sábado, 23 de janeiro de 2016

PETISCOS DA MUSICARIA

COCO, O RITMO, A MÚSICA E A DANÇA

Uma das mais belas manifestações de nossa cultura popular


Coco: música, dança, ritmo popular. Contagiante

Coco é um ritmo típico da região Nordeste do Brasil. Há controvérsias sobre o estado em que se originou, sendo citados os estados de Pernambuco, da Paraíba e de Alagoas. O nome refere-se também à dança ao som deste ritmo.

A dança está na minha vida desde muito cedo. De família do agreste pernambucano, São Bento do Una, tive contato com o coco, antes de completar 10 anos. Primeiro, foi num dos núcleos de festanças oficiais de nossa turma, a rua da Regeneração, em Água Fria, no Recife, casa de Cecília e Otoniel. Não foram poucas as vezes que acompanhei meu avô, meus tios e primos para ouvir e acompanhar as mazurcas e os cocos tirados por Cecília, João de Deus, vovô Caboco, Amaro Pacheco.

Ritmo, letra e dança são contagiantes. Não havia um de nós, mesmo as crianças, que não se mexesse e batesse com os pés no chão, embaixo da mesa, ou se dispusesse a fazer evoluções na sala, sempre com as mãos para trás ou a bater palmas. Os pés, com sandálias de couro, às vezes de madeira, tamancos, à frente e contra o piso para repicar o som, quando se tirava o coco.

Depois, passei a ser aficionado do ritmo e não perdia nenhuma apresentação popular ou show de famosos nomes do gênero como Jackson do Pandeiro, Chico Salles e mais recentemente, Silvério Pessoa.

Confesso que, pernambucano militante, o coco sempre me cansou muito mais que o frevo no carnaval. Meia hora de coco vale mais do que muitas horas de academia. Mas, é bom demais!

Suas letras aludem principalmente à dança e ao ritmo, propriamente ditos, e brincam muito com a capacidade do cantor de não se perder entre as palavras, ante a velocidade da música.

“Coco”, de acordo com uma versão, significa cabeça, de onde vêm as músicas de letras simples. Com influência africana e indígena, é uma dança, acompanhada de cantoria e executada em pares, fileiras ou círculos durante festas populares do litoral e do sertão nordestino.

Recebe várias nomenclaturas diferentes, como pagode, zambê, coco de usina, coco de roda, coco de embolada, coco de praia, coco do sertão, coco de umbigada, e ainda outros que são denominados de acordo com o instrumento mais característico da região em que é praticado, como o coco de ganzá e coco de zambê. Cada grupo recria a dança e a transforma ao gosto da população local.

O som característico do coco vem de 4 (quatro) instrumentos (ganzá, surdo, pandeiro e triângulo), mas o que marca mesmo a cadência desse ritmo é o repicar acelerado dos tamancos. A sandália de madeira é quase um quinto instrumento, talvez o mais importante deles. Além disso, a sonoridade é completada com as palmas.

Existe uma hipótese de que o surgimento do coco tenha se dado da necessidade de concluir o piso das casas no interior, que antigamente era feito de barro. Há também um vertente que sugere que a dança teria se iniciado nos engenhos ou nas comunidades de catadores de coco. Mas as hipóteses para o seu nascimento não param por aí.

O estudioso paraibano João Sales, afirma que “ao se debruçar sobre o coco, observa uma manifestação popular com poesia, música e dança, caracterizando-se como uma das mais tradicionais da cultura nordestina. De ritmo contagiante, o som foi propagado por grandes artistas como Lenine, Alceu Valença, Selma do Coco (in memorian), Lia de Itamaracá, Gilberto Gil e o saudoso Chico Science, tem suas raízes fincadas entre as serras dos quilombos fundados no Nordeste brasileiro”. Observa ainda que “os autores de ontem dão vivacidade às influências captadas pelos artistas atuais, nessa mistura de sons e movimentos”. Em seu levantamento, João Sales informa que “foi entre os povos quilombolas e tradicionais que o ritmo coco nasceu, de fato, do fruto trazido pelos portugueses. Natural da Indonésia, o coqueiro logo tomou conta do litoral brasileiro e os fugidos dos latifúndios monocultores adicionaram o fruto à culinária e, por conseguinte, ao cotidiano dos quilombos. Segundo a lenda, os negros, sentados no chão, colocavam o coco seco sobre uma pedra e nele batiam, com outra pedra, pontiaguda, até que se partisse”.

Com o aumento da população e do número de pessoas envolvidas na tarefa, o som propagado pela multidão que fazia o serviço, junto às cantorias de lavadeiras, de cozinheiras e das crianças, começou a se tornar uma constante que ecoava por toda a sociedade quilombola.

O sapateado e a dança se juntaram às cantigas e o coco passou a ser um costume festivo, significando união, companheirismo e fartura que a civilização negra não possuía.

Coco do Norte – Rosil Cavalcanti, com Jackson do Pandeiro:

Coco do Norte


Oi responda esse coco com palma de mão
Isso é coco do Norte, nunca foi baião.

No coco do Norte tem caracaxá
Zabumba, ganzá, poeira do chão
Coqueiro fazendo improvisação
Compadre e comadre seguro na mão
Batendo umbigada com palma de mão.

(refrão)

Tem coco praieiro na terra batida
Que é dança querida na beira do mar
O vento a soprar, a onda quebrando
A lua espiando com satisfação
Isso assim é coco, nunca foi baião

(refrão)

No coco do Norte tem Pedro, tem Joca
Tem Dida, tem Noca, tem Paulo, tem João
Tem Chica Cancão, Didi Sebastiana
Dedé e Joana na palma da mão
Isso assim é coco nunca foi baião.

(refrão)


Existem ainda o coco de zambê, também conhecido como bambelô, o coco de praia e o zambê de pau furado, que são típicos do Rio Grande do Norte.

Entre os grandes representantes do coco estão: Selma do Coco, Raízes de Arcoverde; Amaro Branco, Jackson do Pandeiro, Jacinto Silva e dona Glorinha do Coco.

Coco de Embolada – Jacinto Silva:



Reproduzi acima a música, interpretada por Jacinto Silva, que sempre está a nos alertar que o coco de embolada não é coco de roda, numa gravação estupenda do puro coco.

Embolada, Coco-de-improviso, Coco de Embolada ou Coco de repente são espécies derivadas do coco. Consiste em uma dupla de “cantadores” que, ao som enérgico e “batucante” do pandeiro, montam versos métricos, rápidos e improvisados onde um tenta diminuir a imagem do que lhe faz dupla com versos ofensivos, famosos pelos palavrões e insultos utilizados.

O ofendido deve improvisar uma resposta rápida e ao mesmo tempo bem bolada. Caso não consiga, seu par é coroado triunfante. Não deve ser confundido com cantoria onde a música e a resposta são lentas, melodiosas e o tema principal é a vida cotidiana.

Para finalizar, este ótimo pot-pourri, de Lenine com dona Selma do Coco, que considero delicioso.

Coco do Norte/Quadro Negro/Xuxu Beleza/Sina de Cigarra/Tum Tum:




Fontes: ‘ONordeste.com’; ‘Obvius’; ‘Youtube’; ‘Wikipedia’; ‘Dicionário Ricardo Cravo Albin’; Fundaj – Fundação Joaquim Nabuco.

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