Recentemente o cantor, instrumentista e compositor ilustrou nossa coluna. Naquele primeiro momento a abordagem se deu basicamente acerca de sua infância no subúrbio carioca, onde teve a oportunidade de crescer cercado de música e ter como vizinho no bairro o notório Noel Rosa, artista singular até os dias de hoje, quase oito décadas após sua morte. Pois bem, após o falecimento do pai, Guilherme aos doze anos de idade, viu-se obrigado a trabalhar para poder complementar a escassa renda da família e foi empregado nas casas Edison limpando vitrolas. Sem expectativas de crescer se continuasse nesta função, Guilherme buscou assumir algum outro posto dentro da empresa e, nesta incessante busca, decidiu-se que iria ocupar o posto de mecânico de máquina de calcular, pois segundo o próprio, lá tinha uma máquina de calcular que era a mais cara da Casa Edison, e só tinham três mecânicos no Brasil que poderiam consertá-la, custava o preço de um automóvel. Dedicado, a partir das lições dadas por um desses três mecânicos existentes, apreendeu todos os ensinamentos e na empresa permaneceu até se aposentar como chefe de seção. Vale o registro de que pouco tempo após assumir o seu posto profissional começou paralelamente a dedicar-se também à composição. A primeira das canções compostas surgiu a partir de uma situação vivenciada no posto do trabalho com os colegas de empresa. Naquela época era quase que obrigatoriamente se trabalhar de paletó e gravata, mas com o aperto financeiro pelo qual passava, Guilherme mal tinha dinheiro para se alimentar quanto mais para a compra roupas. Para apresentar-se no emprego recém conquistado teve que apelar para os amigos. Um deu a calça, outro o paletó e a mãe acabou fazendo os ajustes necessários e possíveis. Quando apresentou-se, os futuros colegas de trabalho começaram com piadas, dentre elas a de que as suas calças pareciam um balão. Foi quando Guilherme fez "Calça Balão", seu primeiro samba que acabou no esquecimento do compositor.
Essa brincadeira de mau gosto feita pelos amigos de empresa acabaram motivando Guilherme a tornar-se compositor. "Calça balão" acabou tornando-se a primeira de uma série de outras que viria a ser feita ao longo dos anos posteriores. E esse desejo de tornar-se compositor acabou sendo suscitado em Guilherme de modo intenso, levando-o a tentar a sorte como anônimo nas emissoras de rádios cariocas. Uma das cantoras que o estimularam a seguir a carreira de compositor foi Ademilde Fonseca (apesar de cantar diversas canções de autoria de Guilherme demorou bastante tempo para gravá-lo). Mas ser interpretado por um(a) grande cantor(a) não era suficiente, era necessário haver uma gravação, pois seu desejo era tornar-se compositor profissional e entrar para o UBC (União Brasileira dos Compositores), e para isso era preciso ter ao menos uma composição gravada. Nesse período chegou a cantar na rádio Vera Cruz em um programa de amadores onde não havia nenhum tipo de prêmio. No entanto, foi lá que Guilherme recebeu o seu primeiro cachê como artista semi-profissional. Dona Aurora, diretora do programa, certo dia o disse: "Guilherme, toma aqui um cachê pra você mas não fala com ninguém não" e o deu 10 mil réis. Cachê que não foi guardado como um troféu e hoje está presente no museu existente em homenagem ao compositor lá em Conservatória, cidade localizada à 142 quilômetros do Rio de Janeiro. Ao longo desse período em que esteve na rádio Vera Cruz também recebeu a primeira carta de fã, uma jovem de Belo Horizonte que ouvia o programa e na carta pedia uma fotografia. Mesmo assim a sua vida de compositor não alavancava. Sem conseguir que nada de sua autoria fosse gravado, vagava por dias e dias por rádios como a Mayrink Veiga, a Rádio Tupi, a Rádio Tamoio e a Rádio Nacional.
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