A música popular brasileira está recheada de “sexo” desde a mais sutil referencia ao descaramento total e explicito. Entre os compositores, quase ninguém escapa, uns mais outros menos, é o que nos mostra o livro de Rodrigo Faour, História Sexual da MPB, com suas 640 páginas de muita informação sobre o assunto e também de muito humor. Quem se atreve a ler não se arrepende. Garanto.
Há muitos anos, mesmo antes de ler o livro, já me questionava sobre os versos de Jura, composição de Sinhô, gravada em 1928, onde se lê: (Daí então dar-te eu irei Um beijo puro na catedral do amor) onde fica esta tal Catedral do amor? O compositor se refere à boca da mulher, ou mais embaixo, no pé da barriga, que, na minha opinião, é o mais provável. Para a maioria ficou a dúvida até hoje.
Jura
Jura, jura pelo Senhor
Jura,
Pela imagem da Santa Cruz do Redentor
Pra ter valor
A tua jura,
Jura, jura de coração
Para que um dia
Eu possa dar-te o meu amor
Sem mais pensar na ilusão
Daí então dar-te eu irei
Um beijo puro na catedral do amor
Dos sonhos meus,
Bem juntos aos teus
Para fugir das aflições da dor
Daí então dar-te eu irei
Jura – 1928 – José Barbosa da Silva (Sinhô)
Com muita elegância, Martinho da Vila, bate uma punheta homérica em Ex-amor, onde muita gente passou batida, dada a sutileza dos versos “Eu me possuo e é na sua intenção” cantada por ele Simone com estrondoso sucesso.
Ex-amor
gostaria que tu soubesses
o quanto que eu sofri
ao ter que me afastar de ti
não chorei
como um louco eu até sorri
mas no fundo só eu sei
das angústias que senti
Sempre sonhamos
com o mais eterno amor
infelizmente
eu lamento, mas não deu
nos desgastamos
transformando tudo em dor
mas mesmo assim
eu acredito que valeu
quando a saudade bate forte
é envolvente
eu me possuo
e é na sua intenção
com a minha cuca
naqueles momentos quentes
em que se acelerava o meu coração.
Chico Buarque, Roberto e Erasmo, Gilberto Gil, Caetano, Luiz Gonzaga, Noel Rosa foram pródigos em letras com conteúdos ricos em sexo. Alguns mais escrachados, como Genival Lacerda, e Wando, mas ninguém foi tão longe como os atuais Funkeiros. Vejam esta pérola de Nana e as Pitchulas na música, se é que podemos chamar assim, “Espanhola” gravada em 2003.
A xota tá manjada
E o cuzinho também
Se liga irmãzinha
A espanhola dá também
É só um movimento
Pegue nos meus peitinhos
No meio vai à rola
Faça uns movimentos
Que na porra vai na boca!!
Fora do livro gostaria de citar a composição de Xico Bizerra, o nosso poeta Recicratense, em Menina Bonita onde a beleza e sutileza dos versos não fariam corar a mais inocente freirinha, no entanto estão carregados de erotismo.
Menina Bonita – Beto do Bandolim e Xico Bizerra
Menina pequena do olho bonito
Olhar tão bendito, ah! Se fosse pra mim
Melhor é deixar o dito por não dito
Eu sei, não mereço um olhar lindo assim
Menina do olho bonito, pequena
Que pena que o mundo seja tão ruim
Não posso gozar de tua pele morena
Não posso beijar tua boca carmim
Menina, eu te peço, não faças assim
Teu olho bonito vai me enfeitiçar
Melhor é pôr nesse chamego um fim
Só te peço não deixes de pra mim olhar
Vai-te embora, morena, noutro jardim florar
Tua flor açucena eu não posso cheirar
“MENINA BONITA contém realmente um apelo meio inocentemente, mas sem a maldade que o assunto pode sugerir.” (Xico Bizerra)
Vou ficando por aqui que a história é longa. Recomendo para os que gostam de música e sacanagem o livro em apreço.
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