terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

GILBERTO GIL FAZ CANÇÃO PARA YAMANDÚ COSTA

'Sinto que minha responsabilidade só aumentou', disse Yamandú diante da homenagem



Yamandú Costa estava em um táxi, saindo do Aeroporto do Galeão em direção à sua casa, no bairro de Botafogo, no Rio, quando recebeu o vídeo em que Gilberto Gil aparece cantando para ele. Sim. Gil, do alto da poltrona da qual pode ver a música brasileira a dois palmos acima da mortandade, pegou o violão e compôs uma canção para o jovem violonista gaúcho Yamandú cheia de ginga e devoção. Isso mesmo. Gil faz em geral deferências às três colunas que seguram o teto de sua eterna casa de pau a pique que o acompanha desde a infância em Ituaçu, no interior da Bahia: Dorival Caymmi, João Gilberto e Luiz Gonzaga, com um Bob Marley de lambuja. Ele sabe a força que têm suas notas e suas palavras, não as desperdiça nem as coloca no tabuleiro das jogatinas para lançar moda. Gil está dois palmos acima disso.

Pois desta vez, entre um e outro horário dos medicamentos que toma para o tratamento de uma insuficiência renal, Gil apanhou o violão, lembrou da paixão furiosa que move as mãos de Yamandú Costa e gravou para lhe entregar, nas palavras do próprio violonista, "um abraço musical". Mas foi mais do que isso. Gil estendeu um tapete vermelho a Yamandú, como se vê poucas vezes na música brasileira. "Eu mesmo não me lembro de uma música que fale de um músico dessa forma", diz Yamandú, ainda sob o efeito anestésico do susto.

É assim que Gil canta sorrindo enquanto é gravado por um celular: "...Yamandú, com seu violão ligeiro, parece que é pressa mas é só suingue à beça / e bossa e pulsação no corpo inteiro / Só quem segue o Yamandú / é o frisson do pandeiro / Vê se pegue o Yamandú, lá vai / o Yamandú não deu / e o Yamandú chegou primeiro".

Há, como sempre, um jogo harmônico acompanhando a letra, que Gil nunca explica. Aqui, seus acordes caminham cromaticamente, casa por casa, criando uma tensão e simulando uma corrida. É a forma de dizer sobre o estilo Yamandú de tocar, algo que fez o crítico Tárik de Souza chamá-lo de "Jimi Hendrix do violão". "Eu vou hoje mesmo ver o Gil em uma festa na casa do (jornalista) Moreno para agradecê-lo pela música", diz Yamandú. "Sinto que minha responsabilidade só aumentou, imagine Gil falando isso de você."


Fonte: Agência Estado 

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