Por Rafael Machado Saldanha
RESUMO: Este trabalho pretende discutir a evolução do uso da sigla MPB (Música Popular Brasileira), desde sua popularização, nos anos 60, até os dias de hoje, dando ênfase para sua ramificação recente conhecida como “Nova MPB”. Também se buscou compreender como se dá a recepção por parte do público brasileiro, procurando contrastar as informações obtidas nas pesquisas bibliográficas com a opinião de ouvintes de MPB reunidos através de um fórum da Internet. Palavras-Chave: Música Brasileira – Estudos da Recepção – MPB – Nova MPB
3.2.5. Quinta discussão
Nesse tópico, o objetivo foi verificar a existência de algumas figuras na MPB que pudessem emprestar seu prestígio outros artistas, servindo assim como verdadeiras instituições legitimadoras dentro do campo da música brasileira. Uma vez confirmada a existência destas, identificá-los junto ao público consumidor, representados pelos usuários da comunidade. A questão foi introduzida da seguinte forma:
Após as primeiras respostas, percebi que a questão necessitaria ser brevemente esclarecida. Os usuários gostavam de se afirmar como “não-influenciáveis”, o que poderia dificultar a obtenção de resultados. “Regiane Casseb” chegou a dizer em seu primeiro comentário:
Por isso, achei que seria proveitoso fazer uma emenda à questão inicial, explicitando que não se tratava de buscar as influências de cada um ali, e sim de algo mais amplo:
Isso foi suficiente para que a discussão retomasse seu foco e pudesse seguir de maneira proveitosa. As opiniões ficaram divididas. A maior parte afirmou acreditar na existência de tais figuras, embora alguns fizessem questão de ressaltar que o poder destas seria limitado, dizendo que nem todos os artistas novos passam por esse tipo de “julgamento”.
O comentário do usuário “Cleiton Profeta s” demonstra como essa influência é percebida:
A ironia do usuário “Carlos (Swancide)” dá a entender que haveria um objetivo maior, se assimilação e domesticação, no uso dessa influência:
“Regianne Casseb” reconhece a influência destes, mas acredita que eles a exerçam de maneira mais indireta.
Porém, muitos colocam um outro elemento como mais importante nesse processo de perda e ganho de prestigio por parte dos artista: a mídia. Mais de um comentário foi finalizado com frases do tipo “acho que a Globo que tem esse poder” (“BiA ღ Sampaio”) ou “Mas a imprensa tem mais poder...” (“Damares ...”). Vemos aqui o porquê da preocupação que os membros da comunidade têm com o “jabá”: justamente por acreditarem que a mídia é a verdadeira instância legitimadora dentro do campo musical. De forma contundente, “MdC Suingue” diz acreditar que mesmo artistas experientes e renomados são “usados” pela mídia:
Pessimismo à parte, muitos elencaram quem seriam os artistas que ocupariam este espaço (nem que seja para serem “manipulados pela mídia”, como pensa “MdC Suingue”). O comentário do usuário “Caio Varela” nos dá uma noção de como a audiência acredita que se obtenha tal legitimidade.
Além dos já citados na fala de “Caio Varela”, também foram mencionados Chico Buarque, Roberto Carlos, Maria Bethânia e Gal Costa. Foi cogitado o nome de João Gilberto, porém este foi considerado sem visibilidade o suficiente no país.
3.2.6. Sexta discussão
A última discussão proposta diz respeito à relação entre música brasileira e música estrangeira, questão essa que vem sendo debatida praticamente desde os anos 60. Na comunidade “Grupo de Pesquisa - MPB”, o assunto apareceu da seguinte forma:
O objetivo aqui era novamente confrontar as opiniões expressas na primeira discussão com uma situação onde estes temas aparecessem de maneira diferente. Podemos lembrar que na primeira consulta, havia uma opção que definia a MPB como “Somente música ligada às tradições culturais do Brasil, independente da qualidade”. Essa foi a alternativa menos escolhida dentre as oferecidas, o que nos leva a crer que há uma boa tolerância com o intercâmbio de informações musicais entre a MPB e a música estrangeira – ao contrário do que ocorria em alguns setores da música em princípios dos anos 60. Porém, essa discussão nos trouxe algumas ressalvas.
A princípio, todos os usuários consideraram saudável a influência da música de outros países sobre a música nacional. Uma ressalva é feita por “Caio Varela”:
Porém, de maneira geral, a maioria dos membros da comunidade tem uma visão aparentemente favorável à troca de influências com o mundo ao contrário de um sistema mais voltado para si próprio. O usuário “Fábio Eça” resume bem o que foi dito sobre esse ponto na comunidade:
A partir daqui, as opiniões começam a divergir. “Caio Varela” acredita que algum tipo de proteção é necessária à música brasileira:
O comentário de “Caio Varela” sobre as cotas é rechaçado na própria comunidade por “Fábio Eça”:
Vários usuários mandaram mensagens concordando com a opinião de “Fábio Eça”. Porém, apesar de discordarem quanto às medidas protecionistas, os usuários concordam no que diz respeito ao conteúdo das rádios brasileiras. “Caio Varela” comentou:
Vemos aqui que o problema não está somente na nacionalidade das músicas, e sim no fato delas não se enquadrarem nos padrões de exigência de qualidade. O uso da expressão “mais populares” para desqualificar as músicas difundidas pela rádio deixam transparecer que, embora não tenham declarado na primeira discussão, a opinião de “.Gustavo Oliveira.” – de que a MPB seria somente música de boa qualidade e que essa qualidade se estabeleceria através de um certo intelectualismo e sofisticação – não seria tão isolada assim. “Fábio Eça” chega a fazer um comentário que nos faz também rever a baixa adesão ao terceira opção da primeira discussão – que dizia que MPB é música ligada às tradições brasileiras. O usuário disse:
Outros usuários concordaram com essa opinião, acusando alguns artistas de serem meros “imitadores”. O único contraponto em direção à concepção mais ampla de MPB, que parecia ter sido predominante na primeira discussão, vem da usuária “Regianne Casseb”, que diz:
Alguns poucos apoiaram a opinião de “Regianne Casseb”, mas, no fim, a opinião predominante foi a de “Fábio Eça” e “Caio Varela”, de que não basta ser brasileira para a música ser considerada como MPB.
3.3. Resultados
Ao final das seis discussões, além dos pontos já comentados, pudemos perceber que alguns pontos permeiam toda a reflexão sobre o assunto feita pelo público. Fica evidente que, mesmo para aqueles a que consomem, definir o que é a MPB não é uma tarefa fácil. Além disso, embora se tente evitar, muitos preconceitos – reprimidos quando se produz um discurso consciente – afloram ao lidar com questões práticas no que se refere à música. Vemos que por mais que haja um discurso que valorize o popular, boa parte desse público interessado em MPB se enxerga de maneira diferenciada, uma espécie de elite, ou – parafraseando Napolitano – um gueto do “bom gosto” dentro do campo musical brasileiro.
Além disso, vemos uma postura desconfiada quanto a atuação da mídia dentro do campo musical. Mais do que qualquer outra figura, é ela que é apontada como a responsável pela formação do gosto da massa, embora o ouvinte de MPB tenha a tendência de se colocar fora desse raio de influência – ou seria acima?
3.2.5. Quinta discussão
Nesse tópico, o objetivo foi verificar a existência de algumas figuras na MPB que pudessem emprestar seu prestígio outros artistas, servindo assim como verdadeiras instituições legitimadoras dentro do campo da música brasileira. Uma vez confirmada a existência destas, identificá-los junto ao público consumidor, representados pelos usuários da comunidade. A questão foi introduzida da seguinte forma:
Em muitas áreas de atuação, algumas figuras atingem um tamanho grau de influência
(ou
legitimidade) que uma palavra deles pode servir para transferir um pouco
dessa
legitimidade para o referido. Por exemplo: Se um escritor como José Saramago
vira e fala
que o escritor novato X é "muito bom", provavelmente as pessoas procurarão
a obra de X
com mais interesse e com um olhar diferenciado, mais benevolente.
Em compensação, se
ele fala que X é "horrível", praticamente sepulta a carreira do escritor...
Isso também acontece na música brasileira e, sendo mais específico, na MPB?
Quem
seriam essas figuras com autoridade suficiente para abrirem
a boca e elevar ou acabar com
um artista?
Após as primeiras respostas, percebi que a questão necessitaria ser brevemente esclarecida. Os usuários gostavam de se afirmar como “não-influenciáveis”, o que poderia dificultar a obtenção de resultados. “Regiane Casseb” chegou a dizer em seu primeiro comentário:
Mas, e novamente digo, no meu caso, opinião de ninguém é suficiente
para fazer gostar ou
não de um artista.
Não costumo sofrer este tipo de influência. (...)
"Quem seriam essas figuras com autoridade suficiente para abrirem
a boca e elevar ou
acabar com um artista?"
Para mim é: NINGUÉM.
Por isso, achei que seria proveitoso fazer uma emenda à questão inicial, explicitando que não se tratava de buscar as influências de cada um ali, e sim de algo mais amplo:
Corrigindo
Não quis dizer que seriam pessoas que influenciam vocês, e sim figuras
que influenciam o
mercado em geral, o público em geral. Se um fulano X é indicado pelo
medalhão Y, ele
tem mais espaço na mídia?
Vende mais? Existem figuras com esse "poder"?
Isso foi suficiente para que a discussão retomasse seu foco e pudesse seguir de maneira proveitosa. As opiniões ficaram divididas. A maior parte afirmou acreditar na existência de tais figuras, embora alguns fizessem questão de ressaltar que o poder destas seria limitado, dizendo que nem todos os artistas novos passam por esse tipo de “julgamento”.
O comentário do usuário “Cleiton Profeta s” demonstra como essa influência é percebida:
Infelizmente isso acontece... São os "deuses" criados pela mídia.
Caetano [Veloso] falou
que Led Zeppelin era brega e muita gente repetiu... Isso é triste.
Comigo funciona do modo oposto: o fato do Chico ter cantando
com o [cantor sertanejo]
Zezé di Camargo o fez descer um degrau do Olimpo...
A ironia do usuário “Carlos (Swancide)” dá a entender que haveria um objetivo maior, se assimilação e domesticação, no uso dessa influência:
A MPB vive do compadrio e do escárnio público. Os velhos criticam
os novos, até que os
novos se juntem aos velhos e criem a Nova MPB.
“Regianne Casseb” reconhece a influência destes, mas acredita que eles a exerçam de maneira mais indireta.
Na verdade, vejo poucos medalhões preocupados em avalizar artista
hoje em dia. Caetano
[Veloso], com toda a sua 'generosidade' não é levado a sério.
Talvez esta indicação venha mais na forma de participação
em discos ou gravação de
músicas... Como Gal [Costa], que ainda grava
gente nova e acaba dando visibilidade.
Milton [Nascimento] também se
faz bastante de escada para o pessoal mais novo.
Porém, muitos colocam um outro elemento como mais importante nesse processo de perda e ganho de prestigio por parte dos artista: a mídia. Mais de um comentário foi finalizado com frases do tipo “acho que a Globo que tem esse poder” (“BiA ღ Sampaio”) ou “Mas a imprensa tem mais poder...” (“Damares ...”). Vemos aqui o porquê da preocupação que os membros da comunidade têm com o “jabá”: justamente por acreditarem que a mídia é a verdadeira instância legitimadora dentro do campo musical. De forma contundente, “MdC Suingue” diz acreditar que mesmo artistas experientes e renomados são “usados” pela mídia:
Tem sempre o guru da vez da mídia preguiçosa.
De vez em quando os editores inventam um 'oráculo' que vira porta
voz da ignorância da
própria imprensa.
À ele é perguntado tudo: desde dicas
de moda até o futuro da nação. (...)
Já foi o Caetano [Veloso], o Fausto Fawcett,
o Nelson Motta, o Betinho, o Romário...
Hoje em dia é o último eliminado do BBB.
Pessimismo à parte, muitos elencaram quem seriam os artistas que ocupariam este espaço (nem que seja para serem “manipulados pela mídia”, como pensa “MdC Suingue”). O comentário do usuário “Caio Varela” nos dá uma noção de como a audiência acredita que se obtenha tal legitimidade.
Os artistas que tem esse "poder" geralmente são artistas com grande popularidade,
com
anos de carreira, que conseguiram seu lugar por insistência ou por serem bons mesmo.
Quem tem esse poder no Brasil hoje é Gilberto Gil, Caetano Veloso e, até,
Nando Reis,
que é uma espécie de "ditador" da música feita para ser pop, mas que
ainda assim critica
artistas como Vanessa Camargo e Sandy & Junior,
talvez por não possuírem profundidade
na sua música.
Além dos já citados na fala de “Caio Varela”, também foram mencionados Chico Buarque, Roberto Carlos, Maria Bethânia e Gal Costa. Foi cogitado o nome de João Gilberto, porém este foi considerado sem visibilidade o suficiente no país.
3.2.6. Sexta discussão
A última discussão proposta diz respeito à relação entre música brasileira e música estrangeira, questão essa que vem sendo debatida praticamente desde os anos 60. Na comunidade “Grupo de Pesquisa - MPB”, o assunto apareceu da seguinte forma:
O que vocês acham da influência estrangeira sobre a música brasileira?
É necessário
tomar alguma medida protecionista sobre ela?
As rádios tocam músicas estrangeiras
demais? A exposição a estes ritmos
deturpa ou deforma de alguma forma a música
brasileira?
O objetivo aqui era novamente confrontar as opiniões expressas na primeira discussão com uma situação onde estes temas aparecessem de maneira diferente. Podemos lembrar que na primeira consulta, havia uma opção que definia a MPB como “Somente música ligada às tradições culturais do Brasil, independente da qualidade”. Essa foi a alternativa menos escolhida dentre as oferecidas, o que nos leva a crer que há uma boa tolerância com o intercâmbio de informações musicais entre a MPB e a música estrangeira – ao contrário do que ocorria em alguns setores da música em princípios dos anos 60. Porém, essa discussão nos trouxe algumas ressalvas.
A princípio, todos os usuários consideraram saudável a influência da música de outros países sobre a música nacional. Uma ressalva é feita por “Caio Varela”:
Acredito que apenas a influência, se adicionada a nossa música não trará nenhum
problema, o que não pode ocorrer é que deixem a música brasileira cair no esquecimento.
Porém, de maneira geral, a maioria dos membros da comunidade tem uma visão aparentemente favorável à troca de influências com o mundo ao contrário de um sistema mais voltado para si próprio. O usuário “Fábio Eça” resume bem o que foi dito sobre esse ponto na comunidade:
[A influência estrangeira]É inevitável. É saudável. Não se pode isolar
um país
culturalmente do resto do mundo. Bobagem pensar assim.
Quanto à qualidade do que
entra, o Brasil também produz porcarias.
Então não faz diferença. Além do mais considero
a música como uma linguagem
e uma arte universal. Nenhum tipo de arte ou produto
cultural
é propriedade exclusiva de um país ou outro.
A partir daqui, as opiniões começam a divergir. “Caio Varela” acredita que algum tipo de proteção é necessária à música brasileira:
Sim, partindo do princípio de que muitas rádios dão prioridade à música
internacional, e
que a maioria das pessoas se deixa guiar pela cultura difundida nas mesmas,
além de
canais como MTV, Rede Globo... Deveria haver cotas impondo pelo
menos 75% de
música nacional nas nossas rádios. Ao menos na televisão as cotas
já são uma realidade
em países como a França [50%], Canadá [50%] e Estados Unidos
da América [75%], só
pra citar alguns exemplos.
O comentário de “Caio Varela” sobre as cotas é rechaçado na própria comunidade por “Fábio Eça”:
Se isso acontecesse seria um absurdo, um retrocesso. Isso se chama CENSURA!!
Não
quero ninguém me restringindo de ouvir o que eu gosto, seja americano,francês, chinês...
Essas medidas de restringir programações estrangeiras são reacionárias, totalitárias,
parece
coisa de ditador populista. (...) Essa neurose e obsessão em querer proibir,
restringir e
censurar a música estrangeira - seja ou não comercial - é uma ideia boboca.
Vários usuários mandaram mensagens concordando com a opinião de “Fábio Eça”. Porém, apesar de discordarem quanto às medidas protecionistas, os usuários concordam no que diz respeito ao conteúdo das rádios brasileiras. “Caio Varela” comentou:
As rádios tocam muita música estrangeira, e são apenas músicas feitas para vender,
nada
que acrescente cultura ao povo brasileiro. Quando eles tocam alguma música nacional
tocam apenas as mais populares, impossibilitando a divulgação de inúmeros artistas.
Vemos aqui que o problema não está somente na nacionalidade das músicas, e sim no fato delas não se enquadrarem nos padrões de exigência de qualidade. O uso da expressão “mais populares” para desqualificar as músicas difundidas pela rádio deixam transparecer que, embora não tenham declarado na primeira discussão, a opinião de “.Gustavo Oliveira.” – de que a MPB seria somente música de boa qualidade e que essa qualidade se estabeleceria através de um certo intelectualismo e sofisticação – não seria tão isolada assim. “Fábio Eça” chega a fazer um comentário que nos faz também rever a baixa adesão ao terceira opção da primeira discussão – que dizia que MPB é música ligada às tradições brasileiras. O usuário disse:
Música brasileira é uma coisa, música cantada em português é outra.
O chamado "rock
nacional" nunca vai deixar de ser música americana.
A chamada música “sertaneja” atual
é puramente música americana.
Todos os elementos estrangeiros quando usados de forma
pesada e predominante
já excluem a condição de música brasileira. E é isso o que mais
existe hoje na mídia: brasileiros fazendo música americana em português.
A música
brasileira de fato está bem guardada e nunca será deformada
ou ameaçada, pois ela já foi
estabelecida com todas as suas
características e ainda vem sendo produzida por muita
gente boa.
Outros usuários concordaram com essa opinião, acusando alguns artistas de serem meros “imitadores”. O único contraponto em direção à concepção mais ampla de MPB, que parecia ter sido predominante na primeira discussão, vem da usuária “Regianne Casseb”, que diz:
Dependendo da ótica, podemos dizer que tudo aqui é estrangeiro, salvo
a música indígena,
nativa. Acho ótimo a 'influência estrangeira',
desde que ela seja boa.
Influências são somente, pura e simplesmente,
influências. Não são determinantes para se
fazer música boa ou ruim.
Vivemos num tempo em que fronteiras não são necessárias.
Dificilmente uma cultura
verdadeiramente pátria se 'deturpa'.
Ela incorpora ao longo dos anos influências, de forma
agregadora
e não deformadora. Principalmente se lembrarmos que o brasileiro
tem uma
arte extremamente rica e variada,
exatamente pela miscigenação do país.
Alguns poucos apoiaram a opinião de “Regianne Casseb”, mas, no fim, a opinião predominante foi a de “Fábio Eça” e “Caio Varela”, de que não basta ser brasileira para a música ser considerada como MPB.
3.3. Resultados
Ao final das seis discussões, além dos pontos já comentados, pudemos perceber que alguns pontos permeiam toda a reflexão sobre o assunto feita pelo público. Fica evidente que, mesmo para aqueles a que consomem, definir o que é a MPB não é uma tarefa fácil. Além disso, embora se tente evitar, muitos preconceitos – reprimidos quando se produz um discurso consciente – afloram ao lidar com questões práticas no que se refere à música. Vemos que por mais que haja um discurso que valorize o popular, boa parte desse público interessado em MPB se enxerga de maneira diferenciada, uma espécie de elite, ou – parafraseando Napolitano – um gueto do “bom gosto” dentro do campo musical brasileiro.
Além disso, vemos uma postura desconfiada quanto a atuação da mídia dentro do campo musical. Mais do que qualquer outra figura, é ela que é apontada como a responsável pela formação do gosto da massa, embora o ouvinte de MPB tenha a tendência de se colocar fora desse raio de influência – ou seria acima?
Referências bibliográficas:
ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas: reflexões sobre a origem e a expansão do nacionalismo. Lisboa, Edições 70, 1991.
ANDRADE, Oswald de. Obras completas VI: Do Pau-Brasil à Antropofagia e às Utopias – Manifestos, teses de Concursos e ensaios. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970.
AUTRAN, Margarida. “O Estado e o músico popular: de marginal a instrumento”. IN: NOVAES, Adauto. Anos 70: ainda sob a tempestade. Rio de Janeiro: Aeroplano: Ed. Senac Rio, 2005.
BAHIANA, Ana Maria. “A ‘linha evolutiva’ prossegue: a música dos universitários”. IN: NOVAES, Adauto. Anos 70: ainda sob a tempestade. Rio de Janeiro: Aeroplano: Ed. Senac Rio, 2005.
----------. “Importação e assimilação: rock, soul, discotheque”. IN: NOVAES, Adauto. Anos 70: ainda sob a tempestade. Rio de Janeiro: Aeroplano: Ed. Senac Rio, 2005.
----------. “Música instrumental – O caminho do improviso à brasileira” IN: NOVAES, Adauto. Anos 70: ainda sob a tempestade. Rio de Janeiro: Aeroplano: Ed. Senac Rio, 2005. ----------. Almanaque anos 70. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
----------. Nada será como antes: MPB anos 70 – 30 anos depois. Rio de Janeiro: Editora Senac Rio, 2006.
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2004.
BARROS E SILVA, Fernando de. Chico Buarque. São Paulo: Publifolha, 2004.
BORGES, Márcio. Os sonhos não envelhecem – Histórias do Clube da Esquina. São Paulo: Geração Editorial, 1996.
BOURDIEU, Pierre. As regras da arte: gênese e estrutura do campo literário. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
----------. O poder simbólico, Rio de Janeiro, Difel/Bertrand Brasil, 1989.
CABRAL, Sérgio. “A figura de Nara Leão”. IN: DUARTE, Paulo Sergio; NAVES, Santuza Cambraia. Do samba-canção à tropicália. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 2003.
CALADO, Carlos. Tropicália: A história de uma revolução musical. São Paulo: Ed. 34, 1997.
CASTRO, Ruy. Chega de saudade – A história e as histórias da Bossa Nova. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
CAVALCANTI, Maria Laura. Entendendo o folclore e a cultura popular. Capítulo 9 do Informe Brasil, do MinC. Rio de Janeiro, inédito (cópia da autora).
CÍCERO, Antonio. “O Tropicalismo e a MPB” IN: DUARTE, Paulo Sergio; NAVES, Santuza Cambraia. Do samba-canção à tropicália. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 2003.
CHUVA, Márcia. Fundando a nação: a representação de um Brasil barroco, moderno e civilizado. In: Topoi, UFRJ, v.4, n.7, jul-dez, 2003, p. 313-333.
CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru, Edusc, 2002.
DAPIEVE, Arthur. BRock: O rock brasileiro dos anos 80. São Paulo: Editora 34, 1995.
FAVARETTO, Celso. “Tropicália: Política e cultura”. IN: DUARTE, Paulo Sergio; NAVES, Santuza Cambraia. Do samba-canção à tropicália. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 2003.
FREIRE FILHO, João. “Música, identidade e política na sociedade do espetáculo”. In Interseções — Revista de Estudos Interdisciplinares. Dossiê Antropologia e Comunicação de Massa. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais — UERJ, 2003, ano 5, no 2, pp. 303- 327.
FRIEDLANDER, Paul. Rock and Roll: uma história social. Rio de Janeiro: Record, 2002.
GARCÍA CANCLINI, Nestor. Consumidores e cidadãos : conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996. GIRON, Luís Antônio. Minoridade crítica. São Paulo: Ediouro, 2004.
GRAMSCI, Antonio. Los intelectuales y la organizacion de la cultura. Buenos Aires: Ed. Lautaro, 1960.
GUIBERNAU I BERDUN, M. Montserrat. Nacionalismos: o estado nacional e o nacionalismo no século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
HOBSBAWM, Eric J. Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1990.
----------. Era dos extremos : o breve seculo XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
HOBSBAWM, Eric J., RANGER, Terence. O.. A Invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Impressões de viagem : CPC, vanguarda e desbunde : 1960/1970. São Paulo: Brasiliense, 1981.
JANOTTI JR., Jeder. Gêneros Musicais, Performance, Afeto e Ritmo : uma proposta de análise midiática da música popular massiva. Apresentado no IV Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom. Porto Alegre: 2004.
JAMESON, Frederic. “Pós-modernidade e sociedade de consumo”. IN: Novos Estudos. São Paulo: CEBRAP. 1985. LYRA, Carlos. “O CPC e a Canção de Protesto”. IN: DUARTE, Paulo Sergio; NAVES, Santuza Cambraia. Do samba-canção à tropicália. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 2003.
MACIEL, Luiz Carlos. Nova Consciência: jornalismo contracultural – 1970/72. Rio de Janeiro: Editora Eldorado, 1973.
MARTINS, Gustavo B. No rastro do dendê: Influências no jornalismo cultural, pela visão dos jornalistas. In: http://www.tognolli.com/html/mid_gum.htm. Visitado em 19/04/2006.
MÁXIMO, João. Discoteca brasileira do século XX – 1900 - 1949. Rio de Janeiro: Infoglobo Comunicações S.A., 2007a.
----------. Discoteca brasileira do século XX – Anos 50. Rio de Janeiro: Infoglobo Comunicações S.A., 2007b.
MELLO, Zuza Homem de. SEVERIANO, Jairo. A canção no tempo – 85 anos de músicas brasileiras – Vol. 1: 1901 –1958. São Paulo: Ed. 34, 1997.
----------. A canção no tempo – 85 anos de músicas brasileiras – Vol. 2: 1958 –1985. São Paulo: Ed. 34, 1998.
MENESCAL, Roberto. “A Renovação estética da Bossa Nova”. IN: DUARTE, Paulo Sergio; NAVES, Santuza Cambraia. Do samba-canção à tropicália. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 2003.
MORICONI, Ítalo, “Tropicalismo, música popular e poesia” IN: DUARTE, Paulo Sergio; NAVES, Santuza Cambraia. Do samba-canção à tropicália. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 2003.
MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX: Neurose. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997a.
----------. Cultura de massas no século XX: Necrose. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997b.
MOTTA, Nélson. Noites tropicais – Solos, improvisos e memórias musicais. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
NAPOLITANO, M. “O conceito de ‘MPB’ nos anos 60”. IN: História: questões & debates. Ano 16- nº31, julho/dezembro 1999. Curitiba: Editora UFPR, 1999;
----------. Seguindo a canção: indústria cultural e engajamento político na MPB (1959/1969). São Paulo: Anna Blume / FAPESP, 2001
----------. A música popular brasileira (MPB) dos anos 70: resistência política e consumo cultural. Trabalho apresentado do IV Congresso de la Rama latinoamericano del IASPM. Cidade do México, Abril de 2002.
----------. “A canção engajada nos anos 60”. IN: DUARTE, Paulo Sergio; NAVES, Santuza Cambraia. Do samba-canção à tropicália. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 2003.
NAVES, Santuza Cambraia; VELHO, Gilberto; MUSEU NACIONAL (BRASIL). Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. Objeto não identificado: a trajetória de Caetano Veloso. 1988.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social NAVES, Santuza Cambraia. “Da Bossa Nova à tropicália: contensão e excesso na música popular” IN: Revista Brasileira de Ciências Sociais. Volume 15, número 43, junho de 2000. São Paulo, 2000.
----------. Da bossa nova à tropicália. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2001. ----------. “A canção crítica” IN: DUARTE, Paulo Sergio; NAVES, Santuza Cambraia. Do samba-canção à tropicália. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 2003.
NUNES, Benedito. Oswald Canibal. São Paulo, Perspectiva, 1979. OLIVEIRA, Lúcia Lippi. Patrimônio: de histórico e artístico a cultural. Capítulo 7 do Informe Brasil, do MinC. Rio de Janeiro, inédito (cópia da autora).
OLIVEN, Ruben. “Mitologias da nação”. In: FÉLIX, Loiva Otero e ELMIR, Cláudio P. (Org.). Mitos e heróis. Construção de imaginários. Porto Alegre, UFRGS, 1998. pp.23-39
ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira. São Paulo, Brasiliense, 1988. ----------.Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 1994.
POLISTCHUK, Ilana; TRINTA, Aluísio Ramos. Teorias da comunicação: o pensamento e a prática da Comunicação Social. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
RIDENTI, Marcelo. “Revolução brasileira na canção popular”. IN: DUARTE, Paulo Sergio; NAVES, Santuza Cambraia. Do samba-canção à tropicália. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 2003.
ROSTOLDO, Jadir Peçanha. “Expressões culturais e sociedade: O caso do Brasil nos anos 1980. IN: HAOL - História actual Online, Núm. 10. 2006.
SANDRONI, Carlos. “Adeus à MPB”. IN: CAVALCANTE, Berenice, STARLING, Heloísa M. M., EISENBERG, José (Org.). Decantando a República: inventário histórico e político da canção popular moderna brasileira. V.1. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004.
----------. “Rediscutindo gêneros no Brasil oitocentista – Tangos e Habaneras”. IN: ULHÔA, Martha, OCHOA, Ana Maria (Org.). Música Popular na América Latina – Pontos de escuta. Porto Alegre: Editora da URGS, 2005.
SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é Pós-Moderno. São Paulo: Brasiliense, 2006.
SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo. Rio de Janeiro: Mauad, 1998. SONTAG, Susan. Notes on ‘Camp’. 1964. Disponível em: http://interglacial.com/~sburke/pub/prose/Susan_Sontag_-_Notes_on_Camp.html
SOVIK, Liv. “Tropicália rex – marco histórico e prisma contemporâneo”. IN: DUARTE, Paulo Sergio; NAVES, Santuza Cambraia. Do samba-canção à tropicália. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 2003.
TELES, José. Do frevo ao manguebeat. São Paulo: Editora 34, 2000.
TINHORÃO, José Ramos. História social da música popular brasileira. São Paulo: Ed. 34, 1998.
TOM ZÉ. Com defeito de fabricação (encarte do CD). Luaka Bop/ WEA. 1998. 68
TRAVASSOS, Elizabeth. Modernismo e Música Brasileira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. , 2000. VELOSO, Caetano. Verdade Tropical. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
VIANNA, Hermano. O mistério do samba. Rio de Janeiro: J. Zahar: Ed. UFRJ, 1995.
WISNIK, José Miguel. “O minuto e o milênio ou Por favor, professor, uma década de cada vez”. IN: NOVAES, Adauto. Anos 70: ainda sob a tempestade. Rio de Janeiro: Aeroplano: Ed. Senac Rio, 2005.
WOODWARD, Kathryn. “Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual”. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000.
ZAN, José Roberto. Música Popular Brasileira, Indústria Cultural e Identidade. in EccoS Revista Científica. Ano 1, volume 3. São Paulo: UNINOVE, 2001. pp. 105-122
0 comentários:
Postar um comentário