Por Josué Ribeiro
Em 1981, o Brasil tinha pouco mais de 1.200 emissoras de rádio e todas elas tocaram o hit “Abre Coração”, um sucesso do cantor Marcelo em parceria com o cantor e compositor americano Jim Capaldi. A música permanece viva na memória de quem tem mais de trinta anos. Para reforçar o sucesso da balada romântica, a Rede Globo incluiu “Abre Coração”, na trilha sonora da novela “O Amor é Nosso”, de Wilson Aguiar Filho e Roberto Freire. Marcelo já tinha nome no segmento, mas sua popularidade nacional foi conquistada com o sucesso da música.
Com a popularidade em alta, surgiram fã-clubes espalhados pelo país inteiro. A maior contribuição para a sua projeção nacional, vinha das aparições que fazia nos programas de tevês, aparições estas, marcadas pelas cenas de histerias das fãs que queriam arrancar pedaços do cantor. Em programas de apresentadores como Chacrinha, Sílvio Santos e outros do gênero, as câmeras exploravam cenas explícitas da idolatria das meninas por Marcelo. A coisa beirava o dramático, como a experiência que narrou em junho de 1982 para a revista TV Ilusão: “Era uma certa cidade do interior goiano. Terminado o show, os guardas fizeram um cordão de isolamento pra eu me mandar. Mas, quando alcancei o carro, uma guria furou o cordão, chegou na janela do automóvel e me deu a maior dentada na orelha. Nesse instante o motorista saiu com o carro. Bicho, foi um sufoco. O carro andando e minha orelha presa, sendo arrancada pelos dentes da garota. A dor era tremenda, pensei que ia ficar sem a orelha. Finalmente ela largou. Saiu sangue. Ficou um hematoma enorme. Mas no fundo, no fundo, eu curti o que aconteceu. Eu curto essas coisas!” Naquele momento, onde se iniciava uma nova fase da música popular brasileira com a anárquica banda Blitz, Marcelo era o único autêntico cantor carioca, talvez o último representante dos cantores galãs que fazia o tipo romântico moderno.
O sucesso da música “Abre Coração” para situar o leitor distraído, coincide com o nascimento da apresentadora Sabrina Sato, a espevitada do programa Pânico na TV, com a largada definitiva do SBT, com a estréia da atriz Débora Bloch em novelas (Jogo da Vida), aos 18 anos, e com a estréia do programa Viva o Gordo. No mesmo ano o cantor Ney Matogrosso explodia com “Homem com H” e Rita Lee recebia o Troféu Imprensa como a melhor cantora do ano. Certamente são dados importantes da época, mas também são fatos esquecidos pelo tempo. Contudo, ao ouvirmos Abre Coração, imediatamente nos lembraremos do ano de 1981 e de como foi importante na carreira de Marcelo. “Estou fazendo uma média de 20 shows por mês e não tenho mais datas até o fim do ano. Isso é de matar qualquer um. Mas tá ótimo, incrível, maravilhoso. Este é o grande momento da minha carreira e tenho de aproveitar o máximo possível.” Declarou em junho de 82, sem espaços na agenda até o final do ano.
A aparência saudável que o jovem cantor ostentava no auge de sua carreira, em 1981, era o reflexo da vida em que levava na zona sul carioca. Sol da manhã na praia de Ipanema, barzinho à tarde no Leblon e rodinhas de amigos espalhadas pela orla à base de violão e muito papo, era o que mais pesava na bagagem do cantor.
No decorrer da década, Marcelo emplacou outros sucessos, como Olhos Diamante do LP de 1987, mas certamente, “Abre Coração” lhe acompanhará pelo tempo em que viver, aquele seu jeito de eternamente jovem, vai emoldurar a fotografia do cantor de cabelos longos e encaracolados, sorriso de garoto e roupas soltas, seu olhar brilhante e tudo mais, o farão inesquecível, sempre que se for comentar sobre os anos oitenta.
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