Alunos do Colégio Padre Eustáquio se emocionaram com visita de Lô e Márcio Borges
Por Sandra Kiefer
Não apenas os versos da canção Linda juventude personificaram-se ontem nos mais de 150 estudantes, que se esparramaram no chão e custaram a conter a euforia no auditório do Colégio Padre Eustáquio, na Região Noroeste de Belo Horizonte. Um dos autores da letra do 14 Bis – o compositor Márcio Borges, e o irmão mais novo, Lô Borges – aportaram também na esquina da Rua Cesário Alvim com Padre Eustáquio, no colégio e no bairro de mesmo nome. Os dois artistas ficaram à vontade, sentados em cadeiras no palco, em frente a um mural de fotos deles, com capas de CDs, letras e poemas escritos à mão em cartolinas coloridas. Amanhã, o material será parte de uma mostra cultural aberta à comunidade.
Desde março, os integrantes do Clube da Esquina são aguardados pela diretoria e pelos pais de alunos, professores e estudantes da escola, que se dedicaram com afinco ao projeto Sonhos não envelhecem, elaborado em dupla pelas professoras de língua portuguesa do 6º ano, Raquel Abreu e Fabiane Braga. A morte de Fernando Brant, parceiro dos dois, acabou atrasando ainda mais a ida dos músicos ao colégio. “Ficamos recolhidos um tempo no sítio, porque foi muito pesado para nós”, explicou Cláudia Brandão, mulher de Márcio Borges e idealizadora do Museu Clube da Esquina. Ela fez a ponte com a escola. “Quem disse que o Fernando morreu? Ele continua morando sempre no nosso coração”, emocionou-se Márcio, na sala dos professores.
Como lembrança de Fernando Brant, a música escolhida pelos estudantes para ser cantada em coro na presença dos dois artistas foi Paisagem da janela, de autoria do compositor. Os jovens cantaram alto e claro, como se quisessem exibir que sabiam a letra de cor. E sabiam mesmo. No espaço aberto a perguntas, os alunos aproveitaram para esclarecer se a janela lateral seria em Diamantina ou em Ouro Preto, dúvida que paira na biografia do compositor. Márcio Borges, porém, pôs mais lenha na fogueira: “Da última vez em que o ouvi falar sobre isso, ele disse que não tinha sido nem uma nem outra cidade. Falou que tinha feito a música na Cachoeirinha mesmo, em Belo Horizonte”.
“Desde o início do ano, estamos sonhando com este encontro. Ficamos imaginando como iríamos conseguir envolver as crianças com músicas elaboradas há 40, 50 anos. A solução foi buscar a ajuda dos pais delas”, contaram as professoras, que usaram como base o livro O segredo do disco perdido, de Caio Tozzi e Pedro Ferrarini. O romance juvenil narra as férias do menino Daniel, que se depara com um mistério: o sumiço do disco Clube da Esquina, autografado por Lô Borges. “Os pais chegaram a levar os meninos para conhecer a célebre esquina de Santa Tereza”, completou a professora Raquel.
“A ditadura militar não era cor-de-rosa, mas sim cinza, tanto que passaria a ser chamada de anos de chumbo”, completou Márcio Borges. Indagados sobre os “gases lacrimogêneos” de Clube da Esquina II, de autoria dos irmãos com Milton Nascimento, Lô relatou aos meninos uma realidade de outra época, onde a juventude não podia se reunir nem se expressar e, quando se reunia, vinha cassetete e gás lacrimogêneo em cima. Para rejuvenescer a palestra, contou aos jovens que havia tomado café no dia anterior com Samuel Rosa, do Skank, com quem deve gravar um DVD em setembro. Há 16 anos, os dois se apresentam juntos, mas será a primeira vez em que vão assinar um trabalho autoral.
Ao fazer um balanço sobre o evento, Márcio Borges aproveitou a oportunidade para explicar o porquê de os sonhos nunca envelhecerem: “Nossas músicas são como filhas, a quem dedicamos nossa vida a construir e a fazer sentido. Elas foram feitas há 45 anos, mas seguem caminhando no mundo à nossa revelia, passando de pai para filho e de filho pra os netos, criando um caminho próprio. Quero agradecer a cada um de vocês, um por um, que nos proporcionaram grande emoção”.
Ao ser chamado para descer do palco e posar para a foto entre as crianças, Márcio Borges não pensou duas vezes. Largou o microfone e saltitou os degraus, aboletando-se no meio da garotada. “Poderia ficar aqui até as 18h e nem iria perceber”, comentou ele, que era só sorrisos e gentilezas. Cláudia Brandão observou o marido enlevada com a cena, como se já não estivesse acostumada com o preço da fama. Já a professora Fabiane, ao assistir a tudo, começou a assoviar espontaneamente a letra de Bola de gude, bola de meia, que pode ter sido inspirada nos irmãos Borges.
No meio da multidão, Lô ainda arriscou uns acordes ao violão: “Todo artista tem de estar aonde o povo está”. Os estudantes foram ao delírio. Não há lugar para todos eles na roda. Apesar da diferença de geração, querem chegar perto dos artistas, pegar nos cabelos deles, fazer uma selfie. “Não sei se vou ter outra oportunidade como essa na minha vida, sabe? De chegar tão perto de alguém famoso”, disse Maria Eduarda Rabelo, de 11 anos, que conseguiu autografar o livro.
“Sabe o que percebi? Que as músicas de hoje são muito pesadas e inadequadas para a minha idade. Já as músicas deles me tocaram muito. Dá vontade de ouvir de novo e de ensinar para meus filhos, netos e bisnetos”, disse Lívia Kely, de 11 anos, que transbordou Nos bailes da vida.
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