segunda-feira, 12 de abril de 2010

SIMONE É TODO AMOR ENVOCANDO SENSUALIDADE

Com dois shows no Teatro Guararapes, em Olinda, cantora gravou novo DVD levando à loucura as fãs de carteirinha, que a acompanharam mesmo em canções menos conhecidas.

Por José Teles

Para a gravação de um DVD a plateia deveria ser convidada. Afinal ela está ali como figurante de um filme. Paga por um show e tem que esperar troca de fita, repetições de músicas, etc. Na gravação do DVD de Simone, com dois shows no Teatro Guararapes, sábado e ontem, o público foi sujeito a menos inconvenientes, à exceção das inevitáveis trocas de fitas e repetições, que não quebraram o ritmo do show. Tudo bem, o gravação, no sábado, começou com um atraso de meia hora, mas o público não reclamou. A maioria que estava lá era fã de carteirinha da cantora.

Cenário prateado, claro, elegante, combinando com o traje da cantora, que enfrenta um problema que todos de sua geração enfrentam. Tem um repertório radiofônico grande, conquistado até o início dos anos 90, e ilustres desconhecidas, as canções de discos mais recentes, no caso Na minha veia, base para o repertório do show que vai virar DVD.

Simone começou com Eu tô que tô (Kleiton & Kledir, 1982), um dos seus muitos hits, e foi equilibrando canções do novo e ótimo disco com algumas que o público inevitavelmente iria cantar junto, e se mexer na poltrona. Afinal DVD ao vivo não pode ter plateia estática. E o que levar o distinto público a sentir ímpetos de dança mais do que um Jorge Ben Jor vintage? Ives Brussel. Todo mundo cantou, obviamente (o teatro estava lotado).

Simone hoje se assemelha muito a Roberto Carlos. Se no início seu repertório era contestatório até mesmo quando falava de amor, agora é só de amor, mas na primeira pessoa, abundante em metáforas evocando sensualidade. Do repertório das antigas, nada de Gota d’água, À for da pele (o que será, que será). A exceção foi Face a face (Sueli Costa & Abel Silva), logo no primeiro bloco do show. Assim como Roberto Carlos ela se veste de branco, tem um sorriso franco, e sabe o momento certo de fazer gestos e poses que levem a plateia às palmas e aos gritos. Sabe apascentar com sutileza as fãs mais exaltadas, que não conseguem se controlar e atiram os indefectíveis “Te amo”, “Linda”, atrapalhando o tráfego, ou melhor, a gravação. Ela é dona de si no palco. E continua cantando bem aos 60 anos, idade que, de vez em quando lembra. Como o fez ao comentar porque estava gravando um DVD no Recife. Em uma coletiva de imprensa perguntaram a razão de ser aqui, pois ela era baiana: “Não sou baiana, sou do mundo”. E questionou dos mais jovens se conheciam uma antiga churrascaria da cidade e pontos do Recife de 30 anos atrás citando alguns pratos típicos enquanto era trocada a primeira fita.

Volta com Arquibaldo e geraldinos, de Gonzaguinha, passa por um Lulu Santos, chega Agepê – do samba kitsch Deixa eu te amar, aquele dos impagáveis versos: “Quero te botar no colo, te deitar no solo, e te fazer mulher” – com gestos, que levam as fãs aos aplausos e assobios, cita Perigosa, de As Frenéticas. Continua inserindo as novas canções entre outras manjadas e termina com uma versão lenta (se fosse em andamento de marcha de bloco ficaria melhor) de Chuva, suor e cerveja, frevo-canção de Caetano Veloso.

O inevitável bis traz Nada por mim, de Kid Abelha, e Ex-amor, de Martinho da Vila. A plateia teve direito a uma faixa bônus – que não estará no DVD – de Verdade, o hit maior de Zeca Pagodinho. Assim como Roberto Carlos, no fim do show Simone distribuiu flores, brancas, uma a uma, entre as fãs: “Vou me despedir como fui recebida”. E inédito em um show ao vivo no Recife: não se ouviu ninguém sugerir: “Canta Raul!”.

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