Por Laura Macedo
José Luiz Calazans [Jararaca: 1896-1977] e, posteriormente, o parceiro Ratinho participaram (1929) do Teatro de Revista Carioca atuando em: “Guerra do mosquito”, “Onde está o gato?”, “Mineiro com botas” e “Por conta do Bonifácio”.
Jararaca e Ratinho, no final de 1931, fundaram a “Casa de Caboclo”, com a participação de Duque, Pixinguinha e Dercy Gonçalves, onde a dupla apresentava inúmeros shows de música nordestina e suas performances em várias peças, a exemplo de: “Viva as muié”, “Alma de caboclo” e “Sodade de caboclo”.
Jararaca integrou o “cast” de várias emissoras de rádio. Na famosa Rádio Nacional foi demitido por motivos políticos. Era do partidão (Partido Comunista) e muito amigo de Luis Carlos Prestes. Costumeiramente cantava e discursava nos comícios do “partidão”. Não demorou muito a receber seu aviso prévio.
Com suas anedotas, causos, adivinhações e composições inspiradas, de um autêntico artista, deixou uma vasta obra registrada em inúmeros discos.
Nosso objetivo neste Post é destacar algumas das composições solo e/ou em parceria do versátil José Luiz Calazans / Jararaca.
“Meu sabiá” (José Luiz Calazans [Jararaca]) # Francisco Alves. Disco Odeon (10.235-A) / Matriz (1846). Gravação (03/08/1928) / Lançamento (setembro/1928).
Jararaca lançou (parceria do Vicente Paiva), em 1937, um dos seus maiores sucessos que perdura até os dias de hoje. O sucesso foi estrondoso e ultrapassou as fronteiras do Brasil sendo gravada por artistas internacionais como Bing Crosby e Carmen Miranda.
“Mamãe eu quero” (José Luiz Calazans [Jararaca]/Vicente Paiva) # Jararaca e Almirante. Disco Odeon (11.449-A) / Matriz (5499). Gravação (17/12/1936) / Lançamento (janeiro/1937).
“Galo danado” (José Luiz Calazans [Jararaca]) # Jararaca. Disco Columbia (5.170-A) / Matriz (380565). Lançamento (março/1930).
“Alma de Tupi” (José Luiz Calazans [Jararaca]) # Augusto Calheiros. Disco Victor (33.697-A) / Matriz (65771). Gravação (09/06/1933) / Lançamento (setembro/1933).
“Perna cabeluda” (Vicente Paiva/ José Luiz Calazans [Jararaca]) # Jararaca. Disco Odeon (11.551-B) / Matriz (5671). Gravação (21/09/1937) / Lançamento (janeiro/1938).
“Na quebrada do monte” (Jararaca/Vicente Paiva) # Gastão Formenti. Disco Odeon (11.610-B) / Matriz (5827). Gravação (09/05/1938) / Lançamento (junho/1938).
O Maestro Soberano Tom Jobim ao idealizar sua composição batizada de “Boto” (1976/Disco ‘Urubu’), universaliza o refrão da composição de Jararaca “Do Pilar”.
“Boto” (Tom Jobim/Jararaca) # Tom Jobim. LP Antonio Carlos Jobim – Urubu. Gravadora Warner Bros, 1976.
Boto
A praia de dentro tem areia
A praia de fora tem o mar
Um boto casado com sereia
Navega num rio pelo mar
O corpo de um bicho deu na praia
E a alma perdida quer voltar
Caranguejo conversa com arraia
Marcando viagem pelo mar
Ainda ontem vim de lá do pilar
Ainda ontem vim de lá do pilar
Com vontade de ir por aí
Na ilha deserta o sol desmaia
Do alto do morro vê-se o mar
Papagaio discute com jandaia
Se o homem foi feito pra voar
Cristina, Cristina
Cristina, Cristina
Desperta, desperta
Desperta, desperta
Vem cá
ah - ah
Inhambu cantou lá na floresta
E o velho jereba fez-se ao ar
Sapo querendo entrar na festa
Viola pesada pra voar
Ainda ontem vim de lá do pilar
Ainda ontem vim de lá do pilar
Com vontade de ir por aí
Camiranga urubu mestre do vento
Urubu caçador mestre do ar
Urubu cantando num lamento
Pra lua redonda navegar
Ainda ontem vim de lá do pilar
Ainda ontem vim de lá do pilar
Com vontade de ir por aí
ah – ah
Na enseada negra vista em sonho
Dorme um veleiro sobre o mar
No espelho das águas refletido
Navega um celeiro pelo ar
“A letra surrealista/folclórica/ecológica combina bem com o ritmo toada/baião, formando um todo intrigante e onírico. O próprio Tom, que andava lendo livros de Carlos Castañeda, sopra pios de inhambu e urubu. Histórias e lendas do folclore brasileiro se misturam a versos sobre urubus e navios voadores. Bem ao gosto do maestro, surge, sem se saber de onde, uma mulher, desta vez Cristina. Tom incorporou à música ‘Do Pilar’ [Jararaca/Zé do Bambo/Augusto Calheiros]. Estranhamente apenas o nome de Jararaca aparece na parceria”. (Texto extraído do livro: Histórias de Canções: Tom Jobim / Wagner Homem & Luiz Roberto Oliveira. – São Paulo: Leya, 2012).
“Do Pilá” (Jararaca/Zé do Bambo/Augusto Calheiros) # Jararaca, Zé do Bambo, Augusto Calheiros. Disco Odeon (1.582-A) / Matriz (5660). Gravação (05/09/1937) / Lançamento (abril/1938).
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Agradecimentos especiais:
- Ao jornalista, escritor e pesquisador Miguel NIREZ Azevedo pela liberação dos fonogramas: “Meu sabiá”, “Galo danado”, “Perna cabeluda” , “Na quebrada do monte” e "Meu Brasil".
- Ao pesquisador Claudevan Melo pelas fotos das Capas de Partituras.
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Fontes:
- Acervo Claudevan Melo: Capas Partituras.
- Banco de Dados do Acervo Nirez: Fonogramas.
- Dicionário Cravo Albin da MPB - Verbete: Jararaca e Ratinho (Aqui)
- Fotomontagens: Laura Macedo.
- Histórias de Canções: Tom Jobim / Wagner Homem & Luiz Roberto Oliveira. - São Paulo: Leya, 2012).
- Montagem Fonogramas na plataforma SouldCloud: Laura Macedo.
- Site YouTube/Canais: "Igor Tavile", "BasiaDanny", "moreiranochoro".
- Uma história da música popular brasileira - Das origens à modernidade, de Jairo Severiano. - São Paulo: Ed. 34, 2008.
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