terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

WILSON SIMONAL

Wilson Simonal de Castro, (Rio de Janeiro, 26 de fevereiro de 1939 - 25 de junho de 2000) foi um cantor brasileiro de muito sucesso nas décadas de 1960 e 1970.

Começou a carreira cantando em bailes do 8º grupo de Artilharia da Costa, cantando em inglês, rock e calipsos. Em 1961 foi crooner do conjunto de calipso Dry Boys, fez parte do conjunto Os guaranis. Se apresentou no programa Os brotos comandam, sendo apresentador do programa Carlos Imperial. Cantou nas casa noturnas Drink e Top Club. Foi levado por Luiz Carlos Miéle e Ronaldo Bôscoli para o Beco das Garrafas, que era o reduto da bossa nova.Em 1964 viajou pelas América do Sul e América Central, junto com o conjunto Bossa Três, do pianista Luís Carlos Vinhas.

De 1966 a 1967 apresentou o programa de TV, Show em Si ...monal, pela TV Record - canal 7, de São Paulo. Seu diretor era Carlos Imperial. Se revelando um show man, fez grande sucesso com as músicas País tropical (Jorge Ben), Mamãe passou açúcar em mim, Meu limão, meu limoeiro, Sá Marina (Antonio Adolfo/Tibério Gaspar), num swing criado por César Camargo Mariano, que fazia parte do Som Três, junto com Sabá e Toninho, que foi chamado de pilantragem.

Em 1970 acompanhou a seleção brasileira de futebol à Copa do Mundo, realizada no México. Ficando amigos dos jogadores de futebol Carlos Alberto, Jairzinho e do maestro Erlon Chaves. Houve um desfalque na empresa em que Simonal tinha. Seu contador foi acusado, supostamente, de ter praticado o roubo. Durante os interrogatórios, Simonal foi acusado de ser informante do Dops. Foi condenado em 1972.

Simonal ficou desmoralizado no meio artístico-intelectual e cultural da época e sua carreira começou a declinar. O jornal O Pasquim acusou-o de dedo duro . A repressão imposta pela ditadura militar brasileira, levaram os jornalistas da época a acreditar que Simonal fosse informante do SNI. A imprensa o condenou sem provas.

Ele negou veementemente todas as acusações. Em 2002, após sua morte, a família do cantor requisitou abertura de processo para verificar a acusação de informante do regime. Foram reunidos depoimentos de diversos artistas, além de um documento datado de 1999 em que o então secretário de Direitos Humanos, José Gregori, atestava que não havia evidências - fosse nos arquivos do Serviço Nacional de Informações (SNI) ou no Centro de Inteligência do Exército - de que Simonal houvesse agido como delator. Como resultado, o nome do músico foi reabilitado publicamente pela Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em 2003.

Independente de qualquer acusação política, porém, o nome de Wilson Simonal vem ganhando cada vez mais reconhecimento pela contribuição musical no cenário brasileiro, sendo considerado um dos grandes cantores da Música Popular Brasileira. É pai dos também músicos Wilson Simoninha e Max de Castro.

Em 1995, Mário Prata escreveu uma crônica a respeito do Simonal:


ESQUECEMOS DE ANISTIAR O WILSON SIMONAL
o Estado de S. Paulo
16/01/95

O brasileiro adora esquecer e/ou perdoar. O Collor, por exemplo, fez o que fez e acho que já foi perdoado. Eleições futuras, em Alagoas e no Brasil, irão comprovar isso. O próprio PC já está sendo visto com certa simpatia pelos coleguinhas da imprensa. Os Sete Anões, vocês se lembram deles? Não deu em nada. E nem vai dar.
O Jânio que, com a sua renúncia, em 61, levou o Brasil a mais de trinta anos de incertezas e atrasos, foi depois perdoado e os paulistanos o colocaram na cadeira de prefeito que deveria ter sido de FHC. O Paiacã, que fez aquela sacanagem toda, já foi perdoado e esquecido. O Zico, que perdeu aquele pênalti contra a França na Copa de 86 já foi perdoado. Até mesmo o Joaquim Silvério dos Reis, hoje em dia é apenas mero tema para vestibulandos.
O que há de comum entre o Collor, o PC, os Sete Anões, o Jânio, o Paiacã, o Zico e o Joaquim Silvério? São todos brancos. Uns, bandidos. Outros, como o Zico, brasileiros da maior dignidade. Mas todos, brasileiros brancos.
Toda essa introdução acima é para falar do Wilson Simonal. Você sabe quem foi (ou quem é) Wilson Simonal? Um dos mais queridos e requisitados cantores dos anos sessenta. Bonachão, cheio de swing, uma voz afinadíssima, com uma inteligência rápida e rara no programa Essa Noite se Improvisa, brilhava ao lado de Chico, Caetano, Carlos Imperial, Gil, Roberto Carlos, Jair Rodrigues, Ellis. Um dia ele fez o Maracanãzinho cantar com ele, durante mais de meia hora, o Meu Limão, Meu Limoeiro. Quem não se lembra dele cantando Sá Marina? Naquele tempo o Brasil, na voz do Simona era mesmo Um País Tropical.
Pois um dia o falecido jornal O Pasquim (onde tive a honra de trabalhar em 72 e 73), há já distantes vinte e cinco anos, disse, em letras garrafais, na primeira página, que o Simonal era dedo-duro. Que ele teria entregue um ex-funcionário para "os homens". Pudera: um crioulinho daquele, com um dos maiores contratos publicitários da época - com a Shell, multinacional do imperialismo! - andando pra cima e pra baixo numa Mercedes branca com estofamento vermelho, boa coisa não podia ser. A esquerda caiu de pau, chicotes e archotes em cima do "malandro". Nunca ficou clara a acusação. Nem pretendo discutir isso aqui. O Simonal sumiu. Sumiu o homem e a carreira, a voz e a alegria do "champinhon". Soube, através do filho dele, o também músico Simoninha (de quem tenho o prazer de ser amigo) que ele quase morreu no ano passado. Não há fígado que resista a uma acusação de 25 anos. Todos os fígados do Brasil já foram anistiados. Menos o do Simonal.
Semana passada vi o Simonal num memorável programa da deliciosa Hebe Camargo. Está magro, abatido, mas a voz é firme, gostosa como sempre. De vez em quando, a imprensa entrevista o Simonal. Mas sempre, sempre, sempre, da primeira à última pergunta, o tema é o mesmo, e ele, quase desesperado, diz que aquilo já passou. Não passou não, Simonal. Você foi marcado para sofrer, por todos nós da esquerda, daquela e naquela época. Acho que o buraco é mais embaixo.
E foi pensando no Simonal que eu me lembrei do Barbosa, goleiro da seleção de 50. Barbosa, tão preto quanto o Simonal, levou um gol do Gighia no segundo tempo e o Brasil perdeu a Copa do Mundo para o Uruguai. De quem foi a culpa? Daquele crioulo safado. Desde então (e lá se vão 45 anos) nunca outro negro foi goleiro da seleção canarinha. Pelo contrário, são sempre jovens bonitos, que não falam nem menas nem qüestã, altos, alguns até loiros: Ado (mais bonito do que goleiro), Leão (que sempre pintou o cabelo), Carlos (o elegante), Waldir Perez (o careca sensual), Taffarel (o ariano puro), Zetti (o bom menino), Felix (baixo, mas branco), Castilho (um lord), Gilmar (a elegância em pessoa). Barbosa (negro) jamais foi perdoado. A culpa foi dele, já que deveria ser de alguém.
Simonal é o nosso Barbosa, levando petardos de todos os gighias brasileiros. Uma bola (ou uma bala) perdida passou por baixo dele e atingiu a sua alma negra. Um pai que tem um filho como o Simoninha, não pode ser ou ter sido tão perigoso e fdp assim. Num momento que o Brasil oferece exemplo de democracia e dignidade interna e externamente, é hora de se anistiar o Simonal. Que ele volte com sua voz gostosa e seu jeito de malandro aos palcos do Brasil. Deixemos que ele entre novamente em nossas casas, pela porta da frente. Ou pela gaveta de um CD.
Vamos anistiar o homem enquanto ele está vivo. Ele e nós.

O Chico Anísio também escreveu algo sobre o Simonal:


WILSON SIMONAL

E, para felicidade particular do “humorista”Jaguar, o Wilson Simonal morreu. Ora, Senhor! Uma pessoa humana como o Jaguar, um homem de bom caráter, cheio de muitos amigos, incapaz de uma briga, de causar um mal estar, merecia ser recompensado pelo prazer de ver a morte do Simonal há mais tempo.
Eu sei, Senhor, o poder da oração e, como o Jaguar tem todo o aspecto de uma pessoa muito religiosa, acredito na força das suas preces para que o Simonal demorasse a morrer e mais sofresse nesta vida que ele, Jaguar, preparou para ele. Morrer, na opinião do “cartunista”, significava uma felicidade para um escroque do tamanho do Simonal, com participação efetiva na revolução, na prisão da turma do “Pasquim”, na criação AI-5 e outras coisas inesquecivelmente nojentas, promovidas ou provocadas pelo tal cantorzinho.
A morte de Wilson Simonal deve ter trazido, afinal, um grande alívio para a cabeça deste verme que tem nome de fera, pois na citada “cabeça” estava a certeza que ele se dava de que o cantor era um homem de direita, safado, informante do SNI .
Wilson Simonal, homem de música e de show, maestro que regia o público ao seu bel-prazer, além da infelicidade de não ter nascido americano, australiano, inglês, canadense ou de qualquer nacionalidade de palavras inglesas, podia imaginar qualquer coisa, menos vir a ser considerado um “homem de direita”. Simonal, alienadamente músico, alucinadamente cantor, eslouquecidamente show-man, desbragadamente um homem do palco, nem sabia o significado das letras S, N e I, quanto mais ser um informante deste orgão da chamada “revolução”.
Mas… como no discurso que Sheakespeare escreveu… Jaguar queria e Jaguar é um homem bom; Simonal nunca se meteria em política, mas Jaguar dizia que sim e Jaguar é um homem honesto; Simonal vivia para sua arte e sua família, mas Jaguar é incapaz de uma mentira e Jaguar garantia sua participação efetiva na política.
Agora, pesando 28 quilos, após ser proibido por quase 30 anos de se apresentar em público, de gravar, de ter suas músicas tocadas em todas as emissoras do pais; depois de ver sua família passar necessidades até os meninos poderem trabalhar, afinal Wilson Simonal morre. Meus pêsames à música popular brasileira e minhas congratulações ao Jaguar, neste momento em que, pela última vez na minha vida, falo ou escrevo seu nome, para não sujar minha boca ou produzir um defeito no meu computador.
Chico Anysio

2 comentários:

Anônimo disse...

Wilson Simonal certa vez disse que a "Esquerda" não anistia ninguém. Só quer ser anistiada. Pura verdade, principalmente, em seu caso particular. Quanto ao horroroso Jaguar, localizemos uma entrevista que a Simone deu após uma reunião em que encontrou o Jaguar pela primeira vez... Disse cobras e lagartos a respeito dele... Não sei se hoje ela mudou de opinião. O Nélson Motta disse no programa "Sem "Censura" que o Simonal teria "aprontado" mesmo... Mas, no mesmo programa também disse que Simonal só teria sofrido todo o seu castigo porque ele era negro. Na minha opinião, é mais ou menos por aí... Se o Simonal não tivesse deixado o samba para abraçar um gênero meio iê-iê-iê, meio tropicália, TALVEZ a história tivesse sido diferente...

brunonegromonte disse...

Também concordo em gênero, número e grau a ideia de que o Simonal pagou um alto preço simplesmente por ser negro.

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