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Um bate-papo com alguns dos maiores nomes da MPB e outros artistas em ascensão.

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Em novo canal no Youtube, Bruno Negromonte apresenta em informais conversas os mais distintos temas musicais.

domingo, 25 de dezembro de 2011

RITA GULLO, SIMPLES ASSIM...

Há pássaros que delicadamente buscam, ao trinar seu canto, alcançar o que melhor tem a oferecer aos nossos ouvidos; e mesmo de forma inconscientemente, nessa emissão revela-nos que na singeleza do seu gesto a beleza se faz presente, tal qual o inesquecível canto de Rita Gullo em seu coeso álbum de estreia.

Por Bruno Negromonte


Em um Brasil povoado por um número sem fim de pessoas talentosas, é natural que todos os dias surjam novos nomes dentro do cenário musical, porém poucos são aqueles que tornam-se perene o suficiente para poder carregar consigo alguns epítetos, isso geralmente vem a acontecer quando a carreira artística completa alguns anos de forma regular e esse sedimento vem a dar respaldo ao referido artista. Porém, ao conhecer esta cantora fui obrigado a não só mudar meus conceitos erroneamente formados, mas também concordar que neste caso especificamente o talento prevalece a partir de um conjunto maior, pois trata-se da soma de um talento nato, um repertório de primeira linha e de um carisma capaz de transformá-la em um dos mais promissores talentos desta segunda década do século XXI. Neste cenário musical contemporâneo brasileiro o destaque para o nome desta cantora é algo pateticamente previsível, Não acredita? se achar que trata-se de exagero de minha parte procure ouvir o álbum de estreia desta moça e veja o quanto ela impõe a sua marca já neste primeiro trabalho fonográfico, principalmente por ir de encontro as tendências mercadológicas atuais de intérprete, que consiste geralmente em trazer uma sonoridade comercialmente mais pop. A referida artista trata-se de Maria Rita Gullo, artista capaz de nos trazer o alento que almejávamos para endossar o coro dos contentes quando vislumbramos um promissor cenário musical brasileiro. O debute fonográfico de Rita Gullo chega a dar uma leve impressão de ter sido articulado minuciosamente desde a escolha de um arrebatador repertório até a participação das pessoas envolvidas no projeto. Porém é válido trazer ao conhecimento do grande público que o envolvimento da Rita com a arte não é algo que iniciou-se do dia para a noite.



Filha do escritor Ignácio de Loyola Brandão e natural de Araraquara (cidade localizada a cerca de 270 km de distância da capital do estado de São Paulo), ela traz como característica em sua bagagem um profundo conhecimento cultural adquirido a partir dos diversos contextos artísticos vividos e o interesse pela a música popular brasileira adquirido desde a infância pela convivência com os pais e parentes. A influência vem desde a avó Marize Gullo (que pertenceu ao Coral Araraquarense), passando pelas tias-avós Luisa Garita, Adelina Galera e Yolanda Lombardi a partir das incontáveis noites de embalo ao som de canções como "Saudade" e "Carinhoso". Nessa rotina musical cresceu ouvindo árias de ópera na voz de sua avó, uma ex-soprano, e clássicos da MPB ao lado de sua mãe; tudo isso acabou gerando na menina Rita uma arrebatadora paixão pela música, nutrida a princípio pelas aulas de canto lírico com a saudosa Leila Farah e posteriormente deixando-se arrebatar também pelo canto popular, onde estudou com ninguém menos que Ná Ozzetti. Assim se deixou levar pelo fascínio dos grandes nomes da MPB em acordes tocados em seu violão e das canções advindas das ondas dos rádios e apesar de, em dado momento, tentar se desviar das artes cursando história na PUC, não conseguiu se desvencilhar por completo e ao terminar a faculdade se viu envolta com ela novamente o que acabou a conduzindo ao curso de artes cênicas no Teatro Escola Célia Helena, onde posteriormente deixou envolver-se com música de maneira profissional. “Os diretores sempre me colocavam para cantar, e senti que essa era a maneira pela qual me expressava melhor.” relata. Somando essa decisão, a familiaridade com as letras e o seu conhecimento musical abrangente (que vai de Bossa Nova à Ópera), nada mais natural que tudo isso gerasse a segurança necessária para este primeiro álbum de Rita Gullo.

Como se não bastasse o magnânimo e afinado canto e a peculiar classe nas interpretações, a escolha do repertório do álbum se deu de maneira meticulosa, pois nos dois anos destinados à escolha a artista não procurou economizar nos grandes clássicos de nosso cancioneiro, conseguindo de maneira surpreendente não cair em lugar comum. "Esses compositores são todos que eu costumo escutar desde criança. Tenho um vínculo com música brasileira, porque meus pais sempre gostaram muito", diz ela. Essa característica faz-se de maneira marcante nesse debute fonográfico, chamando a atenção e tornando-se algo lenitivo para os nossos ouvidos. São 13 faixas onde a cantora dá total vazão ao lado intérprete de maneira afinada e acompanhada por grandes músicos. Rita parece tecer as letras e melodias, por vezes surradas, à sua voz; conseguindo torná-las, de maneira competente, quase que em novas a partir de uma interpretação sem vislumbres, tendo a seu favor o domínio do uso de sua técnica vocal aliado a força de sua simplicidade; e pesar desta fórmula não ser inédita, poucas intérpretes sabem utilizá-la moderadamente de maneira serena e elegante o suficiente que nos chamem a atenção como tem sido o trabalho de Gullo. O diferencial deste álbum é perceptível em cada uma das faixas presentes no álbum, como podemos averiguar já a partir da primeira faixa que é "Oração ao tempo" (Caetano Veloso), canção originalmente gravada em 1979 pelo próprio autor no álbum Cinema transcendental e posteriormente regravada por diversos nomes, traz a partir da suave e melodiosa voz de Rita a credencial para que seu nome figure no panteão das grandes intérpretes da nossa música. Sua força interpretativa parece não contentar-se em mostrar o melhor de si e nas faixas seguintes vai ganhando mais vigor, como por exemplo na canção "O cantador" (Dori Caymmi e Nelson Motta) música que consagrou Elis Regina nos idos anos de 1967 no Festival da Record e que agora, mais de 40 anos depois, ganha uma elegante interpretação de Rita.

O disco segue com a faixa "A Mulher de Cada Porto" (Chico Buarque e Edu Lobo), canção esta gravada originalmente por Gal Costa no álbum "O corsário do Rei" de 1985. Nesta regravação o compositor de "Vai passar" divide os vocais com a cantora que diz: “Queria fazer um dueto nessa canção e pensei em chamar um dos autores.”, conta e acaba confessando inclusive que sentiu medo na hora da gravação com Chico. “Na hora que fechou aquela portinha que fica um de frente para o outro no microfone, eu falei: “ai meu Deus o que eu estou fazendo aqui?”. Posteriormente vem a canção "Sueño con serpientes" (do cubano Silvio Rodriguez) também gravada pela saudosa Mercedes Sosa (1935 - 2009) e Milton Nascimento no álbum "Corazón Americano", de 1985. O desfile de clássicos continua com "Cruzada" (Tavinho Moura e Márcio Borges) com destaque para a flauta de Teco Cardoso nesta canção também gravada por Beto Guedes no álbum "Sol de primavera" de 1979; "Pedra e Areia" (Lenine e Dudu Falcão), onde a artista expressa técnicas de sua formação lírica a partir de notas mais agudas e "Era de amar" do cantor e compositor uruguaio Jorge Drexler, versão considerada por muitos melhor do que a do próprio autor. Nesta leva de canções Gullo gravou também uma versão mais intimista da canção “Each and Everyone”, música esta que faz parte do repertório da banda britânica Everything But The Girl, "Sentinela" (Milton Nascimento) e o samba-canção "Nunca" de autoria do gaúcho Lupicínio Rodrigues, que ela entoa com uma emoção peculiar e que acabou tornando-se a primeira música de trabalho, gerando inclusive o vídeo clipe abaixo:



O disco continua com "María del Carmen" (Elson Fernandes e Consuelo de Paula), onde a cantora mostra que longe dos clássicos da MPB também se mostra habilidosa, figurando esta valsa como uma das mais belas gravações do álbum e por fim "Xote" (Gilberto Gil e Rodolfo Stroeter) canção originalmente gravada por Gil no álbum "Sol de Oslo" (1998) e que evoca as tradições nordestinas perpassando pelas cantorias, misticismo religioso e outras peculiaridades da região.

Todas as treze canções trazem como características os inovados arranjos que somados a precisão, requinte e sofisticação sabem muito bem explorar um lado mais intimista da cantora. Apesar de ser o primeiro álbum, nele a Rita consegue, mesmo sendo canções de inúmeras regravações, dar a elas um novo e arrojado alento a partir de melodias sofisticadas e originais, imprimindo na maioria delas uma marca pessoal criada a partir de um clima intimista.

Na elaboração do álbum são de extrema qualidade e dignos dos mais relevantes destaques os imensuráveis talentos dos músicos Toninho Ferraguti (acordeon), Hanilton Messias (piano acústico e elétrico), Sizão Machado (contrabaixo), Webster Santos (violões de aço, de 6 e 12 cordas), Nailor Proveta (clarinete), Edgard (tablas), Jonas Tatit (violão nylon), Adriano Busko, Guelo e Bré (percussões), Fábio Tagliaferri (violas), Hiles Moraes (gongas), Teco Cardoso (Flautas), Daniel D'alcântara (trumpet). O compositor e violonista Mário Gil além de tocar em algumas faixas, também assina a produção, direção musical e os arranjos, elaborados em parceria com o pianista Hanilton Messias (com exceção da faixa "O Cantador", assinado por Jonas Tatit).

Trata-se de um disco raro, feito por e para quem gosta de música. Não é exagero afirmar que o canto de Rita Gullo nos inebria já nos primeiros afinados acordes emitidos por sua voz; isso se dá talvez por atestarmos de cara que nela o talento é abundante e é perceptível a sua segurança em transitar pelos mais diferentes ritmos e tonalidades de maneira extremamente melodiosa sem deixar-se cair em nenhum lugar-comum (mesmo tendo um denso repertório como o que ela optou). Vale a pena anotar esse nome: Rita Gullo!


Maiores Informações:

Contatos para shows - contatoritagullo@gmail.com




Twitter - @ritagullo


O álbum pode ser adquirido nos seguintes endereços / telefones:


Livraria Saraiva - http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/3420638

Livraria Cultura - http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=22429410&sid=621223076131224110409289918

Discoplay - Edu - Tel: ( 31)3222-0046

Hipermercado Baronesa - Tel: (35) 3449-1711

Savarin II - Tel: (41) 3322-7006

Só Música - Tel: (41) 3222-4339

HPI - Novo - Tel: ( 21)3215-4943

Midimaxi Cds - Tel: (12) 3941-7575

Baratos Afins - Tel: (11) 3223-3629

Discoteka - Tel: (11) 5906-0456

Laserland - Tel: ( 11) 3082-0922

Livraria da Vila-Rod - Tel: (11) 3814-5811

Livraria do Espaço Unibanco SP - Tel: (11) 3141-2610

Mini Box - Tel: (11) 3101-7392

Musical Sto Antônio - Tel: (11) 3141-2929

Painel Musical - Tel: (11) 5561-9605

Ponto do Livro - Tel: (11) 2337-0506

Pop´s Discos - Tel: (11) 3083-2564

Zaccara Cds - Tel: (11) 3872-3849

sábado, 24 de dezembro de 2011

E QUE VENHA MAIS UM ANO!

Por Bruno Negromonte


Como de costume, ao longo desses anos de existência do Musicaria Brasil, venho aqui na última postagem do ano agradecer a participação e colaboração de todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a fazer do nosso espaço o sucesso que hoje ele é. No início, essa nossa ideia não tinha nada de inovador ou diferente que nos fizesse acreditar na sedimentação desse espaço mesmo havendo na época o ápice da democratização da música através da disponibilização digital de arquivos em formatos distintos, sendo o mais comum o MP3.

Sabíamos que se seguíssemos a fórmula do "mais do mesmo" talvez chegaríamos a números significativos e em pouco tempo teríamos a notoriedade desejada, porém preferimos abdicar dessas tão surradas fórmulas e buscar nosso lugar ao sol através de outras trilhas, suplantando tudo aquilo que nos desfavorecia através de conteúdos que atendiam ao nosso público leitor. É por isso que a cada novo ano o Musicaria Brasil sedimenta-se como um novo espaço alternativo para a música brasileira como um todo, tendo um público, que por vezes, alcança 7500 pessoas/mês.

Números simplórios, temos plena consciência disto, porém muito aquém daquilo que acreditávamos alcançar ao plantar a semente do nosso espaço. Porém, sós não seríamos nada e se hoje somos alguma coisa devemos em especial a muita gente que nos acompanham difundindo o nosso espaço, participando das pautas publicadas e sugerindo novas matérias através do nosso contato. Acho que serei extremamente injusto por não lembrar o nome de todos que aqui adentram e contribuem de uma forma ou de outra em nosso espaço, porém é preciso trazer alguns nomes relevantes para o nosso espaço ao longo de 2011 como o das cantoras Adriana Godoy, Amanda Garruth, Ana Paula da Silva, Antônia Adnet, Beatrice Mason, Clarissa Mombelli, Fernanda Cunha, Luisa Maita, Patricia Talem e Rita Gullo, além dos cantores André Mastro, Gonzaga Leal, João Sabiá, o Maestro Jarbas Cavendish e a Banda Pequi, o grupo Galocantô, o querido parceiro Ricardo Machado, Toninho Geraes, Raul Boeira, Wander Peixoto e Túlio Borges por toda solicitude ao longo desse profícuo ano e pelas belíssimas pautas que ilustraram o nosso espaço em 2011. Além dos nomes citados gostaria de agradecer também a colaboração de algumas assessorias de imprensa espalhadas pelo Brasil que somaram forças com o nosso espaço como a Perfexx, a Lu Stabile, a Guacira Abreu, a Bebel Prates, o Alexandre Candano, Betânia Lins, Janaina Linhares e a Lúcia Sá. Não poderia esquecer o nome de outras pessoas que também contribuíram para a nossa "fórmula de sucesso" a partir da divulgação do nosso espaço, como o do nosso divulgador mais atuante Jorge Macedo, o Jornal da Besta Fubana (através da pessoa do Luiz Berto), nossa leitora/participante lá do Piauí Laura Macedo, o estimado compositor que chegou ao nosso conhecimento ao longo de 2011 lá de Ilha Solteira Milton Bezerra da Silva, o Bezerra e os demais parceiros que vem nos acompanhando desde longas datas e que por infortúnio esquecemos aqui de citar.

Que venha o natal e o novo ano que se aproxima, e junto com eles tudo aquilo que almejamos, sem esquecer que só nós temos a capacidade de semear a paz e eliminar do nosso vocabulário termos como intolerância e desigualdade. Está em nossas mãos as ferramentas para fazermos um mundo melhor, só depende de nossa vontade para mudarmos nossa realidade. Um ano se iniciará e com ele novas esperanças surgirão para que possamos alimentá-la com atitudes que por mais compendiada que sejam, se fazem necessárias para iniciarmos com pé direito esse novo ciclo. Feliz natal e que em 2012 possamos estar juntos novamente divulgando nossa cultura e descobrindo talentos diversos nos mais recônditos lugares do nosso país.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

CÁSSIA ELLER, 10 ANOS DE SAUDADES

Há exatamente 10 anos morria Cássia Eller, um dos ícones do rock nacional dos anos 90. Sua morte, mesmo depois de uma década, ainda deixa uma importante lacuna na música brasileira contemporânea.

Por Bruno Negromonte


Todos já se preparavam para as festividades do reveillon de 2001, ano extremamente importante e que trouxe em definitivo a consagração como artista de Cássia Eller. Foi o ano em que a artista teve o projeto Acústico MTV vinculado ao seu nome e conseguiu estrondoso sucesso de crítica e público. Isso era possível atestar a partir da sua agenda de shows e das vendagens expressivas do álbum "Acústico MTV", disco este que pela primeira vez dava a artista o disco de platina duplo pela vendagem de quase um milhão de discos. O ano de 2002 prometia pois a agenda de Cássia já tinha várias datas reservadas. Seus 900 mil discos vendidos do último projeto pareciam que iriam além desses significativos números e essa sua consagração seria absoluta, porém toda essa exposição e agenda invariavelmente cheia trouxe graves consequências para a cantora que na tarde do dia 29 de dezembro de 2001 sentiu os efeitos dessa rotina estressante.

Por volta das 13 horas, Cássia Rejane Eller chegou a Clínica Santa Maria, no Bairro de Laranjeiras (zona sul do Rio de Janeiro) queixando-se, dentre outras coisas, de mal estar e enjôo. Segundo o empresário de Cássia os sintomas eram consequência de estresse provocado por excesso de trabalho, pois conforme seu relato ela havia feito em apenas sete meses mais de 100 shows. Ao dar entrada na clínica ela foi imediatamente acolhida na unidade coronariana chegando a ficar também no CTI (Centro de Terapia Intensiva). Segundo o boletim médico, assinado na época pelo diretor da clínica, Gedalias Heringer Filho, a cantora e instrumentista havia chegado à clinica "com quadro de desorientação e agitação, tendo evoluído rapidamente para depressão respiratória e parada cardiorrespiratória".



O único boletim médico divulgado na data da morte da cantora não revelou a causa morte da artista, fato que acabou gerando diversas versões para o fato, dentre os quais que ela havia falecido em consequência de uma overdose. Depois dos laudos periciais do IML carioca foi-se concluído a hipótese de causa morte um infarto do miocárdio.

Para a data não passar em brancas nuvens em novembro foi lançada a "Caixa Eller" que traz a discografia da artista mais um DVD (violões) sob coordenação e remasterização do Carlos Savalla e uma coletânea intitulada "Relicário" (produção do próprio Nando e Felipe Cambraia), que apresenta canções de Nando Reis interpretadas por Cássia (tendo inclusive como subtítulo As Canções Que o Nando Fez Pra Cássia Cantar). Dentre as 14 faixas presentes no álbum há 3 canções inéditas: "As Coisas Tão Mais Lindas", é uma versão que Cássia e Nando gravaram com voz e violão, ao vivo, para um site; "Um Tiro no Coração", da mesma apresentação; e "Baby Love", registro da pré-produção do disco Com Você... Meu Mundo Ficaria Completo, de 1999. Esta última tem a participação especial do filho da cantora com o falecido baixista Otávio Filho, Chicão (como Cássia chamava o filho Francisco Eller) dá uma força para a percussionista Lan Lan. Em 2012, em comemoração aos 50 anos que a artista completaria está previsto o lançamento de um documentário com a história de Cássia a partir de cenas pessoais da rockeira. Segundo o diretor Paulo Henrique Fontenelle será mostrada as mais diversas cenas com a artista indo desde o início da carreira ao auge alcançado por ela no ano de sua morte. O documentarista e diretor contou com materiais em VHS da família e de amigos para a produção do filme. A ideia, segundo ele, é mostrar um lado desconhecido de Cássia Eller.


Biografia

Segundo o site Wikipédia Cássia (filha de um sargento pára-quedista do Exército e de uma dona-de-casa) teve seu nome sugerido pela avó, devota de Santa Rita de Cássia e nasceu no Rio de Janeiro


Aos 6 anos mudou-se com a família para Belo Horizonte. Aos 10, foi para Santarém, no Pará. Aos 12 anos, voltou para o Rio. O interesse pela música começou aos 14 anos, quando ganhou um violão de presente. Tocava principalmente músicas dos Beatles. Aos 18, chegou a Brasília. Ali, cantou em coral, fez testes para musicais, trabalhou em duas óperas como corista, além de se apresentar como cantora de um grupo de forró. Também fez parte, durante dois anos, do primeiro trio elétrico de Brasília, denominado Massa Real, e tocou surdo em um grupo de samba. Trabalhou em vários bares (como o Bom Demais), cantando e tocando.

Despontou no mundo artístico em 1981, ao participar de um espetáculo de Oswaldo Montenegro.
Um ano mais tarde, foi para Minas Gerais, onde trabalhou como servente de pedreiro. "Fiz massa e assentei tijolos", contava. Na escola, não chegou a terminar o ensino médio, por causa também dos shows que fazia, não teria tempo para estudar.

Caracterizada pela voz grave e pelo ecletismo musical, interpretou canções de grandes compositores do rock brasileiro, como Cazuza e Renato Russo, além de artistas da MPB como Caetano Veloso e Chico Buarque, passando pelo pop de Nando Reis e o incomum de Arrigo Barnabé e Wally Salomão, até sambas de Riachão e rocks clássicos de Jimi Hendrix, Rita Lee, Beatles, John Lennon e Nirvana.

Teve uma trajetória musical bastante importante, embora curta, com algo em torno de dez álbuns próprios gravados no decorrer de doze anos de carreira. De fato, somente em 1989 sua carreira decolou. Ajudada por um tio seu, gravou uma fita demo com a canção "Por enquanto", de Renato Russo. Este mesmo tio levou a fita à PolyGram, o que resultou na contratação de Cássia pela gravadora. Sua primeira participação em disco foi em 1990, no LP de Wagner Tiso intitulado "Baobab".

Cássia Eller sempre teve uma presença de palco bastante intensa, assumia a preferência por álbuns gravados ao vivo e ela era convidada constantemente para participações especiais e interpretações sob encomenda, singulares, personalizadas.



Outra característica importante é o fato de ela ter assumido uma postura de intérprete declarada, tendo composto apenas três das canções que gravou: "Lullaby" (parceria com Márcio Faraco) em seu primeiro disco, Cássia Eller, de 1990 (LP com 60.000 cópias vendidas, sobretudo em razão do sucesso da faixa "Por enquanto" de Renato Russo); "Eles" (dela com Luiz Pinheiro e Tavinho Fialho) e "O Marginal" (dela com Hermelino Neder, Luiz Pinheiro e Zé Marcos), no segundo disco, O Marginal (1992).

Era homossexual assumida e morava com a parceira Maria Eugênia Vieira Martins, com a qual criava o filho Francisco (chamado carinhosamente de Chicão). Ela teve seu filho com o baixista Tavinho Fialho. Ele faleceu em um acidente automobilístico meses antes do nascimento de Francisco. Maria ficou responsável pela criação do filho de Cássia após a morte de sua companheira.

2001 foi um ano bastante produtivo para Cássia Eller. Em 13 de janeiro de 2001, apresentou-se no Rock in Rio III, num show em que baião, samba e clássicos da MPB foram cantados em ritmo de rock. Neste dia, o organograma de apresentação foi o seguinte: R.E.M., Foo Fighters, Beck, Barão Vermelho, Fernanda Abreu e Cássia Eller. 190 mil pessoas compareceram a esta apresentação.

Entre maio e dezembro, Cássia Eller fez 95 shows. O que levou a cantora a gravar um DVD, nos moldes de sua preferência - ao vivo: o Acústico MTV, gravado entre 7 e 8 de março, em São Paulo, no qual Cássia contou com o um grupo de alto nível técnico e artístico: Nando Reis (direção musical/autoria, voz e violão em "Relicário" / voz em "De Esquina" de Xis), os músicos da banda Luiz Brasil (direção musical /cifras / violões e bandolim), Walter Villaça (violões e bandolim), Fernando Nunes (baixolão), Paulo Calasans (piano acústico Hammond e órgão Hammond), João Vianna (bateria, surdo, ganzá, ralador e lâmina), Lan Lan (percussão) e Thamyma Brasil (percussão), os músicos convidados Bernardo Bessler (violino), Iura (Cello), Alberto Continentino (contrabaixo acústico), Cristiano Alves (clarinete e clarone), Dirceu Leite (sax, flauta e clarineta), entre muitos outros. Este álbum foi composto por 17 faixas, acrescidas do Making Of, galeria de fotos, discografia e i.clip. O álbum vendeu até hoje mais de 900 mil cópias e se tornou o maior sucesso da carreira de Cássia, sendo que até então, apesar das boas vendagens e da experiência, ela não era considerada uma cantora extremamente popular.



No fim do ano, ela se apresentaria na Praça do Ó, na Barra da Tijuca, no Rio, durante os festejos do réveillon. Faleceu dois dias antes, em 29 de dezembro. Foi substituída por Luciana Mello. Em vários pontos do Rio de Janeiro, fez-se um minuto de silêncio durante a comemoração da passagem do ano em memória de Cássia Eller. Vários artistas também prestaram homenagem à cantora em seus shows, na virada do ano.

* Renato e Cazuza

Criada em estados do país, por conta da vida militar do pai, Cássia tinha pontos em comum com Renato Russo (1960-1996) e Cazuza (1958-1990): rebeldia, homossexualidade, carisma e a habilidade de interpretar canções que traduziam angústias, amores e prazeres dos jovens.

Coincidentemente, seu primeiro hit, em 1990, foi a regravação de Por Enquanto (Renato Russo), do álbum de estreia da Legião Urbana. Ela transformou a música numa canção folk triste de doer. No mesmo disco, Cássia gravou Que o Deus Venha, poema de Clarice Lispector musicado por Cazuza & Frejat e que o Barão Vermelho lançou no álbum Declare Guerra (1986). Mas, foi com Veneno Antimonotonia, em 1997, que Cássia demonstrou 100% sua paixão por Cazuza. Sob a direção artística do poeta baiano Waly Salomão (1943-2003), ela regravou 14 músicas do "exagerado". A turnê gerou o ao vivo Veneno Vivo (1998), no qual a artista incorporaria a percussionista baiana Lan Lan à sua banda - e Lan Lan seguiria com Cássia Eller até aquele trágico 29 de dezembro de 2001, no Rio.


* Alma gêmea de Nando Reis

Todo bom cancionista, podemos dizer, sonha em ter uma mulher que seja a sua melhor intérprete. Nem que seja para saber como ficaria sua criação numa marcante voz feminina. Nando Reis, 48 anos, compôs e fez algumas parcerias com Marisa Monte, quando namoraram nos primeiros anos da década de 90. Mas, ao encontrar Cássia Eller (1962-2001), foi que Nando Reis encontrou a sua melhor tradução como intérprete, além de uma amizade que influenciaria até a sua inspiração como compositor.

A confessional All Star, gravada inicialmente por Nando em 2000 e lançada na voz de Cássia no póstumo Dez de Dezembro (2002), é a canção-símbolo dessa relação especial: “Estranho seria se eu não me apaixonasse por você/ O sal viria doce para os novos lábios/ Colombo procurou as Índias, mas a terra avisto em você/ O som que eu ouço são as gírias do seu vocabulário/ Estranho é gostar tanto do seu All Star azul...”, diz a letra da bonita composição.

O melhor e mais refinado disco de estúdio de Cássia Eller foi produzido por Nando Reis (e pelo guitarrista baiano Luiz Brasil): Com Você... Meu Mundo Ficaria Completo, em 1999. Nele, a cantora intensa explorou melhor as suas nuances de intérprete, incluindo a delicadeza.


Discografia Oficial - Cássia Eller


Cássia Eller (1990)
Faixas:
01 - Já Deu Para Sentir - Tutu
02 - Rubens
03 - Barraco
04 - Que O Deus Venha
05 - Eleanor Rigby
06 - Otário
07 - Por Enquanto
08 - O Dedo De Deus
09 - Lullaby
10 - Não Sei O Que Eu Quero Da Vida
11 - Tutti Frutti (só no CD)


O Marginal (1992)
Faixas:
01 - Caso Você Queira Saber
02 - Sonhei Que Viajava Com Você
03 - Sensações
04 - Teu Bem
05 - Aminésia
06 - O Marginal
07 - Eles
08 - Aquele Grandão
09 - Bobagem
10 - Comédia
11 - Hear My Train Coming
12 - If Ssix Was Nine


Cássia Eller (1994)
Faixas:
01 - Partners
02 - Malandragem
03 - E.C.T.
04 - Try A Little Tenderness
05 - 1º de Julho
06 - Na Cadência do Samba
07 - Lanterna dos Afogados
08 - Coroné Antonio Bento
09 - Metrô Linha 743
10 - Socorro
11 - Blues do Iniciante
12 - Música Urbana 2
13 - Pétala

Cássia Eller ao Vivo (1996)
Faixas:
01 - E.C.T
02 - Nenhum Roberto
03 - Eu sou neguinha
04 - Nós
05 - 1 de Julho
06 - Na cadência do samba
07 - Por enquanto
08 - Try a little tenderness
09 - Malandragem
10 - Não amo ninguém
11 - Música urbana II
12 - Socorro
13 - Metrô linha 743
14 - Coronel Antônio Bento


Veneno AntiMonotonia (1997)
Faixas:
01 - Brasil
02 - Blues Da Piedade
03 - Obrigado (Por Ter Se Mandado)
04 - Menina Mimada
05 - Todo Amor Que Houver Nessa Vida
06 - Billy Negão
07 - Bete Balanço
08 - A Orelha De Eurídice
09 - Só As Mães São Felizes
10 - Ponto Fraco
11 - Por Que A Gente É Assim?
12 - Preciso Dizer Que Te Amo
13 - Mal Nenhum
14 - Pro Dia Nascer Feliz


Veneno Vivo (1998)
Faixas:
01 - Brasil
02 - Amor Destrambelhado
03 - Obrigado (Por Ter Se Mandado)
04 - Vida Bandida
05 - Billy Negão
06 - Farrapo Humano
07 - Nós
08 - Mis Penas LLoraba Yo
09 - Todo Amor Que Houver Nessa Vida
10 - Ponto Fraco
11 - Faça O Que Quiser Fazer
12 - Geração Coca-Cola
13 - Todas As Mulheres Do Mundo
14 - Eu Queria Ser Cássia Eller


Com Você... Meu Mundo Ficaria Completo (1999)
Faixas:
01 - O Segundo Sol
02 - Mapa do Meu Nada
03 - Gatas Extraordinárias
04 - Um Branco, um Xis, um Zero
05 - Meu Mundo Ficaria Completo ( Com Você )
06 - Palavras ao Vento
07 - Aprendiz de Feiticeiro
08 - Pedra Gigante
09 - Infernal
10 - Maluca
11 - As Coisas Tão Mais Lindas
12 - Esse Filme Eu Já Vi


Acústico MTV (2001)
Faixas:
01 - Non, Je ne Regrette Rien
02 - Malandragem
03 - E.C.T.
04 - Vá Morar com o Diabo
05 - Partido Alto
06 - Primeiro de Julho
07 - Luz dos Olhos
08 - Todo Amor que Houver Nesse Vida
09 - Queremos Saber
10 - Por Enquanto
11 - Relicário
12 - Segundo Sol
13 - Nós
14 - Sargent Peppers Lonely Hearts Club Band
15 - Da Esquina
16 - Quando a Maré Encher
17 - Top Top


Dez de Dezembro (2002) (Póstumo)
Faixas:
01 - Get Back
02 - No Recreio
03 - All Star
04 - Eu Sou Neguinha
05 - Nada Vai Mudar Isso
06 - Fiz O Que Pude
07 - Júlia
08 - Nenhum Roberto
09 - Little Wing
10 - Vila Do Sossego
11 - Só Se For a Dois


Rock in Rio ao Vivo (2006) (Póstumo)
Faixas:
01 - 1º de Julho
02 - Partido Alto
03 - Pra Galera
04 - E.C.T.
05 - Obrigado (Por Ter se Mandado)
06 - O Segundo Sol (Nando Reis)
07 - Faça o que Quiser Fazer
08 - Infernal (Nando Reis)
09 - Malandragem (Cazuza; Roberto Frejat)
10 - Coroné Antonio Bento (João do Vale)/ K#*%!
11 - Come Together (John Lennon; Paul McCartney) / Corpo de Lama(Nação Zumbi)
12 - Quando a Maré Encher
13 - Smells Like Teen Spirit


* Por Hagamenon Brito

sábado, 17 de dezembro de 2011

CLARISSA MOMBELLI - ENTREVISTA EXCLUSIVA

Esta cantora e compositora gaúcha nascida em Tapera (município que fica a cerca de 278 km da capital Porto Alegre) vem na estrada divulgando o seu primeiro álbum batizado de "Volta no tempo", um trabalho essencialmente autoral que retrata a vida e as suas nuances.

Por Bruno Negromonte


Recentemente o público do Musicaria Brasil teve a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a vida e a obra desta cantora e compositora que vem conquistando o respeito da crítica e do público por onde tem passado apresentando as canções da turnê do seu primeiro álbum "Volta no tempo". A matéria intitulada OS CICLOS DA VIDA A PARTIR DO SUAVE CANTO DE CLARISSA MOMBELLI não só traz um pouco sobre a biografia da artista como também faz algumas abordagens acerca da essência das composições desse seu debute fonográfico. Vale salientar que este trabalho vem destacando o nome de Clarissa Mombelli em âmbito nacional, merecendo destaque as aparições do seu nome em emissoras de TV do sudeste do país como a MTV (com o lançamento do vídeo-clipe "Porque Eu Não Sei Mais Dizer que Não") e Globo (Vitrine do Faustão).

Vale destacar que mesmo sendo fã declarada dos Beatles, Clarissa Mombelli traz consigo não só influências dos garotos de Liverpool, mas da música brasileira como um todo de uma época em que a carreira artística não passava de algo remoto como destaca nesta entrevista. Foi a partir dessa junção diversificada que ela alimentou seu sonho e iniciou sua carreira artística como tantos outros contemporâneos, apresentando-se nas bares e noites gaúchas, e essa experiência talvez tenha sido de grande valia para moldar tanto a ela quanto a sua carreira.


A lavra de canções presentes no álbum se fazem reflexivas por si só. De maneira intencional ou não alguns os conflitos e indagações humanas estão descritas nos versos e melodias de "Volta no tempo" embalado por seu agradável canto. Tudo isso a faz, dentre os novos artistas gaúchos, digna de destaque. E é esse destaque da cena contemporânea gaúcha que gentilmente nos concedeu esta pequena entrevista. Clarissa se aproxima um pouco mais do seu público respondendo a indagações sobre sua vida, início de carreira entre outras coisas. Fala inclusive sobre a experiência internacional vivida ao apresentar na Europa e as influências nacionais que norteiam sua obra.


Você tem uma formação onde a aprendizagem do violão e a audição de músicas nas ondas do rádio vem desde criança. Houve algum estímulo ou alguém exerceu alguma influência nessa sua predileção por música?

Clarissa Mombelli - Acredito que para todas as pessoas que nascem com um dom musical, é um tanto natural prestar atenção a tudo o que remete à ela. Como vc bem falou, desde pequena eu tinha facilidade em decorar as músicas do rádio e também a tirar no pianinho infantil as trilhas sonoras das propagandas que eu ouvia na TV. Hoje o instrumento que eu toco é violão, mas já estudei outros instrumentos: fiz aulas de piano, violão e canto quando era criança, fazia ainda aula de dança, o que tem total relação com o aprendizado musical de tempo, ritmo e compasso. Se pensarmos por esse lado, a família incentivou muito esse meu desenvolvimento musical me matriculando nessas aulas e dando força sempre que surgia uma oportunidade de me apresentar.


Quem você costumava ouvir nesse período que hoje, de certa forma, influencia o seu trabalho?

CM - Os primeiros discos que apareceram lá em casa, em um período que eu comecei a dar mais atenção à musica foram os da Elis Regina, Beatles e Queen. Ouvia bastante, e acho que são três referências que estão dentro de mim e que me influenciam na construção musical. Rita Lee é uma cantora que eu admiro muito e que sinto um carinho especial, foi assistindo a um show dela que eu decidi: “eu quero isso pra minha vida também”. Quando adolescente ouvia muito rock, de todos os tipos, o período era propício a este estilo musical, os amigos ouviam muito e eu acabava descobrindo as musicas através deles. Depois, com uns 18 anos a fase foi de total Beatlemania, ouvia só isso enlouquecidamente, todos os discos, de todas as fases. Depois vieram os Stones, David Bowie, Lou Reed e as bandas dos anos 60 e 70. Detro do cenário nacional sempre ouvi de tudo dentro da MPB e gosto muito de artistas como Marisa Monte, Vitor Ramil, Zeca Baleiro, Ney Matogrosso, Cassia Eller, entre muitos outros talentosíssimos.




Quando você saiu de Tapera (cidade que fica a 278 km da capital Porto Alegre) para a capital no intuito de estudar, no fundo já havia o desejo de tentar dar início a uma carreira artística em um contexto bem mais propício que uma cidade do interior?

CM - Não saí de Tapera exatamente com esse objetivo, acredito que eu tive um pouco de demora para amadurecer essa ideia. Eu tinha sonhos bem malucos em relação a isso e bem mágicos, do tipo “alguém vai me descobrir um dia e minha carreira decolar”... bem surreal, sabe! aquela coisa de ficar sonhando, sonhando e não fazendo muitas coisas para a carreira acontecer de verdade. Enquanto eu sonhava com isso, estudava publicidade e ia seguindo com minha vida, comecei a trabalhar na área da publicidade e permiti que minha rotina de trabalho se organizasse, sem fazer muito esforço para a música ganhar mais espaço. Mas como o desejo dentro de mim era maior do que simplesmente viver uma vida trabalhando em alguma coisa que não era o que eu amo de verdade, e com a maturidade, eu resolvi despertar e registrar o que eu escrevia, e já comecei a compor. Neste período eu me apresentava em bares com uma banda que eu tinha, e que me deu a oportunidade de viver um pouco esse lado musical. A partir de então foi partir para conhecer as pessoas certas que me impulsionaram na carreira de uma vez por todas, e o processo foi acontecendo naturalmente, agora com os pés no chão e a mente focada, cada oportunidade gera outra e as coisas estão indo muito bem.


Quando foi o pontapé inicial para a carreira depois de sua chegada em Porto Alegre?

CM - Acredito que sejam dois os fatores determinantes. Um foi começar a tocar com a banda de músicas cover, que me permitiu viver um pouco a rotina da música, e me deu segurança para viabilizar um projeto meu. O outro foi resolver ir atrás das pessoas que pudessem me ajudar a gravar as minhas músicas, comecei faculdade de música, fiz um curso de produção musical, e logo conheci a produtora Marquise 51 em Porto Alegre, e o Eduardo Dolzan, que foi a pessoa que eu escolhi para produzir o disco e que fez um trabalho ótimo. O Eduardo tratou de convidar músicos exelentes como o Maurício Chaise para os violoes e guitarras, Luciano Leães para o piano e escaleta. O Diogo Gomes que gravou as percussões já tocava comigo naquela banda do início. Mais alguns convidados, e o disco ficou pronto em mais ou menos 1 ano entre produção, gravações, mixagem e masterização.


As referências do rock gaúcho em âmbito nacional são bandas como Acústicos & Valvulados, Bidê ou Balde e Fresno, onde a predominância masculina é algo extremamente perceptível. Você, enquanto mulher, passou por algum problema ou dificuldade para se impor enquanto artista no cenário musical gaúcho?

CM - Acho que esse preconceito relacionado ao sexo não existe muito não. A própria Bidê ou Balde começou com duas integrantes femininas na banda, que, na minha opinião, fizeram o diferencial para que a banda desse certo. Acredito que as mulheres tem lutado direitinho pelo seu espaço. Temos cantoras ótimas em Porto Alegre, a Izmalia que é simbolo do rock feminino gaúcho, a Gisele de Santi com sua MPB, que foi desbravar o mundo novo em São Paulo, A Luiza Caspari que é uma gracinha e tem uma voz linda, Fernanda Copatti, entre tantas outras. O Rio Grande do Sul sabe valorizar isso, principalmente a mídia impressa. As rádios aqui tem uma política um pouco difícil para quem quer lançar sua carreira, mas como no Brasil todo, são poucas aquelas rádios que dão abertura para o novo, até que alguma coisa especial aconteça, como aconteceu com a Fresno, por exemplo que estourou na Internet primeiro para depois conseguir emplacar nas rádios. Acústicos & Valvulados é uma banda que eu adoro, tem um trabalho lindo, com composições muito maduras e de letras gostosas de se ouvir, eu participei da gravação do último videoclipe deles, da música “Céu da Noite” (como vocês podem conferir logo abaixo). Acho que independente do sexo, tá todo mundo aí lutando e se ajudando, as dificuldades existem com certeza, como para todos os trabalhos que estão sendo construídos, mas eu só tenho a agradecer a forma que o pessoal do sul acolhe meu trabalho.




“Volta no Tempo” é um trabalho essencialmente autoral. Como se deu a escolha desse repertório?

CM - Eu não tinha assim um número enorme de músicas para a produção do disco. Deviam ser umas 15 ou 16 músicas que eu tinha composto e que achava que poderiam ser gravadas. A inspiração é algo raro em dias de correria, no período que o disco começou a ser feito eu trabalhava com publicidade, o que me tomava quase todo o tempo. Eu estudei as músicas e algumas eu acabei deixando de fora. Eu e o Eduardo definimos a melhor forma de arranjo para as escolhidas, eu no violão e ele na bateria em um primeiro momento. O que funcionou melhor a gente seguiu adiante e gravou.


Você considera o álbum “Volta no Tempo” um trabalho conceitual?

CM - Depois de selecionar o repertório do disco, eu percebi que existia uma ligação no que era dito nas músicas escolhidas. Era como se elas estivessem contando uma história de vida. A primeira musica do disco, a “Hoje” fala sobre o nascimento, a letra dela é a única que eu não escrevi, é uma poesia do meu pai que eu musiquei. A última música se chama “Nascer de Novo” e fala sobre a morte. E no meio desse caldeirão de palavras e sentimentos à flor da pele, tem muitas músicas que, de uma forma ou outra, acabam voltando no tempo, ou para algumas fases da minha vida, com letras que eu considero que remetem para histórias e momentos da vida dos ouvintes também. São temas como a infância e o amadurecimento frente à tanta coisa que vai acontecendo nas nossas vidas. Então, em função disso, o disco acabou se tornando conceitual, mas não nasceu já com essa ideia, ela apareceu depois do repertório escolhido.


Ainda há tempo para conciliar a atividade de publicitária? Como você faz pra conciliar a criação das peças publicitárias com a música?

CM - No ramo publicitário eu trabalhava com mídia e produção, e, no final das contas, a experiência adquirida me ajudou a pensar em minha carreira de uma forma mais empresarial. Muitos artistas não se dão conta que existem fatores importantes a serem cuidados fora o “fazer música em si”. A faculdade de comunicação me deu uma base importante para perceber que no final das contas eu, além de artista, sou um produto que precisa ser vendido, propagado e bem trabalhado para poder dar certo. Onde isso tudo vai parar eu não sei, mas tudo o que eu posso eu faço. Claro que a melhor parte disso tudo está em criar música, na inspirção, depois na gravação, e em ver o trabalho ganhando vida para ser propagado. Hoje em dia, além de música, eu trabalho em uma revista chamada Agriworld, com marketing e publicidade, mas eu tenho bastante tempo para conciliar as coisas.


“Volta no Tempo” tem alçado voos cada vez mais distantes, como por exemplo, Londres e Espanha (lugares nos quais você chegou inclusive a se apresentar em turnê ao longo de 2010). Como tem sido a receptividade desse seu trabalho fora do país?

CM - Eu fui recebida com muito carinho nos dois países, e foi uma emoção muito grande voar para a Europa pela primeira vez levada pelo meu trabalho musical. Na Espanha me apresentei em Torrelodones, uma cidade nas redondeazs de Madrid. O show teve a participação do Eduardo Dolzan que, além de ter produzido o disco, toca bateria comigo, e do Sherpa, um músico espanhol, ex integrante da banda Baron Rojo, que teve muito destaque na Espanha nos anos 80. Em Londres me apresentei no Hotel Plaza Westminster, no Barraco Café e no Made In Brasil. Todos os shows foram muito lindos, emocionantes e especiais. É complicado continuar um trabalho de divulgação em outro país não estando lá para realizar este projeto, mas garanto que em breve quero retornar para continuar esse trabalho. O mercado internacional respeita muito os músicos e valoriza as produções e os trabalhos musicais. O Brasil tem uma fatia de mercado legal lá fora, principalmente quando se fala em Bossa Nova, mas na Europa tem tem espaço para todos os estilos, com certeza.



Maiores Informações:

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

05 ANOS SEM BRAGUINHA

Poucos o conhece por Carlos Alberto Ferreira Braga, geralmente quando se há referência a seu nome dentro da MPB até hoje referem-se a ele por nomes como João de Barro ou Braguinha, porém independente do nome atribuído a este grande compositor a saudade se faz presente pelos 5 anos de sua partida.

Por Bruno Negromonte


Sua fama se construiu a partir de dois pseudônimos que marcam até hoje a música popular brasileira. Braguinha ou João de Barro tanto faz, o que mais importa é o seu legado dentro da música brasileira com composições que transformaram-se em clássicos e levaram o nome de Carlos Alberto Ferreira Braga para o hall dos grandes compositores do século XX. Braguinha em parceria com Pixinguinha, é autor dentre outras canções, do chorinho "Carinhoso", um dos maiores clássicos da música brasileira.

Nascido no Rio de Janeiro, filho de um casal de classe média, Carlinhos, como era chamado na família, passou a adolescência em Vila Isabel, onde seu pai era diretor da fábrica de tecidos Confiança. Quando cursava o Colégio Batista conheceu o violonista Henrique Brito. Com ele tenta aprender alguns acordes e dessa amizade nasceu o interesse pela música, fazendo com que, aos 16 anos, ele criasse a letra e a música de Vestidinho Encarnado e posteriormente ajuda então na formação do conjunto Flor do Tempo com apoio do comerciante Eduardo Dale, que gostava de apresentá-los em sua bela casa quando recebia visitas e amigos.

O Flor do tempo, sem considerar os eventuais adendos, era formado por Almirante e Noel Rosa, embora não - alunos do colégio, Henrique Brito, Alvinho (Álvaro de Miranda Ribeiro) e Braguinha e costumavam apresentar-se em casas de amigos e clubes. Cerca de um ano e meio depois, em 1929, seus componentes, desejando vôos mais altos, mudam seu nome para Bando de Tangarás (o grupo gravou 19 músicas, sendo 15 de autoria de Braguinha). Braguinha, que fazia Arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes, resolve então adotar o pseudônimo de João de Barro, justamente um pássaro arquiteto, porque seu pai não gostou de ver o nome da família circulando no ambiente da música popular, mal visto na época.



No carnaval de 1930, marcam um sucesso extraordinário com o samba Na Pavuna (Homero Dornellas e Almirante), com Almirante fazendo o solo vocal. Porém O "Bando dos Tangarás" desfez-se em 1933. No ano seguinte, matriculado no 3º ano, resolve deixar a arquitetura e dedicar-se à composição, e nesse mesmo ano João de Barro conhece duas pessoas que marcariam sua carreira: Alberto Ribeiro, seu maior parceiro, e Wallace Downey, um americano que o conduziu à indústria do cinema e dos discos.

No carnaval de 1933, consegue seus primeiros grandes sucessos com as marchas Moreninha da Praia e Trem Blindado, pouco antes do fim do Bando de Tangarás, ambas interpretadas por Almirante, que se casaria no ano seguinte com sua irmã Ilka.

Braguinha foi roteirista e assistente de direção em filmes da Cinédia. Com Alberto Ribeiro, escreveu argumentos e composições para a trilha sonora de filmes como "Alô, Alô, Brasil" e "Estudantes" cuja personagem principal foi interpretada por Carmem Miranda. Atuou como diretor artístico da gravadora Columbia, no Rio de Janeiro, ao mesmo tempo que compunha sucessos como o inesquecível "Carinhoso" (1937, com Pixinguinha) e "Sonhos Azuis" (1936, com Alberto Ribeiro).



Em 1938, casou-se com a professora Astréa Rabelo Cantolino. No carnaval daquele ano lançou três marchas que se tornaram clássicos: "Pastorinhas" (com Noel Rosa), "Touradas em Madri" e "Yes, nós temos bananas" (com Alberto Ribeiro).

Ainda em 1938, foi um dos responsáveis pela dublagem brasileira de "Branca de Neve e os Sete Anões", de Walt Disney. Também participou das versões brasileiras de "Pinóquio" (1940), "Dumbo" (1941) e "Bambi" (1942), entre outros.

Em 1939, nasceu Maria Cecília, sua única filha. Apaixonado por histórias infantis, escreveu, adaptou e musicou várias delas, como "Os Três Porquinhos", "Festa no Céu" e "Chapeuzinho Vermelho".

Em 1941, em parceria com Alberto Ribeiro, fez a versão de "Valsa da Despedida", tema do filme "A ponte de Waterloo".

Como autor de versões, Braguinha se destacou em diversas canções com parceiros internacionais, como Charles Chaplin em "Luzes da Ribalta" e "Sorri".

Extinta a Columbia no Brasil, em 1943, nasceu a Continental, também tendo Braguinha na direção artística. Um de seus maiores sucessos internacionais seria composto em 1944: "Copacabana", gravada dois anos depois por Dick Farney.

Na linha carnavalesca, surgiram as composições "Anda Luzia" (1947), "Tem Gato na Tuba" (1948), "A mulata é a Tal" (1948) e "Chiquita Bacana" (1949). Em 1950 Braguinha tornou-se um dos fundadores da Todamérica, gravadora e editora musical.

Em 1979, Gal Costa regravou "Balancê", colocando novamente o compositor em destaque no novo cenário da MPB. Teve dois espetáculos montados em sua homenagem: "O Rio Amanheceu Cantando", na boate Vivará, em 1975, e "Viva Braguinha", na Sala Sidney Miller, em 1983.

Foi homenageado no carnaval em 1984, ano da inauguração do Sambódromo, desfilando como tema da Mangueira, escola campeã daquele ano com o samba enredo "Yes, nós temos Braguinha". O nome deste samba se transformou no título de sua primeira biografia, com texto de Jairo Severiano.

Sua musicografia completa, inclusive com versões e músicas infantis, passa dos 420 títulos, uma das maiores e de mais sucessos de nossa música popular. Seu parceiro mais constante foi Alberto Ribeiro (1902-1971), médico homeopata e direto amigo. O interessante é que não lê música e só compõe de ouvido. Também não toca nenhum instrumento. Escreve letras para músicas de outros, mas raramente põe melodia em versos alheios.



Sua obra apresenta todos os gêneros. Pode-se afirmar que sem Braguinha o carnaval brasileiro não teria sido musicalmente o que foi. O cinema brasileiro igualmente muito lhe deve, não apenas como autor de músicas, mas também como roteirista e assistente de direção. Na dublagem de filmes de Walt Disney, mesmo com poucos recursos técnicos, conseguiu resultados admiráveis, que impressionaram o próprio Disney, o qual lhe ofereceu um relógio de ouro com dedicatória especial.

Na gravadora continental, ex - Colúmbia, durante muitos anos foi diretor-artístico, contribuindo para a projeção de inúmeros artistas, época em que também lançou, no selo Disquinho, uma coleção de mais de 70 histórias infantis, que adaptava, criava e musicava, para encanto de gerações de crianças até os dias de hoje.

Participou como diretor e roteirista de filmes como Estudantes (1935), Alô, Alô, Carnaval (1936), Banana da Terra (1938) e Laranja da Terra (1940). Nessa época, começou a trabalhar como diretor artístico da gravadora Continental, onde projetou nomes como Radamés Gnattali, Tom Jobim (sua Sinfonia do Rio de Janeiro, parceria com Billy Blanco foi gravada duas vezes), Lúcio Alves, Dick Farney, Doris Monteiro, Tito Madi, Nora Ney, Jorge Goulart e Jamelão. Em 1937, a cantora Heloísa Helena pediu-lhe uma letra para um choro-canção instrumental de Pixinguinha e nasceu o hino Carinhoso. Da mesma forma que modificou Linda Pequena de Noel Rosa para As Pastorinhas, que se tornaria um clássico póstumo do poeta da Vila, Braguinha (com parceiros como o médico Alberto Ribeiro) cunhou o manifesto pré-tropicalista Yes, Nós Temos Bananas (resposta ao fox americano Yes, We Have No Bananas).

Fez ainda tanto o samba-canção de inspiração rural (Mané Fogueteiro, emblemático na voz de Augusto Calheiros, a Patativa do Norte) quanto urbano-modernista como Laura e Copacabana, cuja gravação, de Dick Farney, em 1946, com arranjo de cordas de Radamés Gnattali, seria considerada precursora da bossa nova. Apimentando suas composições à medida que mudavam os costumes (Vai com Jeito, Garota de Saint-Tropez, Garota de Minissaia), ele também arquitetou com delicadeza a mais impressionante coleção de discos infantis, aclimatando para o Brasil histórias da Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Alice no País das Maravilhas, além de recuperar inúmeras cantigas de roda. Com espírito de criança, Braguinha foi um retrato cantado da alma jovial do Rio de Janeiro dos melhores tempos. Faleceu em 24 de dezembro de 2006, aos 99 anos, no Rio de Janeiro


Discografia Braguinha*

78 Rotações

Para vancê/Coisas da roça (1929) (Parlophon 78)
Desengano/Assombração (1929) (Parlophon 78)
Salada (1929) (Parlophon 78)
Não quero amor nem carinho (1930) (Parlophon 78)
Dona Antonha (1930) (Parlophon 78)
Minha cabrocha/A mulher e a carroça (1930) (Parlophon 78)
Quebranto (1930) (Parlophon 78)
Mulata (1931) (Parlophon 78)
Cor de prata/Nega (1931) (Parlophon 78)
Tu juraste… eu jurei/Vou à Penha rasgado (1931) (Parlophon 78)
Samba da boa vontade/Picilone (1931) 13.344 78
O amor é um bichinho/Lua cheia (1932) (Parlophon 78)


LP
João de Barro (1972) (RCA Victor)
João de Barro e Coisas Nossas (1983) (Funarte)


CD
Yes, nós temos Braguinha (1998) Funarte/Atração CD
João de Barro (Braguinha)­ — Nasce um compositor (1999) Revivendo CD
João de Barro — A música do século, por seus autores e intérpretes (2000) Sesc São Paulo CD
CD 100 Anos de Alegria Braguinha (João de Barro)


Fontes:
http://www.samba-choro.com.br/artistas/braguinha
http://educacao.uol.com.br/biografias/braguinha-carlos-alberto-ferreira-braga.jhtm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_de_Barro
http://www.mpbnet.com.br/musicos/braguinha/

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

NESTOR DE HOLLANDA, 90 ANOS

Nestor de Holanda (Nestor de Hollanda Cavalcanti Neto) nasceu a 1º de dezembro de 1921, em Vitória de Santo Antão, Pernambuco. Seu pai, Nestor de Hollanda Cavalcanti Filho, era farmacêutico. Sua mãe, Maria de Lourdes Galhardo de Hollanda Cavalcanti, era médica, filha de Estevão Galhardo, calabrês, e de Joana de Queiroz Galhardo, napolitana.

Fez seus estudos no Recife. Cedo ingressou no jornalismo. Ainda no ginásio, dirigiu o semanário A Fama, por qual acabou sendo preso e proibido por motivos políticos. Sua primeira função: aprendiz de suplente de revisor. E trabalhou na Gazeta do Recife, Jornal Pequeno, Jornal do Commércio e Diário da Manhã.

Aos 17 anos, fez parte de um grupo de jovens que se iniciavam na imprensa e nas letras. O grupo fundou a editora Geração, através da qual Nestor publicou livro de poemas, Fontes Luminosas. Faziam parte de Geração: Guerra de Holanda, Paulo Cavalcanti, Mário Souto Mayor, Sousa Leão Neto, Raul Teixeira, Aristóteles Soares, Dagoberto Pires e outros.

Contando com o estímulo de Valdemar de Oliveira, o grande realizador do teatro pernambucano, Nestor escreveu a comédia-histórica Nassau, que obteve êxito marcante, inclusive através da Rádio Clube de Pernambuco, quando transmitida por iniciativa de Luiz Maranhão. E produziu várias outras comédias.



Também na música popular, em diversas ocasiões marcou tentos no famoso carnaval pernambucano, destacando-se os frevos-canções Fala, Pierrô, com Levino Ferreira, Barafunda, com Ernani Reis, O Frevo é assim, com Nelson Ferreira, e Não deixe a minha companhia, com João Valença, um dos Irmãos Valença, autores de O teu cabelo não nega, marcha adaptada por Lamartine Babo para o carnaval carioca.


Em 1941, foi para o Rio de Janeiro onde foi redator de A Cena Muda, Revista da Semana, Brasilidade, Vida, Deca, e das rádios Vera Cruz, Transmissora e Educadora. Convocado para o Exército, esteve em operações de guerra e chegou a sargento. Ganhou aí o apelido de Sargento Iolando (por que os recrutas confundiam seu Holanda com Iolanda).

Voltou à vida civil, depois da Guerra. Trabalhou em diversos jornais: Folha Carioca, Democracia, O Imparcial, A Noite, Folha do Rio, Shopping News, Diário Carioca, Última Hora e Diário de Notícias. Nas revistas: Manchete, A Noite Ilustrada e Carioca. Estações de Rádio: Clube Fluminense, Cruzeiro do Sul, Clube do Brasil , Globo, Nacional e Ministério da Educação e Cultura. Emissoras de televisão: Continental, Excelsior e Rio.

Escreveu muito para teatro, desde revistas como A Bomba da Paz, Está em Todas, TV para Crer e Terra do Samba, a comédias como Um Homem Mau e A Bruxa. Produziu mais de uma centena de composições populares, como Quem foi?, Seu Nome Não é Maria, Xém-ém-ém ( que figurou na trilha sonora de um filme de Walt Disney ), O periquito da madame, Último Beijo, Muito Agradecido, Eu Sei que Ele Chora, Meu Mundo é Você, e fez parcerias com Ary Barroso, Ismael Neto, Haroldo Lobo (a marcha Dança chinesa, de 1953), Jorge Tavares, Valzinho, Luiz Gonzaga e outros. Foi um dos fundadores da SBACEM, foi fundador da SADEMBRA e filiado à Sociedade Brasileira de Autores Teatrais e à Associação Brasileira de Imprensa.



Graças a seu estilo leve, bem-humorado, de marcante penetração popular, figurou entre os escritores que mais venderam no Brasil, e esteve entre os mais traduzidos. Livros seus, como Diálogo Brasil-URSS, O Mundo Vermelho, Sossego - Rua da Revolução, Jangadeiros, A Ignorância ao Alcance de Todos, Itinerário da Paisagem Carioca, Telhado de Vidro e outros figuram entre os recordistas de venda, alguns com edições sucessivas, sendo que o último lhe rendeu o título de Cidadão Carioca, por decisão da Assembléia Legislativa do Estado da Guanabara.

Nestor de Holanda foi casado, desde 1947, com dona Kezia Alves de Hollanda Cavalcanti. E o casal teve dois filhos, o compositor Nestor de Hollanda Cavalcanti e Maria Marta.

Faleceu no Rio de Janeiro em 14 de novembro de 1970.

Fonte: Wikipédia

MEMÓRIA MUSICAL BRASILEIRA

Um dos espetáculos de maior sucesso de crítica e público da artista baiana completa 40 anos de seu registro fonográfico.

Maria Bethânia - Rosa-dos-ventos (Show Encantado) (1971)

Em 1971, dois acontecimentos marcaram o início de uma nova fase na carreira de Maria Bethânia. Em janeiro ela gravou em estúdio, o LP A Tua Prescença, seu primeiro disco lançado pelo selo Philips e também o primeiro a receber generosos e unânimes elogios da crítica por sua qualidade técnica e artística. Em julho, depois da fase de boates e pequenos teatros, Bethânia partiu para espetáculos mais ambiciosos e platéias maiores. Rosa dos Ventos selava definitivamente a feliz parceria da cantora com o diretor Fauzi Arap, num estilo de espetáculo bem teatral, entremeando textos e canções populares de várias épocas e estilos. Dirigida por Fauzi Arap, acompanhada pelo Terra Trio, Bethânia estreava, no Teatro da Praia (Rio de Janeiro), o show. Um espetáculo diferente que dava a Bethânia a possibilidade de mostrar sua versatilidade no palco, atuando com atriz e intérprete dos mais variados gêneros de música popular, de bolero ao baião, passando pelo frevo, tango, samba, música jovem ou inspirada nos temas de candomblé; além de recitar poemas diversos ao longo do espetáculo.

Do show Rosa dos Ventos, resultou o disco do mesmo nome, lançado em setembro de 71, pela Philips, com produção de Roberto Menescal. Nele, a intérprete declamava, pela primeira vez, Fernando Pessoa e cantava jóias de letras, ora enigmáticas, como as caetânicas "Janelas Abertas no. 2" e "(Objeto) Não identificado", ora mágicas, como "Doce Mistério da Vida", "Minha História" e um pot-pourri de canções praieiras. Apesar de mal gravado e de picotar o roteiro original do show, este disco foi seu LP mais vendido até então, por ser um documento histórico deste espetáculo que exprimiu o sentimento de toda uma geração, causando uma verdadeira catarse no público e mudou até mesmo o conceito de "shows de cantores" que se tinha até então no Brasil.

Eis aqui, 40 anos depois alguns dos textos apresentados tanto no espetáculo quanto no LP:

Nessa vida em que sou meu sono
Eu não sou meu dono
Quem sou é que me ignoro
E vive através desta névoa que sou eu
Todas as vidas que outrora tive numa só vida
Mar sou; baixo marulho ao alto rujo
Mas minha cor vem do meu alto céu
E só me encontro quando de mim fujo

(Poema sem título de Fernando Pessoa)


Mestre meu mestre querido
A quem uma coisa feriu
Me doeu, me perturbou
Seguro como o sol
Fazendo seu dia involuntariamente
Natural como o dia mostrando tudo
Meu mestre meu coração não aprendeu a tua serenidade
Meu coração não aprendeu nada
Meu coração não é nada
Meu coração está perdido
E depois porque é que me ensinaste
A clareza da vista
Se não podias me ensinar
A ter a alma com que a ver clara
E por que é que me chamaste
Para o alto dos montes
Se eu criança da cidades do vale
Não sabia respirar.

(Texto de Fernando Pessoa)


E depois de uma tarde de quem sou eu
E de acordar a uma hora da madrugada em desespero...
Eis que as três horas da madrugada eu me acordei
E me encontrei
Simplesmente isso:
Eu me encontrei calma, alegre
Plenitude sem fulminação
Simplesmente isso
Eu sou eu
E você é você
É lindo, é vasto
Vai durar
Eu sei mais ou menos
O que vou fazer em seguida
Mas por enquanto
Olha pra mim e me ama
Não
Tu olhas pra ti e te amas
É o que está certo.

(Texto de Clarice Lispector)


Lado A
Assombrações (Sueli Costa – Tito Lemos)
O Tempo e o Rio (Edu Lobo – Capinan)
Ponto de Oxum (Toquinho – Vinícius de Morais)
Texto n° 1 (Fernando Pessoa)
O Mar, Canção Praieira (Dorival Caymmi)
Suíte dos Pescadores (Dorival Caymmi)
Avarandado (Caetano Veloso)
Toalha da Saudade (Batatinha – J. Luna)
Imitação (Batatinha)
Hora da Razão (Batatinha – J. Luna)
Cantigas de Roda (Folclore Baiano)

Lado B
Doce Mistério da Vida (Victor Herbert – versão brasileira por Alberto Ribeiro)
Texto n° 2 (Fernando Pessoa)
Minha História (Gesubambino) (Dalla – Pallottino - versão brasileira por Chico Buarque)
Lembranças (Raul Sampaio – Benil Santos)
El Dia Que Me Quieras (Gardel – Le Pera)
Rosa dos Ventos (Chico Buarque)
Texto n° 3 (Fernando Pessoa)
Janelas Abertas n° 2 (Caetano Veloso)
Não Identificado (Caetano Veloso)
Flor da Noite (Toquinho – Vinícius de Morais)
Texto n° 4 (Clarice Lispector)
Movimento dos Barcos (Macalé – Capinan)Texto n° 5 (Moreno)

Fonte: http://www.mariabethania.com

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

CÂMARA APROVA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA A OBRAS MUSICAIS DE MÚSICOS BRASILEIROS

Por Marcello Larcher , Eduardo Piovesan e Vania Alves


Ontem, terça-feira, a Câmara se transformou em palco de alguns dos mais expressivos artistas brasileiros. Fagner, Chico César, Tim Rescala, Sandra de Sá, Fafá de Belém se misturaram aos roqueiros de Brasília, Digão, do Raimundos, e Philipe Seabra, do Plebe Rude, entre muitos outros, para pedir a aprovação da PEC da Música (98/07) (que concede imunidade tributária a CDs e DVDs com obras musicais de autores brasileiros), do deputado Otavio Leite (PSDB-RJ) e outros, que desonera a produção de CDs e DVDs.

Apresentações musicais e discursos de parlamentares se revezaram no pequeno palco instalado na Câmara. O mestre de cerimônias e artista Cláudio Lins explicou que o País vive uma completa distorção tributária na qual as grandes empresas estrangeiras desfrutam de isenções e as pequenas gravadoras e artistas independentes pagam caro. “Hoje, as empresas situadas na Zona Franca de Manaus têm incentivos, que não são estendidos a todo o País”, criticou.


Reaproximação
Chico César disse que, com a aprovação da PEC, poderá haver uma redução de cerca de 30% no preço de CDs e isso poderá reaproximar os artistas de seu público. “Quem usa a facilidade da Zona Franca de Manaus são duas grandes gravadoras internacionais, e aí você tem mais barato disco de Beyoncé, de Madonna, os produtos internacionais. Isso é uma concorrência desleal com o produto local”, ressaltou.

Para Tim Riscala, a desoneração proporcionada pela PEC vai valorizar e apoiar a produção nacional. Em sua avaliação, a proposta não dá privilégio à música brasileira. “Ela simplesmente coloca o músico brasileiro em pé de igualdade. O incentivo fiscal já existe para quem não precisa, então tem de existir para quem precisa, que é o músico brasileiro."


Orçamento
Acompanhados de atores como Beatriz Segall e Odylon Wagner, os músicos também foram conversar com o relator da Comissão Mista de Orçamento, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) para pedir garantias de previsão orçamentário para a Cultura.

A matéria será enviada ao Senado, onde também precisa ser aprovada em dois turnos.

De acordo com o substitutivo da comissão especial, aprovado por 393 votos a 6, contarão com imunidade os CDs e DVDs produzidos no Brasil com obras musicais ou lítero-musicais de autores brasileiros. Também não pagarão impostos as obras em geral interpretadas por artistas brasileiros e as mídias ou os arquivos digitais que as contenham.

Para Otavio Leite, a redução dos preços permitirá aos músicos brasileiros se estabelecerem formalmente como empresas. “Fizemos justiça a um dos setores que reclamam há muito tempo uma atenção dos poderes públicos. Com a PEC, os consumidores também poderão ter acesso a um produto final mais barato”, afirmou.


Reprodução em escala
A exceção à imunidade é a etapa de replicação industrial de CDs e DVDs, que continuará a sofrer tributação normalmente. A regra pretende preservar a competição de outros estados com a Zona Franca de Manaus (ZFM), que já conta com isenções tributárias.

Deputados e artistas presentes à votação da PEC da Música (98/07) comemoraram a aprovação do texto. Os parlamentares destacaram que o presidente Marco Maia cumpriu o acordo para adiar a análise da proposta em segundo turno, pois restavam dúvidas sobre o efeito da isenção para fonogramas, mas de concluir a análise da PEC ainda neste ano.

Apenas o deputado Pauderney Avelino (DEM-AM) lamentou que a proposta não tenha sido modificada de forma a preservar as vantagens econômicas da Zona Franca de Manaus, onde existe um polo de impressão de CDs e DVDs. Segundo ele, ao incidir sobre toda a produção e comercialização de fonogramas, a PEC vai desregular o mercado fonográfico e atingir a economia da região.


Acesso de todos
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) refutou o argumento. Segundo informou, foram feitos estudos e a PEC não deve atingir a produção da Zona Franca como se imaginava a princípio. “A PEC vai baratear sim a produção, e mais importante que isso, vai garantir o acesso de todos às obras dos músicos brasileiros”, ressaltou.

O deputado César Colnago (PSDB-ES) lembrou que, além dos benefícios para o mercado de música e para a população, o barateamento deve combater o mercado da pirataria. Outro benefício é que os músicos poderão vender livremente suas obras de forma eletrônica pela internet.

Autor da PEC, o deputado Otavio Leite (PSDB-RJ) argumentou que, para todos terem acesso à música de qualidade, e para que todos os músicos tenham condição de oferecer seu produto, é preciso retirar os impostos dessa cadeia produtiva. “Da mesma forma que as revistas, jornais e livros já são isentos de imposto, a música será liberada para o bem da cultura brasileira”, disse.

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