sábado, 15 de abril de 2017

PETISCOS DA MUSICARIA

Por Joaquim Macedo Junior 


MINAS – PANORAMA III

Museu da Loucura: Barbacena


Barbacena também é conhecida por “Cidade das Rosas”. Mas é certo que o município mineiro ficou, indelevelmente, marcado como a “Cidade dos Loucos”.

Embora já pudesse encerrar o circuito das cidades históricas de Minas Gerais, com o pouso em Tiradentes, não ficaria satisfeito se não visitasse nem que por algumas horas Barbacena. Com cerca de 130 mil habitantes, está a 169 km de Belo Horizonte e foi fundada em maio de 1791.

Nasceu na cabeceira do Rio das Mortes – premonição? – onde moravam os índios puris. Localizada na Serra da Mantiqueira, região Campo das Vertentes.

Seu clima, ameno com temperaturas médias abaixo das demais regiões do Brasil, foi motivo para que psiquiatras e médicos especialistas considerassem essa característica um ambiente melhor para o tratamento de loucos.

Máquinas de Eletrochoque; cartaz


No início do século XX, logo se instalaram ali vários hospitais e sanatórios. Os maus-tratos que foram marca dos hospitais dali – com destaque para o Hospital Colônia – arrancaram a vida de 60 mil pessoas, que ficou conhecido como “Holocausto Brasileiro”, livro e filme que mostraram a realidade dos manicômios. É importante ressaltar que, entre os 60 mil mortos, cerca de 70% dos pacientes do Colônia não possuíam diagnóstico de transtorno psicológico algum.


Balada do Louco, Arnaldo Baptista e Rita Lee, de 1972, gravado por Arnaldo em Tiradentes-MG, 1994

“Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz.
Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão!
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz.
Eu juro que é melhor
Não ser o normal…
Se eu posso pensar que
Deus sou eu…
Se eles têm três carros, bem…
Eu posso voar!
Se eles rezam muito, eu já estou no céu
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz.”

Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu

Sim, sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz

Muitos dos internos eram apenas alcoólatras, andarilhos, amantes de políticos, crianças indesejadas, epiléticos, inimigos políticos da elite local, prostitutas, homossexuais, vítimas de estupro e pessoas que simplesmente não se adequavam aos padrões da sociedade. Boa parte da população era negra.

Entre os motivos que me impeliram a conhecer Barbacena foi o filme “Holocausto Brasileiro: vida, genocídio e 60 mil mortes no maior hospício do Brasil”, a retomada dos estudos sobre Nise da Silveira e o filme “Heleno”.

Botafoguense desde cedo e aficionado pelas histórias de grandes do futebol, o filme Heleno me fez reconhecer o lendário Heleno de Freitas, supercraque da estrela solitária, que jogou no Boca Juniors e Seleção Brasileira. Boêmio, boa pinta e rebelde, ele faleceu em 1959 em hospício de Barbacena, onde fora internado seis anos antes, com sífilis, em 1953, com o apoio da família.

Semana que vem tem mais..

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