Rosil Cavalcanti, autor maior do forró esquecido em sua terra. Compositor nasceu num engenho em Macaparana
Por José Teles
Entre os autores de forró, cuja qualidade da obra , extrapolou os limites do regional, está Rosil Cavalcanti, falecido há 45 anos, e que teve sua primeira composição gravada há seis décadas: Sebastiana, que também deflagrou a carreia fonográfica de Jackson do Pandeiro (no mesmo ano teve Meu cariri, gravada por Ademilde Fonseca). Na Paraíba, Rosil Cavalcanti, entre outras homenagens, é nome de rua em João pessoa e em Campina Grande.
No entanto, raramente é lembrado em seu estado natal, Pernambuco, onde nasceu, em 20 de dezembro de 1915, no engenho Zabelê, em Macaparana (é parente do ex-governador Joaquim Francisco). A bem da verdade, a carreira artística do compositor e radialista Rosil Cavalcanti desenvolveu-se entre a capital paraibana e Campina Grande, onde, em 1968, morreu em consequência de um infarto.
Pela qualidade e quantidade de composições que criou, gravadas por nomes que vão do citado Jackson do Pandeiro, a Gal Costa, Gilberto Gil, Luiz Gonzaga, Carmélia Alves, Elba Ramalho, Alceu Valença, Zé Ramalho, Xuxa. A lista é extensa. Porém o mais constante intérprete da música de Rosil foi Jackson do Pandeiro.
A amizade dos dois remontava aos anos 40, quando criaram, na Rádio Tabajara, de João Pessoa, a dupla Café com Leite. Por esta época, Jackson já cantava Sebastiana, um coco de Rosil, que seria um dos seus momentos mais aplaudidos no auditório da Rádio Jornal do Commercio.
Funcionário público, Rosil Cavalcanti chegou em Campina Grande 70 anos atrás. Ali, na Rádio Borborema, apresentaria um programa que parava a cidade todas as noites, O Forró de Zé Lagoa. Além de apresentar cantores locais como Genival Lacerda, então conhecido como o Senador do Rojão (numa alusão ao senador carioca Carlos Lacerda), Marinês, ele tecia criticas a políticos, fazia denúncias, encarnava personagens.
Um programa de audiência tão grande, que muitos só o chamavam de Capitão Zé Lagoa. O tema do programa virou clássico do forró, gravado na Rozenblit por Genival Lacerda (em 1962), e, no ano seguinte, incorporado ao repertório de Jackson do Pandeiro.
Num tempo em que o forró era a música que se tocava no Nordeste no ano inteiro, compositores como ele podiam se dar ao luxo de viver numa cidade do interior, e ser gravado no “Sul”. Luiz Gonzaga, depois de Jackson, foi quem mais gravou Rosil Cavalcanti. Três LPs de Gonzagão têm títulos de composições de Rosil: Ô veio macho (1962), (Pisa no pilão) A festa do milho (1963), Aquarela nordestina (1989). A música do filho de Macaparana adaptou-se até ao tropicalismo. Um dos maoiores sucesso de Gal Costa em sua fase Tropicália, foi Sebastiana, gravada com Gilberto Gil, no LP Gal Costa(1969).
Rosil Cavalcanti, pelo volume, qualidade e originalidade de sua obra, é um dos cinco mais importantes compositores que definiram o forró, termo que engloba os muitos ritmos da região nordestina. Está ao lado de Humberto Teixeira, Zé Dantas, Onildo Almeida,e Miguel Lima, no time de autores que através de Luiz Gonzaga, Marinês ou Jackson do Pandeiro, criaram um repertório básico para a música do Nordeste. Pode-se estranhar a inclusão do fluminense Miguel Lima neste time. Mas Lima tem cerca de 60 músicas na obra d Luiz Gonzaga (só ou em parceria com Lua).
TEMATICA
Um rápido passeio pela música de Rosil Cavalcanti para lamentar o atual estágio do forró, onde se contam nos dedos, autores que não se limitam ao xote romântico. Em Rosil há desde o lúdico ao lírico: Na base da chinela, e Aquarela Nordestina. A primeira é um exemplo do forró malicioso. Chinelar, ou chinelada é um eufemismo nordestino, hoje pouco usado, para o ato sexual: “Jogaram no salão pimenta bem machucada/e o baile da Gabriela acabou na chinelada”.A segunda recorre à estiagem para cantar a paisagem da região: o Nordeste imenso, quando o sol calcina a terra/não se vê uma folha verde na baixa ou na serra/juriti não suspira, inhambú seu canto encerra/não se vê uma folha verde na baixa ou na serra”.
A obra de Rosil é um tratado sobre o Nordeste do seu tempo, em que, por exemplo, a polícia e o valentão eram mais temidos e respeitados do que prefeitos ou magistrados. Na antológica Cabo Tenório, o policial tem sua maneira de restabelecer a ordem: “...deu murro e bufete/ tomou canivete, peixeira e facão/os brabos correram quem ficou presente/gritava contente no meio do salão e dizia/cabo Tenório é o maior inspetor de quarteirão”. Por sua vez o valentão Severino Serrotão, do rojão Lei da compensação, termina encontrando um mais brabo do ele:, um tal Cabo Vaqueiro, que bota Serrotão pra correr: “De Campina ele mudou-se pra Euclides da Cunha/passou a ser chamado serrinha de aparar unha”.
HOMENAGEM
Com produção de José Milton e arranjos de Adelson Viana e João Lyra, o “Rosil do Brasil” conta com 12 releituras que contam com a participação de grandes nomes
Cantor e compositor, Chico Salles lança o seu novo disco em homenagem ao compositor pernambucano Rosil Cavalcanti, o “Rosil do Brasil por Chico Salles”. Com 12 faixas, o disco traz releituras de canções compostas por Rosil nas décadas de 40, 50 e 60 e gravadas pelos nordestinos Jackson do Pandeiro, Marinês, Genival Lacerda, Luiz Gonzaga, entre outros.
O paraibano Chico Salles chegou ao Rio de Janeiro nos anos 70. Sempre muito forrozeiro e membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel desde o ano de 2007, ele sempre circulou com desenvoltura pela cidade do Rio, incorporando a ginga do samba carioca à força da música nas suas origens sertanejas. Atualmente, Chico possui uma carreira consolidada circulando entre as melhores rodas de samba e forró do Rio de Janeiro.
Salles já lançou cinco discos, todos no ritmo do forró, mas sem esquecer das pitadas de samba. Entre as suas obras, o cantor também já homenageou outro compositor brasileiro com o disco “Sérgio Samba Sampaio”, em 2013, onde ele produziu releituras das composições do capixaba Sergio Sampaio, pouco conhecido pelo público.
O lançamento de “Rosil do Brasil” veio no ano certo, pois em 2015 é comemorado os 100 anos de nascimento do artista, que foi compositor de gêneros da música regional nordestina, como baião, xote e coco.
Com produção de José Milton e arranjos de Adelson Viana e João Lyra, o “Rosil do Brasil” vem ainda com participação de grandes nomes da nossa música, como Chico César na faixa “Sebastiana”, Maciel Melo em “O Véio Macho”, Josildo Sá em “Forró na Gafieira”, Biliu de Campina em “Coco do Norte” e Silvério Pessoa em “Forró de Zé Lagoa”.
Fonte: O Fluminense e JC
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