Por Paulo Carvalho
Foto: Paulo Carvalho
Poeta popular, violeiro repentista, João Batista Bernardo, o João Furiba nasceu em 04/07/1931, em Taquaritinga do Norte–PE.
É considerado um dos grandes repentistas nordestinos, tendo iniciado a carreira ainda na adolescência. Já arrebatou inúmeros troféus, em competições entre violeiros, tendo ficado em primeiro lugar em diversas ocasiões. O apelido “Furiba” segundo ele, quer dizer coisa sem importância, e foi dado por Pinto do Monteiro inspirado na figura magra e de baixa estatura de João. Foi um dos maiores e mais constantes parceiros de Pinto do Monteiro, enquanto este era vivo, e tornaram -se também grandes amigos apesar das farpas trocadas durante os desafios. O primeiro encontro dos dois grandes poetas é descrito da seguinte maneira:
“Lino Pedra Azul (também cantador de renome) teria agendado uma cantoria com Pinto, em Belo Jardim, mas em função de outros compromissos surgidos, pediu ao então rapazote João Batista que o substituísse. Ansioso e receoso, João que só veio a ser conhecido como Furiba anos depois, aceitou. Chegou no local e perguntou:
JF – É o senhor que é seu Pinto?
PM – Sou.
JF – É que Lino me pediu pra vir lhe substituir na Cantoria…
PM – Não sei se vai ter cantoria, não… (disse Pinto sem acreditar que estava diante de alguém que pudesse enfrentá-lo)
Os promotores da cantoria chegaram perto de Pinto imploraram que o Gênio cantasse com o desconhecido João Batista…
Iniciaram o baião de viola. Cada um esperando que o outro iniciasse a sextilha.
Começaram… Lá pras tantas, Pinto termina a sextilha dizendo:
“Não sei que tem vaca magra
come muito e não engorda”
Era uma referencia ao aspecto franzino e raquítico do Furiba, que respondeu:
“É porque feijão de corda
já ta passando de cem,
o milho tá muito caro
farinha cara também,
se Jesus não pisar no frei.
Não vai escapar ninguém”
Ao terminar a sextilha, Pinto disse:
– Depois “nós conversa”, viu?.
A partir daquele momento, iniciaram uma das duplas mais fecundas da poética voleira…
João Furiba também fez dupla com outros cantadores sempre demonstrando sua agilidade e competência na feitura dos improvisos. Cantando com João Cardoso este fez com os seguintes versos:
Furiba fui informado
Que você lá em Tabira
Pega frete, dá recado
Varre a rua mas se vira
Agora eu quero saber
Se isso é verdade ou mentira?
Furiba respondeu:
Colega eu fiz em Tabira
O meu recenseamento
Seis mil e quinhentas casas
Um colégio e um convento
Comprei agora o BANDEPE
A CISAGRO e o FOMENTO.
O conhecido cantador Ivanildo Vila Nova, cujo pai também era repentista, cantando com João Furiba terminou uma estrofe, dizendo:
Não conheço cantador
Pra ser igual a mim.
Furiba respondeu dizendo:
Seu pai também foi assim
Se dizia professor
Falava com tantos “s “
Que parecia um doutor
Cantou quarenta e seis anos
Morreu sem ser cantador.
E assim é João Furiba, alegre, irreverente, criativo, poeta popular simplesmente. É um daqueles que faz a mais autêntica cultura nordestina. Alberto Oliveira (poeta e cordelista) afirma que João Furiba é um dos maiores poetas da história do repente brasileiro. Zelito Nunes, foi quem me apresentou a este extraordinário artista a quem eu muito admiro e prezo.
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