Por Joaquim Macêdo Junior
OS MAIS IMPORTANTES CONJUNTOS MUSICAIS BRASILEIROS – SECOS E MOLHADOS
Secos e Molhados
Fecho hoje a trilogia do que considero os três grupos, bandas ou conjuntos que mais influenciaram gerações e períodos musicais no Brasil.
Falei até agora d’Os Mutantes, d’Os Novos Baianos e hoje trago aos nossos leitores os “Secos & Molhados”. Ao contrário dos pontos de contato e de vida que tive com as bandas anteriores, com “Os Secos…” não conto nenhuma história individual ou pontos de encontro ou de experiência comum.
Logo que vi a capa do primeiro disco, a sensação que foi um misto de indigestão e a visão da passagem bíblica de João Batista, que teve a cabeça decepada e colocada numa bandeja de prata, entregue a Salomé.
Entre o nojo das cabeças à mesa e a história de João Batista, fiquei mais constrangido com a parte bíblica.
Tempos depois confesso que ficava contemplando a capa, descobrindo seus detalhes, buscando mais sangue do que o que ali havia. Só me aquietei quando a Folha de São Paulo informou que, de acordo com pesquisa, aquela era a mais expressiva capa de discos brasileiros em todos os tempos. Ufa, pensei que só eu era doido!
Ainda não entrei na parte musical, que é a mais importante diferença dos ‘Secos’ para os demais grupos de então, porque, de fato, eles se fizeram diferenciar logo imediatamente pelas roupas extravagantes, trejeitos, androginia, alegria e libertinagem que os aproximavam de outro grupo, este teatral, “Dzi Croquettes” que começava a remexer as estruturas com atitudes e comportamentos de ruptura, neste caso em performances musicais e cênicas.
Também não ficaram de fora as comparações como as feitas com o grupo ‘Alice Cooper’, e depois Vicente Furnier, que abocanhou o nome do grupo para si, chamando-se ele próprio Alice Cooper.
A primeira formação do grupo consistia em João Ricardo (vocais, violão e harmônica), Ney Matogrosso (vocais) e Gerson Conrad (vocais e violão).
João havia criado a banda sozinho em 1970, até juntar-se com as outras formações nos anos seguintes ao primeiro grupo.
Flores Astrais
Mas isso era pouco, ao lado dessas estranhezas para o público careta da ocasião, iniciaram a apresentação de um repertório de canções como “O Vira”, “Sangue Latino”, “Assim Assado”, “Rosa de Hiroshima” que misturavam danças e canções do folclore português, como o Vira, a críticas à ditadura militar. Apresentavam a poesia de Cassiano Ricardo, Vinícius de Moraes, Oswald de Andrade, Fernando Pessoa e João Apolinário, pai de João Ricardo, mesclando com um rock pesado inédito do país, o que fez com que se tornassem um dos maiores fenômenos musicais do Brasil da época e um dos mais aclamados pela crítica em todos os tempos.
O álbum de estreia, de 1973, projetou o grupo no cenário nacional, vendendo mais de 700 mil cópias no país.
Desentendimentos financeiros fizeram a formação inicial se desintegrar em 1974, ano da gravação dos “Secos & Molhados II”. João Ricardo seguiu com a marca da banda.
O grupo está inscrito numa categoria privilegiada entre as bandas e músicos que levaram o Brasil da Bossa Nova à Tropicália e então para o rock brasileiro. Estilo que só floresceu com mais expressão nos anos 80.
Os dois primeiros álbuns de estreia incorporaram elementos novos à MPB, que vai da poesia o glam rock ao rock progressivo, servindo com referência fundamental para uma geração de bandas underground que não aceitavam a MPB como expressão.
Em 2007, o grupo continuou ganhando a atenção das novas gerações. A revista Rolling Stone Brasil posicionou o primeiro LP, como o 5º lugar na sua lista dos 100 Maiores discos da Música Brasileira.
Em 2008, ficou na posição 97 no “Los 250: Essential Albuns of All Time Latin Alternative – Rock Iberoamericano”.
O sucesso do grupo atraiu a atenção da mídia, que abriu várias participações na televisão. As mais relevantes foram os especiais do programa Fantástico, da TV Globo. Sempre apareciam com maquiagens inusitadas, roupas diferentes, sendo uma das primeiras e poucas bandas brasileiras a aderir ao glam rock (glamour no rock).
Em fevereiro de 1974, fizeram um concerto no Maracanãzinho que bateu todos os recordes de público, jamais visto no Brasil – enquanto o estádio comportava 30 mil pessoas, outra 90 mil ficaram do lado de fora.
Rosa de Hiroshima – Vinícius de Moraes, João Apolinário e Gerson Conrad.
Após o fim dos “Secos & Molhados”, os três membros seguiram carreira solo. Ney lançou, em 1975, o disco “Água do Céu-Pássaro” (recheado de experimentalismos musicais) e com o sucesso “América do Sul”. João Ricardo lançou, também em 1975, disco homônimo, mais conhecido como Pink Record. Gerson Conrad juntou-se a Zezé Motta e lançou um disco no mesmo ano.
João Ricardo adquiriu os direitos autorais sobre o nome “Secos & Molhados” e saiu à procura de novos músicos para formar novos grupos…
Semana que vem, tem mais.
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