sexta-feira, 14 de novembro de 2008

CENTENÁRIO DE CARTOLA

Cartola nasceu no bairro do Catete, no Rio de Janeiro. Tinha oito anos quando sua família se mudou para Laranjeiras e 11 quando passou a viver no morro da Mangueira, de onde não mais se afastaria. Desde menino participou das festas de rua, tocando cavaquinho – que aprendera com o pai – no rancho Arrepiados (de Laranjeiras) e nos desfiles do Dia de Reis, em que suas irmãs saíam em grupos de “pastorinhas”. Passando por diversas escolas, conseguiu terminar o curso primário, mas aos 15 anos, depois da morte da mãe, deixou a família e a escola, iniciando sua vida de boêmio.

Após trabalhar em várias tipografias, empregou-se como pedreiro, e dessa época veio seu apelido, pois usava sempre um chapéu para impedir que o cimento lhe sujasse a cabeça, o qual chamava de cartola. Em 1925, com seu amigo Carlos Cachaça, que seria seu mais constante parceiro, foi um dos fundadores do Bloco dos Arengueiros. Da ampliação e fusão desse bloco com outros existentes no morro, surgiu, em 1928, a segunda escola de samba carioca. Fundada a 28 de abril de 1928, o G.R.E.S Estação Primeira de Mangueira teve seu nome e as cores verde e rosa escolhidos por ele. Foram também fundadores, entre outros, Saturnino Gonçalves, Marcelino José Claudino, Francisco Ribeiro e Pedro Caymmi. Para o primeiro desfile foi escolhido o samba Chega de Demanda, o primeiro que fez, composto em 1928 e só gravado pelo compositor em 1974, no LP História das escolas de samba: Mangueira, pela Marcus Pereira. Em 1931, Cartola tornou-se conhecido fora da Mangueira, quando Mário Reis, que subira o morro para comprar uma música, comprou dele os direitos de gravação do samba Que infeliz sorte, que acabou sendo lançado por Francisco Alves, pois não se adaptava à voz de Mário Reis. Vendeu outros sambas a Francisco Alves, cedendo apenas os direitos sobre a vendagem de discos e conservando a autoria: assim foi com Não faz, amor (com Noel Rosa), Qual foi o mal que eu te fiz? e Divina Dama, todos gravados pela Odeon, os dois primeiros em 1932 e o último em janeiro de 1933. Ainda em 1932, o samba Tenho um novo amor foi gravado por Carmen Miranda. Do mesmo ano é a gravação do samba Na floresta, em parceria com Sílvio Caldas, lançado por este último, e a primeira composição em parceria com Carlos Cachaça, o samba Pudesse meu ideal, com o qual a Mangueira foi campeã do desfile promovido pelo jornal “O Mundo Esportivo”.



Em 1936, a Mangueira teve premiado no desfile seu samba Não quero mais (com Carlos Cachaça e Zé da Zilda), gravado por Araci de Almeida, na Victor, em 1937, e em 1973 por Paulinho da Viola, na Odeon, com o título mudado para Não quero mais amar a ninguém. Em 1940, participou, ao lado de Donga, Pixinguinha, João da Baiana e outros, de gravações de música popular brasileira para o maestro Leopoldo Stokowski (1882 – 1976), que visitava o Brasil. Realizadas a bordo do navio Uruguai, ancorado no pier da Praça Mauá, essas gravações deram origem a dois álbuns de quatro discos de 78 rpm, lançados nos EUA pela gravadora Columbia. No rádio, atuou como cantor, apresentando músicas suas e de outros compositores. Na Rádio Cruzeiro do Sul, ainda em 1940, criou, com Paulo da Portela, o programa A Voz do Morro, no qual apresentavam sambas inéditos, cujos títulos deviam ser dados pelos ouvintes, sendo premiado o nome escolhido.

Em 1941, formou com Paulo da Portela e Heitor dos Prazeres o Conjunto Carioca, que durante um mês realizou apresentações em São Paulo, em um programa da Rádio Cosmos. A partir dessa época, o sambista desapareceu do ambiente musical. Muitos pensavam até que tivesse morrido. Chegou-se a compor sambas em sua homenagem. Em 1948, a Mangueira sagrou-se campeã com seu samba-enredo Vale do São Francisco (com Carlos Cachaça).

Cartola só foi redescoberto em 1956, quando o cronista Sérgio Porto o encontrou lavando carros em uma garagem de Ipanema e trabalhando à noite como vigia de edifícios. Sérgio levou-o para cantar na Rádio Mayrinck Veiga e, logo depois, Jota Efegê arranjou-lhe um emprego no jornal “Diário Carioca”.

A partir de 1961, já vivendo com Eusébia Silva do Nascimento, a Zica, com quem se casou mais tarde, sua casa tornou-se ponto de encontro de sambistas. Em 1964, resolveu abrir um restaurante, o Zicartola, na Rua da Carioca, que oferecia, além da boa cozinha administrada por Zica, a presença constante de alguns dos melhores representantes do samba de morro. Freqüentado também por jovens compositores da geração pós bossa-nova (alertados para a sua existência desde o show “Opinião”, no qual Nara Leão incluíra o samba O sol nascerá, de Cartola e Elton Medeiros, que mais tarde gravaria), o Zicartola tornou-se moda na época. Durou pouco essa confraternização morro-cidade: o restaurante fechou as portas, reabrindo em 1974 no bairro paulistano de Vila Formosa.



Contínuo do Ministério da Indústria e Comércio, vivendo na casa verde e rosa que construiu no morro da Mangueira, em terreno doado pelo então Estado da Guanabara, somente em 1974, alguns meses antes de completar 66 anos, o compositor gravou seu primeiro LP, Cartola, na etiqueta Marcus Pereira. O disco recebeu vários prêmios. Logo depois, em 1976, veio o segundo LP, também intitulado Cartola, que continha uma de suas mais famosas criações, As rosas não falam, e o seu primeiro show individual, no Teatro da Galeria, no bairro do Catete, acompanhado pelo Conjunto Galo Preto. O show foi um sucesso de público e se estendeu por 4 meses.

Em julho de 1977, a Rede Globo apresentou com enorme sucesso o programa “Brasil Especial” número 19, dedicado exclusivamente a Cartola. Em setembro do mesmo ano, Cartola participou, acompanhado por João Nogueira, do Projeto Pixinguinha, no Rio. O sucesso do espetáculo levou-os a excursionar por São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Ainda em 1977, em outubro, lançou seu terceiro disco-solo: Cartola – Verde que te quero rosa (RCA Victor), com igual sucesso de crítica.

Em 1978, quase aos 70 anos, mudou-se para o bairro de Jacarepaguá, buscando um pouco mais de tranqüilidade, na tentativa de continuar compondo. Neste mesmo ano estreou seu segundo show individual: Acontece, outro sucesso. Em 1979, lançou seu quarto LP: Cartola – 70 anos. Nesta época, descobriu que estava com câncer, doença que causaria sua morte, em 30 de novembro de 1980.
Em 1983, foi lançado, pela Funarte, o livro Cartola, os tempos idos, de Marília T. Barboza da Silva e Arthur Oliveira Filho. Em 1984, a Funarte lançou o LP Cartola, entre amigos. Em 1997, a Editora Globo lançou o CD e o fascículo Cartola, na coleção “MPB Compositores” (n°12).

Fonte: Enciclopédia da Música Popular Brasileira, editada pelo Itaú Cultural.



DISCOGRAFIA:

FALA, MANGUEIRA (1968)


LADO A
01 - Enquanto Houver Mangueira – (Roberto Roberti / A. Marques Junior)
02 - Lá em Mangueira – (Heitor dos Prazeres / Herivelto Martins)
03 - Mundo de Zinco – (Antônio Nássara / Wilson Batista)
04 - Tempos Idos - (Carlos Cachaça / Cartola)
05 - Ao Amanhecer – (Cartola)
06 - Alvorada no Morro – (Carlos Cachaça / Cartola / Hermínio Bello de Carvalho)
07 - Quem me vê sorrindo – (Cartola / Carlos Cachaça)
08 - Alegria – (Cartola)
09 - Lacrimário – (Carlos Cachaça)

LADO B
01 - Saudosa Mangueira – (Herivelto Martins)
02 - Sei, lá Mangueira – (Paulinho da Viola / Hermínio Bello de Carvalho)
03 - Rei Vagabundo; A Mangueira Me Chama; Sempre Mangueira; Folhas Caídas; Eu e as Flores – (Cartola)
04 - Sabiá de Mangueira – (Frazão / B.Lacerda)
05 - Exaltação à Mangueira – (E. B. da Silva / A. Augusto da Costa)
06 - Despedida de Mangueira – (B. Lacerda / Aldo Cabral)




CARTOLA (1974)


LADO A
01 - Disfarça e Chora – (Cartola / Dalmo Casteli)
02 - Sim – (Cartola / Oswaldo Martins)
03 - Corra e Olhe o Céu – (Cartola / Dalmo Casteli)
04 - Acontece – (Cartola)
05 - Tive Sim – (Cartola)
06 - O Sol Nascerá – (Cartola / EltonMedeiros)

LADO B
01 - Alvorada – (Cartola / Carlos Cachaça / Hermínio Bello)
02 - Festa da Vinda – (Cartola / Nuno Veloso)
03 - Quem Me Vê Sorrindo – (Cartola / Carlos Cachaça)
04 - Amor Proibido – (Cartola)
05 - Ordenes e Farei – (Cartola / Aluizio Dias)
06 - Alegria – (Cartola)




CARTOLA (1976)
LADO A
01 - O Mundo é um Moinho - (Cartola)
02 - Minha - (Cartola)
03 - Sala de Recepção – (Cartola)
04 - Não Posso Viver sem Ela – (Cartola e Alcebiades Barcelos)
05 - Preciso me Encontrar – (Candeia)
06 - Peito Vazio – (Cartola)

LADO B
01 - Aconteceu – (Cartola)
02 - As Rosas não Falam – (Cartola)
03 - Sei Chorar – (Cartola)
04 - Ensaboa – (Cartola)
05 - Senhora de Tentação – (Silas de Oliveira)
06 - Cordas de aço – (Cartola)



CARTOLA – VERDE QUE TE QUERO ROSA (1977)
LADO A
01 - Verde que te quero Rosa- (Cartola / Dalmo Castelo)
02 - A Canção que chegou – (Cartola / Nuno Veloso)
03 - Autonomia – (Cartola)
04 - Desfigurado – (Cartola)
05 - Escurinha – (Geraldo Pereira / Arnaldo Passos)
06 - Tempos Idos – (Cartola / Carlos Cachaça)


LADO B
01 - Pranto de Poeta – (Guilherme de Brito / Nelson Cavaquinho)
02 - Grande Deus – (Cartola)
03 - Fita meus olhos – (Cartola / Osvaldo Vasques)
04 - Que é feito de você – (Cartola)
05 - Desta vez eu vou – (Cartola)
06 - Nós Dois – (Cartola)



CARTOLA – AO VIVO (1978)
LADO A
01 - Alvorada – (Cartola / Carlos Cachaça / Herminio Bello de Carvalho)
02 - O Mundo é um Moinho – (Cartola)
03 - Sim – (Cartola / Oswaldo Martins)
04 - Acontece – (Cartola)
05 - Amor Proibido – (Cartola)

LADO B
01 - As Rosas não Falam – (Cartola)
02 - Verde que te quero Rosa – (Cartola / Dalmo Castelo)
03 - Peito Vazio - (Cartola)
04 - Alegria – (Cartola)
05 - Inverno do meu tempo – (Cartola / Roberto Nascimento)
06 - Sol Nascerá – (Cartola / Elton Medeiros)



CARTOLA – 70 ANOS (1979)
LADO A
01 - O Inverno do meu Tempo – (Cartola / Roberto Nascimento)
02 - A Cor da Esperança – (Cartola / Roberto
Nascimento)
03 - Feriado na Roça – (Cartola)
04 - Ciência e Arte – (Cartola / Carlos Cachaça)
05 - Senões – (Cartola / Nuno Veloso)
06 - Mesma Estória – (Cartola / Elton Medeiros)

LADO B
01 - Fim de Estrada – (Cartola)
02 - Enquanto Deus Consentir – (Cartola)
03 - Dê-me Graças, Senhora – (Cartola / Cláudio Jorge)
04 - Evite Meu Amor – (Cartola)
05 - Silêncio de um Cipreste – (Cartola / Carlos Cachaça)
06 - Bem Feito – (Cartola)


Conheça também o Centro Cultural Cartola - Rua Visconde de Niterói,1296 Tel.: (21 ) 32345777 - Rio de Janeiro email: cartola@cartola.org.br

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