Pesquisadores e amantes de música brasileira podem encontrar cada vez mais discos raros na rede. As informações sobre como foram gravadas e compostas ainda são escassas, mas músicos e blogueiros se empenham para compartilhar seus acervos e, assim, salvar raridades do esquecimento.
Jornalistas e críticos de música, instrumentistas, cantores e amantes de descobertas sobre a MPB em geral já encontram na internet uma importante ferramenta para complementar seu trabalho no garimpo em sebos e acervos. Blogs, sites com documentos e gravações digitalizados, enciclopédias virtuais e os populares MySpace e YouTube viraram fonte de consulta obrigatória para descobrir pérolas da música brasileira de todas as épocas. Nesse garimpo, artistas e obras importantes que vinham caindo no esquecimento são recuperados. Por gente que antes não tinha acesso ou mesmo curiosidade.Para acessar esses sites, no entanto, especialistas recomendam atenção a algumas armadilhas do meio. A qualidade do som é um deles. Arthur Dapieve, autor de BRock: o Rock Brasileiro dos Anos 80 (Editora 34) se diz afeito às "re-re-remasterizações" de áudio em nome da boa qualidade do som. O jornalista também defende o cuidado na importância da apresentação dos dados técnicos das obras. Mas admite a importância da ferramenta como fonte de informação.E como aproximador de pessoas. Dapieve escreveu com os pesquisadores e jornalistas Tárik de Souza, Charles Gavin e Carlos Callado o livro 300 discos importantes da música brasileira, no qual sugerem uma discoteca básica comentada - da qual a maioria dos títulos só pode ser conhecida em sebos ou na internet. O projeto foi tocado por cinco anos quase que integralmente à distância. "Só nos encontramos os quatro juntos, pela primeira vez, no dia do lançamento", conta.Alguns pesquisadores já possuem uma espécie de "internet pessoal" em seus próprios acervos. É o caso de Zuza Homem de Mello, autor de Música nas Veias e A Era dos Festivais (ambos pela Editora 34). Aos 75 anos, desde os 15 trabalhando com música, ele reuniu 15 mil vinis, cinco mil CDs, além de incontáveis livros e documentos. Mas mesmo para o pesquisador e músico, que faz questão de frisar a importância das consultas a arquivos e bibliotecas, algumas informações ficaram mais acessíveis com a rede. "Isso é um passo gigantesco que se conquistou no trabalho de apoio à pesquisa. Em 10 minutos é possível ouvir uma música online", diz. Pare ele, contudo, a quantidade de informação existente hoje exige muito mais trabalho na seleção.Tárik de Souza endossa a opinião. Autor de livros sobre música brasileira como Tem Mais Samba: das Raízes à Eletrônica (Editora 34) e Som Nosso de Cada Dia (L& PM), ele também poderia se ater, em suas pesquisas, à navegação pelas suas 20 mil pastas repletas de recortes de jornais, entrevistas e fotografias, 12 mil discos de vinil e cerca de 24 mil CDs. Tárik, responsável pelas informações de importantes acervos e sites online, admite a relevância da ferramenta, mas, como bom jornalista, alerta: é preciso duvidar e buscar outras versões. "Se você não tiver uma base, vai na onda e acaba propagando uma informação errada". Para ele, também falta na internet informações extra-oficiais, como as encontradas no MySpace de cada artista.Tárik aponta o YouTube, esse sim, como uma ferramenta valiosa. "Você encontra, por exemplo, muitas gravações do João Gilberto lá. Se fosse depender do próprio, não acessaríamos esse material. Se as gravadoras são difíceis com direitos musicais, imagine os audiovisuais", aponta. Para ele a internet ainda é um primeiro passo: "A audição árida e precária ainda é uma grande ferramenta para estimular a procura dos discos. A partir dali e da sua curiosidade, você vai para o mundo físico", considera.
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