É uma tarde cinza de março e a paulistana Tiê Gasparineti Biral – que, com o violão nas mãos, atende somente por Tiê – tenta fazer diversas coisas ao mesmo tempo: cuidar da pequena filha, Liz, nascida há pouco mais de um mês, provar uvas de um mercado em Perdizes e ainda conversar sobre sua carreira. As três coisas ela consegue fazer muito bem, principalmente comentar sobre seus recentes triunfos. A vinda para o Brasil, em 2009, do cantor norte- americano Jason Mraz deu a Tiê a chance de ser a atração de abertura. Antes de aceitar o convite, a cantora de 30 anos se sentiu insegura. “E se o público não me receber bem?” Algo melhor aconteceu. “Foi incrível. As pessoas cantaram junto e ainda vieram me cumprimentar pelo CD. O Jason também foi muito legal.”
Sweet jardim, sua primeira cria musical, chegou em 2009. Temas como a faixa título A bailarina e o astronauta e Stranger But Mine são inspiradas por sons minimalistas nativos do norte, como Syd Barrett e Leonard Cohen. Uma primeira audição é suficiente para perceber a fuga da música pop fast-food, e Tiê é consciente disso. “Antes de lançar meu disco, pensei em fazer algo de que gosto, algo para mim e não para o mercado”, justifica a artista. A escolha do estilo mais sofisticado também teve seu preço. Por isso, o uso de poucos instrumentos acústicos em algumas faixas, como violão, percussão e cello. “Sempre reforço que a dificuldade em divulgar minhas canções é pela estética, não por conta da pobreza”, comenta a ex-modelo, que teve Toquinho, parceiro de trabalho por mais de dois anos, como convidado especial no álbum.
A experiência de descobrir o som de Tiê é ímpar, assim como as impressões da publicitária Talita Melone sobre a artista. Segundo Talita, essa descoberta aconteceu após algumas “caçadas musicais pela internet”. “Conheci o som dela por meio de uma amiga e foi amor à primeira vista, ou melhor, à primeira ouvida”, brinca a fã de Nova Friburgo. “Depois de garimpar as músicas na internet, ganhei o CD e já fui a vários shows”, celebra.
Nascida na Bahia e criada em Pernambuco, Karina Buhr canta em português, inglês e alemão em seu CD de estreia Eu menti pra você. Em seu time, há feras como Edgar Scandurra (ex-Ira!) e a atriz alemã Juliane Elting (voz na faixa Telekphonen). Quem lê as informações no livreto do disco e constata tantos nomes conhecidos deve atentar para o fato de que Karina é nova, mas não novata. Durante uma década, ela esteve com a Comadre Fulozinha – banda recifense de música regional – como vocalista, percussionista e rabequeira. Tanta experiência foi herdada pelo seu trabalho solo, mas de forma sem igual. “Minhas influências são muito variadas”, admite. “Talvez por ter ouvido muito Rita Lee, eu tenha me influenciado por sua versatilidade”, reflete a compositora, que passeia por diversos estilos com naturalidade, como o reggae distinto de Plástico bolha, um dos destaques do álbum, que, claro, a ex-atriz do Teatro Oficina suou para concretizar. “Não rolaram dificuldades além das esperadas. Sem patrocínio, tudo é mais suado por conta de grana, mas cada passo dado tem um gostinho especial”, reflete a artista, que tem um olhar particular sobre essa new wave de cantoras no país. “Eu sempre digo para as pessoas que essa fase é só impressão (risos). Sempre fomos ricos em cantoras, mas acredito que muito disso acontece porque as artistas atuais não são apenas intérpretes, mas também compõem”, afirma. Um de seus fãs tenta definir o seu perfil. “Impossível ficar parado em um show dela”, admite Rogério Augusto de Oliveira, professor de história paulistano e fã de Karina, que já assistiu a várias apresentações, incluindo no badalado projeto Prata da Casa, do Sesc Pompéia. “Em meio a tantas cantoras, Karina se destaca por conseguir uma sonoridade única, que ela alcança com uma banda incrível. Suas composições também são distintas”, depõe.
FIEL AO CORAÇÃO
Na escalada de Mallu Magalhães para o sucesso, a tímida menina causou polêmica ao surgir como sensação da internet com apenas 15 anos. E fez mais barulho ainda depois de assumir seu relacionamento com o “Hermano” Marcelo Camelo, 14 anos mais velho que a jovem cantora. Dois anos depois do boom, Mallu já gravou dois CDs (ambos homônimos), além de tocar por todo o Brasil e fazer shows na Europa – embalada por hits autorais como Tchubaruba, J1 e Vanguart. Seu jeito de criar é um mix de inspiração e influência de ídolos como Bob Dylan, Johnny Cash e, nos últimos tempos, Nara Leão. Além dos preconceitos citados, ela enfrentou também o problema de compor seu material em inglês, idioma que domina, principalmente, seu primeiro disco. Ela diz não ligar. “Eu tento ser fiel ao meu coração. Ele fala língua nenhuma e todas ao mesmo tempo. Só ouço o que vem de dentro. Cada vez vem de um jeito. É um negócio que chega assim, sem filtro ou peneira”, conta Mallu, mostrando seus cadernos cheios de esboços de canções. “Desde pequena, eu juntava uma notinha e procurava rimar. Tudo começou meio sem querer e algumas canções ainda saem assim, bem espontâneas”, conclui a artista, que, atualmente, divulga pelo país seu novo álbum Mallu Magalhães e o single Shine Yellow.
De fenômeno da internet a apresentações internacionais, Mallu tem cativado um público amplo, formado, em grande parte, por adolescentes como a paulistana Mariana Lazzari, de 14 anos. “Conheci a Mallu pela TV e depois fui ao MySpace ouvir melhor suas músicas. A partir daí, acompanhei o seu amadurecimento musical e fiz muitas amizades com pessoas que compartilhavam do meu gosto.” Uma dessas amigas é a mineira de Belo Horizonte Cora Alvarenga. “Mallu tem um jeito especial de tratar a todos e hoje compõe, canta e toca bem melhor que no início da carreira”, ecoa.
COMPONDO DO ZERO
Outro caso peculiar é o da olindense de criação Luciana Lins, mais conhecida como Lulina. Publicitária de ofício e criadora musical por talento, ela lançou no ano passado seu décimo álbum, Cristalina. Décimo? Sim, porque os anteriores foram “doces caseiros”, como chama a artista, somente agora disponibilizados para degustação em seu site oficial. Seu depoimento para esta matéria, digamos, foi dado na “cobrança de pênaltis” de uma decisão, já que se preparava para uma excursão de duas semanas pelos Estados Unidos, com shows em Portland, Seattle e Chicago. "O convite para essa turnê partiu de um amigo americano, que nos ajudou a fechar algumas apresentações. Pensamos até em gravar um disco (compor e gravar do zero!) durante a viagem", revela. Sem esconder sua visão sobre as “mulheres que fazem” a música de hoje, Lulina abre o jogo: “Acho que as mulheres não estão fazendo melhor do que os homens, mas estão fazendo igual. Como muitas compositoras criativas (e não apenas intérpretes), começaram a despontar agora, a gente tem a impressão de que as mulheres estão ‘bombando’. Mas acho que a coisa está de igual para igual, talvez porque a mulherada tenha assumido uma postura menos preocupada com a imagem-padrão da cantora brasileira e mais focada no conteúdo do que ela quer falar”, pondera Lulina, que teve sua música descrita como “irônica e surreal” pela crítica da Folha de S.Paulo.
2 comentários:
Parabéns pelo post! Uma outra cantora que poderia estar no sua lista da nova geração de cantoras brasileiras é a Daniella Alcarpe (www.cantora.mus.br). Lindíssimo o novo trabalho dela, uma voz impecável. Abraços
Caro Daniel, se for possível me enviar algo referente ao trabalho dela para que eu possa fazer um post sobre a Cantora Daniella Alcarpe, o farei com o maior prazer.
O blog tem uma visita diária em média de mais de 100 pessoas e acho que seria interessante a divulgação de novos trabalhos a partir de blog's e outras ferramentas... se for possível mandar o álbum mais recente dela e o material de divulgação (release, fotos e mais coisas que a produção dela achar conveniente) eu mandarei o endereço por e-mail. Abraço!
Postar um comentário