Álbum é o décimo primeiro da carreira do músico pernambucano e é coproduzido com Juliano Holanda e Breno Lira.
Por Kalor Pacheco
É verdade que o cantor Geraldo Maia não é intérprete somente, embora prefira cantar do que qualquer outro fazer musical. Quando ele diz “Avia amor / que a vida arde”, logo na faixa-título que abre o seu novo disco, Avia, atesta o quanto a sua voz toma para si as atmosferas narrativas. “Tem músicas que são exatamente aquilo o que eu diria e acabou se revelando meu e puramente meu, sem ‘pretensiosismos’”, diz ele.
O 11º álbum de Geraldo traz, além de sua incontestável voz, os acordes do violão dele em praticamente todas as músicas – Se Me Quer Bem, de Silvério Pessoa, e Afiado, de Tibério Azul, são as exceções. Ao amigo Everardo Norões, com quem Geraldo nunca havia composto, além do incentivo, credita-se quatro letras: Bicho-gente, Rock do Ofício, O Olho do Menino e Goiaba. “Ele me instigou a escrever um disco novo. Porque ele sempre me incentiva na coisa da composição, sempre me achou um bom compositor e fico um pouco negligenciando isso. Eu disse ‘faz uma letrinha’, e ele mandou Goiaba. E musiquei num estalo. A letra me bateu de uma forma imediata, ou seja, com a forma que normalmente penso a melodia. Então a melodia saiu num fôlego só. Fiz, no outro dia liguei. Ele gostou e começou a me mandar as outras.”
Co-produzido com Breno Lira e com o artista múltiplo Juliano Holanda, parceiro de longa data de Geraldo, Avia reúne ainda como letristas Marcelo Pereira, editor deste Caderno C – com a dobradinha O Filósofo no Trapézio e Por que?, esta com a participação do rapper Zé Brown, cujos improvisos foram gravados em São Paulo, sob recomendação do autor. E também Paulo Marcondes e Xico Bizerra, além do seu companheiro há 24 anos, John Holtappel, que escreveu Changes, como que numa brincadeira pessimista com The Times They Are A-Changin (cantada por Bob Dylan, em 1964). A foto do casal, num sítio em Taquaritinga, ilustra uma das páginas do encarte, assinado por Luis Arraes e viabilizado graficamente pela Cepe.
“Avia foi literalmente feito a partir do meu crowdfunding pessoal. Fiz uma campanha com familiares e amigos mais íntimos, uma coisa com três dúzias de amigos (todos que estão nos agradecimentos, com exceção de John, Marcelo Soares e Ricardo Melo). Cada cota era de R$ 100 e cada um comprou duas, três ou quatro cotas. Foi feito sem incentivo cultural oficial”, revela Geraldo, que teve também o apoio do Musak nas horas de gravação no estúdio e finalização.
Ao longo de sua trajetória musical, percebe-se o apreço de Geraldo pela música mais enxuta, e talvez por isso mais compenetrante. “Queria que Avia fosse simples, despojado, minimalista, com o mínimo de texturas possível. As letras são muito boas e tem uma harmonia perpassando todo o disco. Tenho essa coisa do menos... o menos é mais.” Foi assim, por exemplo, quando o próprio dividiu A Deusa da Minha Rua com o violonista Yamandu Costa ou no disco voz e violão com as 7 cordas Vinícius Sarmento.
Ao contrário de Peso Leve, o seu primeiro CD mais autoral, que abre ruidoso como Estrondo, Avia busca a suavidade do minimalismo. Isso pode ter algo a ver com a sua límpida voz, que na maior parte dos casos dispensa informações e texturas musicais demasiadas. Assim sendo, dividiu-se Avia em duas nuances principais, explica Geraldo: “O primeiro momento do disco reflete essa angústia. Passei para os letreiros essa coisa de não saber pra onde vamos – politicamente, sociologicamente, filosoficamente. Acho que a gente está num momento muito estranho e acho que o disco busca refletir um pouco sobre isso. E depois ele ganha mais um viés mais poético. Não há antagonismo, as duas partes se complementam – a política e a lírica”.
A partir da música Olho de Menino, como se fosse um vinil a mudar de lado – relembrando, quem sabe, Cena de Ciúme, seu LP de estreia –, o disco flerta com o lirismo. No entanto, percebe-se as inquietações e provocações políticas do início ao fim de Avia. Exemplo: na voz de Aninha Martins, quando O Filósofo no Trapézio retoma como vinheta, ele quis algo mais firme e visceral: “Queria uma voz mais rasgada possível. Um timbre que, guardando as proporções, tivesse aquela explosão de Janis Joplin”.?
1 comentários:
Sem querer ser Zé Teles mas...curto e grosso: Pra mim o melhor cd pernambucano de 2015. Simplesmente FANTÁSTICO!
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