(Dedicada a Edvaldo Vieira do Nascimento)
Por Paulo Carvalho
Por Paulo Carvalho
Início da Rua do Rangel, no primeiro andar, uma tortuosa escada de madeira nos levava ao salão de dança. Meia luz, mesas toscas, destas que são vendidas na feira, cadeiras e tamboretes. O piso cedia e rangia a cada passo. Acho que o assoalho, nunca viu uma mão de cera, desgastado pelo uso, nos pontos mais usados podiam-se ver pequenos desníveis, marcas do tempo.
No segundo andar ficavam os quartos, apertadíssimos, divisórias de eucatex, que nem sempre iam até o teto, permitindo ouvir tudo que acontecia ao lado. O sanitário, ficava no corredor, a higiene, depois do “pão com manteiga” ficava por conta do famoso banho “checo” que tinha como acessórios uma pequena bacia, um jarro com água, sabão amarelo e uma toalha “coletiva” que um dia tinha sido branca.
Bordel – Di Cavalcanti
No comando da pensão, o Sr. Barcelar, e pelo nome do dono ficou conhecido o cabaré. O atrativo eram os preços módicos, embora, raramente o freguês saísse de lá sem uma blenorragia como prêmio. Frequentada por estudantes e lisos em geral, não raro, alguém saia sem pagar, descia as escadas correndo com as calças na mão e a rapariga atrás aos gritos de xexeiro filho da pura!.
Mais adiante, na mesma Rua do Rangel, a Boate Mauá, esta tinha até elevador. Salão amplo, mesas forradas, garçons servindo, raparigas bem vestidas, roupas que deixavam à mostra os dotes da madame e excitava o pretendente. Nos finais de semana, uma orquestra com direito a cantor. De segunda à sexta, radiola de ficha, no repertório, Anísio Silva, Ângela Maria, Cauby Peixoto, Núbia Lafayette entre outros. No térreo era feita a triagem da clientela, o consumo era obrigatório, principalmente quando tinha música ao vivo.
Na Rua Direita, Pátio do Terço, e imediações do Mercado de São José, assim como a Rua da Guia, no bairro do Recife era o fim de carreira para as prostitutas. Nos pés de escada ou na rua, mulheres caquéticas, maquiagem exagerada numa pífia tentativa de esconder as rugas dava um aspecto grotesco a face que outrora havia sido o encanto e desejo de tantos homens. Agora, doentes, morando em pensões de última categoria. Era o fim…
Os locais onde funcionavam os bordéis nesta área estão totalmente descaracterizados, o comércio tomou conta de tudo, nem o elevador da Boate Mauá escapou, o prédio da Pensão de Barcelar, foi demolido para dar acesso a Rua da Praia.
Só restam lembranças.
Música: Tudo Foi Ilusão – de Laert Santos e Arcelino Tavares
Canta – Anísio Silva.
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