Vitor Araújo: o prodígio é um senhor pianista
Esta série que nominei “Grandes Instrumentistas Pernambucanos” certamente está longe de esgotar o tema, mas deixou-me ainda com água na boca. A pesquisa, os ‘reencontros’ com ótimos músicos e a audição rediviva deles só me trouxe inspiração.
Encerro minha lista trazendo hoje o nono nome: Vítor Araújo, pianista, compositor, músico precoce que surgiu para o grande público em 2008, por meio da gravação de seu DVD “TOC”, no Teatro Santa Isabel, no Recife.
O jovem pianista no Teatro Santa Isabel
Vitor Araújo é um prodígio no piano. Começou seus estudos aos 9 anos no Conservatório Pernambucano de Música. Destacou-se na infância e adolescência, conquistando prêmios como “Menção Honrosa no Concurso Magda Tagliaferro”, em São Paulo, e as primeiras colocações nos certames de 2001 e 2005 do “Torneio Pernambucano de Piano”, além de receber a distinção de “Melhor Intérprete de Música Brasileira”, no “Torneio Josefina Aguiar”.
Hoje, aos 25 anos, Vítor Araújo é considerado um pianista virtuoso, vez que já superou a fase prodígio, experimentando plateias rigorosas e atuação em palco com grandes músicos brasileiros, eruditos e populares. Seu virtuosismo ao piano, a atitude no palco e a escolha de seu repertório logo o levaram ao patamar de revelação da música erudita e instrumental.
No DVD “TOC”, o garoto do Recife, torcedor do Náutico, jeito pop-rock, calça jeans e fala direta, mostra o ecletismo que o acompanha até os dias de hoje. Ele sempre interpreta “Samba e Amor”, música de Chico Buarque, pela qual tem especial paixão, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, em “Asa Branca”, marcando, sem cerimônia, sua ligação com as raízes e o som da terra e tocando, entre outros, Villa-Lobos, com “Trenzinho do Caipira”.
Vitor Araújo – Asa Branca (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira):
Ao iniciar a busca de dados recentes sobre Vitor, me veio à mente a pergunta: “por onde anda o jovem pianista, de tão avassaladora chegada?”. Pensei até naquele clichê, que era “uma grande promessa que não vingou”, como pode acontecer em qualquer campo da atividade humana.
Mas, dessa hipótese, livrei-me rapidamente, pois havia sido presenteado há pouco mais de um ano, por minha filha Marina, com o último CD do Vítor Araújo, o “A/B”. Ela está sempre antenada com descobertas e atenta aos sons que me interessam. Não raro, são presentes de aniversário, dia dos pais, coisas que tais. Foi Marina que me apresentou ao genial Di Mello, o Casuarina, o Pedro Luiz e a Parede, a Amy e por aí vai.
Pois bem, deste CD já ouvi todos os opus Solidão, do 1 ao 4, de sua autoria, e demais faixas com convidados. Dele, vamos ouvir a excelente melodia “Baião”, com Yuri Queroga. A faixa é uma homenagem a Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal e Chico Science.
No final de 2014, Vitor foi um dos contemplados pelo projeto “Natura Musical 2015”. Com ele, o músico conta com o apoio para a produção de seu terceiro disco, que vem sendo feito com a Orquestra dos Prazeres. O grupo, criado e liderado pelo percussionista Lucas dos Prazeres, é composto por 25 integrantes.
O novo álbum tem como foco os cantos das religiões de matriz africana. O projeto conta ainda com a realização de shows de lançamento no Rio de Janeiro, São Paulo e Recife.
Pianista Vítor Araújo – Paulistana nº 1, de Cláudio Santoro:
Termino aqui este breve perfil do excelente Vítor, reproduzindo a crítica de lançamento do disco “A/B”, pela RBA – Rede Brasil Atual:
“Um dos melhores álbuns de música instrumental lançados, recentemente, no Brasil, “A/B” é o segundo trabalho do pianista pernambucano Vitor Araújo, que começou a chamar atenção em 2008, quando tinha apenas 18 anos. O disco, primeiro do artista realizado em estúdio, com suíte composta pelo próprio pianista e mais quatro músicas de outros compositores, tem a petulância e a ousadia importantes no trabalho de qualquer jovem criador musical.
A primeira faixa, Solidão Nº 1, possui a necessária candura para uma bonita homenagem ao artista plástico e escultor italiano Modigliani. Vitor aparece aqui não só no piano, mas também no coro de vozes, que ecoam com uma doçura deslumbrante, graças também aos efeitos criados por Yuri Queiroga.
A canção seguinte, Solidão Nº 2, é um pouco mais soturna, remetendo aos temas célebres dos filmes do expressionismo alemão.
Vitor Araújo – CD “A/B” – “Baião” – 2011:
A terceira parte da suíte, com arranjos de João Carlos Araújo, é marcada pelo acompanhamento de ótimos músicos, como Ricardo Amado e Adoniran Reis, nos violinos; Estevan de Almeida Reis, na viola; Alceu Reis, no cello; Larissa Coutrim, no contrabaixo; e Guizado, no trompete, como artista convidado.
Solidão é encerrada por uma quarta parte, que retoma a delicadeza e tristeza inicial, com Stefanie Freitas, no piano, e Vitor Araújo, nas vozes, numa linda homenagem ao pintor francês impressionista Renoir.
O álbum é dividido em duas partes, A e B, como nos antigos LPs, sendo que cada uma delas conta com quatro faixas. A primeira é justamente a suíte Solidão; e a segunda conta com “Baião”, que é dedicado a Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal e Chico Science; “Jongo”, em homenagem a José Celso Martinez Corrêa e ao Teatro Oficina, com a preciosa participação de Naná Vasconcelos, no baticum, sementes, conga, gongo e vozes, e com vários efeitos surpreendentes, como os que encerram a música; a animada “Véloce”, que se aproxima de um ‘fox trot’ no início e ganha ares de choro em outros. Conta com o grupo Rivotril; e o rock ‘Pulp’, dedicado a artistas ousados como Charles Bukowski, Angeli, Rage Against the Machine, Pink Floyd e, claro, Robert Rodriguez e Quentin Tarantino. Essa última faixa tem a presença do espetacular grupo instrumental ‘Macaco Bong’”.
O disco “A/B” comprova o amadurecimento natural de Vitor Araújo, que se firma como um dos principais pianistas do atual cenário da música instrumental brasileira. Com produção de Ricardo Cantaluppi, o álbum demonstra um respeito à música erudita mais tradicional, mas não deixa de apostar em experimentalismos audaciosos.
Fontes: RBA – Rede Brasil Atual; acervo pessoal; dicionário Ricardo Cravo Albin; internet
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