Direção artística da Sinfônica de Porto Alegre cogita transformar espaço no Centro Administrativo do Estado em sala de concerto no futuro
Por Fábio Prikladnicki
O maestro Evandro Matté bate firme com a sola do sapato no palco da nova sala de ensaios da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) para mostrar ao repórter o efeito da manta acústica com a qual foi construído. O diretor artístico da Ospa avalia que este é o espaço mais adequado "em termos de desenvolvimento de acústica", se comparado aos demais onde a orquestra ensaiou desde que deixou o antigo Teatro da Ospa, em 2008. Ele quer dizer que as condições ainda não são as ideais, mas há potencial para que estejam próximas disso em breve.
– Ainda tem uma reverberação bastante grande – admite. – Já a diminuímos de nove para seis segundos. Ainda vai ser reduzida para três segundos. Considera-se 1,6 segundo o número ideal.
Segundo Matté, o espaço no Centro Administrativo Fernando Ferrari vinha sendo cogitado para a Ospa há cerca de 12 anos. O local de 1,7 mil metros quadrados foi reformado com repasse de R$ 1,2 milhão da Procuradoria de Fundações do Ministério Público estadual (oriundo do processo de extinção de outra fundação e destinado à Fundação Pablo Komlós, vinculada à Ospa) e parcerias.
O clima é de euforia. Afinal, a Ospa deixará de ser uma orquestra nômade: a sala de ensaios foi cedida pelo governo do Estado por um prazo de 20 anos. Outros conjuntos da Sinfônica, como o Coro e a Ospa Jovem, também o utilizarão. Matté explica que é a primeira vez que a orquestra tem um espaço próprio – as salas de ensaio anteriores eram provisórias, e o antigo Teatro da Ospa era alugado. Os músicos continuarão experimentando diferenças acústicas entre a sala de ensaio e os teatros onde se apresentam, mas esta situação só será reparada quando a orquestra tiver sua sonhada Sala Sinfônica no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho.
Há uma novidade, no entanto. Durante a reforma no Centro Administrativo, concluiu-se que o espaço para ensaio tem potencial para se tornar, no futuro, uma sala de concertos. Matté esclarece que ainda não é um projeto, apenas um desejo, mas tem o cálculo na ponta da língua: seria possível acomodar cerca de 950 poltronas. Caso fosse construído um mezanino, a capacidade subiria para 1,1 mil ou 1,2 mil lugares. A profundidade do palco é apropriada até mesmo para obras que exigem uma orquestra maior e coro, como as sinfonias de Mahler. Em outros concertos, haveria a possibilidade de acomodar parte do público atrás e nos lados do palco. A estrutura já conta com salas para ensaios de naipes separados e outros usos. Maestros e solistas convidados passarão a contar com um local reservado para descanso e estudo, cortesia que a Ospa não podia oferecer nas outras salas de ensaio.
– Não queremos confundir este projeto com o da Sala Sinfônica – avisa Matté. – Porto Alegre merece os dois espaços, esse é o meu conceito. No futuro, esta sala no Centro Administrativo pode ser utilizada também por outros grupos.
Na temporada 2017, a Ospa administrará um orçamento de cerca de R$ 16 milhões, cifra similar à do ano passado. A programação propriamente dita deverá custar R$ 1,6 milhão, grande parte do qual será captado via Lei Rouanet. Entre as novidades, estarão a Caminhada Musical, em setembro, com apresentações em diferentes lugares, e o retorno do Concerto de Primavera, em outubro, no Jardim Botânico, iniciativa que a orquestra já havia realizado no passado. Em agosto, será encenada uma nova montagem de ópera, a já anunciada Don Giovanni, de Mozart, com direção de cena de Caetano Pimentel. Matté espera negociar com o Theatro São Pedro a abertura de uma parede no fosso que permitirá a presença de uma orquestra maior, liberando espaço no palco para os cantores. Haverá um Festival Wagner e uma homenagem aos 130 anos de nascimento de Villa-Lobos.
Construção da Sala Sinfônica está parada
Paralisada desde agosto de 2014, a obra da Sala Sinfônica da Ospa, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, depende de uma liberação de R$ 738 mil da Junta de Coordenação Orçamentária e Financeira (Juncof), integrada por representantes de diferentes secretarias estaduais – a qual analisa o caso há pelo menos meio ano, segundo a administração da Fundação Ospa. A verba é uma suplementação para a empresa Portonovo assumir a fase de construção do prédio propriamente dito, depois que a Cisal, primeira colocada na licitação, teve o contrato rescindido unilateralmente pelo governo do Estado devido a um impasse sobre a condução dos trabalhos. Foram concluídas, até agora, apenas as fases de fundação, que deverão sofrer ajustes.
ALGUNS DESTAQUES DA TEMPORADA 2017
30 de maio
Salão de Atos da UFRGS
Festival Villa-Lobos.
9 de julho
Auditório Araújo Vianna
Música instrumental gaúcha.
26 e 27 de agosto
Theatro São Pedro
Ópera Don Giovanni, de Mozart. Diretor de cena: Caetano Pimentel.
23 de setembro
Centro Histórico de Porto Alegre
Caminhada Musical. Com Camerata Ospa Jovem, Ospa Jovem, Ospa, grupos de câmara e Coro Sinfônico da Ospa.
1º de outubro
Jardim Botânico
Concerto de Primavera. Obras de Camargo Guarnieri, Guerra-Peixe, Ripper, Piazzolla, Mozart e Brahms.
10 de outubro
Salão de Atos da UFRGS
Festival Wagner.
21 e 22 de outubro
Auditório Araújo Vianna
Clássicos do cinema.
19 de novembro
Auditório Araújo Vianna
Festival Tangos.
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