositores que eu gravei no CD (Carlos Careqa, Lucy Casas, Zé de Riba, João Marcondes, Joca Freire, Dimitri Bentok).


É de conhecimento de quem acompanha a sua carreira que a Paula Portella assim que voltou da Europa começou a aprimorar seus estudos no Conservatório Souza Lima Alphaville com você. Alem dela, a Flavia Panachao também aperfeiçoa-se no mesmo Conservatório Musical. A perdunta é a seguinte: Como se deu a ideia da formação do Trio Dellaz? Foi a partir desse encontro no Souza Lima ou vocês já se conheciam antes e esse encontro só foi o incentivo que faltava para o início do projeto?

DA - Eu conheci a Paula em 1998 em festival de música do colégio e já comecamos a cantar juntas em uma banda. A banda acabou e a amizade ficou. Posteriormente a Paula conheceu a Flávia. Logo surgiu a ideia de formarmos um trio, pois queriamos cantar juntas. É um repertório totalmente diferente do CD, eu diria mesmo que mais comercial, pois o Dellaz se apresenta em eventos corporativos e sociais. Por isso, a seleção de músicas é mais ao gosto do "freguês".



Sabemos que você ainda está nesse processo de divulgação do seu álbum de estreia intitulado "Qué que cê qué?", mas já está sendo cogitada a possibilidade do registro fonográfico do Trio Dellaz?

DA - Sim, nós só não sabemos ainda quando conseguiremos concretizar esse projeto.



Daniella, gostaria de agradecer a sua disponibilidade em nome de todos aqueles que participaram na elaboração desta entrevista nos enviando perguntas diversas; o espaço então fica então aberto para que você possa deixar uma mensagem àqueles que estão conhecendo o seu trabalho agora ou alguma colocação que você queira fazer aos nossos leitores.

DA - O Brasil é musical e a música brasileira é linda! Prestigiem o artista nacional. Vejam shows, comprem os CDs. Comprem música pela internet. Ajudem a gente a continuar criando e fazendo cultura. Vamos atrás da beleza, da poesia, da melodia. Se todo mundo fizer um pouquinho, quem sabe a gente traz de volta aquele Brasil em que as pessoas assobiavam suas canções prediletas enquanto caminhavam na rua? Faz tempo, mas não tanto tempo assim! Um beijo! Obrigada.


P.S. - O CD de estreia da Daniella Alcarpe pode ser adquirido nas unidades físicas da Livraria Cultura (além do site da livraria) ou através dos endereços eletrônicos abaixo:
http://www.imusica.com.br/album.aspx?id=277915
http://www.jango.com/music/Daniella+Alcarpe

1 comentários:

Anônimo disse...

Meu amor, parabéns pela entrevista. Muito boa!! :)
Você realmente nasceu para a música e para os livros. :*

Mari

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