Por Bruno Negromonte
A música popular é repleta de histórias interessantes e hoje, depois de diversos anos pesquisando sobre o tema, quero trazer ao conhecimento dos amigos leitores algumas dessas cômicas passagens envolvendo alguns nomes de nossa música. Nesse primeiro momento gostaria de relembrar algumas estórias da dupla que escreveu a cinquentenária “Garota de Ipanema“, a segunda canção mais gravada no mundo até hoje. Interpretada pela primeira vez em público no dia 02 de agosto de 1962 a canção de Tom Jobim e Vinícius de Moraes perde apenas para “Yesterday“, dos Beatles. Quando questionado sobre se esta segunda posição o incomodava e se havia pretensões de chegar ao topo do ranking, Tom respondeu: “Isso não me incomoda… até porque trata-se de quatro enquanto do lado de cá somos apenas eu e o Vinícius… e convenhamos, quatro contra dois é covardia….”.
Outra passagem interessante sobre Tom Jobim já foi relatada aqui nessa coluna a algum tempo atrás, porém para aqueles que não tiveram a oportunidade de ver contarei novamente a estória que aconteceu certa noite no Bar Velloso, no Rio de Janeiro. O bar que hoje chama-se Garota de Ipanema certa noite foi assaltado e Jobim que estava presente no bar pra lá de Bagdá, falou para os ladrões, levarem também a caixa de charutos que ficava junto à caixa registradora, ele falou tanto, que os ladrões levaram. Um dos donos, Seu Manuel, ficou uma fera com o Tom porque dentro da caixa de charutos, ficavam as notas de todos que pagavam fiado. Além do prejuízo do assalto, lá se foram as contas que não foram pagas.
O jornalista Lúcio Rangel foi o responsável entre o encontro musical entre o então jovem pianista Antonio Carlos Jobim e o já conhecido poeta e diplomata Vinícius de Moraes. Lúcio sugeriu a Vinícius que Tom musicasse a peça “Orfeu da Conceição”. No dia marcado para a discussão desta proposta Tom, com sua pasta de arranjador no colo, ouviu de Vinicius uma detalhada explicação sobre a peça Orfeu da Conceição, e de como o poeta imaginava a música que deveria permeá-la e juntar-se a algumas letras que já havia feito. O pianista, preocupado com um difícil início de carreira e com as contas que venciam no fim do mês, foi enfático ao dizer: “Tem um dinheirinho nisso?”. Lúcio Rangel, perplexo, ainda tentou consertar: “Mas Tom, como é que você ousa falar com o poeta sobre dinheiro numa hora dessas?”
Por falar em Vinícius de Moraes (o branco mais preto do Brasil como ele mesmo costumava-se autodefinir-se), que ao longo deste ano completaria 100 anos, também protagonizou estórias e histórias hilárias e interessantes ao longo de sua vida de bon vivant. Algumas pessoas não sabem, mas o “título” de túmulo do samba atribuído a São Paulo foi concedido por Vinícius de Moraes quando certa vez Johnny Alf, apresentava-se em uma boate paulista. Um dos frequentadores já bêbado começou a ofender o compositor e pianista com palavras de baixo calão. Johnny a princípio não se abalou e continuou a sua apresentação ao ponto das ofensas tornarem-se cada vez maiores e constantes. Uma certa hora, Vinícius de Moraes que ali estava para assistir a apresentação do amigo não contente com o tratamento dado ao amigo levanta-se e berra no espaço indignadamente:
– Vamos embora daqui que São Paulo é túmulo do samba!
Outra passagem ocorreu quando ele fazia um show com Maria Creuza e Toquinho em Montevidéu. Em boa parte do show ele ficava sentado em frente à sua mesinha, com seu uisquinho, seu cigarrinho, seu gelinho como ele costumava referir-se. Ele amava os diminutivos. Mas não gostava que o chamassem de “poetinha” e costumava dizer que esse apelido lhe teria sido dado por algum marido cuja mulher ele traçara…
Lá pelo final do show, Maria Creuza cantava “Eu sei que vou te amar” (dele e de Tom), enquanto ele recitava o “soneto da fidelidade”. Mandava o roteiro do espetáculo que, perto do final deste número, ele se levantasse, se aproximasse de Maria Creuza, enlaçasse-a e cantasse com ela o final da música. Por ter ficado muito tempo sentado, o cinto cedeu, talvez por conta da barriguinha, e, ao se levantar dar um passo para o lado e alçar o braço para abraçar Maria Creuza, a calça escorregou-lhe pelas pernas abaixo, até os tornozelos. Agravante: Vinícius não tinha o hábito de usar cuecas.”
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