domingo, 5 de junho de 2016

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DA MPB



Falar da importância de Luiz Gonzaga para a música popular brasileira (em especial a nordestina) é chover no molhado. Desde os idos anos da década de 1940 quando o cantor e instrumentista começou a escrever seu nome na história do cancioneiro popular que delineava-se ali um grande representante da música da região.

Nos idos anos de 1930 o representante mais popular da música produzida em Pernambuco era Manezinho Araújo e suas emboladas, que animava os auditórios das rádios do Sudeste do país e em especial do Rio de Janeiro (então capital do país). Diferente da embolada produzida por seu conterrâneo, Luiz Gonzaga chega trazendo ao centro do palco dos grandes centros urbanos a sanfona e uma musicalidade contagiante e embriagadora intrinsecamente ligada à sua região.

Sem saber, Gonzaga estava seguindo à risca a ideia atribuída ao russo Leon Tostoi: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. No entanto era preciso somar forças ao seu instrumento e melodias, e para isso o destino o colocou diante de dois exímios compositores que souberam como poucos transcrever para as melodias de Gonzaga aquilo que ele queria de fato expressar. Isso talvez tenha ocorrido pela coincidência de terem nascido na mesma região.

Ao lado do cearense Humberto Teixeira, Gonzaga deu início a trajetória de sucessos. O grande encontro da dupla se deu em agosto de 1945, no escritório de advocacia de Humberto, localizado no centro do Rio de janeiro. Gonzaga reiterava ao advogado o desejo em representar a música de sua terra nos grandes centros do país e ali mesmo os dois já começaram a dar vida a canção que viria a se tornar o hino não-oficial do Nordeste, Asa Branca.

Dali em diante foram responsáveis pela produção de diversos sucessos na carreira do cantor como “Assum preto”, “Baião”, “Xanduzinha”, “Estrada de Canindé”, “Juazeiro”, “Respeita Januário”, “Qui nem jiló”, “No meu pé de serra” e tantas outros chegando a um total de 32 canções gravadas (entre parcerias e canções compostas pelo advogado e compositor de Iguatu).

Outro nome de extrema importância na carreira artística de Gonzaga foi o do médico e compositor José de Sousa Dantas Filho, mais conhecido como Zé Dantas, morto prematuramente aos 41 anos de idade mas que deixou como legado dezenas de composições e, em sua maioria, em parceria com Gonzaga. É de autoria da dupla clássicos como “Noites brasileiras”, “A dança da moda”, “A volta da Asa Branca”, “Acauã”, “ABC do sertão”, “Derramaro o gai”, “Vem Morena”, “Paraíba”, “Xote das meninas”, “Riacho do navio” e tantas outras.

Vale registrar que é de uma canção da dupla (Forró de Mané Vito) que surge pela primeira vez utilizando o termo forró. Com Dantas, entre parcerias e canções de autoria apenas do médico-compositor, Gonzaga fez 52 registros fonográficos reiterando a imprescindível importância da dupla na história do cancioneiro brasileiro.

Outro importante nome na carreira de Gonzaga foi o do saudoso João Silva, o compositor mais gravado pelo Rei do baião. É de sua autoria sucessos da careira de Gonzaga como “De fia a pavi” (com Oseinha), “Danado de bom”, “Deixa a tanga voar”, “Forró de cabo a rabo”, “Nem se despediu de mim”, “Pagode russo”, “Sanfoninha choradeira”, “Vou te matar de cheiro”, “Um pra mim, um pra tu” e tantas outras em parceria com Gonzagão. A parceria intensificou-se na última década de vida do sanfoneiro como é possível perceber a partir das canções que compõem os últimos discos do cantor e instrumentista.

Luiz Gonzaga gravou 625 músicas. Talvez nem houvesse necessidade de tantos registros fonográficos quanto o legado que ele deixou para escrever seu nome em definitivo dentro de nossa música. Duas ou três parcerias com Zé Dantas, Humberto Teixeira, Miguel Lima e João Silva; uma ou duas interpretações de nomes como Antonio Barros, Patativa do Assaré e Gonzaguinha já seriam suficientes para torná-lo quem hoje ele é: o pernambucano do século, em eleição onde constava nomes dos mais variados seguimentos existentes na história do estado. Mesmo assim Luiz Gonzaga desbancou nomes como Gilberto Freyre, João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira, Josué de Castro e tantos outros.

Fica para audição dos amigos leitores duas canções interpretadas pelo saudoso Rei do Baião. A primeira trata-se de “Delegado no coco”, canção compostas por Zé Dantas e registrada por Gonzaga em 1957:





A segunda canção trata-se de “Velho novo Exu”, baião composto por Gonzaga em parceria com Sílvio Moacir de Araújo e gravada em 1954:

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