quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

VÔTE... ESCUTA SÓ: ENTREVISTA - JOSÉ ALVES SOBRINHO


José Alves Sobrinho poeta e cantador


ZÉ SOBRINHO
UM MESTRE NA CANTORIA E NA ACADEMIA
Por Zelito Nunes


Zelito Nunes e José Alves

Eu ainda pequeno lá pelos Cariris Velhos da Paraíba já ouvia falar no cantador Zé Alves Sobrinho, como um dos poucos que ousavam enfrentar Pinto do Monteiro.
E foram muitos os embates entre os dois que foram enquanto vivos,mais que dois grandes poetas. Foram também companheiros de estrada num tempo em que os cantadores rompiam léguas a cavalo e até a pés.

Desnecessário se faz dizer que foram também grandes amigos.
Voltei a encontrar Zé Sobrinho, num congresso de cantadores na década de oitenta na capital da poesia do nosso país da velha Paraíba do Norte,Campina Grande.
Ele, gentil e generoso que sempre foi, acolheu mais um admirador que era (e serei sempre) eu, me deu um cartão seu como pesquisador da UFPB,e ficamos amigos. Esse cartão que por muito tempo guardei não era um simples pedaço de papel, simbolizava sim o mais que justo acolhimento e reconhecimento de um gênio da Cultura Popular na comunidade acadêmica.
Gesto mais que grandioso e belo.

Anos depois voltamos eu e Paulo Carvalho às "Malvinas" em Campina 
Grande pra colher um depoimento seu sobre o Velho Pinto. E ele nonagenário não só nos recebeu como ainda nos apresentou a bela biblioteca que construiu numa modesta casa naquele bairro campinense batizado com nome de tenebrosa memória.

Algum tempo depois, Zé Sobrinho ensacou a viola e foi encontrar os velhos companheiros sabe-se lá onde. Mas deixou nome e fama gravados em granito.

E essa fabulosa sextilha feita por Pinto pra responder a uma sua provocação:
Sobrinho terminou :
"Pinto você me respeite
Que eu agora sou doutor"

Pinto respondeu:

"Você nunca foi doutor
Zé Sobrinho me perdoe
Se foi, eu estava enganado
E eu estava enganado, foi
Um dia em Campina Grande
Doutor de Bumba meu Boi".... 


Zé Alves Sobrinho
Por Antônio Lisboa

Antonio Lisboa poeta Cantador e repentista
Paraibano de Pedra Lavrada, José Alves Sobrinho é um dos ícones da poesia popular nordestina.

Teve os primeiros contatos com a cantoria aos 11 anos, encantou-se de tal maneira que a partir daquela noite começou a improvisar seus versos e com 13, tornou-se cantador profissional.

Um dos repentistas mais brilhantes na História da cantoria, desempenhou um papel importantíssimo. Foi um dos cantadores mais completos da sua geração, enquanto cantou, primou pela qualidade e o alto nível da sua produção poética e atuou de forma incansável na moralização da classe se impondo elegantemente como artista e como cidadão.

Não o alcancei mais cantando mas tive a satisfação de conhecê-lo e escuta-lo por várias vezes. Ouvi dele que tornou-se cantador "não pra ser artista mas pra mostrar ao Mundo uma cultura", que adotou uma postura de combate aos preceitos da sociedade e da própria família enfrentados pelos poetas. Outra vez me declarou não acreditar em pesquisador de escritório "só acredito em pesquisador que vai até a bosta do bode". 

Numa manhã, numa praça no centro de Guarabira fiquei escutando aquele homem, que pra mim era uma enciclopédia. E entre uma conversa e outra ia ouvindo revelações fantásticas. Falou! "O hábito dos cantadores se apresentarem em pé no palco, é criação minha, antes só se cantava sentado".
E foi dizendo, "tem cantador que adquire muito conhecimento e não sabe o que fazer". "Sou cantador, nasci pra ser cantador e não dou um cantador pelo maior doutor do mundo".

Esse é o José Alves Sobrinho, Zé Alves, Zé Sobrinho que eu ouvi falar e conheci.


Paulo Carvalho com José Alves


Conhecia alguns cantadores pela fama e o sertão de passagem. Foi Zelito Nunes que me apresentou aos dois. Cantadores, de tantos, nem me atrevo a citar nomes, de alguns me tornei amigo, de todos admirador e fã. Um mundo diferente se abriu pra mim, versos, improviso, causos. Percebi que o sertão não era tão seco e árido, tão pobre, como me queriam fazer acreditar. A poesia tornava o lugar ameno, uma brisa versejante se espalhava no ar e abrandava o sol escaldante. Lembro de certa feita andávamos, eu e Zelito, pelas ruas de Monteiro, quando um cidadão me puxou pela manga da camisa e perguntou: O poeta quer ouvir uns versos de minha lavra? Eu respondi que não era poeta, apenas um apreciador, e ele replicou: Basta gostar de poesia para ser poeta. Sentamos numa mesa de bar, pedimos umas cervejas e comida, foi o bastante para o cidadão desfiar uma ruma de versos de um só fôlego, parando apenas pra os goles com tira gosto de bode assado.
Em 2002 Zelito liga pra mim e pergunta: Vamos entrevistar o poeta José Alves Sobrinho em Campina Grande? Eu nem deixei ele prosseguir na conversa. Já estou de malas prontas!
E foi aí que chegamos as Malvinas...





Entrevista (Primeira Parte):



Entrevista (Segunda Parte):



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