Por Kiko Ferreira
A Carolina, que já foi musa de Chico Buarque, faz companhia a Bebete e Yves Brussel como mais nova musa do samba-rock. Carolina é a primeira música do esfuziante Samba Esporte Fino, vôo solo inaugural da carreira do carioca Seu Jorge. Mais conhecido como líder do grupo Farofa Carioca, do indispensável Moro no Brasil, de 1998, ele faz um passeio amplo, geral e irrestrito pelas variações do samba e outros suingues que habitam as praias e morros cariocas. Além da Carolina, outra inspiração de Chico Buarqe marca presença. No Samba que nem Rita a Dora, aquela que levou embora o disco de Noel divide as citações com a Dora de Luiz Carlos da Vila.
Apadrinhado por Benjor e João Nogueira, a quem o disco é dedicado, Seu Jorge, apelido de Jorge Mário da Silva, compõe um quadro ao mesmo tempo denso e variado de suas influências e preferências musicais.
Co-produzido por Mário Caldato Jr. , dos discos dos Beastie Boys e do Planet Hemp, o CD reúne músicos que vão dos bateristas Paulinho Black e Ivan Conti, o Mamão do Azymuth, às Pastoras da Velha Guarda da Mangueira, Serginho Trombone, Arthur Maia, William Magalhães e até o
mineiro Tattá Spalla. Entre os convidados especiais estão Dudu Nobre, com cavaquinho na homenagem ao padrinho Zeca Pagodinho (Pequinês e Pitbull) e o ícone do samba-soul Carlos Dafé, dividindo os vocais na sua De Alegre Raiou o Dia.
Lembrando seu ex-grupo e a Parede de Pedro Luiz em Te Queria, Seu Jorge ataca de Gerson King Combo em Funk Baby, investiga a área mais romântica do samba-soul em Madá e explicita a influência do funk em Mangueira e Chega no Suingue. Dando um baile de autenticidade nos
oportunistas que andam pegando carona no ressurgimento do samba-rock, ele mostra invejável intimidade com os vários setores do samba e da soul music feita no Brasil, e ainda se dá o direito de arriscar. Chega a Benjor pela estranha Em Nagoya Eu Vi Eriko, de surpreendentes tonalidades orientais, e passa do Japão para Jamaica no reggae Hágua, um corpo estranho mas bem integrado ao conjunto. Uma estréia que só fica devendo na capa, com um tom acizentado que não traduz o colorido musical do conteúdo.
O tempo é o senhor da verdade e da razão...
"Se não houver frutos, valeu a beleza das flores;
se não houver flores, valeu a sombra das folhas;
se não houver folhas, valeu a intenção da semente."
(Henfil)
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