GRANDES INSTRUMENTISTAS PERNAMBUCANOS (II) – NOVELLI
Novelli: baixista, pianista, compositor, cantor
Antes de iniciar essa série, tinha Novelli como um grandíssimo baixista, músico de primeira linha que emprestou seu talento e vigor musical a tantos projetos, cantores, bandas e principalmente me trazia uma conexão imediata com o “Clube da Esquina” e, portanto, com o “Som Imaginário”, e assim com um dos nossos maiores mestres da MPB, em seu mais clássico representar, Milton Nascimento.
Diferentemente de outros representantes da terra mineira, como Ary Barroso, Ataulfo Alves e João Bosco, o carioca Milton Nascimento foi quem mais timbrou o som das montanhas, das alterosas, das gerais, do vasto continente multirracial e multicultural mineiro. Milton, os Clubes da Esquina, as variadas formações do “Som”, “MINAS”, “GERAIS”, “TAMBORES DE MINAS”, MILAGRE DOS PEIXES”, “SENTINELA” e as demais peças de ‘Bituca’ e trupe chancelaram por fim o cancioneiro, que inspirado e ambientado no cenário barroco, deixou no estado de todas as regiões a sua marca mais completa e original.
Se fosse me deter nesse universo (farei isto noutra hora!) teria de abordar, um a um, os protagonistas dessa odisseia musical mineira para todo o sempre: Fernando Brant, Márcio e Lô Borges, Beto Guedes, Wagner Tiso, Robertinho Silva, Ronaldo Bastos, Tavinho Moura, Nivaldo Ornelas, Tavito, Toninho Horta.
Capa
Djair de Barros e Silva (Novelli) nasceu no Recife, em 20 de janeiro de 1945, tendo completado 70 anos em 2015. Começou a carreira artística nos anos 1960, como crooner do conjunto “Nouvelle Vague”, da capital pernambucana. Recebeu o apelido de Novelli em homenagem ao movimento artístico do cinema francês (Nova Onda), que deu nome à banda. Logo depois adotou o contrabaixo como instrumento profissional.
“Viva Eu”, Beto Guedes, Danilo Caymmi, Novelli e Toninho Horta – 1973 -Voz de Novelli:
Em 1967, já morando no Rio de Janeiro, acompanhou o pianista Mario Castro Neves, no disco “Mario Castro Neves e Samba S.A.”. Compôs o “Trio 3D”, ao lado de Antonio Adolfo (piano). Participou do grupo “Tribo”, ao lado de Nelson Ângelo, Joyce, Toninho Horta e Naná Vasconcelos, gravando um compacto duplo pela Odeon.
Em 1973, fez uma excursão com Nelson Ângelo e Naná pela Europa, onde gravou o disco “Naná Vasconcelos, Nelson Ângelo e Novelli”. Na mesma época reuniu-se com Beto Guedes, Danilo Caymmi e Toninho Horta, registrando o LP “Beto Guedes, Danilo Caymmi, Novelli e Toninho Horta”.
Novelli teve importante participação no LP “Imyra, Tayra, Ipy – Taiguara”, do cantor e compositor uruguaio, ao lado de músicos como Wagner Tiso, Toninho Horta, Hermeto Pascoal, Paulinho Braga, Nivaldo Ornelas, Zé Eduardo Nazário, entre outros.
Nos anos 1980, integrou a “Turma do Funil”, composta por Francis Hime, Miúcha, Danilo Caymmi, Lula, Olívia Hime e Cristina Buarque.
Em mais de 40 anos de carreira, além dos músicos já citados, atuou com figuras como Elis Regina, Gal Costa, Tom Jobim, Egberto Gismonti, Dori Caymmi, Lô Borges, João Donato, Raul Seixas, Edu Lobo, Ivan Lins, MPB-4, Simone, Alaíde Costa, Naná Caymmi e a norte-americana Sara Vaughan.
Novelli com Flora Purim, Milton e o “Som”
Trechos de depoimento de Novelli ao “Museu Clube da Esquina”
Pais
Meus pais se chamam José Henrique de Barros e Silva e Alice Marques de Barros. O meu pai era comerciante. Ele tinha – naquela época chamavam de compartimento – umas lojas no mercado de São José, que é como é o Mercado Central aqui, como na Bahia é o Mercado Modelo. Em 1957, ele vendeu tudo que tinha e levou a família pra Garanhuns, que é uma cidade na serra agreste de Recife. E Garanhuns tem um festival de música muito interessante que já tem uns 10 ou 12 anos. Então eu vivi parte de minha infância em Recife e um pouco mais em Garanhuns, antes de ir pro Rio de Janeiro pra fazer o que acontece até agora.
Pelas Ruas do Recife (Marcos e P. S. Valle e Novelli):
Clube da Esquina – opinião:
“Eu acho que o Clube da Esquina é da esquina do mundo. O Pat Metheny (grande guitarrista de jazz norte-americano), inclusive, achava que era um clube, quando mostraram pra ele aqui em Belo Horizonte. “Não, é aquilo ali cara. – Mas como?” – É aquela esquina ali, the corner.” The Corner Club. E o disco “Clube da Esquina 2” era um disco de cabeceira.
Ele acordava e a primeira coisa que ele fazia era clicar um botão lá e começava a tocar as coisas. E naturalmente ele virou um admirador do Toninho Horta, por tabela do Milton e passou a fazer parte. Ele tem vários trabalhos com o Toninho, com o Milton.
O que se deve a esses mineiros é uma coisa talvez planejada pelo grande músico lá de cima. Eu acho que era isso, apesar de haver um relacionamento bastante interessante entre Pernambuco e Minas. Tem coisas… O Nelsinho é Cavalcanti, o Nelson Ângelo, e ele falou que tem os Cavalcantis de lá e os daqui.
Lá também tem muito Cavalcanti e, digamos assim, os grandes poetas contemporâneos mesmo, os que subiram o degrau superior, eles são pernambucanos e mineiros: É Drummond, Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, João Cabral…
Tem essa coisa. Você tem o nosso querido pernambucano que escreveu “Casa Grande e Senzala”, o Gilberto Freyre. E tem um contemporâneo, o Sérgio Buarque (nota do autor: Sérgio era filho de Cristóvão Buarque de Holanda, nascido em Rio Formoso-PE), mas você vê a letra do Chico: “O meu pai era paulista, meu avô pernambucano, o meu bisavô mineiro, meu tataravô baiano e o maestro soberano, Antônio Carlos Jobim.”
E está bom, ficamos por aí. Já está ótimo, né? É isso aí.”
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