DECLARAÇÃO DE AMOR
Faltou-lhe o ar. Fazia tempo que Afonso não a via, coisa de 10, 12 anos. Maura continuava bela, embora seu sorriso não fosse tão aberto quanto fora naquele passado que, agora, lhe vinha à mente, mais que nunca. A ela, o ar também pareceu-lhe faltar. Como o tempo foi generoso com aqueles olhos, com aquela pele, com seus cabelos – pensou Afonso. Parecia-lhe ontem o último encontro. Mas os tempos eram outros, o destino escreveu outros roteiros para suas vidas, destinando-lhes parceiros outros. Ele, que julgava esgotadas todas as frases de amor, olhou-a no fundo dos olhos, e disse-lhe, apenas: eu te amo! Falou tão baixo, de si pra si, que nem sabe se ela o ouviu: a orquestra que passava produzia um barulho tanto maior, quase infernal se divino não fosse. Ao saxofonista sobrava ar nos pulmões, entoando um frevo de Nelson Ferreira.
0 comentários:
Postar um comentário