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sexta-feira, 15 de agosto de 2008

O PESSOAL DO CEARÁ: REFERENCIAIS ESTÉTICOS NA MÚSICA CEARENSE DOS ANOS 70 E SUA RELAÇÃO COM O CURRÍCULO ESCOLAR NA DÉCADA DE 80.

Por Pedro Rogério


"... a arte e a vida se interligam por
uma rede de cumplicidades mútuas..."
(Rouanet, 1987)

1. INTRODUÇÃO

A produção artística musical de uma região se confunde com sua própria história, influenciando-a e sendo influenciada. "Desde o início da história da humanidade a arte sempre esteve presente em praticamente todas as formações culturais" (PCN: arte/MEC, 21). A tarefa aqui proposta deter-se-á em estudar qual a importância, para o ensino da música no município, atribuída pelos currículos das escolas públicas estaduais ao movimento musical que ficou conhecido como Pessoal do Ceará e teve seu ápice no início dos anos setenta, buscando compreender qual a receptividade dos currículos, na década de oitenta, à produção artística do grupo de artistas que integraram o citado movimento.

Acreditamos que a disciplina de música nos currículos, sem prejuízo dos demais movimentos que conquistaram reconhecimento nacional e internacional, deveria pôr em relevo a produção artística da sua região. Não obstante, salvo os artistas que ganharam projeção nos meios de comunicação de massa, os alunos e a sociedade como um todo não se apropriam das importantes manifestações culturais da própria região. Verifica-se então que mesmo os que são de conhecimento comum dos alunos somente o são em virtude dos meios de comunicação.

A pesquisa de conceitos estéticos, sociais e culturais pode iluminar o entendimento do que foi o movimento Pessoal do Ceará, contribuir com uma maior e mais profunda compreensão dos valores artísticos da nossa região e oferecer subsídios para um ensino de música mais sintonizado com seu tempo e espaço.

2. JUSTIFICATIVA

2. 1 Nordeste: uma pluralidade de ritmos

Acreditamos que a produção artística regional fornece um leque de opções podendo ser uma boa saída na busca de uma ampliação dos conhecimentos dos alunos de música, o que implicaria em um desenvolvimento da visão de mundo. "A arte de cada cultura revela o modo de perceber, sentir e articular significados e valores que governam os diferentes tipos de relações entre os indivíduos na sociedade" (PCN: arte/MEC, 20).

A Região Nordeste oferece uma pluralidade de ritmos e formas musicais que remonta à Idade Média na Europa. Os cantadores são nossos menestréis e trovadores. A voz metálica que rasga como um aboio em meio à seca, como na interpretação de Raimundo Fagner, revela uma sonoridade árabe, que talvez nos tenha chegado através da Península Ibérica por ocasião das colonizações da América do Sul. O xaxado, o xote, o baião, o coco, o caboclinho, o boi, o maracatu, entre outros ritmos e estilos, continuam sendo reverenciados pelos compositores cearenses em suas obras. O encontro dessas sonoridades regionais com o rock e outros estilos internacionais acrescenta ainda mais possibilidades que, por vezes, são captadas pela criatividade artística.

O disco Palavras no Varal (gravado em 2001), do compositor, músico e intérprete Raimundo Serrão de Castro Jr., que assina artisticamente apenas como Serrão, traz uma boa amostragem de uma mistura de ritmos. Maracatu, blues, rap, balada, baião estão inseridos na mesma obra, desprovidos de preconceitos e mantendo uma coerência estética.

2.2 Ceará x Eixo Rio/São Paulo

Acontece que o principal centro gerador de notícias dos meios de comunicação encontra-se no eixo Rio/São Paulo, o que cria uma dependência nas demais regiões do país. No Ceará, já existem bons estúdios de gravação e fábrica de discos, proporcionando uma maior produção local, o que se traduz em diminuição da referida dependência. Não obstante, essa produção não chega ao conhecimento de uma parte considerável de professores e estudantes de música. À guisa de exemplo, a cantora e compositora Kátia Freitas - mesmo tendo gravado a maior parte e reproduzido os seus dois primeiros discos aqui no Ceará, que trazem respectivamente os títulos Kátia Freitas e Próximo, e tendo conquistado um certo reconhecimento, ainda que restrito a certos iniciados no estilo musical da artista - precisou "descer" para São Paulo em busca de uma aceitação mais ampla que, de acordo com as regras ditadas pelos veículos de massa, necessita do aval das emissoras de rádio e televisão da região Sudeste. Só assim, sendo conhecida no Sudeste, poderá ser reconhecida nas demais regiões do país e até mesmo na sua terra natal. Essa atitude de nossa ilustre artista revela a desvalorização local. Caso a música não chegue à nossa "aldeia cearense" via mídia nacional o artista estará fadado ao anonimato.

2.3 A riqueza musical do Ceará

A música cearense, ao conseguir contornar esses percalços, sempre presenteou a cultura brasileira com importantíssimas contribuições. O cearense Alberto Nepomuceno (1864-1920), abolicionista, parceiro de Machado de Assis, que compõe em 1903 o "Hino Oficial do Estado do Ceará" em parceria com Thomaz Lopes, é um dos mais importantes nacionalistas que inspirou Heitor Villa-Lobos; Humberto Teixeira, da cidade de Iguatu, cunhado de outro grande ilustre, Lauro Maia, que o apresentou a Luiz Gonzaga, donde nasceu uma das mais representativas obras do Nordeste; Lauro Maia, compositor, músico, arranjador, por sua vez, lançou o balanceio, um ritmo que se aproxima a um baião; na mesma época, década de 40; o violonista Aleardo Freitas, o pianista Luiz Assumpção, os maestros Mozart Brandão e Cleóbolo Maia também marcaram época na Ceará Rádio Clube e Rádio Iracema. Esses são apenas alguns exemplos que ilustram a grandiosidade da música cearense.

2.4 O Pessoal do Ceará

O Pessoal do Ceará, movimento que nos interessa em nossos estudos, nasceu do encontro de vários estudantes, artistas e intelectuais que se reuniam regularmente no Diretório Acadêmico do Curso de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará em meados dos anos 60, como nos conta Mary Pimentel Aires: "O foco de irradiação da efervescência cultural em Fortaleza era a Universidade, centro aglutinador de artistas e intelectuais que mostravam uma grande disposição em influenciar, intervir e participar efetivamente do debate sobre as emergentes questões nacionais". Outro importante ponto de encontro era o Bar do Anísio, que se situava na Av. Beira Mar, até hoje muito lembrado e citado pelos integrantes do movimento artístico aqui em questão.

Dessa movimentação artística, algum tempo depois, encontraram lugar na mídia músicos, compositores e intérpretes como Raimundo Fagner, Ednardo e Belchior. Esses nomes, devido à projeção conquistada no país, deveriam constar nos currículos escolares. Porém, existem muitos outros artistas e intelectuais da música, das artes plásticas, do teatro, da literatura, que desempenharam papéis de fundamental importância para a formação da(s) identidade(s) cearense(s) daquela época.

2.5 O marco: a gravação do LP

Mil novecentos e setenta e três foi o ano de lançamento do LP Meu Corpo Minha Embalagem Todo Gasto na Viagem, que recebeu como subtítulo Pessoal do Ceará.

"Reunindo canções como 'Beira-Mar' e 'Terral', de Ednardo, 'Cavalo Ferro', de Fagner e Ricardo Bezerra, o disco Pessoal do Ceará - Meu Corpo Minha Embalagem Todo Gasto na Viagem, produzido por Walter Silva para a gravadora Continental, em 1972, constituiu-se como marco na incursão dos novos compositores cearenses no mercado fonográfico." (Aires, 2002:202).

Maracatu, rock-country, toada, balada, sonoridades psicodélicas, sertanejas, urbanas e praianas encontram-se harmonicamente lado a lado no citado disco. As poesias descrevem diversos cenários: do litoral ao sertão, passando pela região urbana. Encontram-se o amor, a filosofia, a crítica aos meios de comunicação e à política. A arte cearense conquista o sul maravilha nas vozes de Ednardo, Rodger de Rogério e Tetty.

Ednardo tinha sido aluno de Química da UFC. Rodger de Rogério foi professor de Física da mesma universidade e encontrava-se em São Paulo na qualidade de professor da USP. Tetty, além de uma afinação vocal privilegiada também se dedicou à maternidade de dois filhos com o Rodger; a Daniela Oliveira de Rogério e eu, Pedro Rogério. A casa em que morávamos acolhia boa parte dos cearenses que pela terra da garoa passavam. Antônio Carlos Belchior que primeiro chegou em São Paulo já conhecera Elis Regina que gravou em 1972 "Mucuripe" - parceria de Belchior com Fagner - e em um dos momentos mais brilhantes de sua extraordinária carreira, em 1976, gravaria, no disco Falso Brilhante, duas músicas do cearense de Coreaú, cidade próxima a Sobral, "Como Nossos Pais" e "Velha Roupa Colorida", ambas letra e música de Belchior.

Todo esse legado é de vital importância para a educação musical, e é exatamente por isso que deve ser uma das áreas do conhecimento a estar atenta para não se deixar engolir por uma cultura imposta pelas indústrias fonográficas e suas redes de atuação que se apresentam principalmente pelos meios de comunicação. Cabem então os primeiros questionamentos: têm as escolas os mesmos objetivos dos veículos de comunicação? Por que as escolas aceitam a cultura musical gerada pela televisão e pelas rádios como sendo "a cultura"?

3. PROBLEMATIZAÇÃO

Na qualidade de professor de música, freqüentemente, encontro obstáculos entre uma proposta de repertório musical com vistas à ampliação dos conhecimentos dos alunos e as expectativas dos mesmos. A dificuldade encontrada dá-se quase sempre pelo fato do interesse dos adolescentes estar focado nas "músicas da moda", ou seja, as que são veiculadas pelas rádios comerciais e pela televisão.

Cabe relatar uma experiência que ilustra bem o fato: em uma aula de música, na busca de diversificar as opções do repertório, propusemos a música "Bola de Meia, Bola de Gude" da autoria de Milton Nascimento e Fernando Brant. Para diminuir um eventual estranhamento, introduzimos "elementos da moda". O baterista se encarregou do "rock and roll" e algumas partes da letra deveriam ser interpretadas no estilo rap, ou seja, mais declamada do que cantada. Porém, o vocalista relatou não perceber nenhuma identificação com a música, de forma que não se sentia disposto a interpretá-la, afirmando até mesmo que, caso cantasse, isso iria de encontro à sua natureza, já que o cantar é um ato extremamente pessoal. Mesmo diante de tal reação ainda tentei convencê-lo com alguns argumentos acerca das idéias poéticas contidas na letra e das possibilidades de experimentações musicais, mas foi em vão. Algumas semanas depois estreou a novela Coração de Estudante na Rede Globo de Televisão e um dos hits do programa era justamente a música que nós insistíramos para ser inserida no repertório do grupo. Eis que o mesmo vocalista volta atrás no seu julgamento a respeito da música e diz ter se convencido que a mesma era realmente muito interessante. Por fim, após o aval da televisão junto ao aluno, a música passou a figurar no repertório do grupo.

Observação importante é que existe uma ditadura cultural travestida em símbolo de contemporaneidade, que massifica o gosto, e quem não se enquadra nos padrões ditados se vê excluído. A cultura de massas é apresentada como única opção para a maior parte dos estudantes.

4. DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA

A música cearense deve ser particularmente importante para os alunos cearenses. Embora essa afirmação pareça óbvia, não é o que indicam as práticas no âmbito do ensino musical do estado do Ceará. Alguns podem chamar de bairrismo e outros de autoconhecimento. Nós nos filiamos à segunda opção.

Todo o legado musical, no caso para nosso estudo, dos artistas da década de setenta, é de extrema relevância para o entendimento da música cearense. A importância, para um aluno da disciplina de música do estado do Ceará, de se entender a história dos compositores e artistas da sua terra é condição sine qua non para uma formação que proporcione um olhar crítico sobre seus próprios valores. Entender verdadeiramente o presente requer o conhecimento das iniciativas passadas. Seja para concordar ou discordar, dar continuidade ou romper, seja como for; o que somos hoje e o que pretendemos ser amanhã está inevitavelmente ligado ao que fomos ontem.

Certamente ao estudarmos as obras do Pessoal do Ceará encontraremos uma gama de influências nacionais e internacionais que proporcionará uma visão mais crítica a respeito de nossas formações.

Os estudantes nos anos oitenta parecem ter ficado órfãos de referenciais estéticos da própria região, o que nos leva a supor que tenha sido criado um terreno extremamente fértil para a cultura de massas. Dessa forma a pergunta que se impõe é: Qual a relação dos currículos das escolas estaduais do ensino médio do Ceará nos anos 80 com a produção musical local dos anos 70?

5. QUADRO TEÓRICO

"Arte e ciência são encontros e
reencontros com a realidade."
(Matos, 2001)

5.1 Artes, identidades e formação do imaginário: uma tarefa da educação

Harmonia, melodia e ritmo formam os elementos fundamentais da música e em cada um deles podemos encontrar um universo de informações estéticas. Mas isso é só o alicerce para a análise de uma peça ou de um repertório musical. Somem-se a esses elementos as várias possibilidades de utilização de instrumentos e as opções interpretativas oferecidas por cada instrumento de acordo com o desenvolvimento da técnica e da sensibilidade do executante.

O estudo musical desses elementos nas obras do movimento Pessoal do Ceará pode revelar a formação do pensamento das pessoas que sofreram influências das obras estudadas ou ainda verificar o que aconteceu com a formação daqueles que foram privados desse conhecimento. Seguindo o pensamento expresso no PCN, "O ser humano que não conhece arte tem uma experiência de aprendizagem limitada, escapa-lhe a dimensão do sonho, da força comunicativa dos objetos à sua volta, da sonoridade instigante da poesia, das criações musicais, das cores e formas, dos gestos e luzes que buscam o sentido da vida" (PCN: arte/ MEC, página 21) Não podemos nada afirmar antes de um estudo mais profundo, mas podemos antecipar que um povo que não conhece a produção artística produzida na sua terra não é capaz de se autoconhecer.

"As diferentes formas de percepção da realidade se configuram nas criações artísticas que o homem do ocidente elaborou ao longo de sua história. Nelas podemos perceber os diferentes conceitos de tempo e de pensamento que caracterizam cada uma das épocas do mundo ocidental." (Matos, 2001:81)

A representação do repertório artístico no imaginário de um povo em uma determinada época revela toda uma estrutura social. Estudá-la à luz dos conceitos de currículo, cultura e escola é acreditar que no âmbito educacional podemos identificar e propor soluções para uma sociedade ciente de suas problemáticas e de suas possibilidades de superação.

"Esse processo de revisão do imaginário, de adensamento de um novo lençol antropológico, terá seu lugar privilegiado na educação, universitária ou não." (Coelho, 2001:212).

Entender como nossa população se reconhece e percebe quais valores são colocados em evidência para representar o Brasil são tarefas inerentes à educação. Não são de responsabilidade única e exclusiva da educação, mas certamente revelam o quão ela está umbilicalmente relacionada com uma educação comprometida com seu povo e seu tempo.

"Não uma educação qualquer, nem uma educação baixamente finalista, por certo. Mas uma educação que trabalhe sobre as estruturas do processo de representação que o brasileiro está fazendo de si mesmo, através de sua cultura, e sobre a representação, nada entusiasmante, que a cultura em sentido amplo, nacional ou não, faz do ser humano nesse momento." (Coelho, 2001:212).

Os meios de comunicação deveriam estar sempre a serviço do bem coletivo. Ocorre que na maior parte dos casos, especialmente quando se trata da cultura, o efeito tem sido negativo. Valores culturais populares e eruditos são trocados por uma massificação midiática que impede a formação de um senso crítico. Quem seleciona o que é, ou não, importante para a sociedade são os meios de comunicação, ocupando um espaço e uma função que deveriam caber à educação, promotora essencial de discussões acerca da formação da identidade cultural do seu povo.

"Os tempos não são mais da crença ilimitada que o Iluminismo manifestava na educação. No entanto, a educação ainda é um dos poucos recursos contra o esfacelamento social." (Coelho, 2001:212).

A atenção com os valores que representam as identidades culturais de um povo é de extrema relevância e a escola é um dos ambientes mais adequados para clarificar essa importância com vistas à formação de princípios que se enraizarão no caráter e na personalidade de um sujeito que venha a ser autônomo, capaz de se posicionar de maneira consciente frente aos desafios impostos pela dinâmica social.

"É impossível, na sociedade atual, com o progresso dos conhecimentos científicos e técnicos, e com o peso cada vez maior de outras influências educativas (mormente os meios de comunicação de massa), a participação efetiva dos indivíduos e grupos nas decisões que permeiam a sociedade sem a educação intencional e sistematizada provida pela educação escolar." (Libâneo, 1990:18).

A partir do regime militar a educação parece ter abandonado o interesse pelos valores simbólicos que poderiam despertar uma percepção mais elaborada e refinada da cultura brasileira. O período do regime autoritário tinha como uma de suas bandeiras o nacionalismo. Logo, a contracultura e seus seguidores passaram a questionar aquele nacionalismo. Tudo que estivesse ligado ao regime militar era de pronto rejeitado sem uma observação mais cuidadosa. A ausência de atenção com os símbolos culturais representativos do Brasil - entre eles a música - pode estar relacionada com essa atitude antimilitar. Visto que o poder instituído utilizava-se de um discurso racional, era natural, à primeira vista, que os opositores se apropriassem de um discurso irracional.

"Talvez a política educacional do regime autoritário seja o mais importante desses fatores internos(l) . Durante 20 anos ela extirpou metodicamente dos currículos tudo o que tivesse a ver com idéias gerais e com valores humanísticos. Nesse sentido, o que está na origem da 'contracultura' é a 'incultura' - uma incultura engendrada politicamente." (Rouanet, 1987:125).

A identidade cultural nacional e as identidades regionais - lembrando da diversidade cultural de um país de dimensões continentais, como o Brasil - se esmaecem progressivamente ao longo das décadas de 80. As manifestações culturais que representam a cultura popular ou erudita, nacional ou regional são marginalizadas. O novo traço cultural delineado naquele período é ser do contra - contra qualquer coisa que pudesse ter a menor identificação com os militares. Essa nova postura abre um terreno extremamente fértil para as culturas de massas. Inicialmente apareceram as bandas de rock, denunciando injustiças sociais, denúncias essas feitas por jovens de classe média que tinham acesso a uma boa educação e na verdade não eram, diretamente, vítimas daquilo que eles denunciavam. Porém a pior parte desse advento vem com o que os próprios empresários do ramo cultural intitularam de axé music, seguido pela música sertaneja, não aquela música do Pena Branca e Xavantinho, verdadeiros representantes da cultura de seu povo, mas aquela que, de tão entranhada pela cultura de massas, mais sonha em ser música country, representando muito mais valores culturais americanos do que brasileiros. Até as novas formações de bandas de forró no Nordeste entraram na ciranda mercadológica. Os artistas mais conhecidos pelo povo não são mais os que representam a cultura de vanguarda, que buscam ampliar a visão que se tem do mundo, e sim os que conquistam a vitória no mercado fonográfico.Como conseqüência hoje podemos identificar um esfacelamento da identidade cultural. Os currículos podem revelar todo esse processo de formação - ou de não formação - das representações simbólicas. Os valores estéticos eleitos pela educação que foram e são incorporados no imaginário do povo cearense poderão revelar as causas de algumas das problemáticas educacionais. Assim como os valores estéticos que foram abandonados certamente revelarão a perda de uma identidade nacional ou regional.

"Nas discussões cotidianas, quando pensamos em currículo pensamos apenas em conhecimento, esquecendo-nos de que o conhecimento que constitui o currículo está inextricavelmente, centralmente, vitalmente, envolvido naquilo que somos, naquilo que nos tornamos: na nossa identidade, na nossa subjetividade. Talvez possamos dizer que, além de uma questão de conhecimento, o currículo é também uma questão de identidade." (Silva, 2003:16).

Os estudos curriculares podem revelar a profundidade das questões aqui propostas. Podem ainda indicar quais os interesses daqueles que decidem quais conhecimentos têm validade para figurar nos currículos escolares.

"Selecionar é uma operação de poder. Privilegiar um tipo de conhecimento é uma operação de poder. Destacar, entre múltiplas possibilidades, uma identidade ou subjetividade como sendo a ideal é uma operação de poder." (Silva, 2003:16).

Os estudos relativos ao que foi o movimento Pessoal do Ceará têm implicações no que somos hoje, do ponto de vista de identidade cultural. A ausência de uma preocupação, por parte daqueles que decidem os conhecimentos que são válidos, relacionada aos valores estéticos abre espaço para a cultura de massas, e essa passa a ditar valores que são de interesse dos mercados culturais.

5.2 A formação do professor de artes

Os profissionais da educação devem - ou deveriam - saber de suas responsabilidades no que diz respeito aos conteúdos e sua relevância nos currículos. Porém existe um despreparo histórico que é inclusive relatado pelo PCN/arte: "Em 1971, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a arte é incluída no currículo escolar com o título de Educação Artística, mas é considerada 'atividade educativa' e não disciplina. (...) As próprias faculdades de Educação Artística, criadas especialmente para cobrir o mercado aberto pela lei, não estavam instrumentadas para a formação mais sólida do professor (...). Os professores passam a atuar em todas as áreas artísticas, independentemente de sua formação e habilitação. Conhecer mais profundamente cada uma das modalidades artísticas, as articulações entre elas e conhecer artistas, objetos artísticos e suas histórias não faziam parte de decisões curriculares que regiam a prática educativa em Arte nessa época". Não é difícil perceber que os alunos universitários, futuros professores, que foram regidos pela lei acima citada - LDB de 1971 - careceram de uma melhor formação. Na prática educativa escolar esses professores tinham pouca fundamentação para defender a importância da sua área de trabalho e melhores condições de ensino.

"Sem uma consciência clara de sua função e sem uma fundamentação consistente de arte como área de conhecimento com conteúdos específicos, os professores não conseguem formular um quadro de referências conceituais e metodológicas para alicerçar sua ação pedagógica (...)". (PCN/arte, 2001:32).

A ação pedagógica do professor de artes é também uma ação política que deve ser enfatizada na sua formação. Os valores atribuídos, através de uma construção social, às diversas disciplinas curriculares e extracurriculares que formam uma relação de poder, a rede de influências educacionais na formação subjetiva dos alunos preenchendo o imaginário da população com símbolos que, em geral, estão a serviço do mercado, revela a necessidade do professor de artes estar consciente do seu papel político.

"O que devemos ter em mente é que uma educação voltada para os interesses majoritários da sociedade efetivamente se defronta com limites impostos pelas relações de poder no seio da sociedade. Por isso mesmo, o reconhecimento do papel político do trabalho docente implica a luta pela modificação dessas relações de poder.(2) " (Libâneo, 1990:21).

Acreditamos que também será possível, através dessa pesquisa, buscar respostas às perguntas feitas pelos próprios professores de artes a respeito da cientificidade dos conteúdos, da formação do professor de artes, do seu papel na escola e na sala de aula, da natureza mesmo do conhecimento artístico destacando a importância de podermos refletir sobre como se aprende e se ensina arte.Como não é possível a um só tempo contemplar todos os momentos históricos da educação e das manifestações artísticas temos que nos ater a um período. O estudo da década de setenta, por se caracterizar pela efervescência cultural, e seus desdobramentos na década de oitenta no âmbito curricular é certamente um bom caminho para clarificar as questões ora propostas.

5.3 A estética do Ceará e do mundo

A produção artística do movimento Pessoal do Ceará tem uma importância central no que diz respeito à identidade cultural cearense da década de setenta e com ressonâncias que alcançam os dias atuais.

As opções estéticas dos artistas e intelectuais ligados ao movimento Pessoal do Ceará não se deram de forma isolada, certamente encontraremos suas raízes na efervescência cultural da década de sessenta. Os questionamentos levantados não eram exclusividades dos artistas locais e sim um traço cultural comum a diversos setores da sociedade em diversos países.

"Como sabemos, a década de 60 foi uma década de grandes agitações e transformações. Os movimentos de independência das antigas colônias européias; os protestos estudantis na França e em vários outros países; a continuação do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos; os protestos contra a guerra do Vietnã; os movimentos de contracultura; o movimento feminista; a liberação sexual; as lutas contra a ditadura militar no Brasil: são apenas alguns dos importantes movimentos sociais e culturais que caracterizaram os anos 60. Não por coincidência foi também nessa década que surgiram livros, ensaios, teorizações que colocavam em xeque o pensamento e a estrutura educacional tradicionais." (Silva, 2003:29).

O lugar da educação musical nos currículos das escolas públicas é vital no entendimento da formação subjetiva dos alunos do ensino estadual no município de Fortaleza. O caso - ou descaso - em relação ao movimento Pessoal do Ceará, ao que ele representou, suas influências e conseqüências estéticas, certamente nos levará à compreensão dos problemas de formação cultural nas escolas e suas implicações na sociedade.

NOTAS

(l) Rouanet refere-se a fatores que fizeram nascer um novo irracionalismo no Brasil.

(2) Libâneo reforça, ainda, que essas relações de poder têm suas origens nas lutas de classes, com interesses, entre trabalhadores e patrões, diametralmente opostos. Também lembra que essas relações não são estáticas, antes, se modificam dentro da dinâmica social.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

AIRES, Mary Pimentel. O Pessoal do Ceará; um movimento geracional em busca de sua identidade cultural e musical. In: CHAVES, Gilmar. Ceará de Corpo e Alma. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.

APPLE, M. Educação e Poder. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.

BOGDAN, Roberto C. & BIKLEN, Sari Knopp. Investigação Qualitativa em Educação - uma introdução à teoria e aos métodos. Porto (Portugal): Porto Editora, 1994.

COELHO, José Teixeira. Moderno pós moderno. 4ª ed. São Paulo: Iluminuras, 2001.

DESLANDES, Suely Ferreira. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1994.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. Cortez Editora, 1990.

MATOS, Elvis de Azevedo. Musicalização e Musicalidade. In: COLARES, Edite. Ensino de Arte e Educação. Fortaleza: Brasil Tropical, 2001.

MATOS, Elvis de Azevedo. Arte e Ciência - A função da Arte na Construção do Conhecimento. In: COLARES, Edite. Ensino de Arte e Educação. Fortaleza: Brasil Tropical, 2001.

MATOS, Elvis de Azevedo. Viagem através da música ocidental. In: COLARES, Edite. Ensino de Arte e Educação. Fortaleza: Brasil Tropical, 2001.

PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais: arte / Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. 3ª ed. Brasília: A Secretaria, 2001.

ROUANET, Sérgio Paulo. As razões do Iluminismo. São Paulo: Cia das Letras, 1987.

SILVA, Tomas Tadeu da. Documentos da Identidade; uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte-MG: Autêntica Editora, 2003.

DICAS DA MUSICARIA

DOCES CARIOCAS (2008)
A ideia foi criar um disco no espírito coletivo dos Novos Baianos e do Clube da Esquina. Doces Cariocas é coletivo que agrupa artistas - quase todos radicados no Rio de Janeiro (RJ) - como Alexia Bomtempo, Alvinho Lancellotti, Dadi, Domenico Lancellotti, Pierre Aderne, Rogê, Silvia Machete e Wilson Simoninha. Nomes que uniram forças para registrar em CD um repertório saboroso. Vale destacar na safra de inéditas o samba Quanto Tempo - gravado por Alexia Bomtempo com Pierre Aderne - e a balada Feito à Mão, que junta as vozes de Aderne e Simoninha. Há também músicas de pegada nordestina como O Que Será que te Excita? e Blackbird e Asa Branca, que procura erguer a ponte entre Luiz Gonzaga (1913 - 1989) e Beatles (1959 - 1970). Entre curiosidades como a Valsa do Vestido, entoada por Silvia Machete com Domenico, o disco desce bem. Apesar do clima comunitário que rege o CD, um problema individual de Alexia Bomtempo - já perceptível em seu primeiro álbum solo, Astrolábio, produzido por Dadi - salta aos ouvidos, em especial na delicada canção Chuvisco: a semelhança de seu canto com o de Marisa Monte. Nada, porém, que atenue o sabor dos doces cariocas que brotam do selo-cooperativa Abacateiro...

Faixas:
01 - Quanto tempo
02 - O que será que te excita?
03 - Doces cariocas
04 - Blackbird / Asa Branca
05 - Valsa do vestido
06 - Chuvisco
07 - Feito a mão
08 - Olhos d'água
09 - O canário e o curió
10 - Tava

Vocalistas:
Pierre Aderne, Alexia Bomtempo, Marcelo Costa Santos, Domenico, Alvinho, Simoninha, Luis Carlinhos, Rogê, Silvia Machete e Ingrid Vieira.

Instrumentistas:
Felipe Pinaud, Dadi, Mauro Refosco, Rafa Nunes, Lancaster e Pretinho da Serrinha.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

CLARA NUNES


Clara Francisca Nunes Gonçalves Pinheiro, mais conhecida como Clara Nunes nasceu em uma data como hoje a exatamente 65 anos atrás.
Clara Nunes nasceu no interior de Minas Gerais, no distrito de Cedro, à época pertencente ao município de Paraopeba e depois emancipado com o nome de Caetanópolis.

Trabalhava numa fábrica de tecidos quando participou do concurso A Voz do Ouro ABC. Venceu a etapa mineira, obtendo terceiro lugar na final, em São Paulo, 1960. A partir daí, conseguiu emprego numa rádio belo-horizontina, a Rádio Inconfidência, onde ganhou um programa exclusivo na TV Itacolomi durante um ano e meio. Além disso, nesta época se apresentava em boates e casas noturnas de espetáculos da cidade onde viveu até 1964, quando se mudou para o Rio de Janeiro.

O primeiro LP gravado, A voz adorável de Clara Nunes (1966), apresentou um repertório de conhecidos boleros e sambas-canções, mas foi um fracasso comercial. Só começou a cantar samba a partir do segundo, Você passa eu acho graça, em 1968, cuja faixa-título, de Ataulfo Alves, foi o primeiro grande sucesso radiofônico, firmando-se como cantora desse gênero anos depois. O primeiro espetáculo realizado foi Sabiá sabiô, paralelamente à gravação do álbum Clara Clarice Clara, que trouxe canções de compositores de escola de samba e MPB, como Caetano Veloso e Dorival Caymmi, dedicando-se posteriormente ao partido alto com As forças da natureza (1977).



Com o LP Alvorecer de 1974 obteve grande sucesso com a canção Conto de areia (Romildo/ Toninho). Bateu índices recordes de vendagem, chegando a quinhentas mil cópias - feito nunca realizado anteriormente por uma mulher no Brasil - e rompendo com o tabu de que cantora não vendia discos e estimulou outras gravadoras a investir em sambistas mulheres (formou também o trio ABC do samba - Alcione, Beth Carvalho e a própria Clara, assim como deu visibilidade a sambistas mais veteranas, casos de Dona Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra e Clementina de Jesus). Neste mesmo ano lançou o disco Brasileiro: profissão esperança, ao la
do do ator Paulo Gracindo. Os discos que se seguiram a transformaram na maior intérprete de samba do Brasil. O disco seguinte Claridade (1975) vendeu ainda mais do que o anterior.


Alguns anos depois, pode-se observar um maior ecletismo no repertório, que incluiu baiões, baladas e até valsinhas, confirmando assim a grande versatilidade de intérprete, além das canções calcadas no tema da umbanda e candomblé, a religião, e por caractertísticas dela e por suas indumentárias características: vestidos longos brancos, colares e miçangas, de origem africana. Canções que exaltam a religiosidade são: A deusa dos orixás, Guerreira, Filhos de Gandhi, e outras.

Na voz de Clara Nunes foram consagradas as seguintes interpretações: Você passa eu acho graça, Conto de areia, Canto das três raças, Ê baiana, Tristeza pé no chão, Nação, Na linha do mar, Morena de Angola, O mar serenou, Guerreira, Ilu Ayê - Terra da Vida, Coração leviano, As forças da natureza, A deusa dos orixás, Macunaíma, Alvorada, Menino Deus, Feira de Mangaio, Portela na Avenida, Serrinha, Nação, Misticismo da África ao Brasil, Lama, Sem companhia, Filhos de Gandhi, Deixa clarear, Derramando lágrimas, dentre outras.


O álbum mais vendido foi Brasil Mestiço (1980) que ultrapasssou a marca de um milhão de cópias vendidas. Clara tem no acervo mais de dezoito discos de ouro e é lembrada com muito carinho pelos brasileiros. Morreu na madrugada de 2 de abril de 1983, prematuramente, aos 40 anos (incompletos), depois de vinte e oito dias em coma: no princípio de março, ela se internou na Clínica São Vicente, no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro, onde se submeteu a uma simples operação de varizes na perna esquerda, por motivo de fortes dores que sentia ao dançar. Sofreu parada cardíaca e paralisação da atividade cerebral, por falta de oxigenação, vítima de um choque anafilático ou de um erro médico.

O corpo foi velado na quadra da Escola de Samba Portela - uma de suas paixões - e sepultado no Cemitério São João Batista, em meio a muita emoção dos fãs, cantores e parentes, numa tristeza coletiva poucas vezes vista no Brasil.

A cantora Alcione dedicou-lhe um disco, como grandes amigas que eram, gravando músicas de seu repertório. O álbum, lançado em 1999, foi batizado de Claridade. Foi casada com o poeta e letrista Paulo César Pinheiro a partir de 1975, de quem gravou diversas composições.



DISCOGRAFIA

1966 - A voz adorável de Clara Nunes

Faixas:
01 - Amor quando é amor (Niquinho - Othon Russo)
02 - Ai de quem (Alcina Maria - Osmar Navarro)
03 - Poema do desencontro (Silvino Netto)
04 - Convite (Marco Polo - Anizio Pessanha)
05 - Encontro
06 - Adeus Rio (Jota Júnior)
07 - De vez em quando (João Roberto Kelly)
08 - Tempo perdido (Jair Amorim - Evaldo Gouveia)
09 - Sonata de quem é feliz (Paulo Aguiar - Gabriel Pessanha)
10 - Canção de sorrir e chorar (Tito Madi)
11 - Enredo (Benil Santos - Raul Sampaio)
12 - Dia de esperança (Jorge Smera)
13 - Estranho amor (Garoto - David Nasser)
14 - Adeus à noite (Adieu a la nuit)(M. Vidalin - M.Jarre)


1968 - Você passa e eu acho graça

Faixas:
01 - Você não é como as flores (Carlos Imperial - Ataulfo Alves)
02 - Sabiá (Chico Buarque - Tom Jobim)
03 - Cheguei à conclusão (Darcy da Mangueira)
04 - Desencontro (Chico Buarque)
05 - Pra esquecer (Noel Rosa)
06 - Rua D'Aurora (Fátima Gaspar - Durval Ferreira)
07 - Você passa e eu acho graça (Carlos Imperial - Ataulfo Alves)
08 - Sucedeu assim (Marino Pinto - Tom Jobim)
09 - Grande amor (Martinho da Vila)
10 - Que é que eu faço (Ribamar - Dolores Duran)
11 - Minha partida (Elizabeth - David Nasser)
12 - Corpo e alma (Augusta Maria Tavares)
13 - Encontro (Élton Medeiros - Luiz Sergio Bilheri)
14 - Porta aberta (Benedito Reis - Jair Amorim)
15 - A noite (Quando cai a noite) (Roberto Muniz - Almeidinha)


1969 - A beleza que canta

Faixas:
01 - De esquina em esquina (César Costa Filho - Aldir Blanc) (
Participação: Quarteto 004)
02 - Espuma congelada (Piti)
03 - Meus tempos de criança (Ataulfo Alves)
04 - Gente boa (William Prado)
05 - Graças a Deus (Fernando César)
06 - Guerreiro de Oxalá (Carlos Imperial)
07 - Casinha pequenina (Folclore)
08 - Foi ele (Carlos Imperial)
09 - Até voltar (Fred Falcão - Paulinho Tapajós)
10 - Felicidade (Carlos Imperial - Niltinho)
11 - Hora de chegar (Jorge Martins - Carlos Alberto)
12 - A estrela e o astronauta (Mário Castro Neves - Rildo Hora)
13 - Sinceramente (Adinho Ferraz - Tânia Horta Medina - Magali Lemos)
14 - Dadá Maria (Renato Teixeira) (
Participação: Silvio César)
15 - O vento e a rosa (Assis Valente)
16 - Pela última vez (Benedito Reis - Jair Amorim)



1971 - Clara Nunes
Faixas:
01 - Aruandê... Aruandá (Zé da Bahia)
02 - Participação (Didier Ferraz - Jorge Belizário)
03 - Meu lema (Gisa Nogueira - João Nogueira)
04 - Ê baiana (Miguel Pancrácio - Ênio Santos Ribeiro - Baianinho - Fabrício da Silva)
05 - Puxada da rede do xaréu - 1ª parte (Maria Rosita Salgado Goes)
06 - Novamente (Luiz Bandeira)
07 - Misticismo da África ao Brasil (João Galvão - Vilmar Costa - Mário Pereira)
08 - Sabiá (Luiz Gonzaga - Zé Dantas)
09 - Rosa 25 (Geovana)
10 - A favorita (Francisco Leonardo)
11 - Puxada da rede do xaréu - 2ª parte (Maria Rosita Salgado Goes)
12 - Feitio de oração (Vadico - Noel Rosa)
13 - Canseira (Odibar - Paulo Diniz)
14 - Morrendo verso em verso (João Nogueira)
15 - Regresso (Candeia)
16 - Garota de subúrbio (César Costa Filho - Aldir Blanc)
17 - Vermelho e branco (César Costa Filho - Aldir Blanc)
18 - Festa para um rei negro (Zuzuca)



1972 - Clara Clarice Clara

Faixas:
01 - Sempre Mangueira (Geraldo Queiroz - Nelson Cavaquinho)
02 - Seca do nordeste (Gilberto Andrade - Waldir de Oliveira)
03 - Alvorada no morro (Carlos Cachaça - Cartola - Hermínio Bello de Carvalho)
04 - Tempo à bessa (João Nogueira)
05 - Morena do mar (Dorival Caymmi)
06 - Ilu aye [Terra da vida](Norival Reis - Cabana)
07 - Opção (Gisa Nogueira)
08 - Anjo moreno (Candeia)
09 - Tributo aos Orixás (Ruben Tavares - Mauro Duarte)
10 - Último pau-de-arara (J.Guimarães - Venâncio - Corumba)
• Vendedor de caranguejo (Gordurinha)
11 - Clarice (Capinan - Caetano Veloso)
12 - Sou fiho do rei (Fernando Lobo - João Mello)
13 - Tempo de partir (Sergio Knapp)
14 - Ave Maria dos Retirantes (Alcivando Luz - Carlos Coqueijo)
15 - Visão geral (César Costa Filho - Ronaldo Monteiro - Ruy Maurity)


1973 - Clara Nunes

Faixas:
01 - Tristeza pé no chão (Armando Fernandes)
02 - Fala viola (Eloir Silva - Francisco Inácio)
03 - Minha festa (Guilherme de Brito - Nelson Cavaquinho)
04 - Umas e outras (Chico Buarque)
05 - Arlequim de bronze (Synval Silva)
06 - O mais que perfeito (Vinicius de Moraes - Jards Macalé)
07 - Quando vim de Minas (Xangô da Mangueira)
08 - Meu Carirí (Dilú Mello - Rosil Cavalcanti)
09 - Homenagem à Olinda, Recife e Pai Edu (Baracho)
10 - É doce morrer no mar (Dorival Caymmi)
11 - Amei tanto (Baden Powell - Vinicius de Moraes)
12 - Valeu pelo amor (Ivor Lancelotti)
13 - Eu preciso de silêncio (Ronaldo Monteiro - Ivan Lins)
14 - Apesar de você (Chico Buarque)


1974 - Brasileiro Profissão Esperança (Com Paulo Gracindo)

Faixas:
01 - Ternura antiga (Ribamar - Dolores Duran)
02 - Ninguém me ama (Fernando Lobo - Antônio Maria)
03 - Valsa de uma cidade (Ismael Netto - Antônio Maria)
04 - Menino grande (Antônio Maria)
05 - Estrada do Sol (Dolores Duran - Tom Jobim)
06 - A noite do meu bem (Dolores Duran)
07 - Manhã de carnaval (Antônio Maria - Luiz Bonfá)
08 - Frevo número dois do Recife (Antônio Maria)
09 - Castigo (Dolores Duran)
10 - Fim de caso (Dolores Duran)
11 - Por causa de você (Dolores Duran - Tom Jobim)
12 - Pela rua (Ribamar - Dolores Duran)
13 - Canção da volta (Ismael Netto - Antônio Maria)
14 - Suas mãos (Pernambuco - Antônio Maria)
15 - Solidão (Dolores Duran)
16 - Se eu morresse amanhã de manhã (Antônio Maria)
17 - Noite de paz (Dolores Duran)


1974 - Alvorecer

Faixas:
01 - Menino Deus (Paulo César Pinheiro - Mauro Duarte)
02 - Samba da volta (Toquinho - Vinicius de Moraes)
03 - Sindorerê (Candeia)
04 - O que é que a baiana tem (Dorival Caymmi)
05 - Meu sapato já furou (Élton Medeiros - Mauro Duarte)
06 - Punhal (Guinga - Paulo César Pinheiro)
07 - Alvorecer (Ivone Lara - Délcio Carvalho)
08 - Nanaê, Nanã Naiana (Sidney da Conceição)
09 - Conto de areia (Toninho - Romildo Bastos)
10 - Pau-de-arara (Guio de Morais - Luiz Gonzaga)
11 - Esse meu cantar (João Nogueira)
12 - Mandiga (Carlos Imperial - Ataulfo Alves)
13 - Baianada (Jocafi - Antônio Carlos)
14 - Canaviá (Jocafi -Canto das três raçasAntônio Carlos)


1975 - Claridade

Faixas:
01 - O mar serenou (Candeia)
02 - Sofrimento de quem ama (Alberto Lonato)
03 - A deusa dos Orixás (Toninho - Romildo)
04 - Juízo final (Élcio Soares - Nelson Cavaquinho)
05 - Tudo é ilusão (Tufy Lauar - Eden Silva - Anibal da Silva)
06 - Valsa de realejo (Guinga - Paulo César Pinheiro)
07 - Bafo de boca (Paulo César Pinheiro - João Nogueira)
08 - O último bloco (Candeia)
09 - Ninguém tem que achar ruim (Ismael Silva)
10 - Às vezes faz bem chorar (Ivor Lancellotti)
11 - Vai amor (W.Rosa - Monarco)
12 - Que seja bem feliz (Cartola)


1976 - Canto das três raças

Faixas:
01 - Canto das três raças (Paulo César Pinheiro - Mauro Duarte)
02 - Lama (Mauro Duarte)
03 - Alvoroço no sertão (A.Soares - R.Evangelista)
04 - Tenha paciência (Guilherme de Brito - Nelson Cavaquinho)
05 - Ai quem me dera (Vinicius de Moraes)
06 - Riso e lágrimas (José Ribeiro - Ruben Brandão - Nelson Cavaquinho)
07 - Basta um dia (Chico Buarque)
08 - Fuzuê (Toninho - Romildo)
09 - Meu sofrer (Marçal - Bide)
10 - Retrato falado (Eduardo Gudin - Paulo César Pinheiro)
11 - Embala eu (Albaléria) (Participação: Clementina de Jesus)


1977 - As forças da natureza

Faixas:
01 - As forças da natureza (Paulo César Pinheiro - João Nogueira)
02 - PCJ (Partido da Clementina de Jesus)(Candeia) (Participação: Clementina de Jesus)
03 - O Senhora das Candeias (Toninho - Romildo)
04 - Perdão (Paulo César Pinheiro - Maurício Tapajós - Mauro Duarte)
05 - Homenagem à Velha Guarda (Paulo César Pinheiro - Sivuca)
06 - Rancho da Primavera (Monarco)
07 - Coisa da antiga (Wilson Moreira - Nei Lopes)
08 - Coração leviano (Paulinho da Viola)
09 - Sagarana (Paulo César Pinheiro - João de Aquino)
10 - À flor da pele (Clara Nunes - Paulo César Pinheiro - Maurício Tapajós)
11 - Palhaço (Oswaldo Martins - Washington - Nelson Cavaquinho)
12 - Fado tropical (Ruy Guerra - Chico Buarque)



1978 - Guerreira

Faixas:
01 - Guerreira (Paulo César Pinheiro - João Nogueira)
02 - Mente (Paulo Vanzolini - Eduardo Gudin)
03 - Candongueiro (Wilson Moreira - Nei Lopes)
04 - Outro recado (Casquinha - Candeia)
05 - Zambelê (Catoni - Rosa)
06 - Quem me ouvir cantar (Aniceto da Portela)
07 - Jogo de Angola (Paulo César Pinheiro - Mauro Duarte)
08 - Ninguém (Paulo César Pinheiro)
09 - Moeda (Toninho - Romildo)
10 - Amor desfeito (Gisa Nogueira)
11 - O bem e o mal (Guilherme de Brito - Nelson Cavaquinho)
12 - Tu que me deste o teu cuidado (Capiba)
13 - Iracema (Adoniran Barbosa) (Participação: Adoniran Barbosa)



1979 - Esperança

Faixas:
01 - Banho de manjericão (Paulo César Pinheiro - João Nogueira)
02 - Obsessão (Milton de Oliveira - Mirabeau)
03 - Na linha do mar (Paulinho de Viola)
04 - Apenas um adeus (Paulinho Diniz - Roque Ferreira - Edil Pacheco)
05 - Rolou (Paulo César Pinheiro)
06 - Minha gente do morro (Jaime - Candeia)
07 - Ê favela (Jaime - Candeia)
08 - Contentamento (Paulo César Pinheiro - Mauro Duarte)
09 - Mulata do balaio (Wilson Moreira - Nei Lopes)
10 - Jardim da solidão (Monarco)
11 - Abrigo de vagabundos (Adoniran Barbosa)
12 - Feira de Mangaio (Glorinha Gadelha - Sivuca)
13 - Oricuri (Segredos do sertanejo)(José Cândido - João do Vale) (Participação: João do Vale)



1980 - Brasil Mestiço

Faixas:
01 - Morena de Angola (Chico Buarque)
02 - Sem companhia (Ivor Lancellotti - Paulo César Pinheiro)
03 - Viola de Penedo (Luiz Bandeira)
04 - Ninho desfeito (Wilson Canegal - Nelson Cavaquinho)
05 - Coração em chama (Élton Medeiros - Mauro Duarte)
06 - Peixe com coco (Josias - Alberto Lonato - Maceió do Cavaco)
07 - Brasil mestiço, santuário da fé (Paulo César Pinheiro - Mauro Duarte)
08 - Dia-a-dia (Jaime - Candeia)
09 - Estrela guia (Paulo César Pinheiro - Sivuca)
10 - Regresso (Candeia)
11 - Meu castigo (Paulo César Pinheiro)
12 - Última morada (Natal - Noca da Portela)
13 - Artifício (Paulo César Pinheiro - Mauro Duarte) (Participação: Roberto Ribeiro)



1981 - Clara

Faixas:
01 - Portela na avenida (Paulo César Pinheiro - Mauro Duarte) (Participação: Velha Guarda da Portela)
02 - Deixa clarear (Wilson Moreira - Nei Lopes)
03 - Coração valente (Roque Ferreira - Edil Pacheco)
04 - Congada (Toninho Nascimento - Romildo)
05 - Magoada (Julinho do Acordeon - João do Vale)
06 - Minha missão (Paulo César Pinheiro - João Nogueira)
07 - Vontade de chorar (Ivor Lancellotti - Paulo César Pinheiro)
08 - Derramando lágrimas (Alvarenga O Samba Falado - Délcio Carvalho)
09 - Como é grande e bonita a natureza (Glorinha Gadelha - Sivuca)
10 - Coroa de areia (Paulo César Pinheiro - Mauro Duarte)
11 - Macunaíma (Norival Reis - David Correia) (Part: Conjunto Nosso Samba e Silvinho do Pandeiro)


1982 - Nação

Faixas:
01 - Nação (Paulo Emílio - Aldir Blanc - João Bosco)
02 - Menino velho (Toninho - Romildo)
03 - Ijexá (Edil Pacheco)
04 - Vapor de São Francisco (Toninho Nascimento - Romildo)
05 - Novo amor (Chico Buarque)
06 - Serrinha (Paulo César Pinheiro - Mauro Duarte)
07 - Afoxé pra Logun (Nei Lopes)
08 - Cinto cruzado (Guinga - Paulo César Pinheiro)
09 - Mãe África (Paulo César Pinheiro - Sivuca)
10 - Amor perfeito (Ivor Lancellotti - Paulo César Pinheiro)
11 - Bela cigana (Ivor Lancellotti - João Nogueira) (Participação: João Nogueira)

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